Volume 1
Capítulo 51: Acho Melhor Escapar Fedendo Do Que Morrer Cheiroso
ϟ SALA DE REUNIÕES ϟ
Todos os Classe S de quatro estrelas ou mais estavam reunidos na sala de reuniões, a pedido da Comandante Negra. Quando ela fazia uma convocação, ninguém ousava não atender. Além disso, todos estavam ansiosos para descobrir mais a respeito dos preparativos relacionados à missão de captura de um Condutor solto.
Na reunião, foram apresentados dados e mais dados a respeito do rastro de energia deixado pelo Condutor. Já estava mais do que decidido que iriam para o Distrito 4, onde o rastro de energia era maior. Começariam a investigar por lá e para isso precisavam mandar a sua melhor tropa possível.
Tal medida deveria ser urgente, pois ficou claro que o desconhecido Condutor poderia se tratar de uma ameaça ainda maior do que se poderia esperar, em virtude de seu poder desconhecido.
Ainda assim, havia uma teoria de qual tipo de poder ele tinha e nenhuma delas era fácil de contornar.
Mas enquanto todos discutiam a respeito das possibilidades e dos números que eram mostrados por Zero, a comandante resolveu dar um veredito suficientemente chocante para deixar todos preocupados:
— Vamos nos preparar para um Condutor do tipo fogo.
Primeiramente, veio o silêncio. E logo após, vieram dúvidas. Afinal, como a comandante poderia ter certeza de que se tratava justamente daquele Condutor? Todos conheciam a história dele, o homem que aniquilou vários residentes do Distrito 1, o responsável pela morte dos pais de Solares e da própria família da comandante.
Mas isso já fazia muito tempo, tanto tempo que até pensaram que o Condutor em questão havia falecido, sido morto ou apenas desaparecido. Sabiam que o estado mental daquele homem era instável, que ele não era capaz de agir racionalmente. Era o que falavam sobre ele. Era o que os dados mostravam.
Então será mesmo se o Condutor de Fogo? Por conta dessa pergunta, por um segundo cogitaram que Negra estivesse trazendo seus sentimentos pessoais para a mesa. Entretanto, Vega não duvidou. Muito pelo contrário, apoiou a ideia de sua comandante.
Sendo assim, Vega, o atual coordenador dos recrutas, insistiu que sua participação se fazia mais do que necessária. Porém, foi barrado pela comandante, pois por mais bem capacitado que fosse, ainda tinha de terminar suas tarefas com os recrutas, que ainda nem tinham passado do primeiro estágio, isto é, os testes físicos.
Aborrecido por ser deixado de lado, o homem não falou mais nada durante toda a reunião. E assim se seguiu, até que finalizaram um plano de ação para interceptar e neutralizar o Condutor desconhecido.
Para terem certeza de seus poderes, já que a Comandante Negra fazia tanta questão de afirmar se um Condutor de Fogo, um esquadrão seria enviado antes para reconhecer as possíveis ameaças. Tal esquadrão seria o de Zero, a Divisão de Reconhecimento mais bem qualificada.
Assim que saíram da sala de reuniões, Zero começou a se preparar para sua partida, enquanto Vega ficava irado pela falta de consideração que sua antiga amiga tivera com ele. Negra notou a insatisfação em seu velho amigo e foi conversar com ele, os dois a sós.
— Não se preocupe, você vai conosco capturar o Condutor assim que Zero voltar com mais informações.
— E se eu não tiver terminado os testes até lá, comandante? — perguntou com um tom de irritação. Apenas ele tinha coragem de usar tal tom com aquela mulher.
Embora os testes físicos estivessem prestes a acabar, ninguém duvidava da eficiência e velocidade que Zero tinha. Era certo de que ele voltaria e voltasse antes que qualquer coisa ruim pudesse acontecer na instalação.
— Então haverá uma pausa — disse a comandante. — Farei com que os diretores concordem. Mas não deixarei você de fora. Não poderia fazer isso, você é a nossa tropa mais forte. Mas entenda que esse é o único motivo pelo qual autorizo a sua ida, capitão Vega.
Ele sentiu a mensagem como um soco no estômago, embora permanecesse com o mesmo rosto irritado de sempre. Ela acabara de dizer que estava lhe tratando não como amigo, mas como uma ferramenta útil para um propósito maior.
— Que seja — respondeu, fazendo continência e depois saindo.
Negra permaneceu na sala por mais um tempo. Foi quando ouviu um barulho vindo de cima, do seu teto. De início imaginou que fosse algum rato andando pela tubulação. Mas logo notou que o ruído, embora pequeno, lhe lembrava um barulho bem mais específico.
Então ela suspeitou de que havia alguém andando pela tubulação bem em cima dela. No mesmo instante, ela apertou um botão em sua mesa e um alerta foi acionado. Alguém estava investigando a sala de reunião.
Esse alguém era obviamente Kaike, porém ela ainda não sabia disso.
ϟ TUBULAÇÕES ϟ
Ok, acho que agora fudeu. Olho de um lado a outro, procurando uma maneira de sair daqui. Tenho de me manter calmo e falar com o Tomas.
— Eles me pegaram! — digo sussurrando.
Existe um dispositivo no meu ouvido, onde ele consegue me dar instruções.
— Não se preocupe, siga pelo caminho que eu vou te dar. Eles não tem nenhum sensor por lá e você vai conseguir sair daí sem problemas.
— Certo! — digo. E dou o fora.
