Volume 2
Capítulo 124: A Peça; Respeito aos Mortos e Desonra aos Vivos
Zhao Piao encarou a mais velha das irmãs mais novas apreensivo, ciente da fonte da raiva da garota que era velha o suficiente para entender o mundo.
— Eu vim pedir perdão a Lin Xi, e a todas vocês. Eu sei que falar isso não vai fazer nenhuma mudança ou vai trazer o passado de volta... mas eu, de verdade, me sinto na obrigação de vir aqui abaixar minha cabeça para vocês. Eu espero que em algum lugar do seu coração haja espaço para me perdoar.
Lin Chaoyan encarou Lin Xi com raiva no olhar úmido, fazendo a mais velha abaixar os olhos, e as mais novas se pronunciarem.
— Eu não vou te perdoar! — Lin Ji começou a juntar toda uma refeição em um prato, fazendo Lin Xi ficar confusa. — O que está fazendo?
— Ele não vai comer nessa mesa! — Lin Chaoyan ajudou a irmã, e Lin Ning encarou as duas, claramente querendo falar algo, ou entender porque suas irmãs estavam tão bravas. Mas é claro que não tinha coragem para se intrometer quando suas irmãs estavam tão furiosas.
— Não façam isso! — Lin Xi tentou impedir, séria. — Zhao Piao está se sentindo culpado pelo que aconteceu, mesmo que não seja culpa dele-
— Por que você está do lado dele Lin Xi?! — Lin Chaoyan gritou. — Se ele não sair eu saio!
— Eu também! Eu não vou comer com o filho do assassino do meu pai!
Lin Xi calou-se. Encarando Zhao Piao, havia uma pontada de culpa em seu olhar, que fez o homem abaixar a cabeça. Mas também havia um claro ressentimento na expressão da moça. Defender ele uma vez já estava sendo uma luta para ela.
Lin Ning, que estava calada, de repente fungou, enquanto encarava Zhao Piao do outro lado da mesa, olhando para ele intensamente e sem desviar os olhos.
— Hunf... por que o seu pai matou o meu, irmão Zhao...? — enquanto sua voz tremia, Lin Ji usou a manga para secar as lágrimas da irmã. — Não chore Ning... hunf... você não tem que chorar por causa dele... hunf… não chore… Saia daqui e pare de fazer minha irmã chorar!
Colocando o prato cheio na frente de Zhao Piao, Lin Chaoyan só disse uma palavra, enquanto sua raiva pelo moço aumentava a cada segundo a mais que ele se mantinha em silêncio, vendo suas irmãs sofrerem daquele jeito.
Zhao Piao pegou o prato, e de cabeça baixa, lançou um olhar para Lin Xi antes de deixar a sala. Os empregados no canto não ousaram falar uma palavra ou murmurar nada, apenas observaram toda a cena, e quando Zhao Piao passou por eles, abaixaram a cabeça.
As 4 irmãs, após o tumulto, em um silêncio opressor, começaram a comer pequenas porções uma após a outra — tão lentamente que pareciam não sentir fome alguma — mas tão quietas que talvez não quisessem parar de comer.
— Lin Xi, você vai casar com o Zhao Piao? — Quem quebrou o silêncio foi Lin Ning. E Lin Xi pareceu pensar, olhou para as irmãs mais novas e respondeu baixinho.
— Sim...
— Por quê?
— Porque eu amo ele...
Lin Ning mordeu uma fruta, mas não demonstrou a alegria habitual que sempre tinha ao comer algo. As outras duas não falaram nada, parecia até que nem estavam alí. Mas os ruídos de seus mastigados ainda se fazia presente.
E nisso, as duas cortinas como sempre esconderam o palco e revelaram apenas a próxima cena, onde Lin Xi estava com Zhao Piao em seu quarto espaçoso.
Nos braços de Lin Xi, o Coelho Crepúsculo descansava, e Zhao Piao tinha em mãos uma carta.
— Que absurdo é esse?! O rei não pode fazer uma coisa dessas! Existe uma lei que impede que os descendentes de heróis de guerra percam suas propriedades para casamentos em duas gerações!
Lin Xi, sentada na cama, observou enquanto Zhao Piao arqueava as sobrancelhas. Chegando a uma conclusão que não surpreendeu ninguém, e expressando ela em voz alta para Lin Xi, que já havia entendido.
Aquele nobre que enviou a carta avisando Lin Xi estava mentindo, já que o pretendente que ele recomendava coincidentemente era filho de sua tia.
Casar com aquele nobre era o mesmo que integrar ele a família Lin, que era poderosa no reino, e isso faria Lin Xi se ligar diretamente com sua facção. Mas o pior era que com isso, aquela família poderia tomar todas as riquezas do General Branco, já que no reino quem possuía controle sobre os bens familiares eram os maridos.
Apenas em raras ocasiões eram que as mulheres tinham o controle familiar, como no caso de um divórcio onde o marido havia cometido um crime, ou caso ele morresse.
...
