Volume 2

Capítulo 125: A Peça; O Fim de Qiao Xu. #1

 

No palco, as marionetes se misturaram com os sons da música que ao fundo, trazia um tom muito curioso de notas agudas. O tin-tin-ton-ton fez o ritmo dos movimentos dos bonecos. Talvez fosse uma música melancólica, mas soava tão alegre com as marionetes dançando. 

Chegando novamente ao palco, o misterioso narrador fez sua voz se apresentar.

— Era uma vez, a apenas alguns anos antes de ser trazido para a mansão Zhao, um pequeno garotinho chamado Qiao Xu. Pequeno mesmo, muito mais baixo do que os outros meninos, mas um pouco mais forte do que as meninas. Não que isso seja de alguma relevância, até porque o garotinho nunca precisou usar sua força.

Qiao Xu não nasceu em uma família rica, nada disso. Sua família poderia ser descrita como: a família mais comum no meio de uma cidade cheia de famílias comuns. Não era pobre, longe disso. Seu pai lhe deu um conforto que muitos nem poderiam sonhar em ter. E não era rico, nada disso. Nunca conseguiu desfrutar dos privilégios que outros meninos exibiam — coisas como animais raros, plantas fortalecedoras, aulas com mestres qualificados que tentavam descobrir seus talentos ocultos — ele não tinha nada disso. 

Se tivesse, certamente não estaria onde estava nos dias atuais. Mas vamos nos manter no passado. O que Qiao Xu possuía de extraordinário? O que era que fazia ele se diferenciar de todos!?

Ele queria saber, porque mesmo após 13 anos, não era diferente em nada de todos os seus amigos. Bem, talvez achar a maioria das garotas feias fosse seu dom especial. Se é que uma coisa dessas poderia ser considerada um dom de alguma forma. 

Mas isso mudou no dia em que Qiao Xu decidiu ir junto de seus amigos a uma cachoeira, onde poderiam passar o dia brincando e se divertindo longe de seus pais — que obviamente eram contra aquilo. Afinal, sair da proteção dos muros da cidade era arriscado demais. 

Mas ainda assim, Qiao Xu escapuliu pela madrugada com um saco cheio de comida, se encontrou com seus amigos no local marcado, e partiu no meio do mundo. Aquela cachoeira seria conquistada por eles naquele dia! 

Chegando no local, os garotos foram logo mergulhando na água, aos gritos e berros. Havia diversão para todos naquele lugar, e para Qiao Xu não foi diferente. 

Seus primeiros mergulhos gelados o fizeram se alegrar, e logo seus amigos começaram a puxar ele para o fundo da água, em suas brincadeiras levemente perigosas e ameaçadoras demais. 

Minutos após isso, Qiao Xu saiu da água, e junto dele, outros garotos queriam trepar nas árvores para dar grandes mergulhos, que os fariam sentir toda a alegria que um salto daquela altura poderia proporcionar. Ora, eles estavam ali para se divertirem ao máximo, e aquelas árvores grandes e curvadas sobre a cachoeira pareciam chamar seus nomes. E eles atenderam ao chamado da natureza.

Mas Qiao Xu assistiu os meninos, molhados e pisando na terra, subirem nas árvores e saltarem de sabe-se lá quantos metros. Gritando e mergulhando com sorrisos largos. E ele não fez nada. 

Não por medo. Nada disso. Essa era a última coisa que estava sentindo ao ver as roupas íntimas molhadas e reveladoras de seus amigos.

Aos olhos de Qiao Xu, aqueles garotos eram admiráveis..."

...

Qin Xa sorriu em seu acento, vendo a marionete observar as outras marionetes pulando na água. Mesmo sendo feita de madeira, por que parecia ser tão bonita?

Mas... ela sabia onde essa história ia parar. Para sua tristeza. Quase todas as criaturas têm desejo por sexo, e Qiao Xu sentir isso por seus semelhantes como se sentisse por uma garota, já estava claro que não teria boas consequências. Nada tinha boas consequências nessa peça maldita e amaldiçoada.

Qiao Xu foi chamado por seus amigos para pular das árvores, aqueles belos garotos no início da sua juventude. E saindo de seu estado estranho, assim ele fez.

Foram horas deles se divertindo, comendo, contando piadas e histórias, brincando como se não houvesse amanhã. 

— Nada de ruim aconteceu naquele dia, e no meio da tarde, eles fizeram seu caminho de volta para casa. Cansados, mas felizes, eles queriam até mesmo fazer isso outro dia, como se houvesse confiança em seus pais o suficiente para que eles pudessem fazer algo assim.

Só que ninguém pensou nisso, principalmente Qiao Xu, que andando um pouco mais atrás dos garotos, apreciou a figura deles pelas costas. Seus pensamentos estavam bem longe de se preocupar com alguma coisa. 

Ao chegar em casa, viu que sua mãe estava completamente furiosa e pronta para xingar até a própria avó, se isso a fizesse expressar o quanto estava preocupada com seu menino. Ele levou bronca da sua mãe, que ao saber que seu filho havia saído da cidade, se derreteu em lágrimas. Seu pai, homem trabalhador, por pouco não lhe deu uma surra."

