Volume 2
Capítulo 126: A Peça; O Fim de Qiao Xu. #2
— Qiao Xu, você acha que eu ainda quero alguma informação de você? — encarando o rosto deformado e inchado de Qiao Xu, o General Vermelho perguntou enquanto se preparava para dar mais um golpe.
E assim ele fez. Seu punho fez os hematomas na pele branca ficarem ainda mais visíveis, e Qiao Xu exalou um gemido, contraindo a barriga e arqueando a cabeça, enquanto fechava os olhos com força.
— Por favor... Senhor... eu não aguento mais...
— E quem foi que disse que você precisa aguentar alguma coisa? Qiao Xu, quando eu te encontrei naquela imundice e prestes a ser apedrejado por aqueles seus amigos, o que foi que eu pedi para você fazer?!
Vermelho lavou as mãos em um balde de água que estava ao lado.
— Senhor... eu não queria traí-lo... uuuu! — suas palavras foram atrapalhadas quando seu corpo foi encharcado pela água suja, suja com seu próprio sangue e suor.
Ele engasgou, mas sem forças o suficiente para tossir o líquido que entrou em sua boca e nariz de uma vez só, ficou dando pequenos e curtos tossidos por alguns segundos, e isso só fez seu sangramento piorar ainda mais.
— Mas é claro. Na hora da dor ninguém fez nada. Culpados são inocentes, criminosos são as vítimas, e até os mais corajosos são covardes. Você não é diferente de nenhum deles, é completamente inocente, NÃO É?!
Chutes violentos na cabeça do jovem fizeram ele gritar, enquanto o General Vermelho xingava.
— Eu te tirei daquelas malditas ruas e só pedi para você servir ao desgraçado do meu filho! Eu não deixei que gente como você fosse apedrejada até morrer, só por ser quem é! E como é que você me agradece?! VOCÊ EXPLODIU A MINHA CASA! JOGOU TODA A MINHA BONDADE NO LIXO DEIXANDO MEU FILHO FUGIR, E AINDA FICOU QUIETINHO, APENAS ESPERANDO QUE O SEU SENHOR, O SEU VERDADEIRO SENHOR, FOSSE MORTO E DESGRAÇADO!
Balançando sem forças, Qiao Xu parecia não ouvir nada daquilo, apenas grunhidos do que poderia ser dor, agonia, medo e angústia eram emitidos por ele. Olhando fracamente por entre suas pálpebras inchadas e cortadas... Qiao Xu só conseguiu derramar lágrimas.
O General Vermelho vendo isso deu-lhe mais um chute, que fez seu corpo girar. As correntes fizeram barulho, e sua carne rasgou ainda mais nos locais onde elas estavam cravadas.
— Você acha que chorar vai adiantar de alguma coisa?! Eu te dei uma chance quando todos queriam distância de você! Agora é assim que você merece ser tratado! Seu traidor maldito! Homens!
Vociferando, o General Vermelho ordenou que seu soldados desamarrassem o jovem quase morto. Que ao ser solto, foi jogado com tudo em uma mesa de pedra, com os membros amarrados por correntes. Esticado por todos os lados, ele olhou para o céu.
Sob o sol daquele dia, o General Vermelho levantou sua espada, e desceu ela sobre a cabeça de Qiao Xu! Ele iria ser decapitado ali, e naquele exato instante!
E nesse momento, cortinas desceram no meio do palco, cobrindo a cena e apresentando um cenário completamente branco, onde sombras se ergueram e tomaram formas.
Não houve música ou qualquer som, o silêncio fez sua presença cobrir o palco inteiro. Apenas 3 sombras surgiram, duas lembravam as sombras dos pais de Qiao Xu... e a terceira, lembrava um garoto... e todos eles pegaram pedra e jogaram.
As pedras voaram e atingiram a cabeça de alguém que caiu brutamente contra o chão, e começou a se arrastar.
Assustada, a sombra apedrejada começou a correr de quatro, como um animal afugentado, até que ficou de pé. Lágrimas escorreram por seu rosto negro, e correndo, ela cresceu. Se tornou uma sombra adulta.
