Trigo e Loba Japonesa

Tradução: Virtual Core


Volume 1

Capítulo 3

O rio Slaude serpenteia lentamente através das planícies. Dizem que ele trilha o caminho deixado para trás por uma cobra gigante que deslizou das montanhas a oeste através das planícies para o mar oriental, seu amplo e lento caminho é uma rota de transporte essencial para a região.

Pazzio é uma grande cidade portuária situada perto do ponto médio do rio. Não muito longe rio acima existem grandes campos de trigo; ainda mais longe estão as densas florestas das montanhas. Troncos flutuam rio abaixo o ano todo; balsas que transportam trigo ou milho, dependendo da época, navegam para cima e para baixo do rio. Só isso já seria suficiente para garantir a prosperidade da cidade, mas porque não há pontes sobre o Slaude, suas balsas a fizeram um ponto de encontro natural.

Era tarde, mas ainda não era noite; Lawrence e Holo chegaram durante o período mais movimentado do dia.

O comércio de Pazzio tinha crescido desde que a cidade recuperou a sua autonomia da monarquia — agora comerciantes e aristocratas a governavam. Consequentemente, haviam tarifas pesadas sendo cobradas sobre as mercadorias que entravam na cidade, mas não se faziam verificação de imigração ou demandavam identificação. Se fosse uma cidade com um castelo, o oposto seria verdade, e o status não humano de Holo seria um problema.

“Eles não têm rei aqui?” Foi a primeira pergunta de Holo ao chegarem na cidade.

“Esta é a primeira vez que vem para uma cidade deste tamanho?”

“Os tempos certamente mudaram. Na minha época, uma cidade deste tamanho seria governada por um rei.”

Lawrence sentiu um leve senso de superioridade, ele já esteve em várias cidades, muito maiores que Pazzio. Ele tentou não deixar isso transparecer para que Holo percebesse. E em todo caso, ele era tão ingênuo quando um novato.

“Heh. Vou apenas dizer que suas intenções são admiráveis,” brincou Holo.

Aparentemente, Lawrence foi um pouco descuidado ao esconder seus pensamentos.

Embora a atenção do Holo se focasse em muitas lojas que se alinhavam na estrada, ela ainda notou sua expressão. Teria sido apenas um golpe de sorte? A ideia de que ela podia discernir seus pensamentos tão facilmente era inquietante e longe de ser engraçado.

“Isso não é... um festival, é?”

“Se fosse um dia de celebração da Igreja, as ruas estariam tão lotadas que não se poderia passar por elas. Hoje, porém, ainda há espaço.”

“Ho. Difícil imaginar,” disse Holo com um sorriso, inclinando-se para fora da carroça e observando as barracas dos mercadores pelas quais passavam.

Ela parecia completamente uma caipira em sua primeira visita à cidade, mas Lawrence de repente pensou em outra coisa.

“Ei.”

“Mm?” foi a sua única resposta enquanto ela continuava a olhar os muitos vendedores.

“Está tudo bem em não cobrir sua cabeça?”

“Huh? Cabeça?”

“Sei que agora é a época do festival em Pasloe, a maioria dos moradores estarão bebendo e celebrando — mas nem todos eles, e alguns deles podem estar visitando Pazzio hoje.”

“Oh, isto,” disse Holo, se sentando na carroça, de repente irritada. Ela olhou de volta para Lawrence, sua capa mal cobrindo suas orelhas. “Mesmo que eles pudessem ver minhas orelhas, ninguém notaria. Todos eles já se esqueceram de mim há muito tempo.”

Havia tanta veemência na voz dela que foi um milagre não ter gritado. Lawrence reflexivamente levantou as mãos como para acalmar um cavalo assustado. Holo não era um cavalo, mas pareceu ter algum efeito.

Ela fungou com desdém e puxou a capa para baixo, olhando para frente e fechando a cara.

“Você viveu lá durante centenas de anos — certamente há algumas lendas sobre você. Ou que você nunca tomou a forma humana?”

Existem lendas. E às vezes eu apareço como humana.”

“Então, há lendas sobre você aparecendo como uma humana?”

Holo olhou para Lawrence com um olhar sorrateiro elaborado, suspirou, e então falou. “Até onde me lembro, era algo assim. Ela se parece com uma bela garota de cerca de quinze anos. Tem longos cabelos castanhos e orelhas de lobo, juntamente com uma cauda de ponta branca. Às vezes, ela parece nesta forma, e em troca de manter sua aparência um segredo, ela promete uma boa colheita.”

Holo olhou Lawrence com um olhar que dizia, “Satisfeito?”

“Bem, parece que você praticamente disse tudo sobre si para eles. Não tem problema?”

“Mesmo que vissem minhas orelhas ou cauda, iriam duvidar — assim como você. Eles nunca vão perceber a verdade.”

Holo enfiou a mão por baixo da capa e mexeu suas orelhas, talvez porque era desconfortável escondê-las no interior do tecido.

Lawrence olhou de lado para ela. Ele queria que fosse mais cuidadosa, mas se dissesse isso, ela certamente ficaria genuinamente irritada.

Parecia que discutir Pasloe era um tabu. Ele se sentiu melhor quando considerou que as lendas de Holo não faziam qualquer menção às suas reais características faciais, apenas a identificando por suas orelhas e cauda. Enquanto ela as mantivesse escondidas, passaria despercebida. Lendas eram apenas lendas — não era como se ela estivesse em um cartaz de procurado da Igreja.

Algum tempo depois Lawrence resolveu não pressionar o assunto, Holo parecia estar considerando alguma coisa. Por fim, ela falou.

“Ei...”

“Mm?”

“Mesmo... Mesmo que eles me vissem, não devem saber quem sou... ou saberão?”

Seu humor mudou completamente; era quase como se ela quisesse ser descoberta.

Mas Lawrence não era tolo. Ele olhou inexpressivamente para frente do cavalo. “Certamente a minha esperança é de que eles não saibam” ele respondeu.

Holo sorriu levemente, quase com tristeza. “Você não precisa se preocupar.”

Uma vez que Holo voltou a olhar alegremente nas barracas, Lawrence percebeu que ela estava falando para si mesma, assim como com ele.

Não havia necessidade de pressionar o assunto, no entanto — Holo era muito teimosa.

Lawrence não pôde deixar de sorrir desta Holo. Ela se animou completamente e olhava com entusiasmo as deliciosas frutas pelas quais passavam.

“Há uma grande variedade de frutas! Todas são colhidas por perto?”

“É porque Pazzio é a porta de entrada para o sul. Na estação correta, você pode ver até mesmo frutas de regiões quase impossíveis de visitar.”

“Há muitas frutas boas no sul, e são boas.”

“Certamente você também tem frutas no norte.”

“Aye, mas são duras e amargas. Para torná-las mais doces devemos secá-las e trata-las. Nós lobos não podemos fazer esse tipo de trabalho, por isso temos de pegar elas das vilas.”

Lawrence teria esperado aves, cavalos, ovelhas como alvos mais prováveis para lobos. Era difícil os imaginar impulsionados por desejarem algo doce. Talvez um urso — ursos muitas vezes levam as bolsas de couro cheias de uvas que pendem nos beirais das casas.

“Pensei que os lobos preferiam coisas picantes. São os ursos que procuram doces.”

“Nós não gostamos de comida picante. Uma vez encontramos um fruto com formato de presa vermelha entre a carga de um navio naufragado. Comemos e nos arrependemos por muito tempo!”

“Ah, pimentas. Elas são caras.”

“Nós mergulhamos nossas cabeça no rio e decidimos que os seres humanos eram aterrorizantes, de fato,” disse Holo com uma risada, apreciando a memória por um momento enquanto observava as barracas. Depois de um tempo, seu sorriso desapareceu, e então finalmente reapareceu com um suspirou. O prazer da nostalgia nunca vem sem a sua companheira, a solidão.

Lawrence estava tentando decidir o que deveria dizer, quando Holo pareceu se animar.

“Se é de frutos vermelhos que estamos falando, prefiro aquelas ali,” disse ela, puxando sua roupa e apontando uma barraca.

Para além do fluxo de passagem de pessoas e carroças, havia uma barraca com uma generosa pilha de maçãs.

“Oh, essas são boas maçãs.”

“Não são?” os olhos de Holo brilhavam sob o manto. Ele se perguntava se ela notou que sua cauda estava balançando para trás e para frente por baixo de sua saia. Talvez ela realmente gostasse de maçãs. “Parecem bastante saborosas, não?”

“De fato.”

O que Holo sugeria era obvio, mas Lawrence fingiu não notar.

“Agora que você mencionou maçãs, tive um amigo que investiu mais de metade de seus bens em maçãs. Não tenho certeza de onde elas vieram, mas elas eram assim, ele certamente duplicou seu dinheiro.” Lawrence suspirou com pesar. “Eu deveria ter feito o mesmo.”

A expressão de Holo mudou, como se dissesse “não era isso que eu estava querendo dizer,” mas novamente Lawrence fingiu não notar.

“Hmph. Bem... Isso é lamentável,” Holo respondeu.

“Mas o risco era muito alto. Se fosse comigo, eu as transportaria em um barco.”

“Um... barco, você disse?” Enquanto conversavam, eles continuaram a se mover ao longo da estrada com o trotar dos cascos do cavalo como acompanhamento. Holo estava ficando ansiosa. Ela claramente queria as maçãs, mas obviamente estava relutante em dizer isso, por isso suas respostas agitadas aos comentários de Lawrence.

