Volume 2

Capítulo 109: A Peça; Costumes Matrimoniais

 

Conforme a peça progredia suavemente, os atores foram sendo um a um apresentados. Não havia mais que 20 deles, porém, cada um deles conseguia fazer mais de um personagem com uma perfeição espantosa.

— O estado do sul continua a se opor as decisões do conselho dos anciãos, chegando ao ponto de deter um dos Generais de Estado... 

Um dos homens do General Branco mencionou em uma conversa, fazendo seu Senhor pôr a mão na cabeça, procurando uma solução para isso.

— Qual a situação dos plebeus? — indagou, pegando alguns papéis. 

— Não tão ruim. — o soldado pensou um pouco. — A revolta não reclama dos altos impostos ainda, pelas ruas a reclamação é sobre as novas leis militares que limitam sua liberdade. Então a população deseja apenas a dissolução do conselho e que as leis sejam abolidas.

— Quer dizer que eles não têm um líder claro e definido ainda... — Branco voltou a entrar em pensamentos profundos, e seu soldado completou: — Porém, há muitos criadores de armas naquelas terras e eles também estão muito insatisfeitos... temos que supor que eles já começaram a criar armas em larga escala para iniciar uma rebelião armada...

— Que complicação desnecessária... — o homem suspirou, mas continuou a discutir.

...

Qin Xa, que aos poucos sentiu que não estava mais sendo afetada pela atuação, conseguiu desfrutar quase que completamente do entretenimento. Longe de ser a situação perfeita, mas já era um ótimo início.

Ela ainda não conseguia entender como essa peça progredia, já que se passaram quase 2 horas e ainda não ouve a apresentação do verdadeiro conflito. 

E a paciência das pessoas era admirável, ninguém estava demonstrando insatisfação pela lentidão da apresentação. Pelo contrário, todo mundo estava muito focado, isso deixou ela atordoada... e levemente em alerta...

...

Lin Xi entrou em cena, enquanto seu pai estava em seu escritório. Ela cumprimentou o pai, e o soldado a cumprimentou. A música antes silenciosa, subitamente tocou com uma melodia melosa.

— Meu pai, eu tenho um pedido... — a donzela com suas graças se manteve ereta e digna frente ao pai, que ergueu os olhos. Sua disposição esbanjava coragem e mais coragem. — Eu desejo fazer uma visita ao meu noivo...

Sua postura aos poucos se desfez, junto com sua voz, enquanto ela tocava a ponta dos dedos e mordia os lábios, não ousando encarar seu pai. Sua coragem desapareceu, deixando seu rosto de pele branca ficar vermelho. 

A música melosa e cativante continuou, apesar do franzir de sobrancelhas do General Branco. — Não é apropriado que a noiva seja a primeira a fazer uma visita.

Mordendo os lábios levemente, sua voz soou aguda. — Mas eu preciso ir naquela região...

— Precisa? Que negócios minha filha tem na região do General Vermelho? — confusão transpareceu em seu olhar, e um pouco de cautela.

— Aquela região faz fronteira com a região onde uma rebelião contra o conselho está acontecendo. Não é seguro que a filha de um dos membros do conselho pise naquele lugar...

...

Qin Xa vendo a cena entendeu que apesar da limitação social imposta aos noivos, Lin Xi era comportada demais para que pudesse causar preocupação ao seu pai...

Suas preocupações eram com a segurança física dela.. 

Num mundo onde a castidade, seja masculina ou feminina, era vista como algo sagrado, para uma moça conhecer seu noivo antes do casamento era equivalente a fazer uma refeição com comida envenenada; enquanto o antídoto estava em uma das bebidas à mesa.

O mesmo que jogar carne aos lobos e esperar que eles a igorassem. Socialmente era uma prática muito bem vista... mas psicologicamente, era quase como trancar alguém em uma sala branca e alimentar ele com mingau por anos. Apenas para no fim, dar a ele uma refeição minimamente descente e lhe perguntar: qual a sua comida favorita?

...

— Lin Xi não quer causar problemas... — murmurou ela, e completou: — Mas aquele animal que o Irmão Zhao me presenteou deixou as garotas com muita vontade de ter um. Eu desejava visitar a região para comprar alguns e presenteá-las...

— Aaa! — Branco exclamou, compreendendo a situação. — Realmente, os Coelhos Crepúsculo são muito populares naquela região. Por que não manda uma carta para seu noivo com esse pedido? Podemos até mesmo convidar ele para uma refeição. 

