Volume 2
Capítulo 108: A Peça; Noivado Entre Amigos
Qin Xa, se ajeitando na cadeira, suspirou e passou seus olhos pela plateia. Tudo estava silencioso, e ninguém além dela parecia incomodado com essa atuação.
Se poderia ser considerado barulho, o sussurro contido das moças certamente era uma cacofonia ensurdecedora.
Queria descobrir porquê lhe afetava tanto essa atuação maravilhosa, mas levantar e subir no palco para perguntar isso aos atores com certeza iria lhe render uma boa surra. Daquelas que ela sabe bem que merecia.
E apanhar não era bom. Nunca foi. A não ser em certas situações bem específicas...
"Meu querido cérebro, pare de falar essas besteiras gostosas para si mesmo, e me lembrar desses prazeres carnais que só trazem desgosto..." Qin Xa suspirou. "Estranho, no primeiro ato a apresentação foi estabelecida, e nesse houve um momento de alta tensão, mas com a apresentação de um conflito. Só que o conflito não é forte o suficiente para sustentar a narrativa da peça..."
...
Seus pensamentos vagaram novamente até que uma música soou, e nesse momento, uma voz masculina, suave e cativante, cheia de um fascínio sedutor e proibido, como os sussurros de um jovem cafajeste, começou a narrar a peça.
Não sabia-se quem falava, e era até estranho ouvir um narrador resumir uma apresentação que deveria ser calma e demorada. Mas estranhezas à parte, a sonoridade daquela voz era uma apresentação muito bem-vinda para todos...
— O General Vermelho e o General Branco eram ótimos amigos, poderiam ser ditos como se fossem irmãos.
As cortinas se abriram e os atores começaram a encenar, enquanto se mantinham em silêncio. Apenas a voz do narrador e a música eram ouvidas.
— Logo, a proposta de casamento que foi feita pelo General Branco não tinha razão para ser negada. Verdadeiramente, a união dos filhos de amigos sempre foi bem vista em todos os lugares. Até mesmo a data de casamento que deveria ocorrer 3 anos após o noivado foi encurtada...
Os dois generais depois de aprovarem o casamento de seus filhos, bridaram e beberam, comemorando essa união como se fosse a deles mesmos. Marcar a data de casamento foi algo natural.
Após isso, como se segue o costume, poucas vezes os noivos podem se encontrar, e apenas as cartas podem transmitir seus sentimentos. Então não era apropriado para os noivos passarem dias e mais dias se encontrando cara a cara.
O General Vermelho deixou a casa do General Branco com seu filho, que se manteve educado e contido. Assim eles se separaram."
O narrador parou, e na cena, pai e filho começaram a atuar novamente.
O General Vermelho, em sua carruagem, encarou o filho que estava frente a sua face, e falou, sorrindo e com satisfação. — Eu e o Branco marcamos o casamento para daqui 5 meses.
Zhao Piao olhou nos olhos do pai e se firmou. — Com todo respeito, mas eu não desejo casar com a Senhorita Lin. O Senhor não teve um casamento político, e nem meu avô. Por que eu deveria casar com uma mulher que não amo? Em quê eu sou diferente de vocês?
O semblante do General Vermelho não mudou em nada para pior. Seu corpo na verdade relaxou ouvindo isso, causando uma estranheza coletiva na plateia.
A fonte disso? Difícil de entender ou comentar, mas a plateia inteira, fora os velhos, franziu o cenho com a situação. Havia algo de muito estranho e errado nisso tudo...
— O amor nasce com o tempo. — disse ele, calmo e sorrindo. — E a Senhorita Lin é uma jovem comportada, gentil, agradável e muito bela. O que nela lhe desagrada?
Zhao Piao estava para responder, quando Vermelho continuou. — Conheço bem meu filho e posso imaginar o que disse para ela. Se daqui até o casório não surgir nenhum sentimento entre vocês, como amigo do General Branco eu irei falar com ele e podemos cancelar o casamento.