“Veja bem, um grupo de mercadores, por vezes, juntam dinheiro para contratar um barco. A quantidade de dinheiro que arrecadam determina a quantidade e o tipo de carga, mas ao contrário de transporte terrestre, se houver um acidente, você pode perder a vida, bem como o dinheiro. Mesmo um vento forte pode colocá-lo em perigo. No entanto, há lucro a se ganhar. Já viajei duas vezes pelo mar desta forma, então...”

“Mm... ah...”

“O que foi?”

Eles passaram pela tenda das maçãs que começou a ficar para trás.

Não há nada mais divertido do que conhecer o coração do outro. Lawrence deu seu melhor sorriso de mercador.

“Certo, então sobre navegar...”

“Mm... maçãs...”

“Hm?”

“Eu... eu quero... eu quero as maçãs...”

Lawrence pensou que ela seria teimosa até o final, mas já que ela finalmente admitiu seu desejo, ele decidiu ir adiante e realiza-lo.

“Que tal comprar sua própria comida, hein?” Holo encarou Lawrence enquanto mastigava uma maçã; ele exageradamente encolheu os ombros, impotente.

Ela foi tão encantadora quando finalmente cedeu e admitiu seu desejo que Lawrence generosamente entregou uma moeda de prata trenni de valor considerável. Ela voltou com mais maçãs do que podia carregar. Ela não parecia saber o significado da palavra moderação.

No momento em que seu rosto e mãos estavam pegajosas com o sumo, bem em sua quarta maçã, ela voltou a reclamar.

“Você... munch... mais cedo, você... mmph... fingiu não... chomp... perceber!”

“É divertido saber o que alguém está pensando,” disse Lawrence para Holo enquanto ela comia a maçã até o miolo.

Pensando em pegar uma para si mesmo, Lawrence estendeu a mão para pilha de maçãs na carroça, mas Holo deu uma tapa na mão dele, mesmo que já estivesse na sua quinta maçã.

“Minhas!”

“Ei, eu paguei por elas.”

As bochechas de Holo estavam cheias, ela esperou até que tivesse acabado de engolir para responder.

“Eu sou Holo, a Sábia Loba! Posso conseguir muito dinheiro quando eu quiser.”

“Não me deixe te atrapalhar, então. Eu planejava usar aquele dinheiro para a hospedagem esta noite.”

Mmph... grm... Mas, eu... munch..."

“Responda quando terminar de comer, por favor.”

Holo assentiu e não voltou a falar até que seu estômago continha nada menos que oito maçãs.

Será que ela ainda pretendia jantar depois de tudo isso?

“...Whew.”

“Você certamente come demais.”

“Maçãs são as frutas do diabo, naturalmente cheias de uma tentadora doçura...”

Lawrence não pôde deixar de rir do exagero dela.

“Não deveria uma Sábia Loba ser capaz de vencer a tentação?”

“Enquanto se pode perder muito por causa da avareza, nada foi conquistado pela abstinência.” A visão de Holo lambendo os dedos limpando o sumo doce reforçou seu argumento. Se isso significasse perder um prazer como este, o ascetismo era o cúmulo da loucura.

Tudo isso era meramente teoria, é claro.

“Então, o que era que você ia dizer antes?”

“Hm? Oh, sim. Não tenho dinheiro nem meios imediatos de ganhar dinheiro, assim, enquanto você faz negócios, eu coloco algumas palavras para ajudá-lo a trazer mais lucro. De acordo?”

Nenhum mercador que se preze simplesmente responde “concordo” quando assim solicitado. É senso comum, não responder até ter certeza das intenções da outra parte. Um contrato verbal ainda é um contrato e deve ser honrado, venha o que vier.

Logo Lawrence não respondeu de imediato. Ele não entendia o que Holo pretendia.

“Você logo vai vender as peles de marta, certo?” Como se adivinhando o motivo de sua hesitação, Holo se virou para a carroça atrás deles.

“Talvez hoje. No mais tardar, amanhã.”

“Bem, vou tentar dizer alguma coisa para aumentar o seu lucro, se eu puder. Seja a diferença no preço, fica comigo,” ela disse, lambendo seu dedo mindinho como se não fosse nada.

Lawrence refletiu sobre isso. Holo parecia confiante de que ela poderia vender as peles de marta a um preço maior do que ele. Sábia Loba ou não, ele tinha sete anos de experiência como um mercador viajante. Ele não era um negociador tão fraco a ponto que algumas palavras soltas elevariam seus preços, e não havia nenhuma garantia de que o comprador aceitaria tais preços.

No entanto, sua curiosidade em saber exatamente como ela realizaria esta façanha era maior do que a dúvida de que isto realmente fosse acontecer, então por fim ele disse, “Concordo.”

“Está feito, então!” Respondeu Holo, arrotando.

“Mas isto não limitado às nossas peles. Você é um mercador, também — talvez eu nem tenha chance de aumentar o valor.”

“Que modesto da sua parte.”

“A sabedoria é conhecer a si mesmo em primeiro lugar.”

A afirmação soaria melhor se ela não tivesse dito isso enquanto lançava seu olhar ansioso em direção à pilha restante de maçãs.

O destino das peles era a Companhia Milone, uma corretora que atuava como intermediária para uma variedade de bens. A Companhia Milone era a terceira maior firma na cidade; as duas acima dela eram as empresas locais que tinham a sua sede em Pazzio. A Companhia Milone tinha sua sede em uma nação mercantil para o distante sul e dirigida por um poderoso comerciante de linhagem nobre, a firma em Pazzio era uma filial.

Lawrence tinha escolhido a Companhia Milone em relação as corretoras locais porque eles pagariam preços mais altos nas mercadorias, a fim de superar seus concorrentes e também porque com tantas filiais em diferentes lugares, poderiam fornecer informações valiosas.

Seu objetivo era conseguir informações semelhantes a história que ouviu do jovem mercador Zheren. Quem melhor para perguntar sobre a troca de moedas do que comerciantes que rotineiramente cruzaram as fronteiras para fazer negócios?

Depois de garantir hospedagem para os dois, Lawrence fez sua barba e se foi.

A companhia Milone era o quinto edifício do cais e a segunda maior loja na área. Tinha um enorme portão que dava de frente para o cais para acomodar o tráfego de carroças, o que fazia a loja parecer ainda maior de relance. Mercadorias de todos os tipos eram empilhadas ao redor dos portões, como se quisessem mostrar a prosperidade da empresa. Poderia ser sua maneira peculiar de competir com o comércio local, que podiam negociar com suas conexões de longa data e não precisavam se exibir para provar que estavam tendo lucro.

Lawrence parou sua carroça na área de carga, e um empregado saiu para encontrá-los.

“Bem-vindos a Companhia Milone de Comércio!”

O homem de aparência sagaz encarregado pelo desembarque tinha barba e cabelo bem aparado. Normalmente a área carga de uma companhia de comércio era um turbilhão caótico de homens de aparência criminosa gritando para lá e para cá — Milone era uma exceção.

“Eu vendi trigo aqui antes, mas hoje tenho peles para vender. Quer dar uma olhada?”

“Sim, sim, mas é claro! O homem para dentro e à esquerda ficará feliz em vê-lo.”

Lawrence assentiu e com um movimento das rédeas dirigiu a carroça para dentro. Ao redor da área eram empilhados todos os tipos de bens — trigo, palha, pedras, madeira, frutas e mais. A equipe era rápida e eficiente, era por isso que a companhia Milone era bem-sucedida mesmo em países estrangeiros, um fato que impressionaria qualquer mercador viajante.

Até Holo parecia impressionada.

“Olá, senhor, aonde está indo?”

Os dois estavam observando o carregar e descarregar ocupado na loja, mas pararam ao ouvir a voz. Eles olharam em sua direção e viram um homem grande, esbanjando vigor com seu corpo bronzeado. Ele não parecia ser o homem que Lawrence foi orientado a encontrar, mas certamente ele era enorme.

“Ele é um cavaleiro?” Holo perguntou sussurrando.

“Nós estamos aqui para vender peles. Disseram-me para vir para o lado esquerdo da loja.” Lawrence olhou nos olhos do homem e sorriu.

“Certo, então, eu guiarei seu cavalo. Por aqui, por favor.” Lawrence fez o que lhe foi dito e inclinou o cavalo em direção ao homem. O cavalo relinchou. Aparentemente, ele sentiu a vitalidade do homem.

“Ho-ho, um bom cavalo, senhor! Ele parece bem robusto.”

“Ele trabalha sem reclamar; isso eu garanto,” disse Lawrence.

“Um cavalo que se reclama — isso seria interessante de se ver!”

“Nem me fale.”

Os dois homens riram, e o trabalhador levou o cavalo de Lawrence para dentro da área de descarga, e após amarrá-lo a uma cerca de madeira resistente, ele fez um chamado.

A pessoa que atendeu foi um homem que parecia mais apto a carregar pena e tinta do que fardos de feno. Ele parecia ser o comprador.

“Kraft Lawrence, eu presumo? Agradecemos a sua preferência.”

Lawrence estava acostumado a ser recebido educadamente, mas ficou impressionado que o homem sabia seu nome antes de tê-lo dito. Ele visitou a empresa pela última vez durante o inverno três anos atrás, vendendo trigo. Talvez o homem há pouco cumprimentou Lawrence na entrada ainda se lembrasse dele.

“Me disseram que veio nos vender peles hoje.” O comprador pulou as cortesias habituais e pulou direto para a questão. Lawrence tossiu um pouco e incorporou o negociante dentro dele.

“De fato, eu vim. São estas aqui, na parte de trás da carroça, setenta no total.”

