Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 41: Esqueça A Plateia. Preocupe-se Em Acertar A Bola (II)

Vega está de costas para mim. Mesmo um pouco tonto, sei que essa é minha oportunidade para dar um golpe que vai imobilizá-lo de vez.

Me levanto rapidamente e o agarro por trás, porém antes que possa realmente segurá-lo, Vega meramente aponta sua escopeta para trás e atira direto no meu rosto, me lançando novamente para trás.

Fico tonto por um tempo. Ouço as pessoas perseguindo ele com tiros e algumas explosões, acho que as granadas das pessoas que vieram para prestar reforços.

Quando finalmente minha tontura passa, Sol e Leona aparecem na minha frente, furiosas as duas.

— O que foi aquilo? Você atrapalhou a gente! E esses reforços? Eu disse para que eles ficassem em seus postos!

— Sai da frente! A gente tem que ir atrás dele!

Leona põe a mão em meu peito, me impedindo de seguir em frente.

— Escute o que a Chefe está falando, demonstre respeito. Por sua culpa nós perdemos um objetivo…

Bato o pé no chão e deixo a energia dentro de mim sair. As duas se afastam imediatamente.

Levar dois tiros daquela coisa tirou completamente a minha paciência.

— Já chega, vocês! Não tenho tempo para discutir. O que já foi, já foi. Agora eu preciso ir atrás daquela bandeira.

Pulo na parede ao lado, pego impulso e saio disparado para fora. 

— E nós! O que fazemos? — pergunta um dos Recrutas que foi meu aluno, me vendo disparar em direção ao local de Vega.

— Voltem para o B!

Eu logo, logo chegarei lá para dar apoio.

Continuo avançando para frente, onde o grande mapa no teto da sala diz que fica o local onde Vega está, a sua base. 

Se bem me lembro, o objetivo de uma caça a bandeira é pegar a bandeira de seu oponente e levar até sua base. 

Bem que poderíamos interceptar ele no meio do caminho, seria até uma boa ideia. 

Finalmente o alcanço. Ele não parece tão rápido, está caminhando tranquilamente até o local. 

Paro em algum terreno elevado, onde ele possa me ver e ao mesmo tempo eu tenha cuidado. Talvez seja alguma armadilha.

— Pare onde está! — grito para ele.

— Hm? — Ele olha para mim com o seu único olho, continua fumando um charuto. — Ou se não o quê? Vai me prender? 

— Sim!

Pulo do terreno alto em direção a ele. Não é inteligente, porém vai fazer ele se mexer. 

Vega aponta a sua arma para cima e atira contra mim. O tiro passa raspando pelo meu rosto, consigo desviar em pleno ar. Me empurro contra uma rocha que estava perto de mim e mergulho ainda mais rápido em sua direção.

O capitão apenas dá um passo para trás e desvia de um golpe meu. Ele recarrega sua escopeta e a mira em mim novamente. 

Eu lanço um raio em sua direção, acertando sua arma. Ele deixa ela cair por um segundo. Digo por um segundo porque no próximo ele chuta o seu cabo para fazê-la voltar as suas mãos. Fico impressionado.

Aproveitando meu momento de distração, Vega atira em mim. A bala acerta meu peito e eu sou lançado contra alguma coisa um pouco mais macia do que uma rocha.

Quando olho vejo que é parte do meu grupo que pedi para me acompanhar. Todos estavam enfileirados, um atrás do outro, logo todos receberam parte do impacto também.

— E aí? Como vai ser? — pergunta Vega com imponência. — Prontos para uma aulinha de educação moral e cívica?

Porcaria. Ele é realmente muito forte. Eu aguento essas balas, porém os outros com toda certeza vão acabar se machucando. 

Também não posso garantir que eles não acabem se machucando por minha culpa, como acaba de acontecer agora.

Estou em uma saia justa. Todos estão no chão agora, rendidos, longes de suas armas. Basta que Vega aponte a sua arma e atire neles mais uma vez para que eles ganhem no mínimo um tumor.

Levanto as mãos em forma de rendição e digo:

— Não machuque eles! Pode ir com a bandeira.

Vega cerra os olhos. Parece que não acredita no que estou falando. Porém, logo solta uma baforada e sai andando em direção a sua base. Após dar alguns passos ele dá um salto enorme para frente.

Quando isso acontece, um dos Recrutas que já estava se levantando me pergunta:

— Por que fez isso? Ele estava bem ali — pergunta um dos gêmeos, que veio comigo.

— Não podemos errar perto dele — esclareço. — O capitão sabe explorar os nossos erros, sabe muito bem. Isso é experiência e estratégia, não é apenas força. E eu errei quando fui para cima dele com tudo, não contei com vocês atrás de mim.

