Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 49: Explosão É Quando Bate A Química (2)

De início não gosto da maneira como Solares está me olhando. Nem do jeito defensivo e ao mesmo tempo intimidador em que se aproxima de mim, como se eu fosse um inimigo declarado.

Ela me agarra pelo braço e então me leva até o lado de fora da sala. Antes de sairmos, vejo todos dando uma espiada curiosa. Alguns até enviam olhares de pena, como se dissessem: “Se lascou, hein!”

Mesmo que estejam só olhando e não ajudando, sinto que é melhor assim. É meio triste pensar que ninguém se importa comigo ao ponto de querer me salvar dessa situação, mas que bom que ninguém veio se intrometer, poderia acabar resultando em uma briga desnecessária… 

Falei cedo demais. Amor se coloca bem no nosso meio, tampando a saída. 

— Aonde vai levar ele? — pergunta com rispidez. 

Esse tom não é bom. Solares já tem um sério problema com raiva… E Amor me mete essa logo agora que a Chefe está estressada. Como a garota de cabelos brancos está segurando o meu braço, consigo sentir a energia do seu corpo. Isso é mau, está ficando mais intenso e caótico. 

Ela me puxa com mais força até a porta e sai atropelando a ruiva com a força dos peitos. 

— Ei! — grita ela, indignada por ter sido empurrada. — Isso é lá forma correta de tratar os outros…?

Antes que eu possa fazer qualquer coisa, pois gostaria muito de mandá-la calar a boca, sinto Solares apertando meu braço com força. Depois ela para, olha para o rosto de Amor e diz com muita, muita raiva: 

— Nunca fique no meu caminho, recruta.

Nos primeiros segundos vejo a ruiva ficar tão vermelha quanto seus cabelos. Ela até abre a boca para tentar falar algo, porém não sai nada. Essa é minha chance. 

Levanto a mão, a que não está sendo amassada no atual momento, pedindo para que ela se acalme. Faço um gesto pedindo que confie em mim e deixe nós dois quietos. 

De início ela parece relutante, porém logo dá um bufo e sai resmungando algo sobre a nossa chefe ser filha de uma dama da noite e um velho que não consegue manter a ereção.

Bem, não sou grande letrado no assunto, mas tenho certeza que se Solares tivesse ouvido isso teria dado o maior castigo de todos. O que me deixa mais preocupado ainda, pois indica que ela está tão nervosa que ignorou totalmente a existência de Amor. 

Ela deve estar mesmo chateada.

Depois de me arrastar para a primeira esquina que consegue, ficamos a sós e finalmente ela se vira para mim. Ela cruza os braços e diz:

— O que você está planejando? 

Pisco duas vezes enquanto acaricio disfarçadamente o meu braço no ponto onde ela me apertou.

— Oi?

— Você… — Ela coloca o indicador no meu peito. — O que está planejando? Quer acabar com a minha reputação e se tornar o novo Chefe dos Recrutas? 

Dou um passo para trás, ela acompanha.

— O quê? — A mera possibilidade daquilo me assusta. Nunca passou na minha cabeça ter um cargo desses. 

— Quer fazer os outros se revoltarem e pedirem um novo chefe, é isso? Está planejando um golpe? 

Ela se aproxima.

— Não é nada disso que você está pensando… — tento acalmá-la

— E para quê? — questiona. — Qual utilidade tem um condutor como chefe? Consegue me explicar? Não acha que é muito suspeito alguém como você querer manipular todos os recrutas aqui dentro? 

Ela se aproxima tanto de mim que já cheguei ao ponto de encostar minhas costas na parede.

— De onde você tirou tudo isso? Não acha que já tá inventando histórias demais…?

— Pois o que eu acho…! — Ela me empurra com força contra a parede, seu rosto contorcido em raiva, dentes rangendo, próximos ao meu. — É que você está planejando alguma coisa, condutor

Não consigo ficar irritado com ela nesse momento. Considero o que ela diz por apenas um segundo e até que faz sentido. Não seria estranho se alguém que antes você considerava um inimigo começasse a querer fazer tanto quanto o chefe?

Meu irmão uma vez falou sobre o mundo corporativo. Que ele, embora fosse muito esperto e mais capaz do que seus superiores, não podia fazer demais, pois poderiam se sentir ameaçados e mandá-lo embora. 

Na época eu achei estranho. Como o seu superior poderia se sentir ameaçado com um funcionário tão exemplar? Porém eu entendi, com o tempo, que as pessoas têm medo de perder os seus postos. E é exatamente isso o que Solares deve estar pensando agora.

E ainda, não é como se eu estivesse realmente estivesse fazendo um favor a ela. Por mais que os recrutas estejam tendo uma melhora, a reputação de Solares só piora a cada dia graças a isso, o que significa que ela tem direito de estar irritada. Afinal, eles gostam mesmo de comparar nós dois. 

Será se era isso que meu irmão queria dizer para mim? Que os outros poderiam ficar achando você melhor e falando mal do superior pelas costas, criando uma confusão?

Mas acontece que eu não quero que exista essa comparação. Eu preferiria uma… Uma adição. 

Seu rosto pálido cheio de linhas de expressão por conta da raiva me faz viajar por outro segundo. Pele limpa, sobrancelhas feitas, sinal de vaidade. Olhos vermelhos, intensos, sinal de autenticidade. Lábios nem muito finos, nem muito grossos. Perfeitos do jeito que são. 