Ele pulou da carroça e convidou o comprador para ver as peles. Ele foi seguido por Holo, que pulou da carroça, um momento depois.

“Ho, estas são boas peles de marta, de fato. O ano tem sido bom para as colheitas, então a pele de marta está escassa.”

Cerca de metade das peles de marta que chegam ao mercado vem de agricultores que caçavam em seu tempo livre. Quando a colheita é farta, eles ficam ocupados demais para caçar e a pele de marta fica mais escassa. Lawrence decidiu melhorar sua posição.

“Você só vê peles como esta uma vez em muitos anos. Elas foram encharcadas com a chuva no caminho até aqui, mas olhe — elas ainda não perderam seu brilho.”

“É um bom brilho, de fato, e em bom estado. Qual o tamanho delas?”

Lawrence puxou a pele mais larga da carroça e a ofereceu ao comprador, já que geralmente era proibido para outras pessoas além do proprietário tocar na mercadoria.

“Oh, ho. Tamanho não é o problema. Você disse que tinha setenta?” Ele não pediu para ver todas as peles; não seria tão rude. Aqui era o desafio do comércio — não havia comprador que não gostaria de ver cada pele, assim como também não havia vendedor que gostaria de mostrar cada uma delas.

Este era o cruzamento da vaidade, compostura e desejo.

“Bem, então... Senhor Lorentz... Ah, minhas desculpas, Senhor Lawrence, você veio negociar com a gente porque você vendeu trigo aqui no passado?”

O mesmo nome era pronunciado de formas diferentes, em diferentes nações. Era um erro que Lawrence já cometeu com bastante frequência, por isso o perdoou com um sorriso e tirou um ábaco de madeira do bolso, que o homem observou. Diferentes regiões e nações tinham formas diferentes de escrever números, e porque nada é mais difícil do que tentar decifrar através destas diferenças, os comerciantes raramente escreviam números durante a negociação. Mover as contas de madeira do ábaco deixariam os números bastante claros, embora ainda tinha que estar consciente de qual moeda estaria sendo contada.

“Posso oferecer... digamos, cento e trinta e dois trenni de prata.”

Lawrence fingiu pensar sobre o assunto por um momento. “Você não vê peles como estas muitas vezes. Trouxe para cá porque fiz negócio com vocês no passado, mas...”

“Nós certamente apreciamos sua preferência.”

“Da minha parte eu gostaria de continuar nossa associação.”

“Assim como nós, isso eu lhe garanto. Pondo nossa amizade em números, então, o que você diria sobre cento e quarenta?”

Era uma troca um pouco transparente, mas dentro de um engano mútuo — o que fazia os negócios mais interessantes.

Cento e quarenta trenni era um bom preço. Não seria sábio tentar ir além disso.

Mas quando Lawrence estava prestes a dizer “Esta feito,” Holo — que tinha ficado em silêncio até agora — puxou um pouco a sua manga.

“Me dê licença por um momento,” disse Lawrence para o comprador, então se inclinou perto do rosto de Holo.

“Eu não sei direito — este é um bom preço?”

“É um bom preço sim,” disse Lawrence simplesmente, sorrindo com o representante da companhia.

“Bem, então, nós temos um acordo?” Parecia que o comprador estava pronto para concluir o negócio. Lawrence sorriu e estava prestes a responder.

“Espera só um momento.”

“O qu—” disse Lawrence, sem pensar.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela continuou falando — assim como um mercador astuto.

“Cento e quarenta trenni, você disse, correto?”

“Uh, er, sim. Cento e quarenta moedas trenni de prata,” respondeu o representante, um pouco surpreso com a pergunta repentina de Holo que estava em silêncio até agora. Mulheres eram raras em locais de comércio — não eram desconhecidas, mas eram raras.

Da sua parte, Holo ou não sabia disso ou não se importava; ela falou tão livremente quanto desejou. “Ah, talvez você não tenha percebido?”

O comprador, muito surpreso, olhou para Holo. Ele parecia não entender onde ela queria chegar; Lawrence também não.

“Minhas desculpas, mas deixei passar alguma coisa?” O comprador, um mercador de um país vizinho, parecia ser mais ou menos da mesma idade de Lawrence. Ele era um veterano de inúmeras negociações, que tinha lidado com diversos grupos em sua carreira.

Era crédito dele que, apesar da sua experiência, parecia estar sinceramente pedindo desculpas a Holo.

Claro que estava longe de ser surpreendente que ele tenha sido surpreendido. Holo tinha efetivamente perguntado se ele sabia do que estava falando.

“Mm. Posso ver que é um bom comerciante, então certamente fingiu não notar? Vejo que não posso subestimar você.” Holo sorriu debaixo do manto. Lawrence nervosamente esperou que ela não estivesse mostrando suas presas, mas mais do que qualquer coisa, ele queria saber o que ela estava fazendo.

O comprador tinha sido preciso e honesto. Se Holo estava dizendo a verdade, então o próprio Lawrence também tinha perdido um detalhe importante.

O que era impossível.

“Minha intenção não é era essa, eu te garanto. Se você gentilmente mostrar do que está falando, teremos o maior prazer para ajustar o preço de forma adequada...”

Lawrence nunca viu um comprador agir tão humildemente. Para ser justo, já viu eles fingirem humildade, mas isto não era um ato.

As palavras de Holo tinham um peso estranho, e sua resposta foi perfeita.

“Mestre,” disse ela para Lawrence. “Não é educado provocar as pessoas.”

Era difícil dizer se ela o chamou de “mestre” para zombar dele ou porque era apropriado para a situação, mas, em qualquer caso, se ele estragasse sua resposta aqui, sabia que iria ouvir sobre isso mais tarde. Ele freneticamente tateou uma resposta.

“E-esta certamente não era a minha intenção. Mas talvez você deva ser a pessoa a contar para ele.”

Holo deu um sorriso torto para Lawrence, mostrando uma presa. “Mestre, passe-me uma pele, por favor.”

“Aqui.”

Lawrence se sentia um tolo indignado por ter que se esforçar para manter a sua dignidade ao ser chamado de “mestre”. Holo era a única mestra aqui.

“Obrigado, mestre. Agora, se o senhor puder...” disse Holo, voltando-se para o comprador e mostrando-lhe a pele. À primeira vista a sua camada, tamanho e brilho não pareciam merecer um aumento de preço. Mesmo que ela fosse falar que ela era especialmente boa, o comprador iria inevitavelmente pedir para examinar a pele mais de perto, e, inevitavelmente, encontrar falhas. O preço dificilmente cairia, mas a relação entre comprador e vendedor sofreria.

“Essas são peles finas, como pode ver,” disse Holo.

“Concordo plenamente,” respondeu o comprador.

“Você não vai ver peles semelhantes a estas em muitos anos. Ou talvez eu deva colocar de outra forma — você não vai sentir um cheiro igual ao delas em muitos anos.”

As palavras de Holo congelaram o ar em um instante. Lawrence não tinha ideia do que ela estava falando.

“É um aroma, mas não notar, você precisa estar cego!” Holo riu. Ela foi a única. Lawrence e o comprador estavam muito confusos para achar isso engraçado.

“Bem, uma aspirada vale mais que mil palavras. Gostaria de sentir o aroma?” Holo entregou a pele para o comprador, que a pegou e olhou incerto para Lawrence.

Lawrence assentiu lentamente, escondendo sua confusão.

Qual era o ponto em cheirar as peles? Ele nunca tinha ouvido falar de tal coisa em todas as suas negociações. Nem o comprador pelo visto, ele não tinha escolha para acalmar seus vendedores, ele lentamente trouxe a pele até o nariz e cheirou.

No início, seu rosto mostrava uma mistura de confusão e surpresa. Ele cheirou de novo e só a surpresa permaneceu.

“Oh? Sentiu algo, não?” Holo falou.

“Ah, er, sim. Cheira a frutas, eu diria.”

Lawrence olhou para a pele com surpresa. Fruta?

“Frutas de fato. Assim como a pele é escassa neste ano por causa da colheita, há o excesso de frutas na floresta. Estas martas estavam correndo na mesma floresta até poucos dias atrás, e elas comeram tanto dessas frutas abundantes que o cheiro ficou impregnado em seu corpo.”

O comprador cheirou a pele novamente. Ele acenou com a cabeça, como se dissesse “de fato.”

“A verdade é que, enquanto o brilho da pele pode ser melhor ou pior, isso geralmente muda pouco. O problema não surge quando a pele é transformada em roupas e é efetivamente usada? Peles boas são duráveis; a pele ruim logo se desgasta.”

“Verdade, é exatamente assim” disse o comprador.

Lawrence estava atônito. O quanto esta loba sabe?

“Como você pode dizer, esta pele em particular tem o doce aroma de uma marta que comeu bastante. Foi preciso dois homens fortes para puxar a pele do corpo, e ainda foi uma tarefa difícil.”

O comprador puxou a pele experimentalmente.

Ele não poderia puxar com muita força os bens que ainda não tinha comprado — algo que Holo sabia muito bem.

Ela era uma negociante perfeita.

“A pele é forte como a própria fera, e irá manter o usuário tão aquecido como em um dia de primavera, pode aguentar chuva do amanhecer ao crepúsculo. E não se esqueça do aroma! Imagine uma peça de roupa perfumada como esta entre os vários casacos feitos de pele de marta que fazem seu nariz torcer. Ela saltaria aos seus olhos.”

O comprador estava realmente imaginando o cenário, olhando ao longe. Quando Lawrence pensou sobre isso, ele podia ver que as mercadorias venderiam por um preço alto — ou melhor, ele podia farejar isso.

