Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 50: Não Seja Provocado, Meu Pai Dizia

No meio do caminho, enquanto chego perto de Ermo, sinto meu sangue ferver e meu bom-senso ir embora. Sei que não posso ficar irritado agora, principalmente depois da intimação que a Solares me fez, mas nem mesmo a simpatia que sinto por ela pode me fazer tolerar esse cara. Ele cheira a maldade.

Dou um empurrão no peito de Ermo, o separando dos gêmeos. 

— O que você pensa que está fazendo? 

Ele me empurra de volta, com mais força.

— Ficou maluco?  — pergunta com irritação. — Quem tu pensa que é para me empurrar assim?

Agora é Solares que nos empurra, nos separando. 

— Já chega, os dois. Recruta Kaike, se afaste. 

Ela segura o braço de Ermo e, como se fossem mãe e filho, começa a puxar ele para um lado. Isso me irrita. Primeira ela me trata com desconfiança e agora dá mais crédito a ele, esse mentiroso.

Obedeço, bufando, mas faço o mesmo gesto com os gêmeos, os puxo para perto de mim. Formamos uma roda e então eles me dizem rapidamente o que aconteceu. 

Resumidamente, Ermo se irritou com uma provocação barata dos irmãos. Isso resultou numa briga sem sentido. 

Antes que possa saber de mais detalhes, Sol ordena que preste atenção no que ela vai dizer. Antes que ela abra a boca para falar qualquer coisa, me ponho na frente dos dois. 

— Não vai ver qual é a versão deles dois? Só vai confiar no que esse mentiroso tem a dizer?

Ela morde os lábios e arregala os olhos avermelhados para mim. Ermo, como uma criança sendo protegida pela mãe, sai de trás da Sol apenas o suficiente para dizer: 

— Não precisa de versão deles! Todo mundo sabe que esses dois palhaços adoram ficar provocando os outros com piadinhas.

Antes que eu possa falar, Precioso toma a dianteira e fala:

— Prefiro ser palhaço do que precisar de uma mulher para me proteger. — Ele rapidamente volta para trás de mim.

Sol arregala os olhos, agora perplexa com as palavras. De fato é uma verdade que Ermo está sendo protegido por ela, mas não é como se o fato dela ser mulher a tornasse menos importante… É da líder que estamos falando. 

— Pois é! — diz Maravilhoso. — Eu acho que é um covarde. 

Ei, de quem vocês estão falando? Não estão agora mesmo atrás de mim, escondidos, soltando ofensas para Ermo da mesma maneira? Não seriam vocês também dois covardes? Penso.

Parece que Ermo lê meus pensamentos, pois está prestes a rebater, porém Sol decide intervir de vez:

— Não me interessa quem está certo, ou errado! Não vou tolerar provocação e nem violência aqui! Os dois vão ser punidos por isso. 

— Isso é uma injustiça! — diz Precioso, atrás de mim. — Nós apenas cantamos! Se ele ficou provocado por conta disso, o problema é dele!

— Pois é! Ele ficou provocado de besta que é! Isso não dá razão para ele vir atacar a gente! — complementa Maravilhoso.

— Já disse que não me interessa! — começa Sol. — Vocês dois estão… 

— Ah! Para com isso, mulher! — interrompe Precioso. — Pode dar punição a vontade, eu não me importo. 

— E nem eu! — fala Maravilhoso, com coragem. — Você não tem feito um bom papel como líder e todo mundo sabe disso. 

Ok, agora eles estão começando a passar dos limites. Limites esses que eu não posso entrar para protegê-los.

— Como disse? — confronta ela.

— Isso que ouviu — diz um recruta que não tenho muita afinidade, mas já conversei anteriormente. Ele sai do grupo dele e fica ao lado dos gêmeos, atrás de mim também. — Eu acho que você não tem feito um bom trabalho.

O olhar irritado de Sol me fuzila. Ela olha ao redor e faz todos darem um passo para trás, com medo de que raios vermelhos saiam de suas órbitas e exploda a cabeça de todos. Eu fico parado, sustentando seu olhar.

— Se mais alguém não concorda com o meu jeito de agir, podem procurar um novo líder para dar jeito em vocês.

