Volume 1
Capítulo 21: Legal Mesmo Seria Se Saíssem Raios Das Nossas Mãos!
Estou novamente no mundo virtual. Peço para que o ambiente seja similar a grande sala de treinamento, onde no futuro terei de lutar contra três perdedores.
Peço para que Remi ao invés de três lutadores normais coloque especialistas em combate com os pés. A última luta com Ermo me deixou indignado, como pude ter tanto trabalho com um cara daqueles?
O ambiente é uma grande rua cheia de postes com alguns registros, onde a qualquer momento posso enfiar minha mão e drenar a energia.
Os três primeiros que enfrento me dão um enorme trabalho. São realmente velozes e muito eficazes com seus chutes e pontapés; talvez tenha sido má ideia ter configurado os lutadores como “especialistas”.
No fim das contas consigo me livrar deles usando uma estratégia parecida com os últimos três que enfrentei.
ϟ [SUBIU DE NÍVEL] ϟ
[Nível 12]
[5x Agilidade]
[5x Resistência]
Isso não é nada bom, se continuar do jeito que estou vou sempre precisar enfiar minha mão em uma tomada ou coisa do tipo.
Será se não tem um meio de drenar energia sem precisar enfiar a mão?
Durante as minhas lutas eu vou trabalhando nisso. Elas parecem ficar cada vez mais difíceis com o tempo. Não posso deixar que isso me atrapalhe.
Um novo grupo de três vem em minha direção. Esses inimigos são mais esguios e têm as pernas bem longas, o que facilita que eles me acertem.
Recebo muito dano, o que me deixa quase completamente quebrado. Porém é hora de fazer os testes que tanto quero.
Vou para perto de um registro e tento drenar a sua eletricidade sem que eu precise enfiar a minha mão diretamente na corrente de energia. Nada acontece. Pareço um bobo tentando alcançar inutilmente o vento.
ϟ [SUBIU DE NÍVEL] ϟ
[Nível 15]
[15x Agilidade]
[15x Resistência]
Conforme o tempo passa vejo que estou ficando cada vez mais forte, desviando melhor dos chutes e de algumas armadilhas que os inimigos virtuais tentam me lançar.
O problema é que, fora a minha habilidade física e minha movimentação, não estou tendo uma evolução em meus poderes. A essa altura já era para ao menos conseguir lançar alguns raios pelos dedos.
Eu erro um golpe em um dos três inimigos e ele consegue acertar um chute poderoso o suficiente para me atordoar. Os outros dois com certeza vão se aproveitar dessa brecha.
Tento atraí-los em direção a caixa de energia, porém eles tomam certa distância.
Droga, não vão cair mais nessa?
Penso em alguma alternativa. A única coisa que me vem à mente agora é aquela cena onde eu soltei raios pelos dedos e fritei aqueles soldados que tentavam acabar comigo, lá no Distrito 2.
Levanto a mão em direção a eles e me concentro. Sinto um formigamento em meu corpo, passando pelos meus ossos até chegar nas pontas dos meus dedos.
Raios descontrolados saem de lá acertam os três, mas não parece ser uma voltagem alta o suficiente, porque assim que perco o fôlego e os raios param de sair, os inimigos ainda estão de pé.
— Isso é trapaça, Remi!
— Trapaça? Jamais — diz a voz de Remi vinda do céu, como se fosse Deus. — Seus raios só não foram fortes o suficientes para atordoá-los.
A conversa acaba por aqui. Os três vêm para cima de mim com velocidade. Se tivessem rosto com toda certeza estariam esboçando irritação por terem sido fritados aos poucos.
Continuo minha luta com os três até que os derrote. Dessa vez não foi nada fácil, estou sentindo cada centímetro do meu corpo dolorido.
Para piorar, mais três caras aparecem em apenas alguns segundos antes mesmo de eu ser capaz de drenar a energia para me recuperar.
— Trapaça, Remi! Trapaça!
Digo enquanto saio correndo deles, em busca de algum lugar para drenar energia. Encontro uma caixa presa em um poste. Cálculo que estou longe o suficiente daqueles três e talvez dê tempo de…
Dois deles viram a esquina logo à minha frente e um deles atrás de mim. Droga! Estou cercado.