“Então, quanto você acha que seria um preço justo?”

O comprador saiu do seu devaneio e se endireitou, em seguida, jogou alguns números no ábaco. As contas iam e vinham com o agradável som de tak-tak-tak, finalmente revelando um preço.

“O que você me diz de duzentos trenni?”

A respiração de Lawrence ficou presa na garganta. Cento e quarenta moedas já era um preço bastante alto. Duzentas era inimaginável.

“Mmm” Holo murmurou para si mesma. Ele queria implorar para ela parar — isso estava indo longe demais, mas ela era implacável.

“Que tal cerca de três moedas por cada pele, duzentos e dez no total?”

“Er, bem...”

“Mestre,” ela disse para Lawrence “Talvez devêssemos tentar em outro lugar —”

“Ah, não! Duzentas e dez moedas, então!” disse o comprador.

Ouvindo isso, Holo concordou, satisfeita, e se voltou para o seu “mestre.” “Você ouviu o homem, mestre.”

Ela definitivamente o estava provocando.

 

A taverna chamada Yorend estava em um beco um pouco afastado, mas parecia bem cuidada. Os artesãos locais pareciam ser a maioria de sua clientela.

Lawrence se viu subitamente bastante ao chegar na taverna Yorend.

Holo, por outro lado, estava muito enérgica, provavelmente porque conseguiu enganar dois mercadores de uma só vez. Ainda era cedo, a taverna estava quase vazia e o vinho acabava rapidamente — Holo bebeu o dela em um grande gole enquanto Lawrence estava contente em observar o dele.

“Ah, vinho!” disse Holo, dando um belo arroto. Ela levantou a taça de madeira e ordenou mais uma rodada, a garota da taverna confirmou com um sorriso.

“O que te incomoda? Não vai beber?” Holo falou, mastigando alguns feijões fritos.

Ela não parecia particularmente feliz com o sucesso, então Lawrence decidiu abordar o assunto diretamente.

“Você já trabalhou como mercadora alguma vez?”

Holo, ainda mastigando o lanche e segurando o copo recarregado, sorriu com tristeza. “Oh, me desculpe, eu feri seu orgulho?”

Naturalmente, ela tinha.

“Eu não sei quantos negócios você fez em sua vida, mas já observei inúmeras transações quando estava na aldeia. Há muito tempo, uma vez vi um homem usar essa técnica — não inventei isso sozinha. De qualquer forma, quando foi isso...?”

Lawrence não falou, mas seus olhos continham a pergunta: Era verdade? Holo parecia um pouco incomodada quando ela assentia, e Lawrence suspirou mesmo ao se sentir de certa forma aliviado.

“Mas eu realmente não tinha notado. Ontem à noite, enquanto dormíamos nas peles, eu não senti nenhum cheiro de fruta.”

“Oh, isso. Foi por causa das maçãs que compramos.”

Lawrence estava sem palavras. Quando ela fez esse truque?

E, de repente, ele sentiu um calafrio de preocupação.

Era uma fraude!

“É culpa sua ter sido enganado,” disse Holo. “Ele vai ficar impressionado quando descobrir.”

“...Talvez você esteja certa.”

“Não faz sentido ficar com raiva quando você foi enganado. Um verdadeiro mercador sabe ficar impressionado.”

“Isso é um belo sermão. Você soa como uma comerciante experiente.”

“Heh. E você é apenas um bebê de colo.”

Lawrence teve que rir. Deu de ombros enquanto bebia seu vinho. Ele tinha um gosto forte.

“Deixando tudo isso de lado, você fez o que tinha que fazer?” Holo estava falando sobre Zheren.

“Eu perguntei ao redor da Companhia Milone para ver se alguém sabia sobre nações que estivessem emitindo novas moedas de prata, mas eles não pareciam estar escondendo nada. Quando a informação não for algo que precisa ser monopolizada, normalmente vão compartilhá-la. Faz parte de boas relações comerciais.”

“Hm.”

“Mas oportunidades para este tipo de negócio não são comuns. É por isso que estamos envolvidos.”

Não era vaidade. Era realidade. Na especulação cambial, os preços tanto subiam, caiam, ou se mantinham estáveis. Mesmo que os detalhes se tornassem complexos, tudo o que tinha a fazer era pensar sobre isso até conseguir uma solução.

Uma vez que o acordo proposto fosse reduzido para o partido que ganharia e aquele que perderia, havia poucas decisões a fazer.

No entanto...

“Ainda assim, qualquer que seja o truque, desde que não sejamos extorquidos consigamos sair na frente, ficaremos bem.”

Lawrence bebeu um pouco de vinho e colocou alguns grãos na boca — Holo estava pagando, então ele decidiu que poderia muito bem tirar proveito dela.

“Eu não vejo o dono em lugar nenhum. Gostaria de saber se ele saiu,” ele disse.

“Zheren disse que poderíamos contatá-lo através deste bar. Ele deve estar em bons termos com o estabelecimento.”

“Bem, os mercadores viajantes geralmente baseiam suas operações em uma taverna ou casa de comércio. Na verdade, eu mesmo tenho que ir a uma casa de comércio mais tarde. E o proprietário realmente não está por perto, está?” disse Lawrence, examinando a taverna mais uma vez. Era um estabelecimento bastante espaçoso, com quinze mesas redondas; haviam apenas duas outras pessoas — artesãos, julgando pela aparência — na taverna.

Ele não poderia simplesmente ir até ele, então perguntou a garota quando ela os levou outra rodada de vinho juntamente com alguns arenques assados e carne de carneiro defumado.

“O proprietário?” Disse a garota enquanto colocava o vinho e a comida na mesa. Seus braços eram muito finos; Lawrence se perguntou se ela tinha força para carregar comidas pesadas. “Ele foi comprar os ingredientes no mercado,” continuou. “Você tem algo a tratar com ele?”

“Você poderia informa-lo que estamos tentando entrar em contato com um homem chamado Zheren?”

Se eles não soubessem de Zheren por aqui, tudo bem. Muitos comerciantes usavam tavernas como pontos convenientes de contato, logo um mal-entendido era possível.

Mas isso acabou sendo preocupação desnecessária da parte de Lawrence. Os olhos da garota brilharam imediatamente com a menção à Zheren.

“Oh, o Sr. Zheren? Eu o conheço.”

“Conhece?”

“Ele normalmente vem logo após o pôr do sol. Sinta-se livre para ficar aqui até lá.”

Ela era uma garota perspicaz, de fato, seu conselho fazia sentido. Faltava uma ou duas horas até o crepúsculo, o que seria tempo suficiente para desfrutar de uma bebida sem pressa.

“Nós ficaremos então,” disse Lawrence.

“Ok, fiquem à vontade!” Disse a garota com um sorriso, em seguida, virou-se para atender os outros dois clientes da taverna.

Lawrence bebeu do seu copo de vinho. O aroma azedo flutuava através do seu nariz, desaparecendo em doçura na sua língua. Alguns licores, como rum, eram negociados por sua intensidade, mas Lawrence preferia a doçura do vinho ou do hidromel. Às vezes, ele tomava cidra apenas para variar.

Cerveja era bom também, mas o seu sabor dependia da habilidade do artesão e dos gostos da pessoa. Ao contrário do vinho, cuja qualidade dependia inteiramente de preço, a delícia de uma cerveja não estava relacionada com o seu custo, de modo que os mercadores tendem a evitá-la. Não havia maneira de saber se a bebida em particular se adequaria ao seu gosto, a menos que você fosse da região ou da cidade — então quando ele queria parecer um local, Lawrence pedia cerveja.

Lawrence pensou sobre isso quando percebeu que Holo, sentada em frente a ele, parou de comer. Ela parecia estar perdida em pensamentos. Lawrence chamou sua atenção, mas ela demorou a responder.

“... Aquela garota, ela está mentindo,” ela finalmente falou, uma vez que a garota desapareceu para cozinha.

“Mentindo como?”

“Zheren não necessariamente vem aqui todos os dias.”

“Hm.” Lawrence assentiu, olhando para seu copo de vinho.

“Bem, espero que vejamos Zheren em breve, como ela disse.”

A mentira da garota significava que ela já estava em contato com Zheren. Caso contrário, as coisas ficariam complicadas tanto para Lawrence quanto para o jovem mercador misterioso.

“Assim espero,” disse Holo.

A razão para a mentira não estava clara. Pode ser que ela fosse capaz de chamar Zheren a qualquer momento e ela simplesmente quis manter Lawrence e Holo na mesa, pedindo vinho por mais tempo. Mercadores e comerciantes contavam mentiras grandes e pequenas o tempo todo. Se preocupar sobre cada uma delas distrairia demais qualquer um.

Então Lawrence não ficou particularmente preocupado, e ele imaginou que era o mesmo com Holo.

E diferente de Holo se deliciando ao comer um ensopado doce em forma de favo de mel, o sol se pôs sem incidentes e logo os clientes começaram a entrar na taverna.

Entre eles estava Zheren.

 

“Me alegro com nossa reunião!” disse Zheren, levantando seu copo de vinho. Ele bateu contra o copo de Lawrence com um agradável klok. “Como foi a venda das peles?”

“Elas conseguiram um bom preço — como pode ver pelo vinho.”

“Te invejo. Ouso dizer, você tinha uma carta na manga?”

Lawrence não respondeu de imediato, em vez disso tomou um copo de vinho. “Isso é segredo.”

Holo estava ocupada devorando os grãos, possivelmente para esconder seu sorriso.

