Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 37: Pequenos Esforços Repetidos É Sucesso Na Certa (I)

Os dias vão seguindo e continuo na minha rotina de treinamento. Digo, do treinamento dos recrutas que fazem parte da minha turma, não o meu que é na realidade virtual com o Remi.

A verdade é que não tenho muito tempo para isso no atual momento. Todos estão animados para aprender mais, pois estão sentindo evolução, conseguindo aplicar o que ensino cada vez melhor.

Ficamos na sala de treinamento até mais tarde e depois voltamos para o refeitório onde continuo tendo contato com o meu pessoal. Mal tenho tempo para o meu próprio treinamento pessoal.

Alguns sentem a diferença de ter um treinador tão conectado com a equipe. Diferente dos auxiliares da chefe e da própria Sol, eu dou o trabalho de tentar ser amigo de cada um.

Nesse meio tempo, fiz amizade com todos e fiquei ainda mais próximo de Amor, a garota de cabelos vermelhos. Percebi que a Vida teve uma certa melhora nesses tempos também, isso é bom.

Quem anda se destacando em imobilização é aquela garota que parece a irmã de Ash e o próprio Ash.

Aliás, descobri que eles não são irmãos, mas sim do mesmo distrito: O Distrito 7. Não sei muito bem o que fazem lá, exceto pescar. É uma ilha enorme que fica deslocada do continente e que tem uma praia gigantesca.

Não sabia que Ash era do D7. Isso explicou para mim o motivo dele ser tão bom em se manter em pé. Uma pessoa que é criada tendo de se estabilizar com as ondas do mar com toda certeza tem um ótimo senso de equilíbrio.

A garota que também é do mesmo distrito que ele se chama Sophia e é uma grande amiga de Amor. Sempre que vou treiná-la, Sophia me solta um olhar difícil de lidar.

Particularmente nunca sei como responder aquele olhar, então prefiro continuar com meu treinamento como se nem tivesse notado. 

Sou apenas um treinador, não posso me aproveitar dos alunos. Ao menos é isso que estou tentando fazer o meu corpo acreditar.

Deixando isso de lado, os treinos vão ficando cada vez melhores. Temos poucos dias atualmente para enfrentar o treinamento de Vega. Já falei para eles tudo que sei sobre as suas táticas e também como ele utiliza a sua arma gigantesca.

Faltando três dias para o treinamento, eu acordo motivado. Acordo Ash, como sempre e vou me encontrar com o grupo. Depois de tomar o café da manhã vamos para a sala de treinamento.

Ao chegar lá, somos os primeiros a entrar. Somos um grupo bem animado, diferente de todo o resto.

Os que treinam apenas com a Chefe dos Recrutas e seus Auxiliares ficam postergando o treinamento. Cheios de cansaço e empurrando um ao outro para não serem os primeiros a lutarem.

No fim quem dita quem vai treinar primeiro é a Sol. Ninguém gosta muito das ordens.

Além das quatro filas, um pequeno grupo de pessoas desconexas fica conversando ao lado, fazendo nada. Nem parece que os pontos deles estão em jogo, estão relaxados e confiantes na próxima fase do torneio.

Ainda existe um subgrupo dentro deles que tentam treinar sozinhos, mas no fim eles não recebem tantos pontos, ao menos não tanto quanto a gente.

O meu grupo, por outro lado, é bem animado e já querem saber o que vão aprender de novo. Além de ensiná-los sobre imobilização, também dei algumas aulas de ataque.

Agora é hora de mostrar algo novo.

— Como vocês sabem o treinamento do Vega é daqui a três dias. Já falei para vocês tudo que ele é capaz. Então já sabem que não conseguiremos derrotar ele caso tentemos vencê-lo individualmente. Precisamos nos concentrar em nossas forças e atacá-lo como equipe.

— E você acha que isso vai dar certo? — pergunta Ash, inseguro.

— É a nossa única chance. Ainda não sabemos como precisaremos derrotá-lo, ele não especificou. Mas se tivermos que alcançá-lo e fazer ele se render, precisaremos trabalhar em equipe.

Todos se olham meio duvidosos. Bia é a única que me questiona por meio dos gestos, e eu entendo. Quer dizer, não é difícil entender quando uma pessoa te olha com incredulidade, balança a cabeça negativamente e levanta os ombros. 

— Não se preocupem, vou ensinar vocês a trabalharem em equipe. Vai ser o nosso plano para enfrentar ele. Venham de dois em dois…

Vamos para um lugar mais afastado dos outros grupos, vou ter que usar um pouco mais de força para lidar com os dois. Vou focar em minha aceleração. Dou a tarefa de tentarem me imobilizar enquanto eu corro de um lado para o outro.

Basicamente, vou brincar de pique-pega com eles, porém com pitada de eletricidade. Espero que isso também me ajude a esquentar um pouco.

Em grupos de dois, vou passando no meio deles rápido o suficiente para que eles não consigam me pegar. Corremos pela quadra inteira. O objetivo deles é me pegar, não importa o método que utilizem.

Ninguém consegue me pegar. Acredito que isso é normal, mas até os melhores do meu grupo não são tão bons assim. Talvez eu esteja pegando pesado, porém a velocidade que eu estava nem se compara com a velocidade em que posso chegar, nem mesmo na velocidade do Vega.

Depois que todos se recuperam, decidi mostrar para eles uma forma que podem estar me emboscando. É meio complicado ensinar para eles isso, já que sei qual estratégia eles vão usar, mas tem de servir. Vão ter que colocar uma pitada de improvisação e esforço também.

Basicamente a estratégia consiste em um deles me distrair e outro tentar me pegar desprevenido. Minha atenção ficará dividida, porque não sei que está só me distraindo e quem está realmente tentando dar o bote.

