Volume 2
Capítulo 121: A Peça; Fuga
Na calada da noite, seu momento de maior calmaria, o silêncio da mansão da família Zhao era inexistente. Devido ao fato dos servos e residentes estarem comemorando a vitória do General Vermelho, muitos não queriam ver a noite dormindo. Por todos os lugares havia festanças e bebedeira, com músicas e diversão.
Qiao Xu, caminhando pelos pátios e corredores, tinha um rosto meio sorridente. Ocasionalmente ele lambia os lábios, enquanto seu sorriso aumentava. Com pequenos passos um pouco saltitantes, e um baixo cantarolar.
Mas seu sorriso desapareceu quando avistou alguns guardas ao longe, conversando e comemorando.
Pegando uma das pedras que Zhao Piao lhe deu, Qiao Xu respirou fundo, encarando uma pedra de luz que havia num poste de iluminação. Pegou um objeto, parecido com um cadeeiro na visão de Qin Xa, para fazer uma pequena chama em seu interior, e depois de esquentar a pedra explosiva, jogou ela longe do outro lado do muro.
BUM!
Qiao Xu só esperou alguns segundos, suando de nervoso, antes que um barulho estrondoso fizesse suas pernas ficarem instáveis.
Com a explosão, os guardas antes sorridentes se tornaram frios e correram em direção daquele lugar de imediato.
Qiao Xu não apressou o passo, mas se manteve estável na medida do possível, ao cruzar aquele corredor, ele vislumbrou a grande mansão que ficava no centro da propriedade dos Zhao.
— Eu deveria ser o mestre desse lugar... — seu murmúrio foi fraco, quase inaudível. Porém, carregado com um profundo pesar.
Respirando fundo e com um semblante determinado, Qiao Xu se escondeu num canto, jogando as pedras dento do candeeiro.
— Senhor... — Qiao Xu murmurou, e se preparando, jogou a mão para trás. —... isso é pela nossa liberdade!
O candeeiro fez uma parábola ao cruzar o ar, passando por cima do muro alto da mansão e caindo em seu interior. E foi então que a explosão ocorreu, devastadora o suficiente para fazer uma nuvem de poeira, junto com uma fumaça branca fedorenta, cobrir o lugar inteiro.
Em um breve momento todo o lugar cheirou a queimado, enquanto a fumaça se espalhava para todos os lados, cobrindo boa parte da mansão!
— Ataque! Estamos sob ataque! Capturem o inimigo!
— Fiquem de guarda nas saídas!
— Não deixem ninguém entrar ou sair da mansão do general!
Os muros quebraram e Qiao Xu caiu de bunda no chão, atordoado. Essa explosão não deveria ser tão forte, era o que sua expressão dizia.
Imediatamente ele viu guardas de todos tipos surgirem pelos lados, carregando armas e uma vontade incontrolável de matar! Brutos, rápidos e frios, eles pisavam no chão como se estivessem em busca do pior inimigo já criado.
Permaneceu lá, caído no chão, enquanto via os resultados da explosão com uma expressão pálida. Calado, observou um dos guardas chegar perto, encarando seu rosto friamente.
— Qiao Xu... — a expressão do guarda continha alguma luta, talvez não sabendo como tratar essa pessoa. —... o que está fazendo aqui caído? Você viu alguém suspeito passando pelo local?
Com um balanço rápido de cabeça, levantando as mãos em rendição e baixando o olhar, Qiao Xu falou, enquanto as cortinas se fechavam.
— Eu não vi ninguém. Eu só vim visitar a mansão quando aconteceram as duas explosões...
O rosto do guarda desapareceu por trás das cortinas.
Logo o palco novamente foi revelado, e nessa nova cena, as pinturas no fundo criavam um cenário após o outro em um movimento frenético, que acompanhado pelas batidas de uma música tensa e cheia de suspense, fizeram os espectadores se fixarem no jovem que corria.
Zhao Piao correu pelas sombras rapidamente, evitando os guardas e chegando ao mesmo lugar pelo qual tentou escapar meses atrás e falhou — sendo capturado e forçado a aprender combate.
Ou forçado a ser espancado todos os dias.
Olhando para aquele muro que parecia tão perto e ao mesmo tempo tão longe, Zhao Piao apertou os punhos. Foi então que uma explosão pequena soou ao longe, fazendo ele mostrar preocupação no rosto.
— Será que Qiao Xu encontrou problemas? A explosão deveria ser muito maior que essa... — Zhao Piao pareceu querer se revelar e olhar o movimento dos guardas, mas se segurou em fazer uma coisa dessas, principalmente quando era um jovem mestre em prisão domiciliar, que não deveria estar vagando a essa hora pelos corredores da mansão!
BUUUUMMM!
Foi então que a explosão que ele estava esperando soou, fazendo toda a mansão tremer e o ar zunir. Zhao Piao sorriu como nunca antes e observou os guardas correndo com urgência! Sim! Definitivamente essa era a explosão que deveria ter acontecido, apenas essa!
Em segundos muitas figuras negras passaram por aquele corredor, correndo em desespero, e Zhao Piao não hesitou em seguir o caminho contrário ao deles. Com passos firmes e rápidos, ele pegou impulso, pulou no muro, subiu, e de cima, saltou para outro lado!
Tão rápido que nem pareceu que ele se segurou no muro, mas pareceu ter saltado sobre ele num pulo só.
Rolando para amortecer a queda, enquanto a música tensa fazia o coração da plateia apertar, Zhao Piao disparou em direção da cidade que ficava fora dos muros altos e imponentes da mansão — em segundos sua figura desapareceu!