“Bem, em todo caso, estou feliz que vocês foram capazes de vendê-las por um bom preço. A meu ver, mais dinheiro significa mais lucro.”

“Só porque tenho mais capital não significa que vou aumentar meu investimento.”

“Não diga isso! Tenho orado por sua boa fortuna esperando justamente isso!”

“Então você está rezando errado. Deveria apenas ter rezado para eu aumentar meu investimento.”

Zheren olhou para cima, seu rosto representava uma máscara de tragédia exagerada.

“Então, aos negócios,” disse Lawrence.

“Ah, certo.” Zheren se recompôs e olhou para Lawrence, mas olhou brevemente para Holo também, como se soubesse que ela, também, não devia ser subestimada.

“Em troca de me vender a informação de qual a moeda de prata será mais pura, você quer uma parte do lucro que vou conseguir. É isso?”

“De fato.”

“Esta história de uma moeda mais pura é verdade?”

Zheren demonstrou um pouco de franqueza da pergunta. “Bem, estou prevendo isso com base em informações que recebi de uma pequena cidade mineira. Acho que é digno de confiança, mas... não há garantias no negócio.”

“É verdade.”

Lawrence assentiu, satisfeito ao ver Zheren estremecer. Ele levou o ensopado até os lábios e continuou.

“Se você tivesse me dito que era algo certo, eu teria que ir embora. Nada é mais suspeito do que uma garantia.”

Zheren suspirou de alívio.

“Então, qual a porcentagem que você deseja?”

“Dez trenni pela informação, mais dez por cento do seu lucro.”

“Essa é uma demanda muito moderada em relação ao ganho em potencial.”

“É. Porém se você tiver prejuízo, não serei capaz de compensá-lo. Se eu fosse compensá-lo, perderia todos os meus bens. Então, vou ficar com dez por cento do seu ganho total, mas se você tiver prejuízo, vou te ressarcir a taxa da informação, e nada mais.”

Lawrence ponderou sobre a questão, fazia tempo que sua cabeça estava confusa por causa do licor.

A proposta de Zheren se resumia em duas possibilidades.

A primeira era que ele, Lawrence, sofreria um prejuízo, e Zheren usaria isso para seu próprio ganho.

A segunda era que a proposta era exatamente o que foi dito.

No entanto, graças a Holo, ele sabia que a afirmação de Zheren, que a moeda em questão aumentaria em valor devido a um aumento do teor de prata, era uma mentira. Se fosse assim, Zheren planejava lucrar com o prejuízo de Lawrence, mas Lawrence ainda não sabia como.

Diante disso, Lawrence começou a se perguntar se a visão de Holo a respeito de Zheren estava enganada. Não fazia sentido que o objetivo de Zheren fossem as taxas de informações insignificantes.

Mas não importa quanto tempo ele pensasse nisso. Só quando recebesse a informação de Zheren seria capaz de obter uma nova perspectiva.

Ficou óbvio que se ele tivesse prejuízo, poderia apenas ter a sua taxa de informação de volta. Com um pouco de especulação, ele poderia evitar quaisquer problemas, e agora o seu interesse em qualquer coisa que Zheren estivesse planejando era maior do que nunca.

“Isso parece bom o suficiente para mim.”

“Oh, er, muito obrigado!”

“Só para confirmar, você quer dez trenni para me fornecer as informações, e dez por cento do meu lucro. No entanto, se eu perder dinheiro, você vai devolver a taxa e não será responsável por perdas futuras.”

“Sim.”

“E nós assinaremos um contrato para esse efeito diante de um testemunho público."

“Sim. Quanto ao dia do pagamento, podemos fazer isso três dias antes do mercado da primavera? Estimo que a moeda mude dentro do ano.”

Ainda faltava meio ano para o mercado da primavera. Era tempo suficiente para a moeda estabelecer seu novo valor, seja ele alto ou baixo. Se ela realmente subisse, haveria um aumento acompanhado com a confiança na moeda, e as pessoas ficariam felizes ao fazer negócios com ela. Seu valor de mercado subiria rapidamente. Aqueles que vendessem impacientemente perderiam.

“Isso deve servir. Deve ser tempo suficiente.”

“Neste caso, estou ansioso para vê-lo no escritório do testemunho público amanhã de manhã cedo.”

Não havia nenhuma razão para recusar. Lawrence assentiu e levantou o copo. “Ao nosso lucro!”

Ao ver os dois homens levantando seus copos, Holo levantou seu copo também.

“Ao lucro!”

Houve um klok agradável dos copos batendo um contra o outro.

 

O testemunho público, tal como o nome indica, é um serviço público para prestação de testemunhas para contratos. Entretanto, só porque um contrato foi assinado diante de um testemunho público, a guarda municipal não necessariamente prenderia alguém que o violou. Mesmo a monarquia, encarregada do bem público, não faria isso.

Em vez disso, a identidade do ofensor seria espalhada pelo testemunho público. Isso era fatal para um mercador. Para negócios maiores, isso valia ainda mais — um mercador com má reputação não seria sequer capaz de lidar com os comerciantes de países estrangeiros, pelo menos não nesta cidade em particular.

As consequências não eram particularmente eficazes para as pessoas que iriam se aposentar dos negócios, mas enquanto planejassem continuar como mercadores, o incentivo era suficiente.

Antes de Lawrence assinar o contrato, ele pagou a Zheren os dez trenni, e recebeu a informação sem incidentes. Lawrence e Holo depois se separaram de Zheren e se dirigiram ao mercado da cidade. A carroça vazia só causaria problemas no centro lotado da cidade, então eles a deixaram na pousada e foram a pé.

“Esta é a moeda que o garoto mencionou, não é?” Holo segurava um trenni de prata. Ela era a moeda mais utilizada na região porque, entre as centenas de moedas de tipos diferentes do mundo inteiro, ela era uma das mais confiáveis, e também simplesmente porque esta cidade e a região ao redor estavam dentro da nação Trenni.

As nações que não tivessem a sua própria moeda estavam condenadas ao colapso ou a se tornarem clientes de nações mais poderosas.

“É uma moeda bem confiável nesta região,” disse Lawrence.

“Confiável?” Holo olhou para Lawrence enquanto ela brincava com a moeda na qual o perfil do décimo primeiro governante de Trenni estava gravado.

“Existem centenas de moedas no mundo, e a quantidade de ouro ou prata em cada uma varia constantemente. A confiança é uma parte importante da moeda.”

“Hum. Só conheço alguns tipos diferentes de dinheiro. Os negócios costumavam ser feitos com peles de animais.”

Lawrence se perguntou exatamente de quantas centenas de anos atrás ela estava falando.

“Então, a respeito disso, você já descobriu alguma coisa agora sobre que moeda ele estava falando?”

“Bem, há várias possibilidades.”

“Por exemplo?” perguntou Holo enquanto passavam pelas barracas no mercado. Ela parou de repente, e um grande homem, que tinha a aparência de um trabalhador esbarrou nela. Ele estava prestes a gritar com ela quando Holo olhou para cima por debaixo do manto e se desculpou. O homem ficou envergonhado e conseguiu dizer, “B-bem, tenha mais cuidado.”

Lawrence silenciosamente resolveu não se deixar influenciar por essa tática particular de Holo. “O que aconteceu?” perguntou.

“Mm. Quero comer um destes.”

Holo estava apontando para uma barraca de pão. Era um pouco antes do meio-dia, pães de fôrma frescos e assados estavam alinhados em fileiras. Na frente da barraca, uma empregada estava comprando mais pão do que ela poderia comer, provavelmente para a refeição do meio-dia de algum artesão e seu aprendiz.

“Você quer algum pão?”

“Mm. Aquele lá, com o mel sobre ele.”

Holo havia indicado alguns pães, longos e finos que estavam sendo exibidos no beiral da barraca. O pão coberto com mel era popular na maioria dos lugares. Lawrence pareceu se lembrar da tradição que foi iniciada em uma determinada cidade, onde um padeiro tinha pendurado os pães do beiral de sua loja, enquanto eles colocavam mel neles como uma forma de atrair clientes. A tática foi tão bem-sucedida que brigas aconteciam entre pessoas que queriam comprar o pão, e o sindicato dos padeiros criaram uma política oficial de que todo pão de mel seria, portanto, pendurado nos beirais.

O pão de fato parecia delicioso, mas Lawrence não podia deixar de sorrir para a gulosa Holo que aparecia mais uma vez.

“Você tem dinheiro,” disse para ela. “Vá em frente e compre alguns, se quiser.”

“Não penso que pão e maçãs tenham preços muito diferentes. Você vai carregar a montanha de pão que vou levar de volta comigo? Ou devo estragar o dia do padeiro pedindo para trocar essa moeda?”

Lawrence finalmente tinha compreendido. Tudo que Holo tinha eram moedas de prata trenni — cada uma valia muito mais do que o necessário para comprar pão. Ela tinha comprado mais maçãs do que era capaz de levar com uma moeda similar.

“Tudo bem, tudo bem. Vou te dar uma moeda menor. Aqui, estenda suas mãos. Uma dessas moedas pretas deve comprar um pão.”

Lawrence pegou a moeda de prata das mãos do Holo e substituiu por várias outras de cobre marrom e preto, apontando para a moeda que queria que ela usasse.

Holo analisou a moeda com cuidado. “Melhor você não estar me enganando,” ela disse desconfiada.

Ele pensou em protestar, mas Holo logo se virou e foi para a tenda do padeiro.

