Volume 1
Capítulo 40: Esqueça A Plateia. Preocupe-se Em Acertar A Bola (I)
Estamos todos parados, um ao lado do outro, enfileirados como soldados. 48 Recrutas da Classe S. Estou me sentindo um verdadeiro soldado agora.
Dou uma leve espiada para os lados, inclinando a cabeça. Cada um escolheu uma arma que se identificava mais.
Vida, por exemplo, escolheu uma arma de choques e uma pequena faca. Ash escolheu duas pistolas semi-automáticas e dois cassetetes. Bia pegou uma pistola gigantesca e uma faca grande demais para ela.
Já eu peguei um bastão de densidade variável, igual os que usaram em mim quando me capturaram. Só isso, não peguei nenhuma arma de fogo, não sou fã.
Estamos agora esperando por ordens, para entendermos o que é para cada um de nós fazer.
— Em posição! — grita Vega, aparecendo em nossa frente. Eu volto a ficar em minha posição de sentido. — O teste já vai começar. Mas antes, as regras.
Ele começa a mexer no seu braço e aquela gigantesca tela que mostrava os pontos de todo mundo muda.
Agora é um mapa de onde estamos, com as pequenas montanhas de pedra branca e relevos. Fora isso, existem três pontos verdes espalhados em cantos diferentes e um ponto vermelho, mais distante, bem ao fundo da sala.
— Esses três pontos verdes serão os objetivos que vocês têm de dar conta — começa a explicar. — Todos vão ter de dar um jeito de proteger esses objetivos. Essa é a missão de vocês. A minha é capturar os seus objetivos e levar até a minha base, naquele ponto vermelho bem ali.
Sol levanta a mão. Vega faz um sinal com a cabeça para ela falar. Ela dá um passo a frente para fazê-lo, muito disciplinada.
— E o que consistem esses objetivos, exatamente, Capitão?
— Bandeiras, Chefe Solares — responde Vega. — Protejam as suas bandeiras a todo custo. A maneira como farão isso é problema de vocês. Meu trabalho vai ser apenas roubar elas de vocês...
Agora eu levanto a mão. Vega olha para mim como se quisesse me esfolar vivo. Sustento o olhar.
— Sim?
Imito o movimento disciplinado da Solares. Não sei se faço isso muito bem, vejo algumas pessoas rindo de mim. Mas enfim, pergunto para ele:
— São três bandeiras. E nós somos muitos, você apenas um. Não considera isso injusto?
Os Recrutas começam a cochichar entre si depois das minhas falas. Podem falar à vontade. Agora que sei que o objetivo dele são as bandeiras e não matar cada um de nós, estou mais tranquilo.
Por mais forte que ele possa ser, não é possível que consiga capturar três bandeiras sem no mínimo sair bem machucado.
— Recruta Kaike, me chame de senhor ou capitão, está claro? E se acha tão fácil assim, porque a pergunta sobre ser injusto? Se está tão na vantagem assim, podia muito bem apenas ficar quieto, na sua, sem querer mostrar arrogância para cima de seu superior.
— Não estou mostrando a minha arrogância, Capitão Vega. Apenas preocupado com o senhor. Afinal, se alguém acertar um tiro no senhor, pode acabar lhe machucando gravemente. E não queremos um capitão machucado.
— Recruta Kaike — fala Sol, saindo de sua formação e chegando próximo de mim. — O que pensa que está falando? Fique quieto e obedeça às ordens do Capitão Vega!
Ela me olha com seriedade e também um pouco de medo. Consigo ver que ela não está aqui apenas por achar que estou desacatando ordens.
Ela está com medo do que o Capitão irá falar dela. Não sei porque ela pensa isso, afinal ele não faz nada para ajudá-la, só tem um cargo maior. Esse Capitão não merece muita gratidão. Os créditos são todos da Solares.
— Estou respondendo diretamente às perguntas do meu superior, Chefe. — Assim que respondo isso, ela abre a boca para falar mais alguma coisa, porém Vega interrompe.
— Já chega de questionamentos, então! Todos, em posição!
Sol anda rapidamente até seu posto, ainda irritada e parecendo preocupada.
— A captura dos objetivos vai começar… Agora! Vão direto para os seus postos!
Todo mundo começa a correr em direção a onde estão os três pontos verdes, cada um indo para um lado de forma desordenada.
Os recrutas se batem e depois ficam se perguntando para onde ir. A Sol também parece meio perdida no meio dos Recrutas.
No meio da bagunça, onde a Solares está tentando dar ordem para todo mundo, Vega se aproxima de mim cuidadosamente. Assim que chega próximo o suficiente, diz apenas para que eu ouça:
— É melhor estar preparado para o que vai vir, moleque.
