Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 14: Nem Todo Dia É Dia De Felicidade (5)

Ermo está em um beliche na parte de baixo, sentado na ponta da cama conversando com a garota a sua frente que se chama Parca. Na parte de cima do beliche dela está Saibro, deitado de lado. Ele percebe que estou me aproximando.

Saibro consegue falar sobre minha chegada, dando tempo para Ermo se levantar e virar em minha direção. Me aproximo dele.

— Fazendo a ronda, Condu… Ei! — Puxo ele pela gola da camisa. — O que pensa que está fazendo?

— Cadê o meu bastão?

Juro que se ele fizer qualquer gracinha, vou moer esse maluco na porrada. Já vem me irritando a tempos.

— Seu bastão? — A voz dele parece irônica. Com certeza está com ele. — Não sei nada sobre o seu bastão.

Empurro seu corpo para mais próximo de uma parede, mas antes que consiga encostar, Saibro aparece para lhe segurar. Não vi quando ele saiu de seu beliche.

— Enlouqueceu, Condutor? — grita Ermo para mim, enfurecido e surpreso com a minha força.

Seu rosto me dá um pouco de satisfação. Eu também ficaria assustado caso enfrentasse alguém que consegue me lançar alguns metros de distancia apenas com um braço.

— Onde está meu bastão, Ermo?

Uma plateia surge ao meu redor, todos cochichando, falando baixinho. Provavelmente estão ansiosos para a briga que vai acontecer se esse idiota na minha frente não devolver o que é meu.

Aproveito a distância de Ermo para virar seu beliche de cabeça para baixo. E depois começo a vasculhar suas coisas.

— Ei, para com isso! Já falei que não tenho seu bastão idiota! Saibro!

Ouço os passos do garoto alto e magro se aproximando. Ele agarra meus cabelos e me puxa para longe. Fico irritado e dou um soco em seu estômago, o fazendo recuar alguns passos.

Ouço um gemido. Depois que me viro, Saibro me encara com um olhar sanguinário e vem andando até minha direção. Dou um soco, mas ele afasta a minha cabeça com mão.

Tento atingi-lo, só que meus braços são muito curtos comparados ao dele. O que está acontecendo é que Saibro está me mantendo longe empurrando minha cabeça com o seu grande braço esticado.

Ele dá uma leve gargalhada que vem do fundo de sua garganta. Fico irritado e começo a socar o seu braço. Antes que consiga fazer muito mais dano, um chute no meu quadril me joga para o lado.

Caio em um beliche e o derrubo no chão junto a mim. As pessoas que estavam deitadas se levantam furiosas comigo. Me seguram pelos braços e depois me empurram em direção a briga novamente.

Quando olho para quem me atingiu no quadril, percebo que se tratou da amiga de Ermo, Parca. O olhar que ela me lança é insuportavelmente irritante. Sinto vontade de arrancar aquele sorrisinho da cara dela.

Vou em direção a Parca com ódio no olhar. Essa garota vai descobrir o que é bom para gente ladrão, com certeza vai. 

Aproximo-me, ela recua, fazendo eu errar um soco. Depois ela volta para frente e me empurra. Eu bato em algo atrás de mim. Saibro.

Ele me segura com seus braços enormes, me levanta do chão e me aperta. Sinto o ar vazando de meus pulmões. Provavelmente estou da cor de uma berinjela. 

Então me lembro do treinamento que fiz na realidade virtual. Passei por uma situação parecida e me livrei deles de um jeito bem criativo.

Impulsiono minha cabeça para trás e acerto minha nuca bem no nariz de Saibro. Ele, diferente daquele inimigo de branco da inteligência artificial, não me larga, mas faz um gemido de dor.

Esse cara é mais forte que aqueles inimigos de branco? Como isso é possível? Pensava que Remi tivesse dito que aqueles monstros eram a minha altura e eu sou o condutor.

Quer dizer que esse garoto alto e magrelo aqui está acima do meu nível? Impossível. Simplesmente impossível. Mas afinal de contas, qual é mesmo o meu nível?