“Sempre com a língua afiada,” retorquiu Lawrence, mas na verdade ele não poderia alegar que não estava se divertindo.

Quando ele viu Holo voltando, com o rosto estampando a própria imagem do contentamento enquanto ela afundava os dentes no pão, ele não pôde deixar de rir.

“Não esbarre com mais ninguém,” disse Lawrence. “Eu não quero ter que lidar com uma briga.”

“Então não me trate como um filhote.”

“É difícil te ver de outro modo quando sua boca está coberta de mel pegajoso.”

“...”

Por um momento Lawrence pensou que ela estava com raiva, mas a velha loba não era tão facilmente provocada.

“Não sou charmosa?” Ela olhou para Lawrence com a cabeça inclinada ligeiramente, onde ele deu uma tapa. “Você certamente não sabe lidar com uma piada,” ela resmungou.

“Sou uma pessoa muito séria,” disse Lawrence.

Seu comportamento levemente frustrado passou despercebido.

“Então, no que você estava pensando?”

“Oh, certo, certo.” Era melhor voltar para o tópico anterior da conversa do que ficar nesta situação desconfortável. “Então, de volta para a moeda trenni. Zheren pode estar dizendo a verdade.”

“Oh?”

“Há razões para aumentar o teor de prata. Então... aqui, pegue esta moeda, um firin de prata. São de uma nação três rios ao sul daqui. Sua moeda tem uma quantidade de prata respeitável e é bastante popular no mercado. Você poderia dizer que é rival da trenni.”

“Hum. Parece que algumas coisas nunca mudam: O poder de uma nação está em seu dinheiro.” A Holo sempre perspicaz mastigava seu pão.

“Exatamente. Nações nem sempre lutam com a força das armas. Se a moeda do seu país é dominada por uma moeda estrangeira, você está completamente conquistado. Tudo que o rei estrangeiro precisa fazer é cortar seu fornecimento de moedas e seu mercado vai morrer. Sem dinheiro, você não pode comprar nem vender. Eles controlam a sua economia.”

“Então, eles estão aumentando o teor de prata a fim de ganhar vantagem sobre seu rival” disse Holo, lambendo os dedos depois de terminar o pão.

Tendo chegado tão longe, Lawrence imaginou que Holo percebeu que tinha algo a dizer.

“Eu suponho que meus ouvidos não são completamente oniscientes.” Evidentemente ela disse.

“É inteiramente possível que Zheren não estava realmente mentindo,” concordou Lawrence.

“Mm. Concordo plenamente.”

Ela estava sendo tão sensata que Lawrence ficou surpreso. Mesmo quando admitiu que não era perfeita, ele esperava que ela o repreendesse com raiva por duvidar de seus sentidos.

“O que foi... Você achou que eu ia ficar com raiva?”

“Mas é claro.”

“Bem, talvez eu fique com raiva disso!” Ela disse com um sorriso travesso.

“Em todo caso, Zheren pode não estar mentindo.”

“Hmm. Então, aonde é que vamos agora?”

“Agora que sabemos qual moeda devemos procurar, vamos procurar por ela.”

“Para a casa da moeda, então?”

Lawrence não pôde deixar de rir com a pergunta ingênua, o que lhe rendeu um olhar afiado e irritado. “Se um comerciante como eu aparecesse na casa da moeda, a única saudação que eu receberia seria a ponta afiada de uma lança. Não, nós vamos ver um cambista.”

“Huh. Acho que há coisas até mesmo eu não sei.”

Lawrence estava entendendo a personalidade de Holo cada vez melhor. “Uma vez que estivermos lá, vamos ver como a moeda está nestes tempos.”

“O que você quer dizer?”

“Sempre há sinais quando o valor de uma moeda muda drasticamente.”

“Como o clima antes de uma tempestade?”

Lawrence sorriu para a analogia interessante. “Algo assim. Quando a pureza vai aumentar muito, ela aumenta um pouco de cada vez, e quando vai cair, cai gradualmente.”

“Mmm...”

Parecia que Holo não tinha compreendido totalmente, então Lawrence preparou uma palestra, soando completamente como um professor determinado.

“A moeda corrente é baseada na confiança. Proporcionalmente ao valor absoluto do ouro ou prata, as moedas são obviamente mais valorizadas. Claro, o valor é definido com muito cuidado, mas já que o que você está fazendo realmente é arbitrariamente atribuir um valor a algo que não tem valor inerente, pode-se pensar nisso como uma bola de confiança. Na verdade, desde que as alterações na pureza de uma moeda não sejam grandes, eles são impossíveis de detectar. Mesmo um cambista tem dificuldade com isso. Você tem que derreter a moeda para ter certeza. Mas já que o valor corrente é baseado na confiança, quando ela ganha popularidade seu valor praticado pode exceder seu valor real — ou fazer o oposto. Há muitas razões possíveis para alterações na sua popularidade, e uma das principais é uma mudança na pureza do ouro ou prata da moeda. É por isso que as pessoas são tão sensíveis a mudanças na moeda — tão sensíveis que até mesmo mudanças pequenas demais para se detectar com lentes ou uma balança, ainda podem ser consideradas grandes.”

Ele terminou sua longa palestra. Holo olhou para longe, parecendo estar perdida em pensamentos. Lawrence suspeitou que até mesmo a sagaz Holo não entenderia tudo na primeira explicação. Ele se preparou para responder suas perguntas, mas nenhuma veio.

Quando olhou mais atentamente para seu rosto, ela parecia não estar tentando juntar as peças em sua cabeça, mas sim como se estivesse confirmando algo.

Ele não queria acreditar, mas ela podia muito bem ter entendido perfeitamente na primeira vez.

“Hmph. Então quando quem quer que faça as moedas quer mudar a pureza, primeiro eles vão fazer uma mudança mínima para ver qual a reação, em seguida, eles vão ajustar para mais ou para menos, não é?”

Ter uma aprendiz como ela era certamente uma bênção mista. Um aprendiz superior era o orgulho de qualquer mercador, mas a humilhação espreitava.

Lawrence escondeu a frustração que sentia — o conceito de valorização da moeda que ele tinha levado um mês inteiro para entender, ela levou alguns minutos.

“S... Sim, é isso mesmo,” ele respondeu.

“O mundo dos homens certamente é complicado.” Apesar da admissão, a sua compreensão era assustadoramente rápida.

Enquanto os dois conversavam, eles se aproximaram de um rio estreito. Não era o Slaude que corria por Pazzio, era mais um canal artificial que desviava a água do Slaude, para que as mercadorias descendo o rio pudessem ser transportadas de forma eficiente para o centro da cidade sem ter que as desembarcar por terra primeiro.

Por causa disso, balsas estavam constantemente flutuando ao longo do rio, guiadas por barqueiros cujas vozes que gritavam uns com os outros eram agora audíveis.

Lawrence estava indo para a ponte que atravessava o canal. Cambistas e ourives há tempos situavam seus negócios em pontes. Eles colocavam suas mesas e suas balanças e faziam negócios. Naturalmente, eles não trabalhavam em dias chuvosos.

“Oh-ho, está bastante lotado,” comentou Holo quando chegaram na maior ponte de Pazzio. Com as comportas fechadas, uma inundação era impossível, por isso uma ponte, muito maior qualquer uma que pudesse ser construída sobre um rio comum, conectava ambos os lados do canal, com cambistas e ourives alinhados braço a braço em ambos os lados. Todos eram muito bem-sucedidos, e os cambistas em particular se mantinham ocupados trocando dinheiro de terras próximas e distantes. Ao lado deles, os ourives se ocupavam com suas joias e alquimia. Não haviam cadinhos para fundir metal, mas pequenos trabalhos e pedidos para trabalhos maiores eram comuns. Como seria de esperar de um lugar onde a maior parte dos impostos da cidade eram arrecadados, o lugar cheirava a dinheiro.

“Há tantos, como escolher um?”

“Qualquer mercador que se preze tem um cambista favorito em cada cidade. Me siga.”

Eles caminharam sobre a ponte congestionada, Holo se apressando para acompanhar Lawrence.

As pontes eram abarrotadas de transeuntes mesmo nas horas mais tranquilas, e apesar de que agora era ilegal em todos os lugares, os aprendizes dos cambistas e ourives pulavam da ponte com encomendas para seus mestres, tornando-se meio carnavalesco. A vivacidade inevitavelmente resultava em fraude — e eram sempre os clientes que corriam o risco de serem enganados.

“Ah, lá está ele.” O próprio Lawrence tinha sido enganado muitas vezes no passado, e só quando fez amizade com alguns cambistas que isso parou.

Seu cambista favorito em Pazzio parecia um pouco mais jovem do que ele.

“Oh, Weiz. Já faz um tempo,” disse Lawrence ao cambista de cabelos louros, que estava justamente terminando seus negócios com outro cliente.

Weiz olhou para cima ao ouvir seu nome e abriu um largo sorriso ao reconhecer Lawrence. “Veja só se não é Lawrence! Realmente faz tempo! Quando você chegou na cidade?”

A associação entre os dois profissionais era bem longa. Era como uma amizade, formada não por bondade, mas necessidade.

“Ontem,” respondeu Lawrence. “Peguei um desvio por Yorenz para fechar um negócio.”

“Você nunca muda, velho amigo. Você parece bem!”

“Eu estou bem. E você como está?”

“Hemorroidas, meu amigo. Finalmente peguei a maldição do meu trabalho! Não é nada agradável.”

Weiz falou com um sorriso, mas era a prova desagradável do verdadeiro cambista. Sentado durante todo o dia em um lugar assim para não perder um cliente, eventualmente quase todos eles sofriam de hemorroidas.

