Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 17: A Vida É Assim Mesmo: Corrida Hoje, Vitória Amanhã

ϟ QUARTO DO THOMAS ϟ

Thomas se dirigiu até o seu canto secreto mais uma vez. Ali, ninguém poderia lhe interceptar falando com o inimigo. Ao menos, era isso que esperava. Se sentou na cadeira de seu quarto e ficou observando o computador a sua frente, aguardando a chamada ser atendida.

Esperava que a pessoa do outro lado não atendesse. Queria muito isso. Mas hoje não era seu dia de sorte.

— E então? — falou uma voz distorcida.

— É hoje que o torneio vai ser apresentado. Acabei de ficar sabendo dos outros soldados. Agora, quando o torneio vai começar exatamente só vou ficar sabendo depois de…

— Faça agora.

Thomas quase saltou de sua cadeira. 

— Agora? C-como assim agora? Não tem como fazer agora, eles ainda nem abriram o local direito…

— Essas são suas ordens. Arranje uma forma.

O soldado se levantou, completamente aborrecido com a situação. Deu uma pancada na mesa, próximo ao seu teclado e encarou a tela do computador furiosamente, como se ela lhe tivesse desferido um grande insulto.

— Não dá para fazer agora! Será que não me ouviu direito? Eu preciso de mais tempo…

— Está negando a ordem?

Um terrível arrepio percorreu sua espinha até chegar à nuca. Sentiu vontade de chorar naquele momento. Se lembrou de estar atrelado ao serviço e não poderia negar qualquer ordem. Fazer isso significaria…

— Não. — Ele se acalmou e voltou a se sentar em sua cadeira, domado. — Não, senhor.

— Ótimo. Aguardo o relatório. Salve O’s Quatro Ventos.

— Viva — respondeu Thomas, sem muito ânimo. Por fim a transmissão desligou.

O soldado continuou sem chão, sem saber o que faria. Pôs as mãos no rosto e esfregou seus olhos. Depois olhou um retrato que estava ao lado de seu computador. 

Era uma foto com ele bem no centro, segurando uma criança em seus ombros, um rapaz que tinha o mesmo cabelo escuro que o seu. Ao lado de Thomas havia uma mulher,  cabelos compridos, pele clara, igual ao da criança. 

Ele ficou muito tempo observando aquela foto. Não podia falhar na missão. Não poderia falhar com a sua ordem. 

Porque se falhasse… 

 

ϟ SALA DE TREINAMENTO ϟ
ϟ FALTAM 4 MESES PARA A EXPLOSÃO ϟ

 

Depois de tomar um banho e vestir uma roupa nova, preta como sempre, decido acompanhar os alunos atrasados.

Vou seguindo até chegar em uma porta. Assim que adentro o local solto um:

— Uou!

Esse lugar é gigantesco. É uma grande sala quadrada sem muita coisa para ver além disso. O espaço é grande o suficiente para caber todo mundo e com certeza daria para caber ainda mais. Talvez o triplo de pessoas.

Não tem eco, não tem muita coisa. Só tem várias pessoas, recrutas, e um palco mais a frente.

A cima do palco tem um grande quadro branco, o que me deixa impressionado. Pensava que justo em um lugar como esse os quadros seriam completamente digitais.

Quem será que vai dar aula?

— Ei! Kaike! — chama Ash, que está um pouco mais a frente. Ele parece feliz em me ver.

— E aí, Ash. De boa? — pergunto assim que me junto a ele mais na frente. Curioso notar que meu companheiro de beliche não está sozinho, Vida e Bia também estão com ele.

— Kaikiii ~

Vida me cumprimenta com um abraço caloroso. Algo em seu gesto me faz sentir estar abraçando uma idosa.

Ash, que a poucos segundos estava feliz em me ver, fecha a cara. Eu gostaria de dizer que mulher de amigo meu é igual cebola, mas Vida não é comprometida, e ele não sabe que eu odeio cebola.

Depois do abraço, Bia, que está logo atrás de sua amiga, me dá um tchauzinho, o máximo que consigo entender de seus sinais. Isso deve ser um “oi”, com toda certeza. Por que estaria se despedindo?

Confesso que mal vi o tempo passar enquanto estava recebendo a punição, trancado naquela sala de saneamento. Então não é como se sentisse tanta falta dos meus amigos assim.

— O Ermo voltou a encher a paciência de algum de vocês?

Eles se olham meio desconfiados.

— Não, aquele imbecil ficou longe da gente — responde Ash. — Ficou rindo de você esses dias todos que ficou fora. Até andou espalhando mais histórias mentirosas por aí.

— História mentirosa é? Tipo o quê?

— Não sabemos direito — começa Vida. — A verdade é que o Ermo ficou tão chato que um grupo foi mandar ele calar a boca. Daí em diante ele só começou a espalhar coisas falsa sobre elas.

— Elas?

— É. O grupo delas ali. — Ela aponta para um canto mais distante e vejo várias meninas ao redor de uma garota, conversando. — Uma delas é do meu distrito, inclusive.

— Legal.

E acho legal mesmo. Um grupo de garotas me defendendo? Tudo bem que elas não deviam estar realmente ME defendendo, como Vida falou, deveriam já estar de saco cheio do Ermo falando idiotice.