Parando de correr, a sombra começou a lavar pratos e a servir num restaurante, com os clientes todos brincando com ele. Ela conversou com outras sombras, sorriu com elas, e serviu aos clientes que queriam comer. E depois disso, ela voltava a lavar os pratos.
Até que um dos clientes se aproximou mais do que o normal.
Segundos depois, a sombra se jogou sobre a sombra cliente, fazendo-a ser empurrada para longe contra uma parede, sendo derrubada, e encarando aquele que parecia ser seu amigo, a sombra novamente viu pedras sendo jogadas em seu corpo.
Ela novamente se viu correndo. Correndo enquanto soltava um grito sem voz — e chorando. Até estar em um lugar completamente desconhecido. Longe de tudo e todos, aquela sombra se sentou, ficou encolhida enquanto chorava com a cabeça entre os joelhos.
Ocasionalmente outras sombras passaram por perto dela e jogavam pedras no seu corpo, na sua cabeça. Porém, ela não reagiu, apenas deixou que as pedras batessem e a machucassem. Mas um dia, isso mudou.
A sombra solitária foi encontrada por uma sombra grande, profunda e vastamente escura... tão escura que mais parecia a própria escuridão, e não uma sombra.
Aquela sombra escura a pegou pelo braço, jogou seu corpo embaixo d'água, e quando a tirou de lá, a jogou na frente de um banquete tão grande que ela nunca poderia comer de uma vez.
E apresentando para ela, aquela escuridão sem fim lhe mostrou uma sombra que sentava-se perto de uma janela, e lia um livro. A escuridão medonha lhe deu uma roupa de mulher, deu-lhe uma casa para morar e desapareceu.
A pobre sombra solitária vagou por sua casa, vez ou outra encontrando a sombra daquele que lhe foi prometido... mas nunca trocando mais que algumas palavras com ela. Apenas cumprimentos ocasionais, nada mais.
Porém, aos poucos a sombra buscou se aproximar. Foi ignorada. Mas tentou se aproximar. Tentou servir refeições, tentou passar tempo lendo, tentou tudo. Até mesmo entrar no quarto do seu prometido... mas ela foi posta para fora, não com brutalidade, nem mesmo com demonstrações de raiva...
A sombra foi expulsa do quarto suavemente e com cuidado. Seu prometido não queria se aproximar dela.
E assim... a sombra viu seu prometido se juntar com uma mulher, e ir para longe de seus braços. Deixando-a mais uma vez sozinha…
Agora, mais sozinha do que nunca porque compartilhava refeições, passava tempo conversando, cumprimentava e sorria com aquele que foi prometido... mas que nunca estaria em seus toques.
Vestido de mulher, a sombra viu a escuridão se aproximar com força arrebatadora e lhe jogar no mesmo lugar que a sombra de seu prometido... e naquele lugar, as duas se uniram em uma só... apenas para serem separadas logo em seguida.
As cortinas brancas foram suspendidas, e a sombra se transformou em Qiao Xu, e a vasta escuridão assumiu a forma do General Vermelho, que portando sua espada com raiva no olhar, a fez cortar para baixo!
Num corte limpo, a cabeça rolou pela mesa... espalhando sangue pelo lugar, e foi até um cesto. Lá ela caiu, lá ela ficou.
O General Vermelho encarou o corpo morto de Qiao Xu por um breve momento... colocou sua espada sobre a mesa e pegando a cabeça decepada do cesto, cuspiu uma única palavra, ao colocá-la junto do corpo agora sem vida.
— Queimem.
Saindo daquele lugar, ele não viu os guardas porem fogo em Qiao Xu, o fogo consumidor que lhe transformou em cinzas.
...
Qin Xa encarou isso, sem expressar muitas reações como foi sendo nas últimas horas em que esteve nesse lugar maldito. E ainda bem, porque a única coisa dentro dela que ainda sentia algo de bom por essa peça, era seu nojo. Esse sim estava muito animado.
“Por que eu me inventei de entrar nesse lugar para começo de conversa? Agora esse Dao esquisito me impede de sair daqui porque eu quero ver o final dessa coisa, e ele me tortura enquanto eu vejo qual vai ser o desenrolar disso. Essa peça é uma porcaria muito bem feita, uma porcaria tão bem feita que até de mim eu sinto nojo!”