“Então, o que te traz aqui hoje? Vindo a esta hora significa que você necessita dos meus serviços, eh?”

“É, na verdade, eu tenho um favor a pedir... uh, você está bem?” perguntou Lawrence. Como se saísse de um sonho, Weiz olhou de volta para Lawrence, mas seus olhos logo se afastaram novamente para outro lugar.

Ele estava olhando para a figura próxima a Lawrence.

“Quem é a garota?”

“Eu a trouxe de Pasloe até aqui.”

“Huh. Trouxe, você disse?”

“Bem, mais ou menos. Como posso explicar?”

“Mm? Mm... essa pode não ser bem a palavra apropriada para isso, mas vou deixar assim” disse Holo com alguma relutância, parando seu olhar curioso aqui e ali para responder a Lawrence.

“Então, qual é o seu nome, senhorita?”

“Meu nome? É Holo.”

“Holo, eh? Bom nome.”

Weiz sorriu descaradamente; Holo devolveu com um sorriso não muito descontente, que Lawrence não apreciou particularmente.

“Bem, se você não tem algum lugar em específico para ir, por que não trabalha aqui? Acontece que eu estou à procura de uma empregada. Quem sabe algum dia você possa seguir meus passos, ou até se tornar minha noiva —”

“Weiz, vim te pedir um favor,” disse Lawrence, interrompendo. Weiz olhou adequadamente ofendido.

“O quê? Vocês já estão juntos?” Weiz sempre teve um modo indelicado de falar.

Longe de estarem “juntos” Lawrence se via manipulado por Holo, então ele respondeu negativamente de forma enfática.

“Bem, então, você deve me dar uma chance,” retrucou Weiz, olhando para Holo e sorrindo docemente. Holo se mexia nervosamente, ocasionalmente parando para dizer coisas como “Oh, ho,” uma reação que Lawrence não conseguiu achar interessante.

Naturalmente, ele escondeu sua irritação. “Vamos discutir isso mais tarde. Negócios em primeiro lugar.”

“Hmph. Ótimo, então. O que você quer?”

Holo riu.

“Tem algumas moedas trenni recentemente cunhadas? Se puder, eu gostaria de ver as três moedas mais recentemente emitidas.”

“O quê, você sabe alguma coisa sobre mudanças na pureza?”

Weiz dominava o seu trabalho — ele imediatamente percebeu o que Lawrence pretendia.

“Algo parecido com isso,” disse Lawrence.

“Bem, tome cuidado, amigo. Não é tão fácil ficar na frente da multidão,” disse Weiz, o que significa que até mesmo os cambistas não tinham ouvido falar de quaisquer mudanças iminentes.

“Então, você tem alguma ou não?”

“Eu tenho de fato. Há uma nova moeda que saiu no mês passado, no Advento¹. E uma antes disso... aqui está.”

Weiz mostrou quatro moedas na caixa de madeira atrás dele e as passou para Lawrence. O ano de cunhagem foi esculpido na madeira.

Não havia diferença visível entre qualquer uma das moedas.

“Nós lidamos com dinheiro o dia todo e não notamos nada. Elas foram feitas no mesmo molde, usando os mesmos ingredientes. O grupo de artesãos na Casa da Moeda não muda faz anos. Não houve golpes de Estado, não há nenhuma razão para alterar a moeda,” disse Weiz.

O peso e cor das moedas já haviam sido examinados, mas Lawrence ainda as segurava contra o sol e olhava para elas com cuidado. Parece que realmente houve qualquer mudança.

“Não adianta, amigo. Se você pudesse dizer só de olhar, a gente já teria notado há muito tempo,” disse Weiz, com o queixo entre as mãos em concha. “Desista,” ele parecia estar dizendo.

“Hm. E agora, me pergunto,” disse Lawrence com um suspiro, devolvendo as moedas para a mão estendida de Weiz. Elas fizeram um agradável som de tilintar quando caíram.

“Não quer derretê-las, eh?” disse Weiz.

“Não seja ridículo. Não posso fazer isso,” Lawrence retorquiu.

Derreter moeda era um crime em qualquer país. Weiz riu da ideia absurda.

No entanto, Lawrence agora estava no prejuízo. Ele tinha certeza de que, se tivesse havido qualquer mudança na moeda, Weiz saberia de algo.

O que fazer?

Foi então que Holo falou.

“Deixe-me vê-las” ela disse, Weiz olhou para cima e a entregou seu melhor sorriso.

“Oh, certamente, certamente” disse ele, entregando as moedas — embora quando ela estendeu a mão para pega-las, ele pegou suas mãos, não a deixando ir por algum tempo.

“Oh, senhor, você é um mulherengo!” Disse o Holo com um sorriso, para cortar o ato. Weiz se envergonhou e coçou a cabeça.

“Você pode dizer algo?” Perguntou Lawrence, ignorando Weiz. Ele duvidava que mesmo Holo fosse capaz de discernir a pureza de uma moeda.

“Bem, veremos,” ela falou.

Quando ele ia se perguntar o que ela faria, Holo trouxe a mão que continha o dinheiro para sua orelha e apertou-a, sacudindo as moedas.

“Ha-ha, agora isso sim é impossível,” disse Weiz com um sorriso.

Dizia-se que mestres cambistas com décadas de experiência poderiam dizer a pureza de uma moeda pelo seu som, mas isso provavelmente era uma lenda. Era como dizer que os bens de um mercador sempre valorizariam.

Mas Lawrence duvidou. Holo tinha as orelhas de um lobo, afinal.

“Hmm,” disse Holo uma vez que havia terminado. Ela escolheu duas moedas e devolveu o resto à mesa do cambista.

Ela sacudia estas duas moedas juntas, em seguida, repetiu o processo com diferentes combinações de moedas, um total de seis vezes para verificar todas as combinações possíveis. Então, ela falou.

“Eu não posso dizer,” ela falou.

Talvez possuído pela memória do quão tímida Holo ficou quando ele agarrou suas mãos, Weiz fez uma expressão de simpatia tão exagerada que era difícil não se perguntar se ele alguma vez voltaria ao normal. “Oh, tudo bem! É uma pena, de fato!” ele disse.

“Bem, nós já gastamos muito do seu tempo,” disse Lawrence. “Temos que sair para beber uma hora dessas.”

“Verdade! Isso é uma promessa — uma promessa, entendeu?”

Dominado pela veemência de Weiz, Lawrence prometeu, então o par deixou a barraca do cambista atrás deles.

No entanto, Weiz continuou a acenar entusiasmado para eles enquanto partiam. Holo olhou para trás diversas vezes e acenou timidamente em troca.

Uma vez que as multidões se fecharam em torno deles e Weiz não podia mais ser visto, Holo olhou para frente novamente. Ela disparou a rir.

“Ele é um tipo interessante!”

“Para um galanteador incomparável, acho que sim.” Não era uma mentira, mas Lawrence sentiu que tinha que falar mal de Weiz de qualquer maneira. “Então, a respeito da pureza da prata? Subiu ou caiu?” ele perguntou, sorrindo para Holo. O sorriso dela desapareceu e parecia surpresa.

“Você ficou muito bom em ver a verdade nos outros, não?”

“Sou o único que sabe sobre as suas orelhas, afinal. Sei que as vi se mexerem.”

Holo riu. “Não posso baixar a minha guarda.”

“Mas o que me surpreende é você não ter dito nada lá. Sua mentira foi inesperada.”

“Deixando de lado se ele acreditaria ou não em mim, não sabemos o que as outras pessoas ao redor teriam feito. Quanto menos pessoas souberem de um segredo melhor, não? Acho que você pode considerar isso como uma compensação.”

“Compensação?” Lawrence repetiu. Ele perguntou o que tinha feito para merecer uma compensação.

“Você estava com um pouco de ciúmes lá atrás, não? A compensação é por isso.”

A expressão de Lawrence endureceu diante do olhar provocante de Holo.

Como ela soube? Ou ela era apenas boa demais em mantê-lo na palma da sua mão?

“Oh, não se preocupe com isso. Todos os homens se queimam com ciúme tolo.”

Isso era dolorosamente verdade.

“Mas as mulheres são tolas por se deleitarem com isso. Este mundo está cheio de tolos, não importa onde você olha,” disse Holo, se aproximando um pouco mais perto de Lawrence.

Parecia que Holo tinha experiência com o romance, bem como assuntos mercantis.

Ela riu. “Embora para mim, vocês dois são meros humanos.”

“No entanto, aqui está você, em forma humana. Melhor não revelar suas presas agora, só na frente de seus amados lobos.”

“Ha, um balançar da minha adorável encanta tanto homens quanto lobos!” Holo colocou a mão em seu quadril e balançou despreocupadamente. De alguma forma, Lawrence teve a sensação de que ela não estava mentindo.

“Piadas à parte,” disse ela, para alívio de Lawrence, “era apenas um pouco, mas as novas moedas têm um som um pouco mais suave.”

“Suave?”

Holo assentiu. Um som mais suave significava que a pureza de prata caiu. Uma pequena mudança era difícil de discernir, mas se a pureza caísse o suficiente para as moedas de prata se tornarem visivelmente mais escuras, qualquer plebeu poderia dizer a diferença no som. Se o que Holo disse for verdade, poderia ser um sinal de que as moedas trenni se tornariam menos puras.

“Hmm... mas se isso é verdade, é sensato assumir que Zheren estava mentindo o tempo todo,” disse Lawrence.

“Talvez. O garoto terá que retornar as seus dez trenni, dependendo de como isso se desenrolar.”

