Volume 1
Capítulo 36: A Menos Que Seja Um Tubarão, Não Tenha Medo Antes Da Hora
Na sala de reuniões da instalação secreta dos classe S, todos os soldados com mais de quatro estrelas se reuniram para discutir algo muito importante. Era sobre a nova descoberta que fizeram a respeito de seu novo recruta-condutor, Kaike, do Distrito 2.
De início os diretores pensavam ser algo muito grave, como alguma categoria de mau-comportamento ou conduta ruim que pudesse levar a uma rebeldia no futuro, qualquer coisa que prejudicasse a instalação na totalidade.
Para a surpresa deles, não se tratava de nenhum mau-comportamento ou índice de rebeldia, mas sim um relatório sobre o seu bastão de metal.
Ficaram mais relaxado quando um dos soldados de quatro estrelas, Zero, começou a apresentar os dados do bastão. Logicamente, só ficaram tão tranquilos assim por alguns segundos. Zero conseguiu chamar a atenção deles para o problema.
— O material do bastão de Kaike, um presente que passa de geração em geração, segundo o recruta, é desconhecido — falou Zero mostrando os hologramas que estavam em cima da mesa oval.
— Desconhecido? O que quer dizer com desconhecido? — perguntou um dos diretores.
— Quero dizer que não há nenhum registro nosso a respeito do material do bastão. O que significa que não conhecemos totalmente sua potência, nem o que ele pode fazer.
— E como um bastão com matéria raro pode ser uma ameaça para nós? — perguntou um outro diretor.
Zero ajeitou seus óculos e olhou para a Comandante Negra, que sentava graciosamente altiva na ponta da mesa, o olhar atento às palavras de seu soldado.
— Fizemos alguns testes com o bastão e parece que ele é indestrutível. Ao menos a calor, ao frio e também a grandes forças. Fora isso, ele apresenta ser um bom condutor de energia e calor, como todos os metais, porém com uma ressalva: A depender do modo de uso, o metal pode virar um isolante de eletricidade e calor.
Um dos diretores riu.
— Como pode um metal ser condutor e isolante ao mesmo tempo? Isso nem faz sentido!
— Exatamente esse o ponto. Esse metal muda conforme a maneira que é utilizado, como se tivesse vida própria, como se fosse inteligente o suficiente. O que significa que se pode fazer alterações em seu material, em sua composição. E tudo isso apenas com um usuário que saiba utilizar a arma.
— Zero — chamou Negra. — Se o bastão está vivo, talvez esse metal não seja totalmente desconhecido. Existe um antigo metal que diziam se moldar a maneira como o usuário quisesse.
— Sim — responde. — Temos fortes evidências de que o metal desse objeto seja o Klyntar.
Os diretores ficaram assustados, um encarando o outro. Depois eles cochicharam entre si. Negra manteve seus olhos focados no objeto holográfico à sua frente.
— Está dizendo que o lendário metal que o Rei usou para acabar com o Tirano é real? E que o bastão de um Condutor, que veio da classe E, é feito desse material?
— Segundo os dados, aparentemente sim.
— Então vamos estudar esse metal e utilizá-lo ao nosso favor — fala um diretor com entusiasmo. — Quantas armas não poderíamos fazer com o metal lendário do Rei?
— Espera aí, você realmente acredita que isso seja feito de Klyntar? — questiona outro diretor.
— E você não acredita nas lendas do Rei?
— Acredito, claro… Mas são lendas antigas. Geralmente são mal interpretadas conforme vão passando de geração em geração. Vai ver o Klyntar nem exista de verdade.
— Independente de ser verdade ou não — começou Negra. — Uma coisa é certa: Esse bastão tem propriedades que não conhecemos. O que propõe, Zero?
Ele ajeitou os óculos e também o seu terno preto, impecável.
— Sugiro fazer modificações e depois fazer o seu usuário original, Kaike, utilizar o bastão… Para fins de teste.
— Vai devolver o bastão que é perigoso para as mãos do condutor suspeito? Porque disso? — pergunta um diretor.
— Como o senhor bem deve saber, as lendas dizem que o Klyntar só obedecia aquele que ele escolhesse. Até o momento não conseguimos fazer grandes modificações e análises ao bastão. O que me leva a crer que esses testes só poderão ser feitos pelas mãos do dono original.
Todos entraram em discussão, uma bem calorosa. Nem todos concordaram em devolver uma arma desconhecida a um possível inimigo.
— E como pretende fazer para que o Recruta Kaike coopere, Zero? — pergunta Negra, encerrando as discussões.
Ele sorriu e ajeitou os seus óculos mais uma vez.
— Se a comandante aceitar a proposta, já conversei com o Capitão Vega a respeito disso. Ele irá preparar tudo.
Negra balançou a cabeça afirmativamente, indicando que o plano teria prosseguimento. Não foi todo mundo que gostou da ideia, porém tinham de respeitar a autoridade máxima do comandante.
No fim, só sobrou o questionamento: Qual seria o plano de Vega?
ϟ SALA DE TREINAMENTO ϟ
ϟ FALTAM 4 MESES PARA A EXPLOSÃO ϟ
Vejo que o capitão está esperando todo mundo se reunir ao redor do seu palco. Como ele chegou aqui, de novo eu não prestei atenção.