— Não precisa se preocupar com a gente! — disse uma garota que estava me acompanhando também. — Nós sabemos nos virar.

Bia, que estava junto e foi a primeira a se levantar, dá um soco de leve no meu braço. Entendo o recado. Não gostaram do que eu fiz.

— Vocês são mais importantes. Isso é apenas um treinamento, não um campo de batalha onde dão a vida. Não precisam se machucar atoa.

Um certo silêncio emotivo fica no ar enquanto eu me limpo. Ele só é quebrado pelo comentário de precioso:

— Vixi, parece a mamãe falando isso.

Todos dão risada.

— Vamos voltar, eles vão precisar da gente.

E corremos até eles. Não preciso me preocupar muito com velocidade, sei que Vega não está se preocupando muito em terminar esse treinamento cedo.

Se estivesse já teria capturado todas as bandeiras, ele é rápido. Está dando tempo para todo mundo se preparar. Só não sei se isso é bom ou ruim. 

Meu pai dizia que as pessoas tendiam a trabalhar melhor quando era improvisado. Ele também dizia que quanto mais se pensa, mais complicado fica. 

Assim que chego na B, que fica em uma caverna, não sou recebido com bons olhos. Sol para de dar ordens para as pessoas que estão ali e me confronta na frente de todos.

— Recruta Kaike! Onde esteve? Não conseguiu capturar o Capitão Vega, não foi?

— Não — respondo com um ar infeliz.

— Claro, ele era muito rápido para você, não é, Trovão? — fala Ermo.

Eu me espanto com a presença dele aqui. É a primeira vez que o vi desde o começo do treinamento. 

Não é como se estivesse feliz em vê-lo nem nada do tipo, muito pelo contrário. O sorriso debochado dele e dos dois amigos dele me enoja.

— Não, Ermo. Ele não era rápido demais para mim. Peguei ele no meio do caminho.

— Rhá! E espera que eu acredite nisso? — pergunta.

— É verdade — fala Precioso. — A gente chegou logo depois e viu eles juntos. Só que bem na hora que a gente chegou o Capitão deu um tiro em Kaike, daí não deu de continuar indo atrás dele…

— E quem te chamou na conversa, patetão? — Ermo se aproxima ameaçadoramente.

— Já chega! — fala Sol. Todos dão atenção a ela. — Você foi atrás dele sem consentimento meu. Isso é desacato à autoridade. É uma pena que não posso tirá-lo do treinamento, mas ao menos isso com certeza vai representar uma baixa para os seus pontos, Recruta!

Essa onda dela ficar me desrespeitando na frente dos outros também está me deixando irritado. Na verdade, hoje eu estou bastante irritado com tudo e de saco cheio.

— Sou um Condutor, Sol. Não preciso de pontos. 

Ela arregala os olhos para mim. Todos me olham como se eu tivesse falado um palavrão na sala. Antes que a coisa fique feia para meu lado, digo:

— E então, Chefe , qual o plano?

— O plano é o mesmo. Separaremos as pessoas que sobraram para o ponto B e para o C, ficando equivalentes. E você dessa vez não vai nos atrapalhar…

— Isso não vai dar certo — digo. — Precisamos de toda a nossa força em cima do Capitão, se não ele realmente vai conseguir capturar a bandeira.

— Está me desacatando novamente, Recruta?

— Não… — suspiro. — Estou dizendo que ele é só um e que nós somos vários. Se todo mundo for para cima dele, não tem como ele escapar dessa…

De repente, um estouro vem do lado de fora.

— Ele está aqui! — grita algum recruta.

— Fiquem em volta da bandeira! — ordena Sol. 

Imediatamente, alguns recrutas formam um círculo fechado ao redor da bandeira B. Todos apontam suas armas para a única entrada da caverna. 

Eu aponto as minhas mãos para lá, esperando que a qualquer momento alguém a pareça.

O momento chega logo a seguir, uma bomba de fumaça explode na sala. Não consigo ver nada e todos estão tão perdidos quanto eu.

Pouco a pouco a fumaça vai se tornando mais espessa até que ela me cegue completamente. Tudo que vejo é um ar cinza ao meu redor.

Sinto a presença das pessoas ao meu redor, só não consigo vê-las. Estão preocupadas, isso eu sei, porque não param de murmurar sobre uma possível invasão.

Ah! A invasão é só questão de tempo. Tenho que prever ela antes que aconteça.

Uma nova explosão atrás de mim me joga para frente e bato a cabeça na parede da caverna.



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