“Eu penso assim. Se ele só quisesse ganhar algum dinheiro com a venda de informação falsa, ele teria feito isso lá na igreja sem precisar nos reunir em um bar.”

“Isso é uma charada.”

Holo riu, mas em sua mente Lawrence estava freneticamente tentando desvendar a situação.

Mas quanto mais ele pensava nisso, mais estranho ficava. Qual era o plano de Zheren? Ele estava, sem dúvida, planejando algo. Se Lawrence pudesse descobrir o motivo, ele sabia que poderia ser capaz de lucrar também. É por isso que tinha tomado esse risco em primeiro lugar, mas o fato de que ele ainda não tinha a menor ideia da verdadeira motivação de Zheren o incomodava.

Como é que alguém ganha dinheiro com uma moeda de prata cuja pureza está diminuindo? Tudo o que ele conseguia pensar era em investimentos de longo prazo. Se ouro ou da prata caíssem de um preço alto para um baixo, você poderia vendê-los por um preço alto, então comprar exatamente o que vendeu depois que caíssem. Você acabaria exatamente com a mesma quantidade de ouro ou prata mais a diferença no preço. A especulação em ouro e prata sempre oscilava. Se esperasse voltar ao preço original, poderia obter um lucro no fim.

No entanto, ele não tinha tempo para esse tipo de planejamento de longo prazo. Por exemplo, metade de um ano, simplesmente não era tempo suficiente.

“Bem, Zheren me trouxe um negócio, então ele deve ter alguma coisa a ganhar. Ele precisa ter.”

“Assumindo que ele não é algum tipo de tolo,” acrescentou Holo.

“Ele mencionou que não seria responsável pelas perdas. O que significa...”

“Heh-heh,” Holo começou a rir.

“O quê?”

“Heh. Ha-ha. Ha-ha-ha! Você foi enganado, meu amigo!”

Lawrence se virou para Holo, assustado. “Enganado?”

“Oh, sim.”

“Pelo... o quê? Os dez trennis?”

“Hee-hee-hee. Tomar dinheiro de alguém não é o único tipo de fraude.”

Lawrence tinha ouvido e visto muitos golpes em seus sete anos de experiência, mas ele tinha dificuldade em entender do que Holo estava falando.

“Que farsa! Um plano onde o seu adversário pode ou não ganhar, mas ele garante que ele nunca vai perder!”

A cabeça de Lawrence rodava, pálida. Ele quase se esqueceu de respirar. Logo, o sangue subiu à cabeça.

“O garoto nunca vai perder. No pior caso, seu lucro é zero. Se a pureza da prata cair, tudo que ele terá que fazer é devolver o dinheiro para você. Se subir, ele recebe parte do seu lucro. É um negócio que não requer nenhum capital. Mesmo sem nenhum lucro, ele vai ficar bem.”

Lawrence foi esmagado pela exaustão. Ser enganado por um esquema tão frívolo!

Mas era verdade. Ele tinha jurado que havia algum motivo oculto. Um comerciante viajante tão acostumado a usar todos os truques que ele poderia supor. E assim o fez.

Zheren tinha previsto que era quase certo aparecer um lucro.

“Heh. Os seres humanos são muito inteligentes,” disse Holo, como se estivesse falando sobre o problema de outra pessoa. Lawrence só podia suspirar. Felizmente, ele ainda não tinha começado a investir em moedas trenni. Tudo o que ele tinha arriscado era o que tinha na mão. Não havia nada no contrato com Zheren sobre quantos ele era obrigado a comprar. Tudo o que podia fazer agora era rezar para que não houvesse oscilações no mercado. Ele poderia, então, apontar a mentira de Zheren, e não haveria nada para impedi-lo de conseguir suas dez moedas de prata de volta. Naturalmente, se o preço caísse, ele seria capaz de recupera-las legitimamente, então perder apenas uma única moeda para ele sairia, francamente, bem barato.

Quando um mercador deixa sua guarda baixa, normalmente ele perde tudo.

Mas neste caso, tudo o que Zheren realmente fez foi ferir o orgulho de Lawrence. Ele desabou na mesa diante de Holo, que ria dele com o canto da boca.

“Embora...” Holo começou.

Lawrence olhou para ela suplicante, como se dissesse, ainda tem mais? Holo olhou para ele com um olhar de predador.

“Não é comum a pureza de prata cair um pouco?”

Suspeitando que sua redenção poderia começar com isso, Lawrence se obrigou a endireitar as costas. “Não, normalmente a pureza é controlada com extremo cuidado.”

“Hm. Ainda assim, do nada, há um rumor que gira em torno da pureza de moedas de prata. Isso pode ser apenas uma coincidência, me pergunto?”

“Uh...”

A sorridente Holo parecia estar gostando dessa situação. Não — ela definitivamente estava gostando.

“Olha, você estar naquela aldeia, naquela hora, com aquele feixe de trigo — aquilo foi uma coincidência. Não há nada tão difícil nesse mundo quanto diferenciar coincidência de destino. É mais difícil que romance para alguém solitário.”

“Essa é uma analogia estranha,” foi tudo o que Lawrence conseguiu responder.

“Você está perdido no labirinto de seus próprios pensamentos. Quando isso acontece, você precisa de uma nova perspectiva. Quando estou caçando, às vezes subo em uma árvore. A floresta parece diferente do alto, por exemplo” — disse Holo, a Sábia Loba, com um sorriso torto que mostrava sua presa esquerda — “e se a pessoa que está tramando algo não for aquele garoto?”

“Oh...”

Lawrence sentiu como se tivesse sido atingido na cabeça.

“Não há razão para o lucro de Zheren ter que vir de você. Por exemplo, talvez ele tenha sido contratado por outra pessoa, e essa recompensa o motivou a te chamar para esse estranho negócio.”

Apesar de, sem dúvidas, ela ser duas cabeças mais baixa do que ele, Holo parecia uma gigante.

“Se você está olhando para uma única árvore seca, pode parecer uma ferida grave para a floresta. Mas do ponto de vista da floresta, os restos da árvore nutrirão outras plantas, agindo para o bem de toda a floresta. Se mudar de perspectiva, uma situação bem na sua frente pode se inverter. Então — conseguiu pensar em algo?”

Por um momento, Lawrence suspeitava que Holo já sabia alguma coisa, mas dado seu tom de voz, parecia que ela não o estava testando, mas sim estava genuinamente tentando ajudar. Nada era mais importante para um comerciante do que o conhecimento. Mas esse conhecimento não era uma mera mercadoria a ter seu preço fixado.

A situação diante dele. Seu conhecimento dessa técnica.

Lawrence pensou — pensou sobre uma perspectiva diferente.

Zheren, o único homem com quem tinha falado diretamente — e se os ganhos de Zheren estavam vindo não de Lawrence, mas de outra parte?

A respiração de Lawrence ficou presa em seu peito no instante em que o pensamento veio a sua mente.

Se esse fosse realmente o caso, ele só conseguia pensar em uma possível explicação.

Ele tinha ouvido a partir de outro mercador viajante quando beberam juntos em outra cidade. A história era tão absurda que ele assumiu ser só mais uma história de taverna.

Ainda assim, a história poderia explicar por que alguém faria algo aparentemente tão sem sentido como a compra de uma moeda de prata depreciada.

Ele também podia ver por que Zheren estaria mentindo, mesmo quando ele assinou um contrato diante de um testemunho público, e usaria sua influência na taverna, agindo de forma que não faz sentido para um vigarista.

Zheren vinha tentando colocar na transação tanta credibilidade quanto podia, a fim de tentar fazer Lawrence comprar moedas de prata.

Se Lawrence estava certo, Zheren tinha sido contratado por outro grupo para comprar moedas de prata. Quem quer que fosse queria coletar prata o mais discretamente possível.

A melhor maneira de coletar uma determinada moeda, sem atrair atenção seria contratar os mercadores para fazer isso por você, apelando para o próprio interesse deles.

Mercadores que queriam lucro através da compra de moeda de prata não iriam compartilhar informações com os outros e, naturalmente, seriam extremamente cuidadosos. Então, você poderia apenas esperar por um momento oportuno e, sem problemas, pegar as moedas coletadas, realizando seu objetivo, sem influenciar o mercado ou chamar a atenção das pessoas.

Era uma técnica comum para compra de um bem com antecedência antes de ele ter um preço alto.

A parte realmente inteligente deste plano era que, se a moeda de prata caísse, os mercadores gostariam de se livrar de suas moedas rapidamente, a fim de minimizar suas perdas. Isto faria com que conseguir suas reservas de prata fosse qualquer coisa menos difícil, e o orgulho impediria os mercadores sofreram perdas admitissem que tinham investido em moedas de prata.

Era um plano perfeito para coletar moedas sem ninguém saber.

A escala massiva do plano poderia render lucros obscenos. Pelo menos, os lucros mencionados nas histórias sobre tais planos eram estupendos.

Lawrence riu de si mesmo.

“Heh. Você descobriu algo, não foi?” disse Holo.

“Vamos.”

“Hum? Uh, onde?”

Lawrence já tinha começado a se afastar. Ele se virou para Holo, impaciente. “Para a Companhia Milone. É assim que o plano funciona. Quanto mais moedas de prata depreciadas forem compradas, mais lucro haverá!”

Uma vez que se descubra a motivação por trás do plano de alguém, é possível lucrar com isso.

E quanto maior o plano deles, melhor.


Nota:

1 – Para os cristãos, o Advento é o período que antecede o Natal no calendário religioso.



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