Tento abrir o registro o mais rápido que eu posso, mas não tenho força para abrir com a velocidade necessária.
O que estava atrás de mim, isolado, me puxa para trás e começa a me dar joelhadas. Os outros dois chegam também e não deixam barato.
Isso é mal. Estou fraco demais para conseguir revidar a altura, o que significa que vou ser amassado por um bom tempo.
Recebo chute de todos os lados. Três pessoas te chutando no chão não é a coisa mais heróica que se pode ver, é humilhante.
Mesmo sentindo a dor física, estou suficientemente bem para pensar que ninguém, absolutamente ninguém além de mim, consegue ver o que eu estou passando.
Afinal, como alguém poderia ver a minha simulação?
ϟ ALMOXARIFADO ϟ
— Quer ver o Kaike na simulação? — pergunta Remi a Vida.
— Claro, adoraria.
A cena não era uma das mais comuns.
Para contextualizar: Vida estava indo para o almoxarifado pegar um pano de chão, porque estava disposta a limpar a nova sala de treinamento.
Mesmo não tendo a melhor performance em luta e se saindo muito mal no treinamento, queria ajudar de alguma maneira. Ela sempre queria ajudar. Por isso estava ali.
Assim que chegou encontrou um Kaike parado em posição de T. Primeiramente ela levou um susto, achando que fosse algum tipo de assombração; ela acreditava em superstições.
Foi então que Remi, por meio da pulseira digital de Kaike, falou com Vida, a tranquilizando sobre a visão perturbadora. Ela quase teve um infarto, pensara que a voz robótica vinha de alguma entidade maligna.
Vida ficou grata por ninguém, além de Remi, ter ouvido o seu gritinho fino de desespero. Também ficou feliz ao descobrir que enquanto Kaike estivesse na realidade virtual, não conseguiria captar nada ao seu redor.
Após o breve chilique, a garota ficou bastante impressionada e conversou por muito tempo com Remi sobre as tecnicalidades do equipamento. Claro, sua curiosidade era para os fins medicinais, as novas tecnologias lhe deixavam fascinada.
Ficou encantada durante toda a explicação minimamente detalhada e no fim Remi a convidou a dar uma olhada no desempenho de Kaike. Ela, por fim, aceitou.
Da pulseira digital saiu uma tela holográfica enorme que tapava a posição em T de Kaike — dando, de forma não intencional, um pouco de dignidade à sua privacidade.
— Uau! — exclamou Vida assim que viu Kaike na tela.
— Vida, por que a demora? — Quem chega no almoxarifado agora é Ash e Bia.
— Gente! Olha, é o Kaike treinando. — Vida apontou para a tela holográfica como se fosse uma criança.
Depois de uma breve explicação do que estava acontecendo, Ash e Bia se juntaram, curiosos, para ver o treinamento peculiar de Kaike.
Se Kaike soubesse que tinha plateia, teria parado o treinamento alí mesmo, pois não queria mostrar uma má performance em combate. Mas claro, seus amigos tinham uma outra percepção do que era uma performance ruim.
Kaike estava lidando com três inimigos. Ele já estava de pé, dando vários socos e desviando de alguns golpes. Ainda era acertado aqui e acolá, porém isso não tirava o brilho dos olhos de seus telespectadores.
— Caramba! Eu não sabia que ele conseguia fazer isso — falou Ash.
— Não é? O Kaike é mesmo incrível.
Bia fez um sinal positivo com a cabeça enquanto puxava em seu rosto uma expressão de “Nada mal”.
Quando Kaike conseguiu se livrar dos três, outros três apareceram do nada. Seus amigos reclamaram.
— Eu sei que ele é bom e tudo, mas não é possível que consiga vencer essa.
— Aí, Remi, dá uma folga para ele. Poxa vida — reclamou Vida com as bochechas cheias de ar.
Bia fechou os olhos e fez um sinal negativo com a cabeça, como quem dissesse: “Que injustiça, Remi.”
Para a surpresa de todos, Kaike venceu os três. E isso fez Ash e Vida darem um grande viva. Bia comemorou a derrota dos inimigos fazendo um gesto ofensivo para a tela e dando um sorriso maligno.
Era a mesma sensação de ver um jogo esportivo por um televisor.
