Volume 1
Capítulo 56: Depois Do Relâmpago É Que Vem O Trovão (1)
Quando amanhece, a primeira pessoa que procuro para conversar é Vida. Não tenho certeza se vou dizer a ela com quem vai lutar, já que isso poderia fazer ela desconfiar de mim, porém tenho certeza que devo ajudar ela de alguma maneira a se preparar para o que vai vir.
Enquanto nos dirigimos até o refeitório, me aproximo dela e começamos a conversar. Não tenho certeza de como iniciar esse assunto. Seria estranho chegar e simplesmente dizer: “Ei! O Ermo vai lutar contigo. Então cuidado para não levar uma surra.”
Por conta disso, a primeira coisa que penso é em falar sobre mim e nos meus poderes. Lembro que precisava mesmo de uma ajuda com relação ao meu novo teste, o poder de passar a minha energia para a outra.
Então quando chegamos na cantina e nos sentamos para comer aquela comida dura e aquele líquido escuro, peço sua ajuda. Vejo que ela fica animada, isso é bom.
— Então você quer converter eletricidade pura em energia vital? — pergunta.
— Sim. Mas não sei se isso é possível.
— É possível sim — diz com animação. — Uma das coisas mais estranhas que nós temos é a energia. É algo que ainda não conhecemos plenamente.
— Como assim não conhecemos? Fazemos um monte de tecnologia.
— É, mas não é por conhecer a energia em si. É mais por conhecer as reações dela. É tipo: Nós simplesmente aceitamos que energia é do jeito que é. Entende?
— Não tenho certeza se entendi — comento. — Minha eletricidade parece bem fácil de entender para mim. Mas confesso que ainda preciso aprender muitas coisas.
— Dá para fazer qualquer coisa com seu poder, Kaike. Eu acho. E isso simplesmente pelo fato de que tudo precisa de energia para se transformar. Qualquer matéria precisa de energia. E a energia pode se transformar em qualquer coisa. A sua cidade é a Hidro City, certo? Então, lá existe a sua hidrelétrica, que usa o movimento da água para alimentar os geradores, criando a eletricidade para a sua cidade.
Pensando dessa forma, nunca entendi muito bem o motivo de a água gerar energia. Embora meu pai tenha explicado como funcionava o processo, era algo muito mais mecânico do que de fato uma explicação do que era aquela energia.
— E como isso vai me ajudar com essa nova habilidade? — pergunto.
— Bom… Isso não é muito cientificamente exato… Mas se bem que o fato de você soltar raios pelas mãos também não faz muito sentido.
Eu dou uma risada.
— É, realmente não faz.
Ela para, pensa um instante e então me responde como se tivesse acabado de descobrir algo fantástico e único.
— Ah! Olha só! Nosso corpo precisa produzir certos nutrientes para que a gente se recupere, certo? Quando vamos até a enfermaria, o que acontece é que ela nos dá um remédio para produzir mais daquele componente e assim ficarmos bons.
— Eu sou um condutor de eletricidade, não um alqumista.
Ela ri.
— Você tem razão. Mas presta atenção. Energia pode ser transformada em outro tipo de energia. E uma célula, assim como qualquer outra, precisa de energia. A gente chama essa energia de ATP. Então, em teoria, você conseguiria sim usar seus poderes para curar qualquer pessoa, acelerando o seu processo de cura natural do corpo, por exemplo. O problema é que cada célula tem uma forma diferente de usar aquela energia.
Novamente pondero sobre o que ela fala. Lembro de que quando estou com a saúde baixa, basta drenar eletricidade que consigo recuperar o que foi perdido.
É claro que não sei se isso tem efeitos colaterais. Sei que usar a energia para não precisar dormir tem me feito mal a longo prazo. Eu ainda preciso dormir para descansar a mente se não começo a dar defeito.
Outra coisa muito ruim é o fato de não conseguir tomar banho sem levar choque. Pode parecer irônico, mas toda vez que entro em contato com a água a minha energia me trai e levo vários choques. Isso é muito desconfortável.
Gostaria de perguntar a ela o motivo desse processo acontecer, mas tenho certeza que a explicação dela vai me deixar mais confuso do que satisfeito.
— Isso me parece muito científico — digo. — Eu só queria uma maneira de transformar eletricidade em saúde. Será se não rola?
— Isso é bem simplista, mas você vai ter que tentar. Ao menos eu já sei que no que se refere a impedir uma parada cardíaca você é nota 10.
— Sim. Eu sou um desfibrilador ambulante.
Bia, que estava próxima ouvindo tudo, cai na gargalhada. Acho que ela gosta dessas piadas auto-depreciativas.
Vida continua tentando me explicar sobre como a minha energia pode ser usada, falando que poderia até ter poderes químicos ou coisa do tipo.
Eu acho tudo isso um absurdo. O que eletricidade tem a ver com química? Eu não sei. Não completei o ensino básico. E sinceramente estou longe de querer aprender agora.
Entretanto já entendi que existe uma solução para a minha questão: Como curar alguém usando minha energia? Já sei que a energia pode ser convertida em qualquer outro tipo de energia. Isso sim é possível. Eu só vou precisar descobrir como fazer essa conversão.
Após um tempo no refeitório, somos chamados para a sala de treinamento. Eu fico extremamente nervoso, já que não disse para Vida que era hoje a sua luta.
Ficamos todos reunidos em volta da arena. Faltam poucas fases para acabar o torneio e enfrentarmos o desafio final. Sinceramente, ainda não sei se vou ficar para esse último teste, o que envolve o Porão. Até porque, parece que vou dar o fora desse lugar assim que os maiorais daqui vazarem.
Vou sentir saudades de todos. Mas até lá, com certeza vou tentar ajudar o maior número de pessoas.
Vega sobe na arena e começa a chamar os primeiros participantes. Como estamos todos reunidos agora, ninguém está separado em grupos específicos, exceto o próprio grupo do Ermo, todos lutam como se fossem bons amigos e não concorrentes.
Conforme as lutas passam, dedico mais do meu tempo com Vida. Vou dando mais dicas para ela, dizendo o que deve fazer, mas, óbvio, sem revelar seu adversário já que estamos todos cercados por uma multidão e prefiro realmente não ter de me explicar onde consegui essa informação.
Mas no fim das contas, por mais que continue tentando ajudar, quando seu nome é anunciado e o de Ermo também, seu rosto empalidece. Na verdade, todo mundo fica sem falar nada.
Ela sobe na arena com os olhos sem vida, enquanto Ermo está de boca aberta e com os olhos esbugalhados, como se não acreditasse no que estava acontecendo.
Ninguém realmente acredita. Ela foi a única até agora que ninguém aplaudiu enquanto subia na arena.
Os dois se preparam e depois começa a luta.
Ermo vai para cima de Vida com tudo, lhe encaixando um soco tão forte no nariz que ela voa para trás, sem cair. Quando ela levanta o rosto, vejo que já está sangrando.
Aperto o punho e cerro os dentes. Se esse cara bater mais uma vez nela, eu juro que pulo nessa arena idiota e acabo com ele. Sei que não posso fazer isso. Mas não importa…
Ele dá um chute nas costelas de Vida. Ela geme de dor. Agora já chega. Começo a ir em direção a arena, mas alguém segura meu braço com tanta firmeza que mal consigo sair do lugar. É Solares. Ela balança a cabeça em negativo. Eu entendi o seu olhar. Ele me diz tudo. Acho que todos querem pular em Ermo agora, mas não o farão.
Quando me viro novamente para a arena, vejo Ermo fazendo o que quer com Vida.
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