Sua irritação não me abala, me dá forças para ser mais calmo ainda. Minha mãe tinha razão: Homem é muito simplista. Só consegue pensar sexo e não-sexo. E embora eu consiga pensar em muitas coisas, estar tão próximo de Solares só me faz imaginar uma coisa…

Me inclino um pouco para frente, aproximando meu rosto ainda mais perto do dela. Ela não recua, ainda está nervosa e quer mostrar dominância, vejo isso em seus olhos. Estou calmo, quero mostrar que está fazendo uma tempestade em copo d'água.

— Eu tenho nome, Sol — murmuro baixinho. — Me chama por ele. 

— Não me chama assim — diz entre dentes, como se fosse explodir. — Eu sou Chefe…

— Se você se sente incomodada, eu paro de te chamar assim. Mas em troca você vai parar de me chamar de condutor e vai passar a me chamar pelo nome. — Sussurro ainda mais baixo: — Qual meu nome, Chefe?

Ela abre a boca para falar, mas as palavras não saem. Imediatamente se cala espremendo os lábios. Olha para o lado, arrependida, e se afasta de mim, me empurrando contra a parede mais uma vez. 

Essa história de sexo e não-sexo vai acabar com as minhas costas. 

— Pare com isso! — diz ela.

— Isso o quê? — pergunto levantando uma sobrancelha.

— O que está fazendo agora!

— E o que eu estou fazendo exatamente?

— Me… testando com esse tom… Pode parar! Acha que não sei onde quer chegar? Acha que sou ingênua? 

Dou uma risada. Será se sou tão previsível assim?

— Não, não acho que você seja ingênua — digo com um sorriso no rosto e cruzando os braços. A expressão dela é bastante engraçada nesse momento, parece indignada e ao mesmo tempo constrangida. Continuo: — Muito pelo contrário, eu tenho uma opinião muito positiva sobre você.

Seus olhos crescem e seu rosto enrubesce. Ela abre a boca, porém se interrompe no mesmo instante e continua:

— Não me interessa a sua opinião sobre mim. O que me interessa é o modo como me trata. Não vou tolerar nenhum desrespeito vindo de você, Condutor! E também não vou tolerar essa anarquia que está pensando em fazer!

— Que anarquia, garota? Eu não estou planejando nada. Só quero ajudar os outros a ganharem os pontos suficientes para…

— Isso quem deveria lidar sou eu! Você fique no seu lugar como Recruta e apenas isso. Não é Auxiliar.

— Ah! Pai me ajude. Como você pode ter tanta raiva de mim? Como faço para provar que eu não sou seu inimigo?

— Na verdade, eu posso ajudar — fala uma voz vinda da minha pulseira. 

É Remi! Faz tempos que não falo com ele diretamente. Também não dou espaço para isso. Levanto o meu braço para encarar o holograma projetado do rosto de Remi, um círculo com três traços que forma uma boca e dois olhos. 

— Eu tenho o registro de todas as coisas que o Kaike fez — diz ele. — Esses dados podem ser coletados, bastando que a senhora, Chefe Solares, ou então qualquer outro soldado de cinco estrelas, peça.

— Pera aí, como é? — pergunto.

— Então me diga — interrompe ela, sem dar atenção a mim. Cruza os braços e então pergunta com o rosto cheio de certeza: — O que o Condutor de Eletricidade, o Recruta Kaike, está planejando de suspeito?

Droga! O Remi vai acabar falando sobre o Thomas e isso vai prejudicar ele. Porcaria! Começo a suar frio pensando na possibilidade de acabar prejudicando uma pessoa por meio daquilo.

— Kaike não tem nenhuma suspeita, senhorita Solares — fala prontamente, Remi. Isso me pega de surpresa. — Ele vem demonstrando um bom comportamento com todos, além de não estar criando nenhuma situação que possa causar problemas futuros à nossa instalação.

— T-tem certeza disso? — pergunta Sol, engolindo as palavras. — Q-quer dizer… Tem certeza que nada do que ele faz pode prejudicar nossa instalação?

Remi fica um tempo calculando, pensando. Seu rostinho de bolinha com três traços fica meio contorcido. Daí seu rosto vira um ponto de interrogação e ele diz:

— Não tenho dados suficientes para uma resposta significativa.

Eu suspiro aliviado. Não sei como Remi não relatou o fato de eu ter ido até o porão e ter me enturmado com Thomas, que na verdade quer um favor de mim que possivelmente é muito perigoso. Remi tem todas essas informações, porém não considera uma ameaça para a instalação ao todo… 

É claro que não, porque consideraria!? Não estou fazendo nada demais. Nada demais mesmo.

— Viu só? — falo com tom de vitória. 

O rosto frustrado e surpreso de Sol me deixa ainda mais feliz. Ela está preste a abrir a boca e falar mais um monte de coisa quando Ash chega correndo até nós dois, assustado e diz:

— K-kaike… Opa! Quer dizer… Chefe Solares… E Kaike. É… Rápido, venham separar a briga que está acontecendo!

— Vocês não conseguem separar uma briga? — pergunto.

— Não podem ficar sem mim por um dia? — pergunta Sol.

Nós nos olhamos por um segundo, eu por mais tempo, é claro. Isso foi bem aleatório da parte dela. Vamos seguindo até chegar na sala de treinamento e assim que vejo quem está brigando com quem, meu sangue ferve.

É Ermo arrumando confusão de novo.



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