Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 35: A Maior Habilidade De Um Líder É Desenvolver Habilidades Incríveis Em Pessoas Comuns

 

Acordo e me espreguiço. É cedo, hora de ir para a sala de treinamento. Me levanto da cama e desço do beliche. 

Depois de vestir uma roupa de treino por cima da de dormir acordo Ash que sempre dorme demais e quase sempre chega atrasado no treino. 

— Ei, acorda aí, amigão. — Dou uns tapinhas em seu rosto. — Não vai querer receber outro esporro da Solares, vai?

Ele levanta de imediato e, mesmo com o rosto ainda amassado e notoriamente bêbado de sono, se veste para ir ao treinamento; sua camisa preta fica do lado contrário, porém não falo nada para ele agora, tenho outras coisas para me preocupar.

Vou em direção a Amor, que está me esperando em um canto do dormitório com umas duas amigas delas na cola. Estão conversando sobre qualquer coisa. Uma está com o rosto amassado, a outra está até maquiada. Já Amor nem parece que dormiu, continua atenta como sempre.

— Ah, estava esperando você. Hoje é o dia, está lembrado, não é?

Aceno positivamente com a cabeça. Nem poderia esquecer, mesmo se eu quisesse. Hoje é o dia em que vou bancar o treinador com alguns Recrutas que estão apoiando a Amor e a sua causa.

— Está preparado? — pergunta ela.

— Claro.

E como não poderia estar? Até meus amigos estão nessa, a Vida e o Ash. Então vamos todos indo em direção a sala de treinamento.

Pedi para que Amor não contasse a ninguém a respeito do que aconteceu comigo e com o Thomas no Porão. Todos acreditam que eu só estava andando por aí. Nem ficaram sabendo sobre minha passagem pela sala da curandeira.

Assim é melhor, dá menos trabalho para aquele soldado que me ajudou bem no último instante. Devo a ele por salvar a minha vida, o mínimo que posso fazer para retribuir é não atrapalhar sua carreira.

Nós finalmente chegamos na sala de treinamento. A maioria dos alunos fazem o costume: Se alinhar em quatro filas para receberem aulas dos auxiliares e da chefe.

Antes eram cinco linhas, porém Clio, um dos auxiliares, resolveu vender a sua vitória na primeira fase do torneio, coisa que fez ele perder muito o respeito. Inclusive, agora ele se encontra na fila da Sol, sua treinadora. 

Tenho certeza que a Solares não pega leve com ele por conta de sua atitude. Mas o recruta do D6 não parece se importar muito com isso. Na verdade, sendo sincero, ele não parece se importar com nada.

Além dos que estão enfileirados para receber o treinamento dos quatro instrutores, há um grupo de recrutas, razoavelmente grande, que está parado conversando. Eles não parecem que querem treinar agora. Se fosse classificá-los, diria que estão perdidos.

E chegando com um grupo bem pequeno de pessoas, a Amor vem chegando. Nesse grupo estão Vida, Bia e Ash, fora algumas outras pessoas que nunca tive muito contato.

Estão vindo em minha direção. Amor está com um rosto cheio de entusiasmo e expectativa. Droga, será se vou realmente ser tão bom assim com essa gente? Se bem que pensando bem…

Olho para o treinamento dos outros Auxiliares e vejo o fracasso que alguns deles têm com seus alunos. É! Pior do que isso com certeza não vai ser.

Volto a olhar para o meu grupo. Agora eles estão parados à minha frente, esperando que eu fale alguma coisa. Alguns não parecem muito convencidos de que eu seja um bom chefe, consigo ver isso em seus olhares. 

Vamos dar uma mudada nisso.

— Muito bem — digo enquanto ajeito minha roupa, tentando parecer confiante. — Vocês vieram aqui procurando melhorar no treinamento de vocês, correto? Sinto dizer que não é isso que vai acontecer.

Eles se olharam confusos. Amor que tinha um sorriso no rosto me encara de maneira estranha e esquisita. 

— Os que estão aqui buscando apenas treinamento para vencer o torneio, podem cair fora. Não é isso que vou ensinar a vocês. O que vou ensinar é como vocês vão se preparar para o campo de batalha real, enfrentando perigos reais. Nada de coreografias, nada de ensaios, nada de movimentos programados. Luta de verdade, saber se virar, usar o ambiente a sua volta, saber improvisar, isso é o que importa em uma luta de verdade. E é isso que vou ensinar a vocês.

Os rostos de desagrado agora viram um de surpresa. Porém alguns ainda se mantêm desconfiados. Isso é natural, precisam de uma prova que o que estou falando é garantido.

— O que vou ensinar para vocês é tudo que eu sei. Cresci nas ruas, aprendendo coisas, principalmente a me virar em uma luta. E a primeira coisa que vocês têm de entender é que ninguém é igual. Cada um tem seu talento e seu potencial, o próprio estilo. O que eu vou fazer é refinar isso em vocês…

Uma pessoa levanta a mão. É uma garota de pele bronzeada e cabelos loiros, igual os de Ash. Ela é muito bonita. Tem os olhos amarelados, iguais aos de Ash. São irmãos?

— Com licença, mas como você pode garantir que o seu treinamento é melhor que o deles?

