Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 42: Esqueça A Plateia. Preocupe-se Em Acertar A Bola (III)

Estou tonto, mas só por um tempo. O zumbido da explosão passa e agora ouço passos. Esses passos são familiares.

Alguém passa andando do meu lado, só consigo ver a sua silhueta. Tem uma grande escopeta nas mãos e uma bandeira na outra. 

Está andando tão tranquilamente que até penso, por um instante, que seja algum recruta com uma nova estratégia. Mas sei que é Vega.

Ele sai do meu campo de visão. Não posso que ele vá embora assim. Levanto a minha mão o mais alto que posso e dreno a energia de uma lâmpada logo acima de mim. 

Estou um pouco melhor, suficientemente bem para me levantar e seguir atrás daquele sujeito. Mas ouço um suspiro atrás de mim, um lamento. 

A neblina já está passando e consigo ver vários corpos no chão. Todos estão se lamentando de dor. Não posso deixar essa gente assim.

Tento ajudá-las como posso, mas não entendo nada de primeiros socorros. A mão de Vida cairia bem agora.

Quando toda a fumaça se esvai, finalmente consigo entender o que aconteceu. 

Vega aproveitou que não conseguimos ver nada e passou escondido por todo mundo. 

Daí ele jogou uma granada de impacto na bandeira. Ela explodiu, jogando todos os que estavam perto para longe e os que estavam longe caíram, surpreendidos e bateram alguma parte de seu corpo no chão.

Como ainda estava tudo difícil de ver, ninguém conseguiu achar Vega. Eu mesmo só consegui ver ele indo embora.

Bia, que parece ter torcido o braço em algum lugar, se aproxima de mim. Ela parecia bem machucada, porém não tanto quanto as pessoas que estavam perto da bandeira.

— Vá pedir ajuda de Vida, tá legal?

Ela balança a cabeça e vai atrás do pessoal que a essas horas estão na C. Eu tento manter todos calmos e ajudar no que posso.

Duas pessoas quebraram as pernas de uma forma muito feia. Osso para fora, nossa, que horror.

Os que estavam mais próximos do impacto demoram alguns minutos para acordar. 

Sol está com a testa sangrando e também sangra pelo nariz. Leona, que também estava no círculo, está praticamente intacta, apenas com vários hematomas no corpo.

Ermo e companhia não estão aqui. Devem ter dado o fora assim que viram que o negócio ficou feio. Covardes de merda.

Vida finalmente chega para prestar socorros. Ela está com um rosto muito preocupado assim que vê todos no chão, no estado que estão. 

— O que aconteceu? — pergunta espantada.

Eu explico tudo e apontar quem foram as pessoas mais feridas. As que torceram algum membro ou até quebraram. 

— Pelo Rei, como vamos fazer para dar conta do próximo objetivo… — chora Vida.

— Porque fala isso? O importante é cuidar de todos.

— Kaike, você não viu o anúncio do lado de fora?

Imediatamente deixo ela cuidar e saio da caverna. Olho para cima, para o telão e nele está escrito:

 

[FALTAM 10m59s PARA O TREINAMENTO ACABAR.]

[Se o treinamento acabar com um objetivo não-capturado os Recrutas serão liberados.]

[Se o treinamento acabar com nenhum objetivo não-capturado os Recrutas serão obrigados a permanecer na sala de treinamento até que consigam o objetivo.]

 

Sinto vontade de explodir quando vejo esse anúncio na tela. Vega está brincando comigo, só pode.

Essas pessoas precisam de tratamento profissional. O material que temos aqui nem de longe vai ser suficiente para tratar eles.

E quanto mais pessoas se machucam mais difícil será para manter um objetivo intacto. Esse cara está brincando conosco. Isso não pode ficar assim.

Vou para dentro mais uma vez e aviso a Vida:

— Mantenha todo mundo aqui dentro, o mais seguro possível.

— O que você vai fazer? — pergunta Sol. Ela está sentada em um canto. O menor movimento faz ela ranger os dentes e fazer uma careta.

— Vou dar um jeito nisso. — E saio.

Ela vem atrás de mim, me perguntando o que aconteceu. Enquanto isso fica se lamentando de dor.

Quando chega do lado de fora, comigo e vê o anúncio lá em cima, seu olhar é de quem não vê mais esperança.

Deixo ela de lado e continuo seguindo para o objetivo C. Tenho de dar um jeito nisso, tenho de impedir que ele faça essa idiotice. Por que ele faria um treino assim?

Me aproximo do C. É em cima de um dos montes, mas esse é mais elevado que a maioria, quase chega ao teto.

Assim termino de escalar me encontro com varias outras pessoas ao redor, protegendo a bandeira. Aqui está Ash, Amor, Clio, Sophia e Maravilhoso.

Ver toda essa gente me doe o coração. Não quero que eles fiquem aqui para enfrentar Vega, vão acabar se machucando. O Capitão já mostrou que não veio aqui para mostrar desserviço. 