Zhao Piao olhou para a paisagem fora da carruagem, e com um aceno leve, as cortinas se fecharam, deixando a plateia inteira presa em um barulho mudo.
Inquietos e lançando olhares incomodados para todos os lados.
Todos queriam expressar alguma coisa, porém, por respeito aos atores, se mantiveram em silêncio.
Que vergonha seria para uma jovem ter seu casamento cancelado, somente porquê seu noivo não se agradava do arranjo. Era horrível! Viver com a vergonha de saber que seu noivo a rejeitou faria qualquer uma na plateia querer se trancar em casa e nunca mais sair.
Seus olhos diziam claramente sua indignação com o comportamento daquele homem.
Noivo assim deveria ser chicoteado para tomar vergonha, e tal atitude do pai do rapaz era como um pisão no rosto do pai da moça. Que honra ela teria com outras senhoritas ao ser rejeitada dessa forma?
Muitas das senhoras casadas estavam apertando lenços, enquanto seus maridos ao lado possuíam expressões de desagrado.
Outros, sob um olhar intenso, suavam fio e evitavam qualquer contato com suas parceiras. Esses suas esposas sabiam de seu caráter, e possuíam autoridade na casa, então a peça abriu os olhos das senhoras para as inúmeras possibilidades ruins.
E Qin Xa... essa estava em conflito.
...
"Liu Qin Xa... esse era o seu futuro se eu não tivesse nascido. Um casamento arranjado para aumentar o poder da família, a possibilidade de ter um pretendente tão ruim, viver em um mundo onde a opinião daqueles semelhantes a você ditam seu modo de viver... mas eu assumi sua vida e estou aqui, continuando ela, apenas vagando sem rumo e sem direção..."
Suspirando internamente, agradeceu por seu Qi estar muito mais sobre controle nos últimos minutos. Também aproveitou para estabelecer ainda mais controle sobre ele, não era seguro ficar desleixada nessa situação toda.
A música novamente mudou e assumiu uma melodia alegre, e com a abertura das cortinas, Lin Xi foi revelada, enquanto três garotas pequenas estavam com ela — em uma discussão sobre a tarde anterior.
Lin Xi sorria, ficava tímida e explicava calmamente a disposição erudita de Zhao Piao.
Seu olhar atento e intenso, e sua beleza suave e diferente do seu pai, que era um guerreiro. Entre pai e filha, havia uma diferença gritante e uma semelhança harmoniosa.
— Aaaa! — uma das irmãs soltou um grito agudo. — Lin Xi finalmente encontrou o amor!
— E ela vai ser levada para longe de nós!
Qin Xa se pegou sorrindo com aquilo e de repente cobriu a boca. "Para com isso. Você tem 50 anos, qual a graça de ver 4 crianças brincando de namorico?"
— Parem com isso. — Lin Xi tomou chá, um sorriso bobo pendurado em seus lábios rosados. Mas lentamente aquela joia se desfez. — Ainda não sabemos se o casamento vai acontecer! Além disso ele nem gosta de mim...
A música quase sumiu e a plateia quase gritou, tentando apoiar os lamentos da moça, que ao lembrar das palavras do amado, aos poucos cabisbaixa ficou.
As três crianças, inocentes, tentaram sem jeito confortar a irmã. Com suas falas doces e belas, sugeriram com alegria, que ela escrevesse uma carta.
Também sugeriram que ela comesse uma panela de doce, mas isso foi descartado. Assim como foi descartada a sugestão dela comprar um cavalo.
— Uma carta? Não! Faz apenas um dia que o casamento foi marcado. E uma moça não pode enviar uma carta!
— Já que não pode enviar uma carta, que tal um presente? — a irmã mais nova brilhantemente sugeriu.
— Um presente? — a música assumiu um tom de curiosidade enquanto Lin Xi enrolava o dedo no cabelo, e fazendo bico, olhou levemente oara cima. — Um presente parece bom! E vai demorar uma semana para chegar na residência do General Vermelho! Mas o que mandamos?
