Volume 2
Capítulo 115: A Peça; Uma Visita
Lin Xi exalou após ler o conteúdo da carta de seu pai. — Obrigado, papai...
A batalha entre o exército real e o exército rebelde atingiu um ponto onde nenhum dos lados poderia sair sem baixas pesadas, e todo o reino estava começando a entrar em caos com isso. Nobres preparavam seus exércitos pessoais pelas costas do rei, comerciantes aos poucos buscavam auxílio sob figuras importantes do reino, e aos poucos, tão lenta quando ameaçadora, a guerra dividiu o reino.
Seu pai lhe ordenou a tomar cuidado com quem se aproximasse dela em busca de benefícios, ou auxílio. Ela deveria recusar quem pudesse, e aqueles que não pudesse recusar diretamente deveria mandar esperar.
Também na carta, ele demonstrou cuidado ao deixar o funcionamento da casa em suas mãos. Assim como a segurança de suas irmãs...
Lin Xi apertou a carta e limpou o molhado do rosto.
O significado das ações de seu pai eram claras. Ele poderia cair na guerra e não conseguir mais levantar, e quando isso ocorresse, ela seria a única senhora da família Lin.
Seu pai deixou claro que ela deveria ser forte nesse momento e não se deixar abalar por tudo o que estava acontecendo com o reino. Umas das muitas passagens da carta deixou claro isso...
"... mesmo que lhe doa e corrompa sua alma, não hesite em tramar contra quem não é seu inimigo se para isso for necessário proteger nossa família. Você agora é uma mulher que tem a obrigação de proteger suas irmãs e sua casa, a confiança que eu te ensinei a ter não foi feita para existir em tempos de guerra, minha filha..."
Essa era a única forma que ele conseguiu preparar ela para um futuro incerto e sombrio. Mas tão óbvio que era cruel.
Bang!
Foi então que a porta se abriu e suas 3 irmãs entraram às pressas, carregando um quadro.
— Lin Xi! Lin Xi! Lin Xi! A senhora da casa de chá veio visitar e trouxe um presente!
— Isso! Isso! Olha! É um quadro-
— Falante! Ele fala!
A animação das crianças trouxe um sorriso rápido para seu rosto e Lin Xi levantou, colocando a carta em sua manga sem que as crianças a vissem. O que funcionou, visto que nenhuma percebeu seu movimento sutil.
Houve 4 cartas, e cada uma foi para uma das filhas. Mas Lin Xi recebeu uma como filha, e outra como a Senhora da família Lin.
Suas irmãs não deveriam ter noção do conteúdo da quarta carta. Ela mesma iria carregar esse peso. Até porquê, esse era seu dever primordial...
— E o que vocês estão fazendo aqui, e deixando a visita sozinha? Vamos acompanhar a senhora Chu... é falta de decoro pegar o presente dessa forma.
As crianças queriam falar, mas Lin Xi encarou elas de cima. — Vamos pedir desculpas a senhora Chu, entenderam?
— Sim...
— Sim...
— Sim...
Ao chegarem na sala de visitas, Lin Xi conversou com a senhora, e fez suas irmãs abaixarem a cabeça, em um pedido de desculpas com certeza falso. As crianças pareciam extremamente culpadas enquanto se curvavam.
Mas o sorriso em seus olhos e os olhares curiosos em direção do quadro entregava seu ato para as duas mulheres que observavam de cima.
— Não precisa disso, são apenas crianças. — a senhora sorriu sem jeito, mas quando as garotas estavam prestes a levantar, Lin Xi falou. — Não, senhora Chu. Elas deveriam ficar de castigo por agirem de forma tão rude com a senhora...
As crianças se abaixaram novamente, fazendo bico.
— Lin Xi, está tudo bem. Além disso, eu mesma passei o presente para elas. Deixe que brinquem um pouco... — as garotas olharam para Lin Xi, e viram ela dar um pequeno sorriso.
— Se a senhora diz que está tudo bem, então está certo... — ela sentou-se e mandou as meninas irem brincar, enquanto conversava com a senhora.
Conversa vai, conversa vem; a história chegou na razão para a senhora estar ali naquele dia.
— Faz meses que você não sai de casa, Lin Xi. Todas as jovens ficaram preocupadas que você pudesse estar sofrendo por... — Lin Xi não demonstrou muita vontade de conversar sobre isso, ao saber exatamente de que se tratava a hesitação da mulher mais velha.
