Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 19: Não Procure Briga Com Quem Pensa Ter O Rei Na Barriga

Enquanto observava Solares, estava praticamente babando, imaginando coisas indecentes. Aí, aí, que coisa feia. Me ajeito e falo:

— Quero saber o que eu faço. Estou sem fazer nada, só parado, observando vocês… Treinando

Não chamaria isso de treino, mas não quero questionar as decisões dela na frente dos outros.

— Não ouviu o que o capitão falou? Você é um Condutor. Não pode lutar contra uma pessoa, apenas com três.

Sua voz é meio áspera. Tento não me incomodar com isso.

— Tá, então… Tem três pessoas por aí para que eu possa treinar elas?

Ela me encara como se eu tivesse enfiado o dedo em seu olho.

— Treinar elas? Você por acaso é auxiliar? Não! Eu escolhi só 4 auxiliares. E você não é um deles.

Isso sinceramente me incomodou um pouco.

— Calma lá, capitã obviedade — digo. — Vai me ensinar que estar vivo é o contrário de estar morto também, é? — As pessoas ao redor começam a prestar atenção na gente. — Eu sei que não fui escolhido para ser auxiliar. Mas eu só quero ajudar, não quero ficar parado…

— Você não quer muita coisa, Recruta? Ninguém vai treinar você e você não é meu auxiliar, então vai caçar outra coisa para fazer. Sei lá, treina sozinho! Qualquer dúvida pergunta para o Capitão Vega.

Ela gritou tão alto que até os outros auxiliares, que não estavam tão perto assim, ouviram. Ela gritou comigo. Todo mundo está olhando para nós dois agora. Ela gritou comigo.

Então é assim que vai ser, né, garota?

— Ah! Desculpe, Chefe — digo, sarcástico, fazendo movimentos exagerados. — Eu pensava que você, sendo Chefe, conseguiria me dar uma informação tão simples quanto: “O que eu faço?” Mas mil desculpas por pensar que você, Chefe, era capaz de me dar uma informação tão simples! Que tolice a minha! Aff!

E dou as costas bufando. Sol fica gritando atrás de mim algumas coisas, falando sobre petulância e dizendo para o capitão Vega fazer alguma coisa a respeito do meu comportamento. Pelo incrível que pareça, Vega apenas dá uma risada e diz:

— O que tem de mais em um pedido de desculpas? E outra, você é a Chefe dele, não eu.

E ele voltou a rir. Os outros recrutas também deram risadinhas.

Fico um pouco feliz. Finalmente estava começando a me entender com Vega. Ao menos nessa questão. Ele poderia muito bem ter ficado do lado dela e me dar uma punição, já que obviamente entendeu que era irônica. Ainda bem que ele foi neutro.

Mesmo sendo grato ao capitão, isso não me deixa menos irritado. Continuo andando em direção a porta. Ouço passos vindo atrás de mim. Tento não dar atenção e saio da sala de treinamento.

Enquanto ando pelos corredores, percebo que a Solares continua me seguindo. Ela está determinada a me tirar do sério, com certeza. 

— Você está me escutando? — questiona ela.

— Sol, me deixa em paz.

Ela segura o meu braço, e eu paro, me viro em sua direção e a encaro. Ela parece um pouco cansada. 

Deve ter sido dureza aguentar aqueles vários alunos até agora e depois vir me perseguir pelos corredores. Sem querer me gabar, sou bastante rápido, ainda mais com esses poderes.

— Você não pode sair assim, sem minha autorização! — diz ela.

— Do que você está falando? Foi você mesmo que disse que não era para fazer nada lá dentro. E se eu não vou fazer nada lá dentro, prefiro fazer nada em outro lugar. Então com licença…

— Mas a maneira que você me tratou na frente de todo mundo… Está errada!

Agora que estou encarando-a bem, estou começando a ficar preocupado e minha raiva vai se esvaindo. 

Solares está vermelha, mas tenho quase certeza que isso não é cansaço. Ela está com vergonha, talvez esteja se sentindo humilhada com a maneira que a tratei na frente dos outros.

Argh! Eu que não gosto de ser humilhado acabei fazendo a garota passar por papel de idiota. 

