Volume 2

Capítulo 114: A Peça; O Castigo de Zhao Piao

 

— Pai, eu falei que você não deveria- 

Pah!

Um tapa furioso estourou na sua cara, fazendo ele cair sobre a cama, com o rosto completamente vermelho.

O General Vermelho segurou ele pelos cabelos e bateu no outro lado da sua cara. As pernas de Zhao Piao se agitaram, querendo fazer ele ganhar forças e correr daquele lugar, mas foi um esforço vão.

— Eu falei que o seu dever era lidar com os comerciantes! Nada mais e nada menos! Por que ao invés disso você pensou que poderia me trair e correr para baixo da saia do inimigo?!

Pah! Pah! Pah!

— Pai! — Zhao Piao gritou, esticando as mãos para se defender, enquanto seu rosto ficava cada vez mais inchado e vermelho. — Chega! Eu entendi!

— Entendeu?! O quê você entendeu?! — Vermelho bateu com a cabeça do jovem contra a parede e largou ele sobre a cama. Seu rosto uma máscara de ódio. 

Zhao Piao se encolheu, segurando a cabeça em posição fetal, ao que a dor fez seus olhos ficarem borrados — cheios de lágrimas. 

— Eu não vou fugir mais... — entre soluços, balbuciou.

...

Qin Xa, segurou um dos braços vendo isso. Ela queria desviar o olhar dessa cena horrível, mas algo alí continha um fascínio macabro.

Lembranças das surras que tomou da sua mãe a fez perceber o quão gentil aquela senhora foi em sua criação, comparada com esse monstro na sua frente.

...

Mesmo ouvindo aquilo, o General Vermelho não pareceu apaziguar sua fúria. Ele bateu de mão na sua roupa e jogou um papel em Zhao Piao. 

— Não vai fugir?! VOCÊ ESTÁ DIZENDO QUE NÃO VAI FUGIR?! Você é a minha vergonha! — ele chutou a cama tão forte que a fez pular, fazendo Zhao Piao olhar horrorizado em sua direção.

— Você escreveu aí todos os meus pontos fracos que você conhece! Você tem noção que se isso cair nas mãos dos NOSSOS inimigos, você quem iria morrer!? Você tem merda no lugar do cérebro? Por que é tão difícil aceitar que seu pai tomou uma decisão! Por que você sempre quer me questionar!

— Desculpa! Desculpa! — Zhao Piao tremeu, pálido. — Perdão! 

E isso só aumentou ainda mais a raiva do pai que chegou ao lado da cama e deu-lhe uma bofetada no rosto.

— POR QUE VOCÊ ESTÁ SE DESCULPANDO?! EU TE CRIEI PARA SER UM COVARDE? — mais um soco e seu rosto fez o nariz do jovem escorrer sangue, ficando escuro em pouco tempo. Vermelho agarrou-lhe a gola, o encarando fixamente.

— Não, pai! — implorou. — Não me bate...! 

— SEJA UM MALDITO HOMEM E ENFRENTE AS MERDAS QUE VOCÊ FEZ! PARE DE CHORAR E SE DESCUPAR, SEU BOSTA! 

O homem vendo a bagunça de sangue franziu os lábios e o largou contra cama, assistindo a desgraça chorar entre ranho e sangue.

Soluçando e tremendo.

Com pavor. Com horror. 

Respirando com raiva, o General Vermelho encarou seu filho por minutos em silêncio. Apenas os fundos agonizados do garoto ecoaram, e apenas isso.

...

A plateia ficou calada, nem os murmúrios ocasionais eram ouvidos. Qin Xa não foi diferente. A forma como Zhao Piao evitava os olhos do pai, engolindo a saliva, engasgando e tentando cuspir ou engolir o sangue dos cortes na boca e do nariz quebrado, a fizeram se sentir horrível. 

Enojada consigo mesma. Incapaz de encontrar palavras. 