Novos inimigos apareceram, um atrás do outro. E a cada nova leva de inimigos, Ash, Bia e Vida achavam que Kaike teria chegado ao seu limite. Isso não era totalmente mentira.
Kaike não tivera nenhuma folga até ali e por isso não conseguiu se dirigir até uma fonte de energia. Mas dessa vez ele precisava drenar energia ou então seria massacrado.
Três novos inimigos subiram em cima dele e impediram os seus golpes. Agora o rapaz estava mesmo encurralado.
— Ele vai se cansar — disse Ash, preocupado. — Não faço ideia de como ele chegou até aqui.
— Não fale assim! Ele se esforçou até agora e olha onde chegou.
— Mas olha para ele, acha mesmo que o Kaike vai sair dessa? É melhor parar a simulação agora, ou então ele vai voltar todo atrofiado.
Bia falou em sinais, que foram traduzidos por Vida:
— “Não tem como ele se machucar no mundo real, seu…” Bia, já não conversamos sobre apelidar os outros?
A garota de cabelos verdes cruzou os braços e voltou a olhar para a simulação, aborrecida com a chamada que recebeu.
— Mas ele pode voltar ferido psicologicamente da simulação — apontou Ash, como se fosse óbvio. — Acham que ele só traz coisas boas de lá? Não, as coisas ruins também.
Era apenas uma suposição, já que Remi não havia explicado essa parte. Mas estava correta. Embora fosse uma simulação, e ador que ele estivesse sentindo fosse artificial, havia consequências que eram trazidas para o mundo real.
As duas garotas ficaram preocupadas com o apontamento do seu colega. Vida juntou as mãos e começou a fazer uma oração para o Rei enquanto torcia para Kaike, como se ele pudesse ouvi-la.
— Vai, Kaikiii~!
No instante seguinte, Kaike conseguiu se livrar dos três que lhe segurava só por um instante. E esse instante foi suficiente.
Ele apontou o braço em direção a caixa de energia, em uma distância relativamente curta, e todos viram a eletricidade saindo da caixa e entrando até seu corpo como se ele fosse um pára-raio.
O Condutor estava drenando energia sem precisar tocar diretamente na corrente. Agora a eletricidade vinha até ele.
Quando terminou de se carregar, o poste apagou. Ainda era possível ver Kaike, pois partículas elétricas e azuladas viajavam ao redor do seu corpo.
Depois disso, diversos clarões saíram da mão do Condutor. Relâmpagos rápidos que atingiram o peito de seus inimigos, os fazendo cambalear para trás, atordoados por alguns segundos.
Embora não tenha conseguido frita-los, isso foi o suficiente para aplicar os golpes finais. Os três foram eliminados e desapareceram.
Ash, Bia e Vida prenderam a respiração, pasmos com o que tinha acabado de acontecer. E por alguns segundos nada aconteceu, apenas Kaike ofegante no meio da escuridão.
De repente uma tela cheia de status apareceu para todos:
ϟ MISSÃO CUMPRIDA ϟ
[HABILIDADE MELHORADA: Drenagem Elétrica (II)]
[Pode drenar eletricidade de fontes, transferindo a energia para si mesmo.]
[Melhoria: Agora é capaz de drenar a eletricidade a uma curta distância da fonte e com mais velocidade.]
[NOVA HABILIDADE: Relâmpago]
[Pode descarregar repetidamente um raio de eletricidade de suas mãos sem consumir muito da energia acumulada.]
ϟ [SUBIU DE NÍVEL] ϟ
[Nível 18]
[20x Agilidade]
[20x Resistência]
[20x Eletrocinese]
Então os seus amigos comemoraram, pulando, gritando e se abraçando enquanto davam pequenos girinhos em grupos. Se esqueceram completamente dos seus afazeres e mais tarde receberiam uma bronca por isso.
Kaike, que não fazia ideia da festança acontecendo do lado de fora, ouviu as parabenizações apenas de Remi.
— É, eu sou incrível mesmo. — Depois de uma pequena descarga de energia em comemoração ele disse: — Vamos melhorar um pouquinho mais. De novo, Remi!
Afinal de contas, aquilo com certeza não era o suficiente para as aventuras que viriam a seguir.