Converso mais um pouco com os dois, contando algumas piadas e a gente fica rindo da cara do Ermo e seus amigos idiotas até que alguém interrompa. De fato, alguém interrompe.

Vega, o capitão que me deu um tiro com uma arma gigante na cara, sobe no palco mancando com suas pernas de metal e chama a atenção de todo mundo. Eu não faço a menor ideia de onde foi que ele surgiu. Seria muito fácil identificar um homem quase todo de metal e com um tapa-olho se aproximando.

— Silêncio, seus imprestáveis. Hoje eu vou explicar como vai funcionar o torneio.

Torneio?

As pessoas parecem ter pensado a mesma coisa que eu, já que também estão cochichando entre si.

Bia se vira para nós e faz alguns gestos. Vida responde:

— Eu também não sei do que ele está falando.

— Silêncio! — grita Vega. E nós ficamos em silêncio. — Como ia dizendo, o torneio.

Ele faz um gesto no quadro e várias linhas se formam no painel. E eu pensando que ele iria desenhar tudo com o pincel. Ele continua:

— Esse torneio vai ser o teste físico de vocês. Os que passarem vão ficar conosco até o próximo teste. Os que não passarem vão ser mortos.

Todo mundo começa a falar entre si. Eu vejo Vida ao meu lado ficar branca, mais do que já é. Quase um fantasma. 

Ei, espera aí, ele não pode estar falando sério.

— Se eu pedir para vocês fazerem silêncio de novo, juro que vou matá-los aqui e agora. — Silêncio. — Sabemos que alguns aqui não são os melhores duelistas. Mas para ser um classe S você deve aprender o mínimo de combate. Por isso, vocês serão avaliados por pontos e não por número de vitórias.

Ele faz um gesto no quadro e então aparecem palavras e números..

 

[Critérios:]

[Vitória = 50pts]

[Criatividade = até 25pts]

[Movimentação = até 15pts]

[Resistência = até 10pts]

 

— Eu vou avaliá-los em cada um desses critérios. Como podem ver, a vitória dá mais pontos. Porém a performance em batalha também será contada. Se demonstrarem alguma dessas qualidades, vocês vão receber pontos suficientes para passar. O número de pontos necessário é 100.

— Mas nem uma vitória é 100 pontos — fala uma garota, a daquele grupo que brigou com Ermo. Ela tem cabelos ruivos e curtos. É a mesma do Distrito 4, o distrito de Vida. — Como que uma pessoa que perde a luta vai conseguir o restante dos pontos?

— Não abri espaço para perguntas ainda — suspira Vega, aborrecido. — Continuando. — Ele faz um gesto no quadro e agora nomes aparecem no quadro. — Todos vocês vão lutar com um parceiro. Seus nomes estão aqui, essa será a primeira fase. 

Eu vasculho o quadro com os olhos. Vejo alguns nomes conhecidos. O primeiro que eu vejo é Ash, que vai lutar com um garoto chamado Clio. Se bem me lembro, esse daí é do D6 e foi o terceiro colocado nas provas, ou algo assim.

Depois vejo Vida, que vai lutar com uma garota chamada Clara. Não faço ideia de quem seja. Tem outros nomes, como o do Ermo e os amigos dele lutando com outros recrutas, tem o nome de… 

Ei, o nome de Solares não está na lista e nem o meu.

— Capitão! — Levanto o braço. — Cadê o meu nome e o da Sol?

Vejo ele levantar uma sobrancelha. Alguns recrutas começam a rir baixinho. Esqueci que ninguém aqui está acostumado a chamar a Chefe Solares de Sol. Imagino como ela deve estar irritada agora.

— E eu abri espaço para perguntas? — pergunta Vega.

Eu cruzo os braços e o encaro de forma meio desafiadora, meio inocente.

— Então não é uma falha?

Agora dá para ver uma veia saltar na testa do capitão. Ele suspira.

— Primeiro vou responder a primeira pergunta, sobre os 100 pontos. 

Ele não ia me dar esse gostinho tão fácil. Está dificultando para mim. Tudo bem, vou jogar o jogo dele. Espero enquanto ele começa a responder a garota do grupo que combateu o Ermo e seus amigos.

— Os que forem derrotados terão sua oportunidade, de três formas: Primeiro, podem conseguir pontos durante o treinamento de vocês, que será realizado pela Chefe dos Recrutas, Solares. Ela vai ficar responsável por treinar vocês até o dia da fase 1 do torneio. Segundo, podem conseguir pontos durante os meus treinamento especiais. Vão acontecer esporadicamente, não serão diários como os da sua Chefe.

Hum. Isso explica o motivo dela não estar no torneio. Mas ainda assim, ela é tecnicamente uma recruta. Deveria estar passando pelo mesmo teste que os outros, não?

— E terceiro. — Vega aponta para mim lá de cima do palco. — Podem conseguir pontos matando o Condutor Kaike.

Gelo no mesmo instante. Todas as cabeças se voltam para mim. Encaro Vega e vejo que está curtindo a vingança.

Isso só pode ser piada…

 



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