— Olha, Sol… Não foi minha intenção te constranger na frente de todo mundo. Eu só fiquei irritado com tudo que aconteceu e explodi com você.

— Nunca mais faça isso…!

— Tá.

Ela está meio ofegante, parece realmente cansada. O que será que ela tem? Vejo Sol se encostando na parede, com certa dificuldade em respirar.

— Sol, você tá bem? 

Me aproximo dela e tento segurar a sua mão, mas ela tira a minha mão de perto.

— Sai! Eu tô bem, eu só tô… — E ela começa a cair. Por sorte consigo segurá-la antes de que caia de fato.

Agora que estou olhando melhor, ela não parece nada bem. Seu rosto está um caco. Parece que não dormiu direito. Os olhos fundos.

Eu sinto uma sensação estranha. É como se pudesse sentir o fluxo de energia de seu corpo. Não consigo notar nada negativo, só que a energia dela está quase se esgotando. Isso tudo é estresse? Será se ela não comeu? Ou será se ela não anda dormindo direito?

— Ei! Sol! Você está bem? O que aconteceu com você?

Ela abre os olhos e me encara. De início parece estar normal, com uma coloração branca bizarra. Mas logo o seu rosto volta a ficar vermelho.

— O que você está fazendo? — Ela tenta sair dos meus braços e se levantar sozinha, não é muito capaz disso.

— Calma, eu só estou…

Sinto uma mão segurando a gola da minha camisa e me jogando para trás. A surpresa do golpe me faz soltar Solares, que cai de um jeito desajeitado no chão. Antes que ela possa se levantar, eu vejo quem foi que me jogou para trás.

— Ermo! O que você tá fazendo aqui?

Esse cara me dá nos nervos.

— O que você pensa que está fazendo, Trovãozinho. Por acaso ficou com tanta raiva da Chefe que resolveu acabar com ela aqui e agora?

— Você não sabe de nada. Ela está mal, precisa ir na enfermaria.

— Não — ela murmura. — Eu estou bem.

— É claro que não está…

Eu me aproximo para tentar ajudar Solares a se levantar. Mas Ermo coloca a mão no meu peito, me impedindo de aproximar.

Primeiramente olho para a sua mão, depois vou subindo a cabeça lentamente até o encarar nos seus olhos frios e sem vida, com o maior desprezo que consigo projetar.

— Tira suas mãos nojentas de mim, seu merda — digo. 

— Ouviu a Chefe. Você não vai tocar nela.

Afasto sua mão com agressividade. Ermo responde com uma joelhada direto no meu saco.

fᵢₗₕₒ da ₚᵤₜa! Que dor desgraçada…

Fico sem fôlego por um segundo, sentindo apenas dor nas partes baixas. É uma queimação misturada com vontade de morrer. Tomara que eu ainda consiga ter filhos depois dessa.

Ermo chuta o meu peito e me manda para a parede. Agora estou estatelado no chão, sem ar e sem conseguir andar. 

— Quem disse que você pode tocar em mim, condutorzinho? — fala Ermo com a sua voz nojenta, bem próximo de mim.

Por sorte, eu caí bem ao lado de uma tomada. Enfio minha mão ali e dreno a energia, fazendo as luzes do corredor piscarem e voltarem logo em seguida. De repente a dor que eu estava sentindo se esvai. Agora só restou a raiva.

Seguro Ermo pela a gola da camisa e o puxo para baixo, em uma inclinação perfeita para lhe dar um soco no meio da fuça tão forte que o manda para trás. 

Solares consegue se desviar a tempo e diz para nós dois:

— Parem agora com isso!

Eu pararia por aqui, mas Ermo não pareceu ter ouvido o aviso. Se levanta depressa e parte em minha direção. 

O corredor é pequeno, então não tenho muito espaço para luta. Os golpes do meu oponente são principalmente com os pés. Ele me acerta muito, a maioria na região do torso.

Eu não deixo barato. Qualquer oportunidade que tenho de socar a sua cara é uma oportunidade aproveitada. 

Não estou usando nada dos meus poderes, nem poderia se quisesse. Ainda não consigo controlar muito bem, preciso certo nível de concentração. 

No momento estou só usando os meus punhos mesmos, satisfeito que no fim basta eu drenar a energia de uma tomada que vou estar novinho em folha. Já esse cara… Coitado.