Foi isso que Ranyu Sheng sofreu com sua família? Foi assim que ele viveu por anos? 

E o que ela fez? Se recusou a tentar entender como ele se sentia, por medo de não compreendê-lo... quão imbecil ela estava sendo com isso? 

...

O General Vermelho, com dentes juntos e expressão dura, quebrou o silêncio com uma pergunta: — Na carta você buscava auxílio com o Branco... por quê?

Zhao Piao puxou ar para limpar o nariz, sua voz trêmula entregando sua incapacidade de conter o medo. — Você e ele eram amigos de longa data... ele poderia me acolher e poupar você...

— Me poupar? Você acha que o seu pai é tão digno de pena que merece ser poupado de alguma coisa? 

— Não- não! — Zhao Piao balançou as mãos. — Eu estava com medo pai! Eu sou fraco! Eu sou patético...

Sob o olhar do General, Zhao Piao começou a se diminuir cada vez mais...

O quanto ele, o filho de um guerreiro, tinha medo da morte e queria ser poupado da execução por se rebelar contra o rei. Ele sabia que rebelião era punida com a morte...

Como não conseguia fazer o que era ordenado, como não foi um guerreiro, assim como ficava lamentando a morte da sua mãe, deixava suas obrigações para ficar trancado na biblioteca.. 

— ... mesmo que sejamos poupados pelo rei, todas as nossas propriedades serão tomadas e viveremos na miséria porque ninguém ia abrigar rebeldes, pai! Eu não sou como você, eu sinto medo!

Sua voz não era alta, por medo, mas ecoou alta o suficiente na cela silenciosa, onde apenas a sua voz era fonte de som.

— E você acha que eu vou ser derrotado nessa guerra, é? — oculto no seu tom, certamente havia uma chama de ódio. Qin Xa percebeu que a cada palavra de Zhao Piao, seu pai se tornava cada vez mais frio.

— Mas é claro que você vai! — com os olhos borrados, sobrancelhas juntas e temor, o garoto levantou o rosto. — Como você vai vencer contra a maioria dos nobres do reino? Eu só quero sobreviver! Por favor, me deixe fora da sua rebelião-

Tan!

O punho do General Vermelho fez a cabeça de Zhao Piao bater contra a parede, fazendo o mesmo gritar em agonia.

— Deixar você fora?! — segurado pelos cabelos novamente, os rostos dos dois ficaram a poucos centímetros. — EU sou o seu pai! Eu sou a única família que você tem, seu merda!! Você acha que tem algum lugar para ir? Do jeito que você é você vai morrer de fome no meio da rua!

Zhao Piao se debateu. — Não vou! Eu tenho para onde ir! Eu tenho uma noiva! Eu ainda sou genro do General Branco-

Pah!

Um tapa foi desferido, cheio de uma fúria tremenda. Tão forte que causou um corte no lábio de Zhao Piao que novamente clamou por misericórdia, em prantos.

— Não me bate... — mas em resposta apenas um segundo tapa pousou em sua face.

— PARE DE FALAR MERDA! LIN XI NÃO É SUA NOIVA! NUNCA FOI! ESSE CASAMENTO ERA APENAS UMA DESCULPA PARA QUE EU PUDESSE ENTRAR NAQUELE TERRITÓRIO E IMPLANTAR MEUS HOMENS!

Gritou, vossiferou e cuspiu de ódio, o General Vermelho. Em fúria, ele jogou o filho no chão e pisou de pé!

— Eu pensei que tinha deixado claro para você! Eu nunca aprovei essa união sua, eu desrespeitei ela! Eu nunca vou permitir que você se case com aquela mulher! Você deveria ter percebido isso, seu imbecil asqueroso! Você não deveria gostar daquela mulher! NUNCA!

Zhao Piao se encolheu, chorando aos gritos sob os chutes intensos, com seu rosto ficando roxo. Chutado por todos os lados, ele não conseguia fazer nada. Só tinha forças para chorar e implorar...