Sua fala faz todos ficarem em silêncio. Porém, para a minha surpresa, algumas pessoas começam a ficar ao lado dos gêmeos, atrás de mim. Depois, cada vez mais pessoas vem chegando e chegando, até que estamos separados em dois grupos, e o grupo do meu lado é pelo menos duas vezes maior do que o do lado de Sol.

Entendo o que está acontecendo. Estão me escolhendo como novo Líder. Isso não vai dar bom, afinal, nunca quis ser Líder de ninguém, apenas que treinassem bem o suficiente para não morrerem no teste final…

Espera um segundo, uma pessoa está se decidindo em que lado vai ficar. É aquela menina, alta, morena e muito musculosa que vivia andando com a Sol por aí. Qual era mesmo o nome dela? Se não me engano era Leona.

Leona dá uma encarada em Sol, um olhar de pura decepção, e então vem para o meu lado.

Agora já era. Pelo visto não existe mais desculpa para mim. Sou tudo aquilo que a Sol imaginava que eu fosse. Um condutor qualquer tentando pegar o seu lugar como líder e assim fazer alguma espécie de motim.

Eu não pedi por nada disso. Só queria ajudar. Mas agora não posso deixar essas pessoas na mão, dizendo para voltarem para a sua velha líder. Possivelmente isso só iria prejudicá-la ainda mais. As pessoas perceberam que estava fazendo por pena, e ninguém segue outras por pena.

Cruzo os braços e encaro Solares com mais determinação ainda. Tenho de me conter para que os raios não saiam viajando por fora do meu corpo. Quando fico nervoso, não consigo contê-los. 

Ela me encara de volta.

— Prepare-se, Condutor. — Quando termina de falar, dá as costas e vai treinar os poucos que ainda sobraram ao seu lado.

Agora é definitivo, somos inimigos.

Quando me viro, todos esperam alguma palavra minha. Sei que querem uma espécie de discurso ultra motivacional agora, mas sinceramente minhas energias estão esgotadas e nem me refiro ao fato de ser um Condutor.

Falo para eles uma das frases do meu pai: “A vida é um constante recomeço. Não se dê por derrotado e siga adiante. As pedras que hoje atrapalham sua caminhada, amanhã enfeitarão a sua estrada.” 

Obviamente faço algumas adaptações para a situação, mas tudo muito automático. De qualquer forma, parece funcionar, já que todos batem palmas, vibram um pouco e começam os seus exercícios.

Não estou tão feliz, mas não demoro a me animar ao ver toda essa energia positiva pairando pelo ar. 

Depois de muitas horas de conversas, algumas fofocas com Amor — para que ela me mantenha atualizado a respeito do comportamento de algumas pessoas, principalmente o do Ermo e sua turma — e de alguns treinamentos novos, decido sair da sala de treinamento.

Preciso me livrar de qualquer pensamento inútil que esteja na minha cabeça nesse momento. Antes que eu possa pensar em qualquer coisa, até mesmo em um plano para reverter toda a situação que eu me meti, Tomas, o soldado classe S, me encontra.

— Olá, Kaike — diz em um cumprimento, olhando sempre para os lados com desconfiança.

— E aí, Tomas. Qual a boa?

— Se lembra daquele favor que eu estava lhe devendo?

Ah, sim. Ainda tinha um favor que Tomas queria muito me fazer, mas recusei por conta de todo o azar que ele me trouxe nos últimos tempos. No fim ficou acertado de que eu fosse fazer um favor para ele, e não o contrário.

De qualquer forma, agora não é um bom momento para isso. Nada no mundo poderia me fazer querer um favor. Estou arrasado e cansado demais para isso.

— Não precisa disso, Tomas…

Nada no mundo poderia me fazer querer um favor…

— Kaike, escuta! — Ele se aproxima de mim e sussurra: — Eu consegui o seu bastão.

… Exceto isso


Yo! Halk (autor) aqui!

Obrigado por ler a obra até aqui. Caso decisa apoiar meus projetos poderão fazer isso por meio da plataforma Apoia-se ou PIX.

Link APOIA-SE: www.apoia.se/halk
PIX (email): [email protected]

Meu Discord: Yo! Halk Aqui!
Entre no meu servidor para recompensas e novidades dessa história e muitas outras.
Obrigado e até mais!

 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS AOS APOIADORES

Alonso Allen
Coach, escritor e amigo

Eduardo Goétia
Chefe, escritor e carioca

Cmps
Letrado, preguiçoso e candango



Comentários