Volume 1
Capítulo 31: Desafie Seus Limites (1)
Tenho de alcançar a voz o mais rápido possível, ele parece aterrorizado com algo.
Talvez tenha sido pego por uma dessas criaturas estranhas e está desarmado. Mas que categoria de criatura conseguiria dar cabo de um soldado de duas estrelas?
Finalmente tomo um caminho que Remi traçou, um novo que daria em direção a voz. Por sorte é justamente o lugar onde eu queria estar, na última caverna. Basta sair daqui e posso sair daqui.
Estranho pensar que Thomas está tão perto da saída. Isso me faz pensar no perigo que me aguarda.
— Thomas! Cadê você?
Chego na última caverna. Aqui é tão mal iluminado quanto todas as outras. Existem teias de aranha para todos os lados e algumas poças de uma substância esverdeada aqui e ali.
— Thomas! — chamo outra vez.
Tento sentir a energia dele, porém sou incapaz de fazer isso. Talvez ele esteja muito longe. Existem muitos “talvez” nas minhas afirmações. Não tenho certeza de nada e isso está começando a me preocupar.
Em situações difíceis, meu pai sempre dizia que devemos analisar nossa situação primeiro, a do ambiente depois e por fim prosseguir com cautela.
Tudo bem que ele estava falando sobre caçar galhados e orelhudos inofensivos e não sobre estar atrás de um colega sequestrado por um mutante, mas tudo bem.
Continuo seguindo até que as teias de aranha vão ficando cada vez mais espessas e maiores. Aqui já está escuro demais então sou obrigado a ligar a lanterna em minha pulseira.
Assim que faço, dou de cara com um Estertor pendurado de cabeça para baixo, amarrado em uma teia, como um zumbi.
Tomo um susto tão forte que caio no chão, bem em cima de uma daquelas poças verdes. Imediatamente me levando, morrendo de dor. Minha bunda arde como se tivesse sido queimada.
— Que merda é essa?
Remi analisa a poça da substância e então mostra os dados analisados em uma tela holográfica:
[VENENO ÁCIDO]
[Essa é a composição química da saliva de uma aranha.]
Uma aranha? Ou várias aranhas? Para ter tanta teia e tanto dessas poças espalhadas por aí… Ou então… Será se…
Ouço um barulho atrás de mim. Assim que aponto a lanterna dou de cara com oito partes de olhos negros e brilhantes me observando da escuridão.
Dou um grito e isso parece fazer o bicho se assustar e sumir. Meu coração quase saiu pela boca. Na verdade, estou nervoso até agora, por isso resolvo correr daqui.
— Thomas! Thomas! Thomas! Uma aranha, Thomas! Tem uma aranha gigante aqui, Thomas!
— Não é uma aranha gigante — fala Remi com a sua voz simpática irritante. Esse robô não sente nenhuma emoção? Programaram ele errado. — É uma Aracne… uma mutação…
— Cala a boca!
E continuo correndo em direção a qualquer coisa que possa me salvar neste instante. Pode ser um lugar seguro ou coisa do tipo, não importa muito. O importante é que eu nunca mais veja aquela coisa na minha frente.
Esbarro em algo no meio da minha corrida e tropeço, quase caindo no chão. Quando me viro para ver o que foi vejo um corpo amarrado por teias muito parecido com uma múmia.
Sinto uma energia familiar vindo de dentro do pequeno casulo humano. Conheço a pessoa que está aí dentro.
— Thomas? Thomas!
E começo o meu trabalho de tirar o corpo dele dali de dentro. Primeiro consigo tirar as teias de sua cabeça, mas as outras teias prendendo o seu corpo me dão mais trabalho do que eu esperava.
Ouço os sons de patinhas batendo em volta de mim. Isso está me deixando aflito e nervoso. Não teria medo de uma simples aranha nunca na minha vida, porém aquela coisa enorme me assustou bastante.
Quando é que alguém pensa que um dia verá uma aranha gigante? Ninguém quer essa visão e tão pouco espera por isso.
No meu trabalho de soltar Thomas de suas teias, ele abre os olhos e dá um grande respiro. Olha para mim como se visse uma espécie de grande salvador, ou coisa assim.
Ei, embora eu seja mesmo o seu salvador não é como se isso fosse ser motivo de admiração.
— V-você veio… Você veio me ajudar — diz com a voz fraca.
— É claro. Você varia o mesmo por mim.
Ele fecha os olhos e espreme os lábios.
— Não, Kaike, eu tenho que te contar uma coisa…
Antes que ele possa contar qualquer coisa, a aranha aparece um pouco mais a frente. Ela está chegando perto. É grande, gorda e tem uma aparência tenebrosa.
Sua cabeça de fato parece com uma aranha, porém suas patas são mais parecidas com pernas humanas. Ela não é cabeluda e para piorar eu acho que tem uma pessoa… Sim, tem uma pessoa bem em cima dela.
É apenas a cabeça, o tronco e os braços. O corpo da aranha fica logo abaixo, como uma espécie de aranha-homem, ou coisa do tipo. Seja o que for, essa coisa é assustadora.
— Me diz que vai me contar um jeito de derrotar essa coisa — falo.
— Não, Kaike, só foge disso!
— Mas e você?
— Eu me viro! Vai embora!
Faço que não com a cabeça e me levanto. Olho para os olhos da criatura e espero que isso transmita minha seriedade com relação a nossa luta, que eventualmente acontecerá. Só espero que eu não me quebre muito.
Deixo os raios saírem de meu corpo e viajar sem rumo para todos os lados. Meus cabelos se arrepiam. Sinto que meus músculos ficam menos doloridos. Que minha velocidade aumentou.
Até que toda essa aventura serviu como treino.
— Pode vir! — grito.
Meu azar é que a criatura dessa vez entendeu. Ela abre as duas pinças que ela tem na frente do rosto, revelando um pequeno buraco redondo que suponho ser a boca. De lá sai uma teia jogada em minha direção.
A teia me agarra no peito. Tento tirar porém apenas prendo minhas mãos na teia, me mantendo ainda mais refém da criatura.
Ela dá um balanço de cabeça e eu saio do chão, sendo jogado para o alto. Bato com tudo no teto e depois ela me joga no chão, como se eu fosse a ponta de um chicote.
Essa doeu. Só que vou ter que parar de sentir essa dor por enquanto. Essa desgraçada está vindo em minha direção e eu tenho que ensinar uma lição para ela.
— Sua aranha desgraçada!
E parto pra cima dela. Ela continua me usando como chicote de um lado para o outro. Todas as vezes em que bato sinto a vida se esvaziando um pouco mais de mim.
Maldito bocão esse o meu.