Qin Xa assistiu cena após cena de Zhao Piao tentando se integrar com as 4 irmãs, mas falhando miseravelmente, enquanto ao longo dos dias resolvia certos problemas da casa dos Lin.
"Imagina ficar viúva, fora da idade onde poderia conseguir um segundo casamento sem ser julgada como uma puta que não vive sem macho, e ainda vir gente dizer que você não pode mandar na própria casa. A vida das pessoas é pior do que eu pensei... é nisso que dá nascer rica, talentosa e ficar poderosa apenas respirando…"
Mas não era um pesadelo completo também. Alimento e conforto era algo que não faltava nesse mundo, na verdade mesmo em seus 13 anos Qin Xa nunca viu ninguém com fome ou reclamando de sua cama estar dura, ou por, quem sabe, suas roupas não serem boas o bastante. Nunca que ela ouviu isso ou nada parecido.
Em questão de bens materiais, e saúde num geral, esse mundo e o outro era tão mais fortes e evoluídos, que fazia o mundo de sua primeira vida parecer retrógrado ao extremo.
Nesse mundo, só era pobre e passava fome quem fosse tão preguiçoso, que não tinha vontade nem de sair no mato e pegar grama. E havia grama comestível aos montes por onde quer que alguém fosse. Além delas também crescerem rápido.
"Espera... é a grama que é comestível ou o metabolismo das pessoas daqui que se adaptou para comer pau e pedra? Qi... definitivamente isso é trabalho do Qi..."
Além de haver abundância em alimento e conforto, socialmente o mundo não era terrível... se fosse, não haveria mais de 10 mil pessoas em um teatro.
Um dos negócios dos Lin eram árvores de camas. Não árvores usadas de madeira para fazer camas, mas árvores que bastava cortar e esculpir, e seria possível fazer uma cama bonita, grande ou pequena, e barata. A madeira era macia quando aquecida, e ela se expandia e ganhava volume ao absorver a umidade do lugar.
Chegaria uma hora que não seria preciso aquecer a cama, ela já estaria tão expandida que bastava deitar e dormir.
Lin Xi visitou a loja dessas camas, checando com seu tesoureiro e Zhao Piao os ganhos e gastos. Na loja também era vendido outros produtos de quarto.
Os panos poderiam ser feitos de fibras vegetais, o mais comum, porém, suas qualidades eram excelentes! E havia dezenas de animais de pelos cuja pele e a lã serviam de material. Além de também haver a roupa que Qin Xa menos gostava... nesse mundo havia ceda! E também era feita com lagartas...
"Gostar de insetos é uma coisa, mas vestir eles, é bem diferente..."
A cena voltou a mudar, e agora as três irmãs mais novas estavam vestidas de branco enquanto caminhavam por entre muitas lápides, até chegarem em frente a um túmulo específico. Elas o encararam, com tristeza no olhar.
Fada Rosa, era o nome que estava entalhado na lápide, e ao lado dela, General Branco.
— Mãe, Lin Chaoyan cumprimenta a Senhora!
— Mãe, Lin Ji cumprimenta a Senhora!
— Mãe, Lin Ning cumprimenta a Senhora!
As três repetiram e se curvaram, depois foram até o túmulo do General Branco, e se curvaram mais uma vez.
— Pai, Lin Chaoyan cumprimenta o Senhor.
— Pai, Lin Ji cumprimenta o Senhor.
— Pai, Lin Ning cumprimenta o Senhor.
Da mais velha para a mais nova, os cumprimentos foram respeitosos e cheios de carinho. Se ajoelhando ao lado dos túmulos, as garotas ficaram em silêncio. Talvez estivessem orando, Qin Xa pensou, mas ela não lembrava de haver crença religiosa por esses locais.
Mas foi então que as bocas das garotas se moveram. Sem nenhuma fala. Elas estavam conversando com alguém, ao lado daqueles túmulos.
Ao fundo, aos poucos uma música suave começou a tocar, enquanto as irmãs conversavam com seus pais que deixaram seus corações cheios de saudades.
Lin Chaoyan de repente deu uma risada, enquanto passava a mão no túmulo. Ela não disse nada alto, apenas soltou uma risada contida e inocente, como se conversando com sua mãe, tivesse levado uma bronca ou contado uma piada.
Mas... era a primeira vez que ela sorria daquela forma desde que seu pai partiu a poucos dias.
E na plateia, Qin Xa sentiu um nó na garganta. E esse nó apertou mais forte e doeu mais do que a dor que ela sentiu em sua alma horas atrás. Não foi algo causado por seu Qi, na verdade ele estava bem quietinho agora.
Mas era algo dela mesma... uma coisa que ela nunca havia pensado até ver as 3 irmãs conversarem com os espíritos mortos de seus pais. Mesmo que fosse uma atuação, mesmo que aquilo fosse apenas um simbolismo para dizer que as garotas queriam estar nos braços das pessoas que mais queriam seu bem... toda essa cena significava algo bem mais literal: Os mortos também mereciam respeito.
O que houve com o corpo de sua mãe? Foi enterrado? Foi cremado? Respeitaram seu túmulo com o passar dos anos?