Tento fazer o movimento outra vez, só que agora ele desvia, já preparado para isso. Quando olho para frente vejo Parca correndo em minha direção, pronta para me acertar um golpe.

Como não estou com os pés no chão, faço um pequeno impulso usando o corpo de Saibro e chuto, com os dois pés, o peito de Parca. 

Ela é jogada para trás com força, cai no chão e começa a rolar. Só para de rolar depois de um tempo. Na minha opinião ela não parece muito bem.

— Ham! — Saibro solta um gemido aflito, provavelmente por ver a amiga no chão gemendo de dor com a mão na região do peito.

Aproveito a distração, consigo retirar uma de minhas mãos de seu aperto e lhe ataco com meu cotovelo. Dessa vez me larga. Assim que me viro, estou decidido a continuar nossa luta, mas algo engraçado acontece.

Saibro mete a mão aberta na minha cara, a segura e me empurra para o lado, como se eu não fosse nada. Depois sai correndo em direção a Parca, caída ao chão.

Esse cara é muito irritante e ainda parece que nada do que faço lhe machuca de verdade. Quero muito acabar com ele, para provar que meu nível é superior.

Quando presto atenção a cena sinto um pouco de pena. O garoto alto e esticado não fala nada, apenas fica gemendo alto e tentando ajudar a garota caída da melhor forma que consegue.

Isso é triste ao mesmo tempo que deprimente. Mas não tenho tempo para ficar sentindo pena dos meus inimigos agora.

Espera aí, eles são meus inimigos? Isso não pode estar certo…

Volto de meus devaneios assim que sou atingido por uma cadeira direto no rosto. Zonzo, sou jogado para perto de um dos pilares de sustentação do dormitório. 

Me apoio com a mão para não cair e sinto um choque porque acabei encostando em uma tomada.

Anteriormente eu só teria tirado a mão, mas agora que entendo mais os meus poderes, vejo que esse é o momento ideal para testá-los.

Me concentro no choque que estou levando e penso em algo que me ajude a drenar a energia. Imagino que um fluxo de raios está saindo direto da tomada, sendo atraída para o meu braço e que essa energia está espalhando por todo o meu corpo.

Uma sensação esquisita passa por mim. Espasmos em todos os lugares próximos da minha mão. Sinto a energia viajando e entrando por todo o meu corpo. Estou drenando toda a energia daquele local. 

As luzes do dormitório se acendem por um segundo e então se apagam. Depois disso já não consigo drenar energia. Pelo visto essa fonte já acabou.

Está tudo escuro, mas graças aos raios que viajam por fora do meu corpo de um canto ao outro, desordenadamente, eu consigo enxergar Ermo a poucos metros de mim, assustado e frustrado.

Esse cara vai pagar pelo que ele roubou.

— Devolve o que é meu!

Ajeito a minha postura em algo ameaçador e deixo toda aquela energia fluir pelo meu corpo. Os raios ficam descontrolados, atingindo o chão perto de mim, na parede, em todos os lugares. 

Toda a multidão está afastada o suficiente para que nenhum pequeno raio descontrolado os atinja. Estou irritado demais para querer controlar isso.

Meu corpo brilha como se eu fosse um vaga-lume azul. 

Levanto a mão e direciono para Ermo. Não sei como controlar meus poderes ainda, então não é como se eu estivesse mesmo planejando acertar um raio nele. Só estou fazendo isso para ameaçá-lo.

Até que acertar um raio direto em seu peito não seria uma má ideia. O problema que isso iria me causar, entretanto, seria gigantesco.

Falando em problema, geralmente teria alguém para nos separar. Só que até agora ninguém o fez. Vai ver que estão com medo demais para se aproximar, ou então foram chamar os soldados para nos impedir.

Seja como for, por algum motivo estou sentindo falta de alguém. O que é esquisito, quem será que estou esquecendo? Quer saber, isso não importa. 

Tenho de continuar me concentrando. Quem sabe se eu não consigo soltar um raio menor, que apenas faça ele se contorcer um pouquinho…

Mas antes que eu possa até mesmo perder o controle e sem querer acerta o idiota na minha frente, uma voz conhecida ao meu lado separa toda a briga.



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