Tenho a impressão de que foi por alguma passagem secreta pelas paredes. Assim como existe uma bem no canto da sala que leva ao porão, deve existir um que leve ele da sua sala até aqui.
Depois que todos se reúnem, ele finalmente fala:
— Vim avisar que antes da próxima fase do torneio, vocês vão passar por duas etapas. A primeira delas é obviamente a luta contra o Recruta Kaike. — Ele aponta a cabeça em minha direção. — Vai ser daqui uns dias, então se preparem. Todos os recrutas que foram derrotados na primeira fase vão ter de fazer grupos de três para desafiar o Recruta Kaike em uma luta. A luta vai valer pontos e toda essa parafernália. Isso não importa.
Ele puxa um enorme charuto e acende. Todos ficam na expectativa de qual será a segunda etapa que ele vai se referir.
— E logo depois de todos os grupos de três lutarem contra o Kaike, vocês, todos, terão uma aula especial comigo. Entendam como um treino especial. Todos vocês contra mim.
Agora as multidões começaram a conversar umas com as outras. Geral parece bem animado com a ideia, afinal de contas subestimam a força do nosso capitão. Eu não.
Ele conseguiu me derrotar com certa facilidade no passado. Não penso que mesmo com todo mundo junto vá dar algum resultado. Talvez eu esteja errado, já que além de todos os recrutas, ele também tem de lidar comigo.
Não vou facilitar para ele.
— Não vou facilitar para vocês — fala ele. — Agora podem continuar o que estavam fazendo.
Ele desce do palco e vai em direção a cadeira encostada na parede.
Sol vai até ele. Eu vou atrás porque já sei o que ela vai fazer. Estou vendo que vou ter que acabar me defendendo para o capitão.
Enquanto caminho em direção ao Vega, vou pensando em mil e uma desculpas para que ele releve o comportamento e que ninguém seja punido. Se alguém for punido tem que ser eu, não posso deixar que a Amor pague essa conta.
Assim que chegamos, ele nos olha como se fossemos uma espécie de lixo humano.
— O que vocês querem?
— O Recruta Kaike não foi designado como Auxiliar. Ao menos eu não o designei. E mesmo assim ele está fazendo o serviço de um Auxiliar, treinar os recrutas.
— Ah, é? — Ele pergunta, agora parecendo mais interessado, tirando o charuto da boca. — Quem são os que ele andou treinando?
Sol aponta para um grupo de oito pessoas. Eles estão olhando para mim preocupados. Não posso deixar nada de ruim acontecer com eles.
Imediatamente me ponho na frente da linha de visão de Vega.
— Capitão, peço que o senhor não dê nenhuma punição a eles, fui eu que os treinei. Se for fazer algo…
— Sai da minha frente, moleque!
Ele me empurra para o lado e aponta o dedo. Depois começa a contar cada um deles, só mencionando os seus nomes. Não sei o que ele quer fazer.
— Ah, sim. Eu acompanhei o treino de vocês — diz para mim.
— E então? — pergunta Solares. — Isso pode passar em branco?
— Em branco? Não, não. Na verdade eu só esqueci de mexer na tabela.
Ele começa a digitar algumas coisas em um pequeno aparelho retangular que estava no bolso de sua camisa. Depois de alguns segundos ele aponta para o grande quadro que está bem em cima do palco.
— Ali. Pronto, atualizei.
Olho assustado. É naquele quadro onde ficam os pontos dos recrutas. Inicialmente penso que ele alterou os dados, abaixando os pontos dos que treinaram comigo, uma forma de punição.
Entretanto, vejo que os pontos dos oito que estavam treinando comigo aumentaram. Eu tomo um susto, fico tão surpreso que não sei o que pensar.
— Espera aí! — exclama Solares. — Quer dizer que o treinamento deles conta? Mesmo que não seja com a minha autorização?
— Sim, garota — diz Vega, sem muita vontade. — E eu não falei nada sobre você ser a única fonte de treinamento dos recrutas, disse?
— Bom, o capitão deu a entender que…
— Chefe Solares, quem dá as regras sou eu. Estou aqui para contar pontos pelo desempenho no treinamento. Se alguém quiser treinar por conta própria ou com você, problema dele. Eu só estou aqui para contabilizar. Agora, os dois, voltem logo para o treinamento. E sem mais perguntas.
Sol volta ao meu lado, completamente arrasada e meio aborrecida. Eu fico sentido por ela, alguns recrutas veem que os pontos do que estavam treinando comigo aumentaram. Isso não vai pegar bem para ela.
Assim que volto para os meus alunos, já tem dois novos querendo ficar com a gente, totalizando dez recrutas. Eu não consigo segurar meu sorriso quando vejo a excitação neles. Pelo visto ver os seus pontos subindo no quadro fez muito bem para o astral da gente.
Olho para Vega, como se pelo olhar eu pudesse demonstrar gratidão, e tenho a ligeira impressão de que ele estava sorrindo para mim. É, acho que a gente ainda vai se dar muito bem no futuro.