Volume 1
Capítulo 52: De Todas As Missões, A De Salvar Vidas É A Mais Nobre
Sei que a confusão que aconteceu com a Solares e eu não foi muito boa, porém essa nossa separação tem se mostrado útil.
Agora que dois terços dos recrutas estão do meu lado, tenho pessoas suficientes para separar tarefas para o treinamento. Isso me dá tempo para treinar sozinho, coisa da qual não faço a muito tempo, graças ao imenso amontoado de tarefas que tinha de fazer, que incluía treinar e me tornar amigos dos Recrutas.
Entretanto, não consigo mais ter o mesmo padrão de amizade com todos, afinal são muitos. Nesse exato momento quando entro em uma roda para conversar eles ficam em silêncio, o que significa que me respeitam ou me odeiam.
Aposto na primeira opção, afinal não teriam motivo para me odiar e ficar no mesmo grupo que o meu. O que me incomoda é que agora que estão todos me vendo com indiferença, como se eu fosse uma espécie de ídolo do qual ninguém deveria chegar perto demais, pois acabaria cegando os olhos.
Isso não é um exagero. Eles realmente me consideram assim e certamente consideraria qualquer pessoa que fosse capaz de confrontar a Chefe Solares da maneira como fiz.
Não sinto orgulho de nada disso, porém uso desta desculpa para ir ao almoxarifado treinar. Peço para Remi me conectar e em um piscar de olhos estou em um mundo completamente diferente.
— Inicie o treinamento. Quero melhorar meu combate.
De um em um, vários daqueles homens de branco vem até mim tentando me acertar. Peço para aumentar a dificuldade conforme o tempo vai passando e já não vou vendo mais graça em continuar lutando contra alguém, ou no caso alguma coisa, claramente mais fraca que eu.
Depois de um tempo os números aumentam, vindo em grupo para cima de mim. Meu nível aumenta toda vez que elimino um, como se fizesse parte de um jogo. Entretanto está aumentando tão lentamente que chega a ser quase imperceptível.
Passo horas batalhando até abusar e finalmente sair dali para praticar qualquer outra coisa. Tentarei a agilidade em escalar coisas dessa vez. E por horas, fico pulando plataformas, me agarrando em pedras e quase caindo em um abismo infinito diversas vezes.
Chega um momento em que fazer parkour não é nenhum desafio para mim. Tenho força e no exato momento que vejo uma parede sei como vou fazer para subi-la. Peço a Remi aumentar a dificuldade da escalada e ele adiciona obstáculos no mínimo criativos.
Algumas partes boas para se segurar desaparecem, blocos da parede caem ou são projetadas direto no meu rosto. É divertido, por um tempo, até que finalmente consigo enxergar uma espécie de padrão novamente e pronto, a graça acabou.
Me sento em uma cadeira branca que foi projetada por aquele mundo e começo a pensar no que deveria fazer.
Droga, tudo parece a mesma coisa. Quando foi que senti emoção por subir de nível? Parece que faz muito tempo. Agora o esforço é tanto para conseguir um único nível que até parece que estou jogando meu tempo no lixo.
Então me recordo que toda vez da qual eu tinha um salto de performance, era quando desenvolvia uma habilidade nova com meus poderes elétricos.
A última que tive foi uma granada, que consistia em uma pequena bolinha de raios comprimidos de tal forma que conseguem até colar em uma superfície para no instante seguinte explodir.
Preciso de uma habilidade que possa verdadeiramente me ser útil em campo de batalha, algo que vá fazer diferente.
— Kaike, você já está parado aí a trinta minutos. Vai encerrar o treinamento?
— Argh… Não, não. Pode mandar mais — digo com voz fraca e me levanto, preparado para mais um bando de bonecos brancos.
— Deseja tentar treinar algo diferente?
— Ah, claro — falo sem muita convicção. — O que você tem planejado para mim?
Todo o ambiente muda. Agora estamos em um espaço completamente branco e diversos bonecos azuis aparecem deitados no chão. Eles agem de uma forma estranha, se contorcendo no chão como se sentissem dor. Embora não consiga ver nenhuma expressão real, ouço barulhos e gemidos angustiantes vindo deles.