Suas irmãs, que foram educadas a não entrarem na conversa alheia, principalmente quando não lhe dizia respeito, só observaram enquanto tomavam chá e comiam como 3 animais enjaulados.
Aos seu redor, os 4 Coelhos Crepúsculo brincavam e comiam também.
— Meu casamento com Zhao Piao foi cancelado, senhora Chu. Eu não posso me sentir mal pelo homem que nem mesmo me enviou uma carta dando qualquer resposta, ou justificativa. Ele nem mesmo teve a intenção de casar comigo...
Sua voz soava firme, mas a falta de vontade deixava o ambiente inquieto. Talvez por seu tom soar cada vez mais cheio de tristeza.
Quem sabe fosse seus olhos se voltarem para baixo aos poucos, ou quem sabe seus dedos estarem apertando os babados da sua roupa — tudo o que fazia a moça parecer miserável em sua situação.
A mulher balançou a cabeça concordando, enquanto se preparava para confortar a jovem. — Me desculpe por tocar nesse assunto, não foi fácil para você passar por isso como uma jovem. Você deveria ir a casa de chá, encontrar suas amigas algumas vezes. Passar o tempo como fazia antigamente. Se divertir é bom nesses tempos caóticos, ou você vai acabar como eu, toda gordinha. Hahaha...
— Haha, que brincalhona. A senhora Chu é mais magra do que muitas dançarinas...
Lin Xi educadamente expressou o quanto estava grata. Enquanto discutiam sobre outras senhoras, ficou claro o quanto que todos estavam preocupados com ela.
Todas as jovens senhoras que antes eram muito amigas de Lin Xi, agora que eram casadas, não tinham a liberdade de fazê-la uma visita tão casualmente. Afinal, havia uma guerra acontecendo e aos poucos todo mundo estava escolhendo um lado para se amparar.
E como quem fazia isso era o marido, as mulheres só deveriam acatar suas vontades e seguirem para onde eles fossem. Desobedecer estava fora de questão. Foi-se o tempo de rebeldia das moças, e havia uma diferença entre como um pai trata a rebeldia de uma moça, de como um marido trata.
...
Qin Xa, com semblante pensativo, achou que a vida das pessoas comuns eram realmente miseráveis. "A liberdade nesse mundo é apenas para os fortes, e nada mais. Não estou surpresa com a misoginia... mas ainda é macabro ver o quanto as mulheres aceitam e vêm essa superioridade masculina como algo natural... apesar dela fazer muito sentido nesse contexto... mas não fazer nenhum sentido com o resto do mundo. Principalmente com a existência do todo-poderoso Qi..."
A reação da plateia dizia muito mais do que as atrizes.
Enquanto os homens não demonstravam muita reação, eram as mulheres quem não pararam de concordar com os diálogos, que diziam de forma explícita, a forma como as moças e mulheres deveriam agir na sociedade.
Algumas poucas estavam desagradadas, mas na maior parte concordavam que visitar uma amiga não era muito bem visto. Cuidar da própria casa e família era sua prioridade, e após o casamento, seus amigos desciam para o fundo na escala de prioridades.
Um costume que não tinha nenhuma relação com a realidade e não fazia o menor sentido de existir, além de trancar as mulheres em casa quando casadas - e largar elas na rua quando solteiras, para conseguirem maridos.
Ser livre para casar, e casar com o propósito de preparar os filhos para casarem também... essa vida parecia tão horrível quanto de fato era.
Nesse mundo sua própria família era muito mais importante do que qualquer amizade... de repente a ideia de que os dois generais, tão ditos como amigos, e que agora estavam lutando até a morte não parecia tão estranha.
Nada estava acima da família... Qin Xa interrompeu seus pensamentos.
...
— Obrigado pela sua visita, senhora Chu. Um dia eu passarei na casa de chá mais uma vez. Seus chás me fazem muita falta nesses dias turbulentos, mas espero que entenda que cuidar de uma casa não é uma tarefa fácil para mim ainda. Eu realmente sinto muito...
— Estarei esperando então, não precisa se martirizar por algo assim. Fique bem. E saiba que eu estarei disponível se precisar de alguma coisa. — quando a senhora Chu saiu, Lin Xi apenas se virou para suas irmãs, que desviaram os olhos, e indagou:
— Quanta falta de respeito... foi assim que eu eduquei vocês?