Lin Xi se encontrou sem palavras. Até mesmo a plateia silenciosa deixou murmurios de surpresa escaparem. 

Convidar o noivo para a casa da noiva? Que ideia! Mas que ideia! Realmente, onde este homem estava com a cabeça pra propor algo como isso?

Aonde já se viu algo parecido? Todos sabiam que os encontros de matrimoniais deveriam ocorrer em restaurantes. Quem sabe em praças. 

Nunca na casa da noiva!

Qin Xa lançou um olhar de soslaio para essas pessoas repletas de hipocrisia, segurando a zombaria que quase saiu de sua boca. Quem dentre eles se importaria com o encontro matrimonial, quando a outra parte é um bom amigo do pai da moça?

— Podemos fazer isso? — Lin Xi não falou baixo. — Não podemos incomodar o General Vermelho...

— Não se preocupe com isso. — Branco a parou. — Apenas faça como achar melhor... 4 Coelhos Crepúsculo não será um problema...

Lin Xi ergueu as sobrancelhas finas, rosadas assim como seu cabelo. — 4? Mas eu só tenho 3 irmãs...

Branco encarou ela, e o soldado no canto do escritório ergueu levemente os lábios. — Verdade... 4 animais então. Algum problema com isso?

— Não... — Lin Xi ainda desnorteada assentiu. — Eu irei escrever... — de repente parou, fitou seu pai e ficou embaraçada. — Espero que o pai escreva as cartas! 

Ela saiu correndo do escritório e as cortinas se fecharam. A música melosa parou. E logo, foi substituída por uma música animada, energética, que estava sendo cantada em tempo real por uma das atrizes que subiu no palco.

...

"De repente um musical? Credo, se tem uma coisa que eu não gosto é quando essas músicas malditas começam... quem foi o gênio que teve essa ideia?" 

Qin Xa odiava musicais como ninguém, e assim, por mais que a música sendo cantada fosse belíssima, contendo uma letra harmoniosa e que descrevia o dia a dia de Lin Xi, com os instrumentos servindo unicamente de fundo para a voz hipnotizante da cantora — Qin Xa só achou irritante.

Nem mesmo deu atenção a aquilo.

Se existia alguém no mundo que merecia apanhar, definitivamente foi quem criou musicais. E depois disso, aqueles que gostavam desse tipo de entretenimento...

...

Lin Xi acordava, lia algo, tomava seu desjejum, ia estudar. Após isso brincava com suas irmãs, ou comandava os afazeres da mansão do General Branco, visto que ela era a pessoa com maior status depois do pai.

Antes do meio dia saía á passeio, vez em restaurantes com amigas, vez em passeios pelos pontos chamativos da cidade. 

Particularmente gostava das fontes negras, da qual diziam ter o poder de tornar um deserto em uma floresta viva. Porém, quem saberia responder a essa pergunta? Aos olhos de todos a fonte não passava de uma água escura que saía do chão. 

Após o almoço, tirava uma soneca, e ao acordar, mais uma vez iria afundar sua atenção na leitura. 

Quem sabe fosse brincar mais uma vez com suas irmãs.

Ao cair da tarde, dispensava os servos da casa, e ao anoitecer, se recolhia para o quarto, mais uma vez lendo — até que fosse dormir.

Para mais uma vez iniciar seu dia corrido.

A cantora finalmente terminou de narrar o dia da moça, fechando as cortinas e parando qualquer música. 

Ao serem abertas mais uma vez, as cortinas revelaram uma mesa, e sobre ela, duas cartas — que como se fosse mágica, se desdobraram e começaram a falar uma com a outra.

Era uma apresentação de duas cartas conversando. Que espetáculo único. 

— Grande Irmão, Vermelho. Por mais que saiba que está ocupado, me perdoe por lhe contatar tão de súbito...

Aparentemente era a carta que Branco escreveu.

Nela, após as saudações ele convidava Vermelho e Zhao Piao para sua residência, fazendo algumas piadas que apenas os dois entendiam, e expressando seu pedido pelos animais felpudos, alvos de desejo de suas filhas.

Também lhe transmitiu suas preocupações a cerca da revolta, desejando que nada de ruim ocorresse em seu território. 

A segunda carta, assim como a primeira, começou a falar.

— Meu Irmão, Branco. Não hesite em me mandar cartas ou mensageiros, entre amigos não há espaço para ocupação.

Também após as saudações, a carta expressou sua alegria em aceitar o convite, brincando com o assunto dos animais. Sua escrita contagiante se perdeu na descrição de como tais animais eram capturados e domados. 