Se foi cremado, o que houve com as cinzas? Aquela senhora era religiosa, nunca que ela iria querer que seu corpo fosse consumido por chamas, preferia comer 7 palmos de terra até que não sobrasse nada do que queimar.
— Quando eu morrer, eu quero que meu caixão seja branco. Sabe aquelas flor roxa? Um monte delas espalhadas pela casa, fazendo tudo ficar cheiroso, que eu que não quero meu funeral fedendo, igual os que eu fui. — ela disse isso, sabendo que iria morrer e desejando ser enterrada.
Enterrada como sua irmã foi, como seus pais foram, e como os pais dos seus pais foram. Dizia que enterros eram bonitos, e que o dela não deveria ser diferente…
Mas Qin Xa... ela não respeitou sua mãe nem nisso. A última honra que sua mãe poderia ter, ela não teve porque seu filho resolveu cometer suicídio horas após ouvir sobre sua morte.
Qin Xa não tremeu ou chorou... mas olhou para si mesma através do Sentido Espiritual... e mordeu os dentes. Tudo o que ela viu, foi uma garota triste.
Uma garota, o seu corpo, o corpo cuja alma o seu filho possuía.
Não era mais o filho dela. Era a filha de outros.
— Pessoal, vamos antes que a noite caia e Lin Xi fique brigando com a gente por nada!
As pequenas se despediram dos seus pais e voltaram para casa, porém, para sua surpresa, viram que sua casa estava repleta de guardas armados com armaduras completas e espadas longas, lisas e afiadas.
Um dos empregados mais velhos saiu da casa sob o olhar atento dos soldados, e levou as garotas para dentro. Elas sem saberem o que estava acontecendo perguntaram ao empregado, que disse que uma comitiva de um dos Generais do reino havia chegado, e que estava negociando com Zhao Piao.
Foram levadas até a sala de reuniões da casa, e Zhao Piao estava de frente para um soldado, cuja expressão transparecia tudo, menos prazer e apreço.
Lin Xi rapidamente chamou as garotas para ficarem ao seu lado, ao lado de Zhao Piao.
— Gu Lei, eu já disse todas as fraquezas do meu pai que eu pude pensar. Eu, como bem deve saber, não estive no comando de nenhuma das áreas da rebelião. Eu só estava sendo um prisioneiro naquela casa, todos os dias querendo a minha liberdade. Como que eu ainda estou impedido de lutar contra ele? Eu só quero participar dessa batalha também! Não quero deixar que meu pai, no seu estado mental anormal, chegue a pôr os pés no palácio!
— Zhao Piao, você quer mesmo que eu acredite que você não quer se infiltrar no lado da lei apenas para nos apunhalar pelas costas? Não é difícil para ninguém imaginar que o General Vermelho é um mestre na estratégia. Esconder você pode ser apenas mais uma das armadilhas dele. O Exército Real só precisa da permissão da Senhorita Lin para comandar o exército de sua família nessa guerra.
Lin Xi encarou o homem, que deveria estar aqui fazendo um pedido, mas parecia estar exigindo que ela lhe desse todas as suas formas de se proteger. Sua expressão aos poucos ficou cheia de desagrado com o tom dele.
O exército dos Lin pertencia à família, então o reino não poderia comandar ele, assim como não poderia comandar os exércitos de todas as outras casas nobres. Porém, nessa situação ela não poderia negar entregar seus homens, afinal era da segurança do reino que estavam tratando alí.
— Senhor Gu Lei, meu pai deu a vida por essa luta... — Lin Xi começou a falar suavemente, olhando nos olhos do general.
— Saiba que o General Branco sempre foi minha inspiração. Nunca nesse reino haverá outro general como ele.
— No entanto, eu ainda sou a herdeira desse exército. Você não pode vir a minha casa e exigir que eu lhe entregue meus homens, como se fosse você o mestre e senhor deles. — Gu Lei escondeu bem sua careta.
Seus olhos brevemente se voltando para as 3 irmãs ao lado da mais velha, e vendo surpresa no olhar delas também. Nenhuma esperava essa firmeza de sua irmã.
— Claro que eu venho com propostas que certamente valem a contratação das suas forças. Nada nesse mundo é de graça, e nosso Rei sabe muito bem disso, por isso ele me-
— Por favor. — Zhao Piao interrompeu. — Deixe a dona da casa dizer o que quer, antes de fazer sua proposta, General. Usar o nome do rei é uma jogada suja porque você sabe que se ela questionar, será tratada como se estivesse indo contra você.
Lin Xi ficou rígida, encarando Gu Lei que se desagradou de Zhao Piao. Ela se assustou, afinal quase caiu numa armadilha tão ardilosa apenas porque não fazia ideia de como negociar com um enviado do Rei.
— Eu nunca faria uma coisa tão traiçoeira! — Gu Lei protestou. Mas enquanto as cortinas se fechavam para encerrar a cena, Lin Xi falou:
— Já que é assim, então vamos discutir nossos termos... Zhao Piao irá nessa batalha como comandante do exército Lin...
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