Novamente, a cada dois, vou fazendo eles correrem atrás de mim, tentando me alcançar. Para não ficar tão repetitivo trocamos alguns golpes básicos. Tenho que pegar leve, posso acabar machucando eles.

Já eles estão dando o melhor de si para tentar me pegar. Ainda bem que basta eu drenar um pouco de energia que estou novinho em folha. Mas até para treinar a minha resistência, faço esforço sem drenar nenhuma energia.

No final estou tão cansado quanto todos eles. E para finalizar, todo mundo vai ter que correr atrás de mim.

E para a minha surpresa, afinal subestimei eles, meu grupo consegue finalmente me pegar. Foi algo bem doloroso, se quer saber. Mas no final conseguiram e eles estão felizes por isso.

Os pontos deles subiram um pouco mais no quadro gigantesco. O nosso entusiasmo chamou a atenção de muita gente, porém ninguém mais veio treinar com a gente. Por mim tudo bem, ao menos assim consigo dar atenção aos que são meus.

Clio, aquele antigo Auxilar que vendeu a sua vitória para o Ash fica nos observando de longe, como se estivesse nos estudando. Ele quer alguma coisa, sei disso. Ou vai querer no futuro, não sei.

Mais uma vez somos os últimos a sair da sala de treinamento. No refeitório todos vão falando do que mais gostaram, conversando e rindo. Viramos uma espécie de família agora, isso me agrada bastante.

Depois de comer, vamos fazer nossos afazeres diários, cuidar do local. Depois, cama e depois acordar para repetir o mesmo processo.

Eu não preciso dormir, posso apenas drenar energia e ficar acordado. Não sei se isso é bom para a minha saúde, porém é algo que estou fazendo agora para preparar o material para a próxima aula. 

Pelo que sei, cada um dos meus dez alunos tem seu próprio estilo. A de longe que tem maior dificuldade para aplicar o que aprendeu de combate é a Vida. Ela realmente não foi feita para o campo de batalha, mas tem um ótimo instinto.

Vida sabe prever golpes, movimentos. Foi graças a ela que conseguiram me pegar, com certeza. Mesmo assim ela não é forte o suficiente para agir na mesma velocidade em que seus instintos avisam.

Fora ela tem uma garota que falhou na primeira fase no meu grupo. Isso significa que ela vai ter de lutar comigo antes de fazer o treinamento do Vega. Não sei exatamente o que ele está planejando, o capitão, mas isso está começando a me incomodar.

Não quero que meus amigos venham para cima de mim com vontade de me matar. O objetivo vai ser esse, causar o máximo de dano em mim possível para conseguirem acumular pontos. 

Isso é ruim para o relacionamento. Isso na verdade é ruim para todo mundo. Se eles me verem apenas como um obstáculo, nunca vão confiar em mim para que eu possa ajudar.

Aff! O que eu posso fazer?

Me levanto do beliche e vou em direção a saída do dormitório. Está todo mundo no terceiro sono a essa hora. Eu saio do local e vou andando pelos corredores, vou drenar um pouco de energia de algum lugar para continuar acordado.

— Kaike. — Alguém me chamou, atrás de mim.

Assim que me viro vejo que é um garoto com cabelo de tigela, franzino e meio magro demais. É o Clio. O que será que ele quer?

— E aí, Clio. — Cruzo os braços. — Você parece que quer alguma coisa. Observando meu treinamento, me seguindo até aqui de noite, quando já deveria estar dormindo.

— Sim, quero saber se você já tem algum plano para o dia em que três pessoas forem tentar te matar.

A maneira como ele falou isso foi tão frio que eu até me espantei. Insinuar que ele é um perseguidor maníaco não foi o suficiente para que ele se intimidasse?

— Sinceramente, estava pensando sobre isso agora — suspiro.

— Sim. Você não quer que as pessoas fiquem mal por você e te tratem como objeto. Você sente a necessidade de ter uma boa relação com todas, de fazer elas confiarem em você.

— C-como você…?

— Você é fácil de ler — responde, me interrompendo. — Tenho uma proposta que pode te ajudar. Eu sei como você pode fazer todos os que falharam ganharem pontos e passarem sem precisar te encarar como um objeto. Pelo contrário, elas vão confiar em você após isso.

Eu franzo o cenho. Já sei para onde esse papo vai.

— Quer me dar uma informação em troca de quê? Sei que você vendeu a sua vitória para o Ash.

— Sim. E você sabe que por isso agora faço parte do grupo que vai te enfrentar. Logo, tenho meus interesses. Isso que vou te dizer era para ser usado originalmente apenas em mim, mas você não é individualista, gosta de pensar nos outros.

— Rhá! Você planejou isso direitinho, não foi?

— Sim. Mas não ache que sou uma pessoa ruim. Só quero me manter como classe S sem me meter em muita confusão. — Ele levanta a mão para mim em um cumprimento. — Aceita?

Esse cara não mente. Sei que ele é inteligente, poderia ter passado em primeiro lugar nas provas. A luta dele também não é ruim e o raciocínio dele é rápido, parece uma máquina. Clio de fato não parece ser uma má pessoa, só é um cara bem estranho. 

Eu seguro a sua mão e sinto a sua energia. É, não é a energia de alguém que tem dúvida. É seguro, decidido e centrado. Frio e calculista, eu diria. Mas ainda assim, uma boa pessoa.

— Aceito sim, Clio. Mas quero que você treine no meu grupo também.

Ele fica surpreso, uma expressão diferente do rosto sério e centrado. Ele abre a boca e suas bochechas ficam levemente rosadas. Por isso ele não esperava.

— Q-quê? — pergunta.

Dou um sorriso.



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