— Me deixe ir embora! Eu não quero apanhar... Eu só quero ir emboraaaah- Haaa! Aaaah! Aaaaah! — um chute nos dentes de Zhao Piao fez ele agonizar e se espernear, desesperado com a dor.

Vendo isso o General Vermelho parou, pisou no chão com força e berrou, chamando um médico e os guardas. Rapidamente Zhao Piao que teve seus dentes quebrados foi posto para dormir e o médico, suando frio, disse que não houve ferimentos graves. 

Vermelho mandou os médicos cuidarem do garoto até ele acordar, e assim que ele acordou, pulou de susto na cama, quando viu seu pai no canto da cela. Mas logo a dor tomou conta do seu corpo. 

Vermelho cuspiu no chão, enojado com a visão. 

— Você vai ficar dentro dessa casa até que essa guerra acabe, e não vai falar com ninguém. Ninguém além de um mestre que vai te ensinar pelo menos o básico de um guerreiro! Mesmo que essa guerra dure 50 anos, seus pés nunca irão deixar essas terras!

Zhao Piao empalideceu, procurando palavras, mas a dor de suas lesões calou sua boca, junto com o medo.

O General Vermelho saiu da cela, e deixou o filho lá, tremendo. 

As cortinas se fecharam. O público permaneceu numa mortalha de silêncio.

...

Com suas vistas borradas, Qin Xa passou sua manga no rosto. Tirando o pressentimento sombrio que essa peça causava, essa estava sendo uma das piores situações da vida dela. Era muito estressante ser jogada em uma realidade tão diferente.

Apesar da trama da obra ser bem centrada, ainda mostrava o quão ruim era a vida das pessoas que não eram artistas marciais.

Qin Xa viu a velha ao lado olhar para ela de recanto e rapidamente desviar o olhar. Parecia aterrorizada. De modo que não era medo de Qin Xa... era medo do que estava para acontecer no decorrer dessa peça...

"Qual o problema com esses velhos? Por que todos eles são tão esquisitos?" 

...

Tentando compreender o comportamento dos anciãos, Qin Xa ouviu os passos de Lin Xi ecoarem no palco. 

Inquieta, alisando o pelo do animal macio e quentinho, a jovem se viu sob os olhares preocupados de suas pequenas irmãs.

— O que foi? Por que estão me encarando tanto? — as garotas olharam para baixo... para o Coelho Crepúsculo...

— Suas sandálias estão acabando mais rápido, Lin Xi...

— O chão já tem marcas do seu caminhado, olha...

— O Coelho Crepúsculo ficou mais gordo porque você não solta ele para nada...

Foi só assim que Lin Xi, e todos os outros, perceberam todos os pontos. A garota, que antes poderia ficar vermelha de vergonha, apenas assentiu com os fatos.

— Eu estou preocupada com o pai... e vocês já deveriam ter ido estudar. Estão esperando o quê? — gordo demais, o coelho finalmente tocou o lugar mais estranho para ele, o chão. 

As 3 meninas sorriam sem jeito. — Como a gente vai estudar se a irmã está tão preocupada? O papai vai ficar bravo com a gente se isso-

— Deixem de inventar coisa. — Lin Xi pegou as 3 pela gola e começou a puxar para uma sala diferente. — A minha preocupação não vai afetar seus estudos em nada!

— Mentira! — a mais velha bateu suas asas brancas, que desde o início da peça nunca se moveram. — Estudar é inútil, eu não estou aprendendo nada com isso!

Em meio aos protestos das jovens, os panos se uniram, com uma música alegre e cômica surgindo. 

Essa cena era um contraste completo com a situação de Zhao Piao, e deveria servir para causar um alívio...

Mas Qin Xa sentiu ânsia, com suor frio ameaçando cobrir seu corpo. 

"Não... essa cena não serve de alívio... quem foi o doente que escreveu essa peça?!"

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