Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 13: Nem Todo Dia É Dia De Felicidade (4)

ϟ SALA DE REUNIÕES ϟ

Os classe S de quatro estrelas para cima se reuniram outra vez, dessa vez para discutir algo que estaria preocupando alguns. Obviamente, para haver uma reunião dessas, a informação teria de ser muito relevante. Tão relevante quanto a informação de um Condutor andando por aí à solta.

A Comandante Negra se sentou bem na ponta da mesa oval, enquanto todos os outros se sentavam em seus respectivos lugares, ansiosos para tomar as suas decisões.

Como sempre, Vega sentava-se ao lado de sua comandante enquanto Zero bem no lado oposto a Negra. Era ele que iria apresentar todas as informações.

— Senhores — começou Zero, ajeitando seus óculos. — Descobrimos um pico de energia na região montanhosa, entre o D3, D4 e D5.

Ele fez um gesto sobre a mesa e ela mostrou um mapa holográfico de três dimensões, que ia mudando a perspectiva assim que ele passava a mão. Zero apontou onde estava o pico de energia com o dedo.

A localização, sinalizada por um ponto avermelhado, estava no meio de uma cadeia de montanhas que separava três distritos:

O Distrito 3, que era basicamente uma enorme floresta, cheia de árvores gigantes e civilizações escondidas em meio ao matagal. Essa região era cercada por uma cadeia de montanhas de um lado e do outro era mar. Não havia saída para eles sem que passassem pelas montanhas ou pelo mar.

O Distrito 4, que era uma enorme planície, com algumas pequenas florestas aqui e ali, uma região muito extensa e com um solo muito fertil. Ela ficava do lado oposto ao D3, do outro lado do caminho montanhoso.

O Distrito 5, que era um gigantesco deserto. Lá viviam apenas os mais corajosos, pois a vida lá não era fácil. As pessoas tinham de viver dentro de ambientes climatizados, pois ir para o deserto era morte certa.

Bem na fronteira desses três distritos, estava o ponto avermelhado. 

— E então — resmungou Vega. — Quer dizer que tem um Condutor aí?

Zero ajeitou novamente os seus óculos usando o dedo médio e encarou seu colega com fingida paciência.

— Esse sinal representa uma média. O que significa que o condutor em questão andou por toda essa região. — Ele circulou o mapa, formando uma região que englobava tanto as montanhas como uma parte de cada distrito. — Ou seja, ele andou viajando de um lado para o outro, usando esse caminho nas rochas.

— Então não sabemos onde ele está com exatidão? — perguntou Negra.

— Não, senhora — respondeu. — Infelizmente o Condutor em questão parece saber o que está fazendo e parece estar ciente dos nossos meios de rastreamento por radiação. 

— Que absurdo — falou Vega. — Para saber disso ele tem que ter recebido informação daqui de dentro. Não é, Negra? — Ele olhou para ela, e ela o olhou de volta. — Espera aí, não vai me dizer que…

— Não podemos descartar a possibilidade — interrompeu Zero. — Mas isso ainda não significa que ele está livre de nossa tecnologia. Se ele anda de um lado a outro, viajando para esconder seu rastro, significa que tem bases em todas essas regiões. Basta apenas descobrir em qual ele fica por mais tempo.

— O que sugere, Vega? — Negra se vira para o colega. — Acha que a base no Distrito 3 poderia ser a sua principal?

— A vida na floresta não é tão fácil assim, nem mesmo para um condutorzinho. — Vega acendeu um charuto. — A vida no deserto é pior ainda, dependendo do tipo de poder que ele tenha, é mais provável que acabe morrendo. Então só sobra uma opção.

— Distrito 4 — falou Zero.

— É a opção mais lógica — continuou Vega. — Lá é o melhor lugar para se fazer comércio em todo o continente. Cheio de fazendas, animais, comércio para tudo que é lado. E claro, o tráfico.

Todos se encararam com certo desconforto. Todos sabem dos negócios obscuros que ocorrem no D4 e sobre sua situação atualmente, mas ninguém ousa falar da podridão do distrito. 

Desde que o Rei havia morrido, o Distrito 4 começou a apresentar corrupção. Atualmente, sabe-se que mais da metade de sua receita anual foi gerada por meios ilegais.

Alimentos, pessoas, armas e drogas. Essas eram a maioria das coisas que eram importadas daquela região. Os outros distritos tinham sérios problemas em controlá-los devido ao suborno que era dado aos fiscais.

Sendo assim, até aquele dia o Distrito 4 saia praticamente impune, pois detinha de muito poder e muito dinheiro. Entretanto, poderia ter mais. 

O problema era que embora tal distrito fosse um dos maiores exportadores de alimentos, caso ousassem aumentar muito os preços e passassem a ser abusivos com suas taxações, os outros distritos corriam para o 7, que exportava muito peixe e os vendia por um preço praticamente ridículo.

Não era a melhor comida do mundo. Porém era barata e honesta. Logo, toda a exportação do D4 tinha de ser cobrada por um valor justo. Do contrário, bastaria que os distritos começassem a comprar apenas peixe. Logo, a carne sempre tinha um preço justo.

Mas embora a questão da carne ainda fosse controlada, a criminalidade naquele distrito só aumentava ano após anos, com tendências a aumentar. E ninguém, nem mesmo a classe S, fazia nada para mudar.

— Pois muito bem, Distrito 4 então. — Zero fechou o holograma com um gesto abrangente. — Vamos ficar de olho.