— Você acha que a cidade tem muros de enfeite, Qiao Xu?! Fora da cidade ninguém vai proteger você dos horrores que vivem nas profundezas desse mundo! Qualquer coisa lá fora pode te matar mais fácil do que mata um inseto!

— Seu pai, mesmo que não tivesse lhe surrado até tirar sangue, passou até altas horas da noite lhe castigando com tantas palavras e relatos de criaturas medonhas, que Qiao Xu mesmo que fosse 100 vezes mais corajoso, não iria arredar um passo para longe da cidade! 

No dia seguinte, ele ficou de castigo e não poderia sair de casa nem sequer para tomar sol. Sua mãe quase lhe amarrou ao pé da cama, quase chegou a lhe deixar com fome para que não tivesse forças para andar para fora da cidade."

— Tudo bem, amarrar ele até faz sentido. Mas se ele ficar com fome, como é que vai ter forças para sequer fugir caso alguma coisa aconteça de repente?

— Mas Qiao Jue! — a mulher protestou, enquanto o menino estava desatando o nó em seu pé. — Ele com certeza vai querer deixar a cidade de novo! Não é melhor manter ele vivo e fraco aqui dentro, do que forte e morto lá fora?! Eu não criei meu filho para vê-lo morrer antes de mim! Qiao Xu, prometa que você não vai mais sair da cidade!

— Sim, mãe. Eu prometo. 

— Eu não acredito em você! — a mulher pegou a corda e voltou a amarrar no pé do garoto. — Qiao Jue, veja como ele mente! Não foi assim que eu criei ele!

— E por acaso eu o criei desse modo?! Qiao Xu, pare de fazer falsas promessas!

O garoto encarou os dois, quase era possível saber seus pensamentos insolentes enquanto observava o casal. — Eu não vou sair da cidade!

— É claro que não vai! E quer saber mais? Você também não vai mais se encontrar com seus amigos, esses garotos só estão ensinando o que não é bom para você! A partir de hoje, você vai apenas viver em casa e seu pai vai te levar para o trabalho! Você também vai começar a trabalhar!

Qiao Xu imediatamente foi protestar contra isso. — Por quê?! Meus amigos e eu não fizemos nada de errado além de sair da cidade! Eu não quero me separar deles!

— Você vai acabar essas amizades e acabou! Se eles fossem seus amigos não iam levar você para as garras de um monstro! Lá fora é perigoso e pronto, entenda isso de uma vez! Você não vai mais encontrar nenhum deles!

— Eu não quero me separar dos meus amigos, eu gosto deles! 

— Você vai sim! — a mãe já estava fumegando de raiva, quase ao ponto de pegar aquela corda e deixar marcas nas costas do garoto! 

— Não vou não! — e ele, obstinado, não cedeu. 

Foram longos e barulhentos minutos de briga, com os pais ficando mais e mais irritados, até que sua mãe em fúria, gritou:

— Por que você está desobedecendo seus pais que só querem o seu bem?! Qiao Jue, vamos arranjar uma noiva para esse menino essa semana mesmo! Se você quer tanto assim desobedecer seus pais, pode muito bem sair da nossa casa e ir morar com uma mulher! 

— Xia, se acalme... — o pai pareceu achar essa ideia extrema, afinal era apenas de um garoto de 13 anos que estavam falando, mas o grito de Qiao Xu chamou mais atenção, talvez atenção demais.

— Eu não quero me casar com uma mulher, mãe! 

Os pais ficaram em silêncio, muito silêncio, enquanto Qiao Xu continuou falando, agora sua voz mais baixa. — Essas mulheres são todas feias e chatas! Eu não quero casar com elas nunca! Eu prefiro casar com um dos meus amigos do que viver com uma delas!

Palavras tão claras e resolutas. Muito bem faladas e expressadas com firmeza. Foi apenas isso que o garoto fez, ao encarar seus pais nos olhos…

E com essas palavras, as marionetes pararam, e o palco se desmanchou, revelando uma cena que fez a plateia puxar o ar de susto, com um; Huuun! 

Assustados, todos engoliram seco quando viram Qiao Xu revirar os olhos, pendurado por correntes que rasgavam sua pele, de cabeça para baixo, com o corpo cheio de sangue, cortes e hematomas! Tremendo e respirando pesadamente, enquanto o sangue que escorria da sua boca formou uma poça abaixo de sua cabeça — ele gemeu, grunhiu e fez força para se soltar.

Mas esse esforço só fez ele gemer mais alto e com mais desespero. Se libertar daquela situação mais parecia uma ilusão irreal do que algo que poderia acontecer. Mas ainda assim ele tentava! Lutar pela vida mesmo nessa situação estava trazendo muito mais sofrimento, só que ele continuava lutando!

Ao redor, soldados armados observavam o homem chorar, enquanto na sua frente, o General Vermelho de repente desferiu um golpe poderoso na sua barriga, fazendo-o grunhir de dor. O "clang" das correntes soou enquanto seu corpo foi para trás e voltou para frente.

— Por favor... eu já falei tudo... — Qiao Xu implorou, deixando visível para todos a falta dos seus dentes brancos, sua expressão já não possuindo mais a beleza contida e inocente do seu sorriso quieto.

Alí, naquele rosto ferido e inchado, escuro de ferimentos… não havia nada de belo. 

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