— SIM! SIM! EU ESTOU LIIIIIIVRE! — seu grito repleto de uma alegria avassaladoa soou, com o movimento rápido das cortinas que se fecharam e abriram em segundos, deixando a música de suspense tocar sem restrição!
Na batida dos tambores, Zhao Piao cruzou ruas e viu pessoas caminhando, trocando breves olhares, muitos pareciam cautelosos, outros embriagados estavam — não havia moças nas ruas a essa hora, e Zhao Piao não cumprimentou ninguém também. Apenas passou por ali com pressa, querendo deixar a cidade tão rápido quanto havia entrado nela.
Correu em direção de uma casa que vendia montarias. De todos os tipos.
– Eu quero uma montaria resistente e rápida, que possa suportar uma viagem de uma semana. Tem? — sorrindo com felicidade, jogou o dinheiro para o vendedor, o barulho metálico das moedas ecoou, mesmo em meio ao barulho das conversas de quem passava na rua. Seus olhos brilhavam, e isso fez o vendedor sorrir também.
— Mas é claro, jovem mestre! — o vendedor nem questionou, apenas pegou o dinheiro que era o suficiente para comprar 4 montarias daquela, e Zhao Piao deixou o estabelecimento com sua montaria, que ele logo usou e cruzou a penumbra da noite.
O narrador, que a tempos não se pronunciava, fez a graça da sua presença, enquanto a lua brilhava no céu escuro. A tela se ergueu no palco e o teatro das sombras começou!
— Zhao Piao nesse dia deixou para trás a casa de seu pai, em busca daquilo que ele mesmo havia conquistado. O seu maior orgulho já criado sobre a terra. Ele agora buscava se unir com o amor de sua vida, e não iria parar por nada até conseguir isso!
Ele cruzou montanhas perigosas, cidades povoadas e abandonadas, vales cheios de encantos, e cemitérios aos prantos! Vilarejos remotos e florestas negras e medonhas – sem parar, apenas ele e sua montaria atravessavam campos de batalha, até que por fim, após 8 dias de viajem ininterrupta, Zhao Piao chegou em frente da casa da família Lin.
Aquela casa cheia de verde, vivacidade e uma serenidade tranquila e confortável, agora estava coberta por um véu de silêncio. Com a lua cheia pendurada no firmamento, Zhao Piao não perdeu tempo para observar a cena, e se esgueirando pelas sombras porque não poderia bater na porta, encontrou um lugar escondido para pular o muro."
...
Qin Xa achava maravilhosa a transição que havia entre os cenários das sombras. Era como se fosse um rolo contínuo, onde os cenários iam passando um atrás do outro.
Mas sem parecer um rolo.
As sombras fluídas compunham uma história própria, e as ações delas eram tão intensas quanto as de uma pessoa real. Imersivo ao extremo era muito bom para descrever a habilidade desses artistas. Claro, havia descrição melhor, mas seu vocabulário era grosseiro demais para conhecer esses elogios.
"E eu sou aquela que leu 5 toneladas de livros antes mesmo de completar 10 anos... eu deveria usar mais palavras prolixas e poéticas, só para descrever melhor esse mundo. Objetividade demais é um pouco sem graça as vezes..."
Mas enquanto pensava isso, outra coisa lhe chamou atenção. Uma coisa muito mais legal, e muito mais importante do que uma língua rica em palavras!
Talvez se ela soubesse controlar sombras pudesse fazer algo assim. Será que os artistas usavam o Dao das Sombras para apresentar isso? Não, se usassem não seria algo tão chamativo para as pessoas.
Definitivamente essas sombras eram sombras genuínas, e quem as controlava não fazia uso de nenhum poder especial! Era maravilhoso demais para ser trapaça!
— Ao entrar na mansão, Zhao Piao se deparou com um lugar desolado. Não havia servos caminhando de um lado para o outro, mas a explicação estava nas paredes! Panos brancos eram o que havia por todo o triste lugar.
Os panos brancos da paz. Os panos brancos das despedidas. Os panos que mostravam para Zhao Piao, que foi seu pai que encheu essa casa de silêncio.
Zhao Piao caminhou com culpa em direção do único lugar, o único que ele conhecia, e pensava que a pessoa que seu coração pertencia poderia estar — ele deu um passo após o outro. Fazendo o máximo de silêncio, aos poucos o cenario daquele belo jardim foi se revelando para ele.
E lá, ele a viu.
Sentada em um banco de madeira, que era a única coisa que não mudou nessa casa, e observando a lua, sua voz era etérea e sua figura carregava beleza e um ar místico. Zhao Piao parou, e escutou com atenção suas palavras. Palavras cheias de tristeza e decepção, mágoa e ressentimento... mas também cheias de uma solidão indescritível."
— Por que você não enviou notícias... eu esperei tanto tempo por isso...
Com a voz de Lin Xi, a tela caiu, revelando ela, coberta pelo luar, e suas lágrimas fluindo por seu delicado, suave e belo rosto. Ela se virou em direção de onde Zhao Piao estava, e olhou diretamente em seus olhos, cansados e repletos de sentimentos.
Entre aquele olhar havia uma miríade de palavras que precisavam ser ditas, muitas que eles não sabiam nem por onde começar. Havia muitas coisas a serem esclarecidas, até a que eles mesmos não entendiam como foi que aconteceu. Tanta confusão em uma troca de olhar trouxe para o pátio um silêncio pesado.
Abrindo a boca com dificuldade, Zhao Piao se aproximou com passos curtos, e falou gaguejando, com rouquidão:
— Me desculpe... eu só consegui chegar agora... por favor, me perdoe por não ter estado ao seu lado...
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