— Parem os dois com isso! Parem já! — Sol continua gritando. 

Nem ele e nem eu damos atenção. Continuamos nos batendo. E para falar a verdade até que esse Ermo é bem difícil de deitar, principalmente com esses chutes imprevisíveis.

— O que vocês estão fazendo longe da sala de treinamento? — pergunta um soldado.

Eu paro de me agarrar com Ermo no mesmo segundo, o que é uma pena, estava prestes a dar um soco que ia afundar a sua cara inteira. 

— Nnada, senhor — diz Solares. — Só estou tentando separar a briga desses dois idiotas.

“Senhor”. As vezes esqueço que ela é Chefe dos Recrutas e que ainda não é um soldado formado. De certa forma eu deveria tratar com respeito todo mundo que tem um estrela ou mais no peito. Mas até isso é difícil de manter em mente.

— Esse raiozinho que começou — fala Ermo, me empurrando para a parede e se levantando. O lábio dele está cortado.

— Eu que comecei? Só estava tentando ajudar a Sol que estava exausta.

— Ajudando? Estava quase matando ela, isso sim.

— Larga de ser mentiroso, seu..!

— Já chega! — Ela olha diretamente para mim. — Você é insuportável! Não consegue obedecer nada do que eu mando você fazer? Se digo para me deixar em paz, é para me deixar em paz! Eu sou sua chefe e não é para ficar me questionando, ouviu bem? É para me obedecer.

De repente todo aquele clima de pedido de desculpas vai embora. Agora eu queria muito dizer umas verdades para essa garota. Mas estou na frente de um soldado.

— Entendido, Chefe — falo.

Ela me olha um pouco chocada. Não esperava que eu cedesse tão fácil. Logo sua expressão volta para a séria.

— Ótimo! Agora vamos voltar para a sala de treinamento…

— Esse recruta está dando problema para a senhorita? — pergunta o soldado. Ele parece sério.

Sol demora um pouco para responder. Fica sem o que dizer. Ermo toma a frente.

— Sim! Está causando problemas para todo mundo. Será se tem como aplicar uma punição nele por ser tão mané?

Eu olho para Ermo, tentando deixar claro que vou arrancar as tripas dele. Infelizmente não consigo fazer raios saírem dos meus olhos, mas gostaria de conseguir agora.

— Me acompanhe, recruta — diz o soldado.

Eu olho para Solares uma última vez, como se perguntasse para ela se aquilo estava mesmo certo. Ela não esboça nenhuma reação exceto a de choque. Ermo tomou uma decisão por ela e agora ela não sabe o que fazer. 

Que piada, uma chefe que não consegue tomar uma decisão tão simples. Bom, eu tomo por ela. 

— Então até mais. Vai se cuidar, Sol. 

E acompanho o soldado. Depois disso não sinto, nem ouço nenhum sinal de Solares ou do otário do Ermo.

Enquanto acompanho o soldado para o meu futuro castigo, que com toda certeza não deve ser pior do que o castigo que é ficar perto do Ermo, fico pensando no que eu poderia ter feito para ter ajudado a Chefe.

Se tivesse total domínio de meus poderes, quem sabe eu não conseguisse passar um pouco da minha energia para ela? Isso possivelmente a mataria. Tenho que treinar mais na realidade virtual do Remi. Inclusive, falando nele, ele até que anda bem quieto ultimamente.

— Qual o seu nome? — pergunta o soldado, parando o trajeto que estava fazendo.

Eu esbarro nas costas dele e só assim volto para a realidade.

— Ahm… Kaike. 

Estranho ele não me conhecer, achava que todos me conheciam. Talvez o conheçam por nome, já que o rosto que ele faz assim que digo o nome é de surpresa.

Ele estende a mão para mim. Agora sou eu que estou surpreso. Eu cumprimento ele e tento reconhecer seu rosto. Nunca vi na minha vida. Olho para seu peito, onde ficam as credenciais.

 

[Classe S]
[Estrelas: ★★]
[Nome:...]

 

Não tenho tempo de ver o resto porque ele chama minha atenção ao falar:

— Prazer, Kaike. Queria mesmo falar com você. Eu me chamo Tomas



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