Enquanto vou me arrastando pela tubulação e ouvindo a marcha de botas de soldado abaixo de mim, meu coração vai batendo mais forte. Eles podem ter visão térmica, isso é muito ruim para mim… Aí! Onde foi que eu me meti!
Só estou aqui porque Tomas falou que tinha um plano para conseguir meu bastão de volta e de sobra ainda conseguiria me tirar daqui. Eu voltaria para casa, onde era o meu lugar, junto com a minha família.
Tudo que ele precisava era saber quando os classe S de quatro estrelas para cima iriam sair da instalação. Daí seria carta branca para que ele conseguisse me tirar daqui. E foi exatamente isso que ouvi agora a pouco, e Tomas também ouviu.
Agora nós dois sabemos que eles pretendem sair daqui em busca de um outro Condutor que apareceu lá no Distrito 4. Quando esse dia chegar, o que vai ser logo, espero, Tomas vai conseguir me tirar daqui.
Mas qual vai ser o custo para conseguir essa informação? Tem gente atrás de mim agora e posso fazer é continuar seguindo as instruções de Tomas.
Espera só um segundo, eu tenho uma visão que pode me ajudar. Me concentro apenas por um momento e começo a ver a energia dos cabos que passam por aqui. Perfeito, já não estou no completo breu.
Além disso, consigo ver abaixo de mim borrões de energia, do qual imagino serem os soldados que estão me perseguindo a esse instante. Vão ficar para trás. Vou pegar um atalho que ninguém vai me ver e nunca vão conseguir me pegar…
No mesmo instante que penso isso um tiro quase pega em mim. Fico tão assustado que começo a ofegar. Puta merda, eles querem mesmo me pegar morto?
— Mantenha a calma — diz Tomas. — Se você se alterar e elevar a voz, vão poder gravar e decifrar que se tratava de você.
— Qual foi — sussuro, frustrado. — Nem reclamar eu posso mais?
Continuo meu caminho e para a minha dor eu tenho que me desviar de ainda mais balas. Não são tantas, parecem que não querem de fato me pegar, apenas tentar acertar um tiro e me imobilizar, ou sei lá. Não conheço esse procedimento e sinceramente não estou muito afim de perguntar ao Tomas.
Chego a um lugar onde eles não podem atirar em mim, porém noto que há várias luzes vermelhas, das quais tenho de desviar, pois se não um novo alarme vai se acionar. Esse caminho ainda não é o final.
Me arrasto por mais 500 metros de tubulação até finalmente achar um pequeno ventilador. Consigo drenar a energia dele o suficiente para que sua velocidade seja reduzida e eu passe por ele sem ser decepado em dois.
Finalmente chego ao que mais parece um escorrega e desço por ali. Paro em outra tubulação, uma que fica bem acima do banheiro masculino, ao lado do dormitório. Desço, me limpo rapidamente e recebo novas instruções de Tomas.
— As informações que você pegou foram muito úteis. Agora nós sabemos que eles vão para uma missão, onde vai ser o momento perfeito para você recuperar o seu bastão.
Isso me deixa com um sorriso no rosto.
— Mas além do bastão, eu vou poder ir para casa, não vou?
— Claro que vai. Vou conseguir fazer você sair daqui também — diz Tomas, animado. — E não se preocupe, eles não vão poder fazer nada com você. Vou dar um jeito de fazer você e sua família terem vidas novas em outro lugar. Nunca vão achar você. Então vai ter sua família e seu bastão de volta.
Mal consigo conter minha alegria. Finalmente vou poder sair daqui e sair desse inferno. Os de Classe S nunca vão me achar, já que estarei longe deles. Isso parece no mínimo impossível, porém sinto que com o Tomas, terei minha vida e meu bastão de volta.
— Agora, rápido, vá direto ao dormitório. Pegue esse dispositivo, jogue na privada e dê descarga. Até logo.
Faço tudo que ele pede. E ninguém, absolutamente ninguém, sequer desconfiou de que fui eu o responsável por aquele alarme.
— QUARTO DO SOLDADO TOMAS —
E lá estava o farsante, limpando seu rosto em seu quarto e se olhando no espelho, mal conseguindo se reconhecer. Como era capaz de mentir tanto e ainda assim fazer alguém como Kaike acreditar nele?
Seguiu todas as ordens que lhe foram impostas, mas nada de recompensas. Ao menos tinha uma informação útil e poderia usá-la agora para prosseguir com a sua nova missão, a de aniquilar todas as pessoas da instalação.
Depois de passar um tempo meditando para que a culpa não o matasse, afinal estava descaradamente mentindo para uma pessoa que confiava muito nele, abriu o seu computador, digitou um código e fez uma ligação.
O homem de branco atendeu e ficou calado por um tempo, esperando alguma informação. O solado engoliu em seco e falou tudo que ouvira na reunião. Sobre irem atrás de um Condutor de Fogo, sobre um dia deixarem a instalação a cuidados dos de três estrelas para baixo.
— Mas acho que não ficará totalmente sem eles — disse Tomas. — Usei o Kaike para conseguir essa informação, mas ele acabou acionando o alarme. Agora sabem que estavam vigiando a reunião e possivelmente vão fazer algumas mudanças nos planos.
— Não, eles não vão — afirmou a voz robotizada.
Tomas ficou confuso.
— Desculpe, mas… Como pode ter tanta certeza?
— Porque… Se eles ficarem, também vão morrer. — Uma nova mensagem chegou na tela do computador de Tomas, onde ele deveria criptografar para conseguir ler. — Estas são suas novas instruções. Siga com o plano: Mate todos.
No fim, não havia escapatória. Todos tinham de morrer. Todos.
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