— Desculpas, Lin Xi...
— Nós não deveríamos ter feito isso...
— A Lin Xi tem razão. Nós fomos malcriadas, muito sem educação e merecemos punição... — todos os olhos focaram na irmã do meio, que foi contra a corrente de desculpas e assumiu seu erro.
Lin Xi ficou sem palavras. Reparou bem na garotinha. E ainda ficou sem palavras.
— Lin Ji... você está bem? — a garota assentiu, de cabeça baixa. — Sim, irmã. Por favor, me puna.
— Cala a boca, Lin Ji! — a mais velha das mais novas se afobou. Com um olhar estranho. — Lin Xi, não dê ouvidos a ela! A gente sabe que errou... não vamos fazer de novo, está bem?
— Sim! Sim! Não tem que punir a gente com muito... só-
— Tudo bem. — Lin Xi interrompeu, sorrindo para sua irmã do meio, enquanto colocava a mão no ombro dela. — Parabéns por admitir a culpa, Lin Ji. Lin Chaoyan e Lin Ning, vocês deveriam aprender com sua irmã a como se comportar...
Lin Ji não olhou nos olhos das suas irmãs, mas um sorriso sutil se formou em seus lábios, até que a voz de Lin Xi fez seu rosto ficar branco... mais branco do que já era.
— Dito isso, vocês irão ficar uma semana sem comer nada para aprenderem. E Lin Ji, só porque você assumiu a culpa não quer dizer que sua punição vá ser menor. Acha que eu não percebi seu truque?
— Lin Xi, isso é errado! Você não pode deixar suas irmãs fofas com fome! — Lin Chaoyan, a mais velha, se levantou.
— Já estou deixando. — Lin Xi sorriu. — Agora, onde está o presente da senhora Chu?
— Eu não te dou! Deixe eu comer! — Lin Ji ficou de frente para a saída da sala, já que o quadro não estava ali.
— Tudo bem, já que é assim. Se você não me deixar pegar o presente, vão ser duas semanas de fome para todas as 3! Temos um acordo?
— Não! — Lin Ning imediatamente pulou na sua irmã e foi buscar o quadro, voltando em poucos passos. — Aqui!
Lin Xi assentiu e pegou o quadro. — Boas garotas. Não se preocupem, essa semana vai passar bem rápido. — as irmãs ficaram emburradas, enquanto quase cediam a tentação de beliscar a mais nova que fugia com agilidade daqueles dedos maldosos.
— Se ficarem encrencando umas com as outras eu também vou aumentar a punição... de onde já se viu isso?
O presente era um quadro. Nem grande nem pequeno, mas com um tamanho até que considerável.
Qin Xa nesse momento, já que a cena era tão leve, resolveu tirar uma fruta do seu brinco e começar a comer. Fazia mais de 7 horas seguidas de peça, e ela não fazia nada além de sentir muita angústia.
Comer alguma coisa nessa altura da coisa era uma ótima ideia... e era melhor aproveitar que o palco não estava cheio de sangue e tripas...
— Vocês disseram que o quadro falava... por que ele não está fazendo isso?
Com a dúvida de Lin Xi, as garotas explicaram que o quadro só falava quando estava fora das mãos de alguém, e de pé. Se não fosse assim, ele era como qualquer outro quadro comum...
Assim que elas 4 colocaram a obra na posição certa, a pessoa pintada lá — uma mulher madura e voluptuosa, vestindo uma túnica aberta entre os seios fartos, com cabelos cor lavanda e olhos que lembravam o pôr do sol, se moveu.
E a primeira coisa que ela disse foi:
— Olha que coisinha mais feia eu estou vendo!
Qin Xa quase engasgou com a fruta. Por acaso esse quadro era cego?
Espera, como que um quadro enxergava em primeiro lugar? "Que absurdo... eu quero um desses. Onde que eu compro?"
— Eu não sou feia. — Lin Xi se defendeu, quase imediatamente. Mas a mulher pintada concordou. — Estou vendo. Foi seu pai quem disse isso? Acho que ele é cego igual você...
— Eu não sou feia! — Lin Xi gritou, enquanto os olhos das suas irmãs se tornava maiores.
— Vai repetir isso até quando, filhote de Eu Não Quero?
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