…
Na próxima vez que as cortinas se abriam — para o desgosto de muita gente anunciando que essa peça ainda não havia acabado — elas revelaram o escritório do General Vermelho, que estava encostado em sua mesa, enquanto encarava de cima o homem que estava de joelhos, com a testa encostada no chão, bem na sua frente.
O General Vermelho olhou seu conselheiro, e no seu rosto havia apenas raiva. Uma raiva indisfarçável, enquanto o colar em seu pescoço era segurado firmemente por suas mãos.
— Você me garantiu que Zhao Piao não tinha nenhum plano para escapar. Que ele não fez nada que parecesse indicar que tinha planos para fugir… então, agora, você pode me explicar o que foi que aconteceu enquanto eu estava fora, meu conselheiro? Como foi que o homem que não tinha planos de fugir, de repente fugiu a tantos dias e agora está reunindo forças para me derrubar?
— Meu senhor… este servo é inútil e não entende como foi que o jovem senhor conseguiu escapar! Eu estava de olho nele esse tempo todo! Nunca que eu percebi como ele poderia ser tão astuto!
— Você acha que eu quero ouvir suas desculpas?! Fazem 8 dias que ele fugiu! Se eu não precisasse organizar esses camponeses imundos para lutarem a próxima batalha, eu nem teria voltado para casa. Será que você ficaria em silêncio sobre a fuga de Zhao Piao pelos próximos meses?!
— Não, meu senhor!
O homem estava suando, pálido — porém, não estava tremendo ou falando baixo. Mesmo diante da ira do seu senhor, ele permaneceu falando alto e em bom tom, como se até mesmo hesitar ou gaguejar fosse um crime.
Vermelho o encarou, apertou seu colar, e continuou encarando o homem. Talvez estivesse pensando em quais punições aplicar, talvez estivesse planejando como iria desmembrar seu conselheiro. Era possível, e ele poderia fazer isso com a mesma facilidade com que torturou, decepou e queimou o corpo do prometido do seu filho.
No entanto, ele mandou o homem deixá-lo sozinho na sala, enquanto ia para trás da sua mesa cheia de rolos e pergaminhos, assim como folhas de papel preenchidas e abarrotadas de relatórios.
E então ele começou a tratar daquele assunto em silêncio, como um senhor de terras, como um homem de negócios e como o nobre que era e sempre foi. Com papel e tinta, seus movimentos ao escrever eram fluidos, suaves e cheios de uma elegância estranha para todas as suas atitudes sanguinárias.
Os minutos que se seguiram, para a plateia que assistiu o homem assinar e ler um documento após outro, não foram nem de longe longos. Seus movimentos eram firmes e fluídos, sua caligrafia continha uma intensidade e fervor misterioso. Como poderia ser possível que assistir um homem escrever fosse tão reconfortante?
Eles aproveitaram o espetáculo até que alguém bateu na porta.
— Entre.
O conselheiro entrou na sala com sua postura firme, e falou tão naturalmente que nem mesmo era possível imaginar que a poucos minutos, ele estava sendo duramente repreendido.
— Senhor, nossos batedores enviaram a notícia de que o General Gu Lei estava marchando com um exército considerável em direção das terras do General Branco...
Com as sobrancelhas franzidas, o General Vermelho não demonstrou nem uma reação, esperando o conselheiro concluir seu raciocínio que não fazia muito sentido.
— Como Qiao Xu disse que o jovem senhor iria se encontrar com a senhorita Lin, eu deveria alertar para que o Senhor mandasse tropas para resgatar ele. As chances do General Gu Lei capturar o jovem senhor são muito grandes. O que meu Senhor irá fazer?
– Eu? Fazer alguma coisa? Que capturem e cortem sua cabeça! — o General cuspiu no pé da mesa. — Eu já dei chances demais para esse meu filho estúpido e ingrato. Ele não quer continuar lutando contra mim até que um de nós morra? Que assim seja então! Estarei esperando o dia em que verei seu cadáver. Agora saia.
Obedecendo, o conselheiro deixou o escritório, que mais uma vez foi preenchido apenas com o som dos caracteres sendo rabiscados no papel. Ao terminar seu trabalho com os documentos, Vermelho deixou o escritório.
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