Nesse caso preciso usar todas as minhas forças contra ele. Para isso, vou precisar que todos saiam daqui o mais rápido possível.

Digo para o gêmeo sair dali e ir encontrar seu irmão. Aviso para Ash descer e ir ajudar Vida, que com certeza precisa de toda a ajuda do mundo agora.

Conforme vou ordenando para que desçam, vou ficando sem mais nenhum argumento. Eles entendem que quero que saiam dali, só não compreendem o motivo disso.

— Preciso que todos vocês saiam daqui!

— Está maluco? Ele vai conseguir a bandeira e só vamos sair daqui quando o Rei quiser — comenta um Recruta.

— Eu sei que estão todos muito nervosos. Mas preciso que confiem em mim. Saiam daqui e vão ajudar os outros recrutas que estão precisando. Eu tenho um plano, podem ficar tranquilos.

E de repente todo mundo fica contra mim, me encarando com desconfiança. Para meu azar os meus próprios amigos também não aceitam o que acabei de falar. 

Não querem me abandonar. Bem que alguém podia me apoiar nesse momento difícil, hein?

— Sim. O Kaike tem razão — fala Clio. Todos o encaram, buscando explicação. Até eu estou interessado no que ele tem para dizer. — Ele é o único condutor entre nós. O que significa que consegue recuperar as forças, contanto que tenha eletricidade em volta dele. Ou seja, o capitão Vega pode até capturar todas as bandeiras, porém nós não precisaremos nos envolver, basta o Kaike fazer isso. Enquanto ele enrola o capitão, nós ajudamos os que estão feridos a se recuperarem. É o tempo em que bolamos um plano.

Ele olha para mim como se buscasse aprovação no que acabei de falar.

— É-é… É exatamente isso que eu pensei. — Esse Clio é mesmo genial. — Então por favor, vão todos para o local da B e me deixem aqui sozinho. Eu seguro ele o máximo de tempo que der.

Todo mundo agora balança as cabeças afirmativamente e por fim começam a descer o pequeno monte. 

Quando finalmente todos já estão embaixo, olho para cima e vejo que faltam menos 6 minutos para o tempo acabar. Bem que ele poderia dar uma enrolada maior, isso seria bom para mim.

Meu coração está acelerado, estou sentindo ele quase sair pela boca. Me sento ao lado da bandeira, pensativo. Terei de usar tudo de mim para impedir que Vega capture o objetivo.

A ideia de Clio é muito boa e pode até enganar as pessoas por um momento, mas Vega pode simplesmente mudar as regras a qualquer momento, da maneira como fez agora a pouco, sobre esse temporizador e essas cláusulas todas.

Suspiro e fico pensando nas coisas que eu deveria ter feito, ou não. Será que foi uma boa ideia ter ido ajudar o objetivo A? Talvez Sol estivesse mesmo com tudo sob controle.

E aquilo que aconteceu na caverna poderia ter sido evitado se eu tivesse usado melhor o meu sentido de energia; essa habilidade que tenho de sentir as pessoas ao meu redor.

Talvez tivesse até mesmo impedido de fazer o que fez. Aquela granada de impacto não foi nada legal.

— Pensando na morte da bezerra? — fala Vega, na minha frente.

Dou um salto para trás e fico de pé em posição de batalha. Fico surpreso, mais uma vez não senti a energia dele chegando. Será que, de fato, não consigo senti-lo?

— Vi que mandou todo mundo embora — diz, andando ao redor de mim. — Bem inteligente da sua parte.

— O tempo está passando — provoco. — Não vai mesmo tentar pegar a bandeira?

— Tenho outros objetivos em mente, moleque.

Ele dá alguns toques em seu pulso e a grande tela que antes mostrava o contador agora mostra uma filmagem. É ao vivo. É eu e ele aqui em cima. 

— Me humilhar na frente de todo mundo não vai dar muito certo — digo, com deboche. — Eles já não confiam muito em mim. 

— Humilhar? Não faço isso, moleque. — Ele acende um novo charuto. — Quem vive de humilhar, no final, está…

— … mais fracassado do que o humilhado — completo para ele. Vega me analisa por um segundo. — Isso quem dizia era meu pai.

Ele aos poucos vai concordando comigo, balançando a cabeça positivamente. 

— Seu pai era um homem inteligente, então. Agora você, eu já não sei.

Novamente ele mexe em seu pulso e do chão sai uma pequena plataforma retangular trazendo algo, uma arma. A minha arma. O meu bastão de metal.

Ele pega o meu taco e joga para mim. Recebo ele na mesma hora. Nem acredito que estou mesmo com meu bastão de volta, depois de tanto tempo… 

— O que você quer, capitão? — pergunto, segurando firme o meu bastão de metal.

Rhá! — ele rir e no instante seguinte saca a sua espingarda enorme tão rápido que mal noto. — Só quero ver do que você é feito, moleque.

Ele a recarrega.



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