E sai calmamente, rindo maliciosamente, com o charuto na boca, uma arma de dois canos gigante nas costas.
Logo após isso o meu grupo de amigos se junta a mim. Eles não querem receber as ordens da Solares, querem receber ordens minhas.
Digo para eles que esse não é o momento para escolher as ordens, todos devem estar sincronizados o máximo possível. Mando eles seguirem as ordens de Sol e é assim que fazemos.
A nossa chefe está separando as pessoas por grupos, mandando cada grupo proteger uma das três bandeiras. 16 pessoas em cada um dos pontos.
Por um momento eu faço as contas. Vega pode não dar conta de todo mundo, mas talvez dê conta de umas 20. Principalmente se a força estiver desbalanceada.
Sol está mandando os mais fortes para o objetivo A. Os outros que são mais fracos vão apenas fazer número no objetivo B e C.
Falo com ela para que ela possa rever essa decisão, ao menos espalhar melhor as pessoas com mais força. Solares nem me dá atenção, avança para o objetivo A e diz para os outros manterem as suas posições.
Isso não é nada bom. Meu grupo também foi separado no meio disso tudo. Não posso deixá-los dessa maneira. Eles estão espalhados entre o B e o C. Vou para lá.
Enquanto corro em direção ao objetivo vizinho, vejo a grande tela holográfica mostrando letras enormes que formam a palavra: “COMEÇAR!”
— Mais já?
Aperto o passo. O objetivo B é no subsolo, uma caverna grande dentro de uma das montanhas, escondida. Aqui tem alguns dos meus.
Eu converso com eles, dizendo para que fiquem espertos com os outros objetivos, porque se qualquer coisa acontecer com eles…
Ouço som de tiro, um barulho gigantesco do lado de fora, como uma explosão e por fim gritos de meninas.
Vou para o lado de fora da caverna correndo, alguns Recrutas me acompanham com suas armas em punhos.
Vejo uma fumaça vindo da direção do objetivo A. Ele é no chão, em um local plano, o mais fácil de ser capturado. Mas lá tem muitas pessoas fortes, não é possível que não consigam deter Vega.
Tiros, gritos e explosões acontecem. Droga! Tenho de ajudá-los.
— Vocês, venham comigo! Vamos lá ajudar eles! — falo para o Recrutas atrás de mim.
— Ficou maluco? E se ele vier para cá enquanto não estamos?
— Já sabemos que ele está lá! Não tem como ele chegar aqui tão rápido. E outra, se todo mundo for para cima dele, não vai ter como ele…
— As ordens da Líder Solares foram claras, é para permanecermos aqui — fala um Recruta que está notoriamente com medo.
Merda de ordem, deixou os futuros soldados com medo. Olho novamente para o local, os tiros e explosões ainda continuam.
— Venham comigo, galera! — grito para os meus dentro da caverna. — Ele é só um, vamos dar reforços para o A!
Ouço eles dizendo “Certo!” e imediatamente saio correndo em direção ao objetivo à minha frente. Vamos dar reforços a eles e assim acabar com o Vega em número.
Assim que chego perto o suficiente para ver o que está acontecendo, tomo um susto. Boa parte dos Recrutas estão longe do Capitão, em alguma cobertura. Alguns poucos estão em um canto recuados, feridos.
Me aproximo da bandeira, que se encontra intacta bem no meio desse fogo cruzado. Os Recrutas param de atirar e atirar granadas na direção de onde supostamente o capitão está para que não me atinjam.
— O que está fazendo, Recruta? — grita Sol. — Saia já da nossa frente! Ele está bem aí…
— Ele quer que vocês usem tudo que tem para que ele avance em segurança — digo. — Parem de gastar munição com ele!
— Do que você está falando? Quem decide isso sou…
Ela se cala assim que percebe que eu tenho razão. No instante seguinte, como em um piscar de olhos, Vega sai de trás de sua cobertura e se aproxima de mim.
Ele quer a bandeira. Não vou deixar de pegar. Saco o meu bastão de densidade variável para fora e espero ele chegar próximo.
— Cheguem mais perto! Se não ele vai…
Recebo um tiro poderoso bem no meio do meu peito. Sou lançado para trás, levando a bandeira junto comigo.
Os Recrutas que estavam atrás de alguma cobertura rochosa começaram a atirar, porém não tem mais granadas, gastaram todas.
Vega solta uma bomba de fumaça e eu sinto ele vir em minha direção. Ele me segura pela camisa e me joga para o lado. Pega a bandeira e diz com um jeito debochado:
— Você é muito esperto, moleque. Pena que ninguém seguirá seu plano…
Ele recebe um tiro no braço metálico, que faz ele se contorcer de dor. É Bia e a sua pistola enorme.
— Reforços, é? — Ele fala.