Poderia uma carta expressar tanto contentamento sobre um assunto?

Pois não é que pode!?

Essa expressou. Talvez Vermelho conseguiu atingir um patamar de escrita tão elevado, que conseguia colocar suas próprias palavras numa folha de papel.

Ainda silencioso, as cortinas se fecharam com a leitura das cartas e um pouco depois, se abriram, revelando Zhao Piao e Vermelho em sua carruagem. 

— Pai, tem certeza que podemos deixar nosso território sem sua presença com tanta frequência? Eu poderia fazer essa visita em seu nome.

Como a preocupação era evidente em seu tom, Vermelho o encarou e assentiu. — Não será por muito tempo...

A visita não iria durar mais que algumas horas, no máximo uma noite. Então, pouco poderia acontecer em seu território nesse intervalo de duas semanas de viagem. 

Eles também iriam visitar outras várias pessoas conhecidas durante todo o trajeto, então essa viagem tinha muitos propósito além de somente conhecer um amigo.

— E você? Está ansioso para conhecer sua noiva? — Vermelho indagou, divertimento expresso em sua voz. — Vocês trocaram bastante cartas e presentes nos últimos meses. 

Zhao Piao ficou um momento em silêncio. — Talvez...

O silêncio tomou de conta da carruagem enquanto os dois se encaravam. Vermelho sorriu, sua voz soando curiosa... de verdade, muito curiosa... — Parece que você começou a gostar de Lin Xi...

— Não diria que gostar seja o certo. — Zhao Piao riu levemente. Seu olhar se voltou para o lado, olhando para algo no fundo da plateia. — Eu diria que aceitei. Ela não é uma garota ruim... eu diria até que ela é bem única...

— Eu vejo. — Vermelho virou o rosto para o outro lado, seu colar balançando suavemente com o movimento. — A Fada Rosa também era uma mulher única e com um charme especial... parece que meu filho está para ser conquistado por isso...

...

Um silêncio caiu na plateia enquanto a viagem dos dois continuava. Mesmo que eles falassem como um pai e seu filho... havia uma estranheza macabra que apenas as pessoas na plateia conseguiam sentir.

Tão estranha quanto ver uma cor pelo cheiro, e tão horrível quanto a ideia de perder um membro e aos poucos esquecer que ele existia. Porém, era invisível. De onde ela vinha?

Por que eles estavam sentindo isso? E por qual razão mais da metade da plateia só parecia completamente decepcionada, ao inves de horrorizada? 

E quem mais estava sentindo essa tensão, que existia apenas fora do palco, estava nesse momento mordendo os lábios e bebendo o próprio sangue, sugando o próprio Qi para evitar que ele explodisse!

Qin Xa apertou os punhos tão forte que se ela perdesse o controle mataria centenas de pessoas com uma rajada de Qi. Seus olhos brilharam em verde intenso, seus cabelos ganharam vida própria, flutuando como serpentes perigosas em volta do seu corpo.

Mas ela conteve sua aura, evitando incomodar os outros. 

Os fios de seus cabelos se enroscaram em seu próprio pescoço e tentaram lhe asfixiar. Tão medonha era a sutileza com que isso ocorreu, que Qin Xa quase não percebeu isso até que estivesse já sangrando.

No entanto, apenas um olhar de Qin Xa destruiu completamente o controle que seu Qi estava tomando. 

A massa densa e revoltada de Qi se dispersou para dentro do seu corpo, e convergiu para o Mar de Qi!

Seus cabelos perderam os movimentos e voltaram a ser... cabelos. Eles deslizaram do seu pescoço, enquanto ela própria estava em um turbilhão de dúvidas.

"Por quê?! Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? POR QUÊ?! É só uma atuação! Mesmo que seja um Dao, não está me atacando!! Fique quieto, Qi maldito! Sou eu quem decido o que é mau para mim!"

Nesse momento, diante da sua fúria, todos os meridianos de Qin Xa trabalharam em potência máxima e em meio segundo, suprimiram completamente seu Qi! 

Os movimentos tirânicos, caóticos e sem controle do seu Qi foram destruídos. Como um meteoro que cai na terra para acabar com a vida, a ordem de Qin Xa não deu espaço para nenhuma ação! Surgiu, chegou e arrasou com tudo.

Sua energia se escondeu dentro dela e foi trancada por aquilo que a comandava — os meridianos. A menos que algum distúrbio intenso ao extremo ocorresse, esse Qi não poderia sair do Mar de Qi de forma alguma!

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