— Essas pessoas estão sofrendo com alguns danos que sofreram — diz Remi. — Tente conduzir a sua energia vital para elas, as fazendo ganhar mais saúde.
E então aquilo para de ser bizarro e se torna a coisa mais brilhante que Remi fez para mim até hoje.
De fato estava realmente precisando de um poder parecido com esse, algo menos ofensivo e sim mais defensivo. Afinal de contas eu poderia sempre curar as pessoas que estivessem em campo de batalha comigo, nunca precisando passar por cuidados precários ou perigosos. Tenho certeza de que isso seria uma grande ajuda para a Vida também, ela iria adorar me ver ajudando os outros.
[NOVA MISSÃO:]
[Cure todas as pessoas feridas.]
Aceito o desafio. Me aproximo de cada um deles e começou a me concentrar nos meus poderes. Preciso de uma energia que seja do tipo que vá ajudar alguém que está morrendo. Isso não é muito científico. Preciso que seja mais objetivo.
Muito bem, deixa eu me lembrar do que meu pai dizia a respeito de ciência… Se a pessoa está doente e precisa de um tratamento para que seu corpo volte ao estado anterior, significa que o sistema de defesa de seu corpo precisa de uma mãozinha. A pessoa entra em estado de repouso logo após para recuperar as energias.
Logo, isso deve significar que a pessoa precisa de energia para ficar bem novamente. O problema é que essa energia que vou passar vai ser uma descarga elétrica, como uma desfibrilação. O que significa que vai no máximo aumentar o seu ritmo cardíaco o deixando mais alerta como uma espécie de descarga de adrenalina ou, na pior das situações, mais morto.
Sendo assim, a única maneira de ajudar alguém é se ela estiver com o ritmo cardíaco desacelerado. Isso não me ajuda em nada. Preciso arranjar uma maneira de transferir a energia e não simplesmente acelerar o seu coração por um tempo. Mas como fazer isso?
Tento no primeiro boneco na minha frente algo do tipo, porém o máximo que consigo é fazer com que ele tenha espasmos.
— O boneco de teste vai morrer dessa forma — fala Remi. — O nível de descarga agiu nos seus nervos, fazendo ele se mover involuntariamente.
— Ok — digo, passando o braço pela testa. — Isso vai ser mais difícil do que eu pensava. Continua me dando um relatório sobre como anda indo isso, tá certo?
E assim continuamos por um tempo, onde eu tento concentrar a minha energia de diversas formas diferentes, porém todas sem muito sucesso. Como pensava, só consigo ter algum tipo de sucesso quando os pacientes em questão estão com um ritmo cardíaco baixo.
Tenho de descobrir como ajudar essas pessoas mesmo quando estão com ferimentos, ou até mesmo cansaço. Meu objetivo é descobrir uma forma de converter minha energia elétrica em saúde para a outra pessoa.
E minhas tentativas continuam até eu não aguentar mais ver tantas pessoas sendo filtradas por mim.
Já está na hora de voltar para a sala de treinamento ver como que o pessoal está se saindo. Vou continuar esse treinamento amanhã.
Saio do almoxarifado e vou em direção a sala de treinamento. No meio do caminho fico pensando na problemática do que estou tentando fazer. Preciso estudar um método para transformar minha energia. Quem será que poderia me ajudar com isso?
A resposta vem mais rápido do que imaginei. Era óbvio: Vida. Ela é a futura curandeira mais esperta que eu conheço. Já ando mais rápido em direção aonde estão os outros, ansioso para descobrir com aquela garota de cabelos rosas como fazer isso.
Quando chego, me aproximo do meu grupo e cumprimento todos. Vou me aproximando de Vida, entretanto, sinto que algo não está certo em seu olhar. Ela está assustada, olhando para alguém logo atrás de mim. Conheço a energia desse alguém…
Assim que me viro dou de cara com Solares, aborrecida e muito séria. Ela tem uma energia diferente dentro dela dessa vez. Explosiva, mas muito concentrada e determinada.
— O que foi, Sol? — pergunto.
Um círculo de pessoas é formado ao nosso redor, deixando nós dois bem no centro.
— Você vai lutar comigo — diz ela.
E toda a minha alegria vai embora.
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