Ela aponta para Leona, uma das auxiliares. Ela está segurando um garoto de cabeça para baixo e dando socos em sua barriga. Parece estar se divertindo. No caso ela está se divertindo, ele nem tanto.

— Antes de entrar para a classe S, um grupo de soldados de uma e duas estrelas me enfrentaram. Eu derrotei eles. Só fui capturado no final pelo capitão Vega, que é um soldado de quatro estrelas. 

A garota que fez a pergunta faz um rosto de impressionada, como quem diz: “Nada mal”. Alguns outros recrutas começaram a conversar entre si.

— É verdade, viu quando ele lutou com a Solares? — fala um dele.

— É! Ele não deve estar mentindo sobre isso.

— Vamos ver as aulas dele, qualquer coisa é só a gente sair.

— Se foi a Amor que recomendou ele, então não tem porque duvidar.

Certo, estou ganhando a confiança de todos. Vou usar isso a meu favor agora. Precisarei impressionar eles não apenas com palavras, mas com ensinamentos também.

— Certo, vai funcionar assim… — E começo a explicar a eles.

A minha metodologia vai ser diferente dos outros. Não sei se vai funcionar, mas acho que é mais interessante do que o método atual que os auxiliares estão usando que consiste em treinar um por um e que outros esperam em fila.

Primeiro digo para eles que vou treinar cada um, mostrando movimentos e também analisando as necessidades de cada. 

O próximo passo é fazer eles se juntarem em pares e lutarem uns contra os outros. Como não passam de oito pessoas, ficará certinho um quatro grupos. Dessa forma eles não ficam em filas esperando a vez para treinar novamente. Ficam em constante movimento, praticando o que aprenderam.

Durante o treino deles, vou avaliar cada um, analisar onde podem melhorar e no que estão errando. 

— Primeiro vou ensinar vocês a se defender.

De um por um, mostro uma técnica para imobilizar um oponente. É fácil, basta ler o movimento do agressor, segurar o membro e imobilizar ele. Quer dizer, falar é mais fácil do que fazer.

Vejo que alguns têm muita dificuldade em imobilizar, como a Vida. Mas outras pessoas já têm certa facilidade, como o Ash, que tem um jogo de pés muito bons. 

Ensino eles a imobilizarem inimigos que atacam com os punhos e com chutes. Para imobilizar basta conseguir jogar o oponente no chão e prendê-lo, ou então torcer seu membro até ele desistir ou qualquer coisa que faça o oponente não conseguir atacar.

Existem muitas vertentes para isso, porém ensino o básico.

Depois de mostrar como faz com cada um dos recrutas, peço para que treinem com um parceiro, sempre alternando. Eu mesmo separo os grupos, para que ninguém pegue leve um com o outro. 

E assim vejo eles repetindo os movimentos diversas vezes. Alguns acabam se machucando, caindo no chão com força. Outros tomam cuidado para não torcer o braço do parceiro ao ponto de machucar.

Alguns são muito agressivos e tem leves ferimentos, outros são muito gentis e não conseguem completar o movimento. Agora é minha hora de aconselhar.

Vou falando com cada um deles, um por um, avaliando o método e ensinando como podem estar imobilizando sem machucar ninguém. Basicamente digo para fazerem os movimentos lentamente e ir aumentando a velocidade gradualmente.

Conforme eles decoram o movimento básico, eu digo para eles se soltarem. Agora não vão mais ficar revezando quem imobiliza quem. Todos vão tentar se imobilizar.

É bem engraçado ver que algumas pessoas ficam mais nervosas. Aquelas que estavam confiantes no movimento decorado agora tem dificuldade para imobilizar o inimigo que também está tentando imobilizá-lo.

Depois de um tempo, onde continuo dando conselhos, separo novamente os grupos. Dessa vez os que tem mais facilidade em imobilizar vão ficar com pessoas dos níveis deles, enquanto os que tem mais dificuldade vão ficar com os que também tem mais dificuldade.

Ash é um dos melhores em imobilizar. Aquela garota que parece ser a irmã dele também não fica para trás. Será se ela é realmente irmã dele? 

Amor não é tão boa quanto Ash, mas está longe de ser a pior. Atualmente o nível dela é o mesmo que o da Bia, embora eu tenha a impressão de que a Bia esteja pegando leve.

As piores são duas garotas: Vida e uma outra recruta amiga de Amor. Elas realmente são bem ruins. Ao menos consigo ver que as duas estão se esforçando bastante. Isso que importa.

Enquanto vejo cada um treinando e dando seu melhor, Sol chega perto com cara de séria.

— O que é isso aqui?

— Estão treinando — falo como se fosse a coisa mais óbvia. Ela não parece gostar.

— Você por acaso é Auxiliar?

— Não. Mas não tem regra para isso, não é? — Dou um sorriso. Ela franze o cenho.

Nesse instante, antes que ela possa abrir a boca e falar alguma coisa, Vega, o capitão, sobe no palco.

— Atenção, todos vocês. Tenho algo importante para dizer!

Sol olha para mim como se tivesse acabado de ganhar uma discussão de forma satisfatória.

— Vamos ver como o Capitão vai reagir a isso então.

Ah! Eu esqueci que quem define as regras no fim é o Capitão. Pelo visto minha carreira como instrutor vai ser bem curta.



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