Vega riu. Negra o encarou. Sabia o que era aquela risada. Já tinha convivido tempo suficiente com o capitão de sua tropa para isso.

— Algum problema, capitão?

— Bom. — Ele meneou a cabeça para um lado enquanto saboreava seu charuto. — Só estava pensando aqui… Se esse condutor aí é esperto suficiente para mascarar o rastro dele, isso não significa que ele também pensaria no lugar mais óbvio que poderia ficar? Quer dizer… Não seria difícil para ele deduzir que achamos que ele ficaria no distrito com maior recurso.

Todos se encararam, preocupados. Aquilo fazia sentido. Seria então um plano para dispersar a atenção dos classe SS?

 

ϟ DORMITÓRIO ϟ
ϟ FALTAM 4 MESES PARA A EXPLOSÃO ϟ

 

Volto para meu quarto cansadíssimo depois dos treinos com Remi na realidade virtual. Nunca pensei que um jogo poderia me dar tanto trabalho.

Assim que saí do local parei de sentir qualquer dor, abri os olhos e vi que ainda estava no almoxarifado. Muito estranho. Depois a minha pulseira irritante ficou falando vários dados e estatísticas relacionado ao que tinha acontecido. 

Não dei ouvidos e vim direto para o dormitório. Assim que chego falo com Ash. Tenho de admitir, na verdade o motivo de vir aqui é boa parte por causa da preocupação que sinto. Vai que aquele idiota do Ermo fez alguma coisa com ele.

Mas parece que está tudo bem. Já está de noite, então boa parte dos recrutas estão dormindo. 

Digo boa parte porque tem sempre aqueles que ficam acordados a noite inteira fazendo algo, seja conversando, lendo alguma coisa ou até se divertindo com alguma garota. 

Ouço o barulho de palmas ao longe, que sei que não são, e alguém perto dizendo:

— Para de fazer zoada! Eu quero dormir!

Sorte que não sou esse cara. Na verdade, com esse meu companheiro de beliche parece que nunca vou ter o azar de acordar por ele estar se divertindo com alguém. Isso é meio triste, porém reconfortante.

Pelo incrível que pareça, e até para a minha própria surpresa, Ash não dorme tarde. Quando as luzes se apagam, dando a ideia de que aqui ficou de noite, ele já sente sono.

Na verdade, para saber a hora eu não preciso que ninguém me avise, basta olhar para o Ash e se ele estiver bocejando e com cara de quem está bêbado de sono é porque o sol provavelmente já se pôs.

O horário biológico do corpo dele é bem rigoroso. Se não for dormir um pouco depois, Ash fica uma tralha de tão cansado. 

Isso me deixa curioso, será se o Distrito 7 é muito rigoroso ao ponto de fazer todos se acostumarem a dormir cedo? Imagino que lá não haja muito o que se preocupar. Apenas dormir, acordar e pescar. Uma vida muito tranquila, mais tranquila do que a nossa no D2.

Na Hidro City, no meu pobre Setor E, eu não tinha escolha, às vezes tinha de passar a madrugada fazendo serviços como vigia ou até como entregador para algum fora da lei. Não me orgulho disso, mas ei, dinheiro é dinheiro. Melhor parar de pensar. Está chegando a minha hora de dormir. 

Subo no meu beliche e fico olhando para o teto, de costas para a cama. Tento fechar os olhos, mas tenho mania de dormir bem próximo do meu bastão, última lembrança do meu pai.

Estico a mão e procuro o meu bastão abaixo do travesseiro. Apalpo diversas vezes e então meu coração começa a acelerar. Não está aqui. 

Jogo o travesseiro para longe. Acho que acertei o cara da beliche do lado, porque ele acorda gritando:

— Ei! O que pensa que está fazendo?

Não está aqui. Não está aqui. Não está aqui.

Pulo no chão e vasculho embaixo do colchão. Nada. Dou vários tapinhas no rosto do Ash para que ele acorde. Ele me olha totalmente atordoado.

— Ahm, o que foi? — Ele tem baba escorrendo pelo canto da boca dele.

— Cadê o meu taco? Você viu o meu taco?

— O quê…? Não, ele não tava…

Não estou com paciência. Meu coração está batendo forte. Estou assustado, isso é um fato. 

Pego o colchão de Ash e o levanto, fazendo meu colega rolar e cair no chão do outro lado. Isso chama um pouco de atenção, mas não estou nem aí. 

Não está aqui. Não está aqui. Não está…

Olho para os lados, vasculhando com o olhar qualquer vestígio do meu bastão. Quem faria uma coisa dessas? Quem iria roubar o meu…?

— Ei, Kaike, o que foi que aconteceu? — pergunta Ash, se levantando do chão.

Alguns recrutas que estavam dormindo se levantam e observam de longe o que está acontecendo.

Aperto os punhos. Começo a pensar e sinceramente não preciso ir muito longe. Foi o Ermo e aqueles amigos idiotas dele.

— Aquele idiota roubou meu bastão.

— Quê? Quem? Espera! Aonde você está indo!

Ando para frente. Vou de um lado para o outro do quarto, procurando, olhando. Cada pessoa que se pareça com Ermo, eu praticamente derrubo da cama, puxando os panos, colchão ou travesseiro.

Ninguém fica feliz com a minha inspeção, mas não estou nem aí. O número de olhares curiosos aumenta. 

Não está aqui. Não está aqui. Não está aqui.

Finalmente chego até dois beliches, um na frente do outro, onde as pessoas não estão dormindo. 

São eles, são aqueles três idiotas. Eles roubaram meu bastão.



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