As 4 garotas ficaram um momento em silêncio, costume cultural de não falar antes de pensar, e a irmã mais nova, que era a mais velha entre as mais novas, abriu a boca.
Nesse momento as cortinas se fecharam e o cheiro de livros empilhados, junto com uma música relaxante e calma, digna de ser tocada em uma sala de estudo, ecoou, trazendo consigo uma espécie de silêncio e calma.
...
Qin Xa de repente entendeu algo, enquanto a equipe trocava o cenário. Essa peça contava a construção de um relacionamento.
Se tudo estava se encaminhando para um casamento, poderia ela não esperar um final feliz vindo dessa obra? Não! Era um romance sobre uma jovem inocente e um rapaz inepto, e como esse mundo possuía desgraças demais, era lógico que haveria um final feliz! Seria uma experiência horrível para todos se os atores, que estavam fazendo um ótimo trabalho, simplesmente colocassem mais coisas ruins no que deveria ser coisa boa.
Qin Xa só não conseguia ignorar a sensação sinistra que pairava no ar.
Com um sorriso, sua atenção caiu na cortinas que se abriu, revelando 3 quadros grandes.
...
Um deles retratou uma estante repleta de livros, com o trabalho na pintura destacando cada mínimo detalhe, e trazendo para o fundo da mente, o cheiro característico das páginas velhas e usadas.
O segundo, no chão, agia como um piso branco, claro e iluminado.
O terceiro, pendurado ao lado do palco, continha a imagem do General Vermelho vestindo sua armadura, digna de um bravo e impressionante guerreiro. Sobre sua montaria imponente, sua espada repousava rente ao seu coração, sendo firmemente segurada por seu braço direito.
Zhao Piao entrou no palco com um livro, caminhou até o outro lado, e pôs ele na estante... onde se encaixou perfeitamente e causou um suspiro espantado da plateia.
Como?
Como pode uma pintura poder armazenar um livro? Isso não fazia sentido... mas aconteceu sob os olhos de todos.
De repente alguém bateu na porta. — Jovem Senhor, chegou um presente enviado da residência da sua noiva.
Zhao Piao hesitou um segundo, antes de sentar-se. — Traga-o até mim.
Sob seu olhar questionador, o servo entrou com um grande cesto de... flores, que espalhou um aroma agradável pelo palco e a plateia. Em meio às flores, havia uma garrafa de vinho, doces de aparência muito... feminina, e uma carta em papel azul, com palavras muito bem escritas.
— Quem enviou isto? — o servo baixou os olhos, colocando a cesta sobre a mesa. — A Senhorita Lin... um dos seus servos trouxe a poucos minutos com a mensagem de que era um presente para o Jovem Senhor...
Zhao Piao pegou uma das flores, ergueu diante os olhos, e inalou o ar circundante profundamente, e sentiu seu perfume enquanto fechava os olhos por alguns segundos...
— O que eu faço com uma flor? Por que eu iria querer receber flores? Boyang, eu pareço feminino para ganhar flores como presente?
O servo se encolheu. — Certamente não! O Jovem Senhor tem o charme e o encanto de um guerreiro! Pronto para desbravar os mistérios da vida e conhecer as verdades do mundo!
Qin Xa riu. "Feminino não... mas viril com certeza também não. Como que um homem pode crescer e ter a disposição física de uma criança de 10 anos? Nem Ranyu Sheng é tão frágil..."
Zhao Piao mandou o servo sair, e pegou um dos doces, cheirou, e mais uma vez, se perguntou em voz alta, enquanto a música calma continuava a tocar: — Por que você me enviou um presente tão feminino?
Na carta havia apenas uma simples frase: Caro Senhor Zhao, espero que esteja contente com o presente que colhi do meu jardim. Minhas amigas sempre disseram que adoram receber as flores.
Zhao Piao franziu os lábios, e abrindo o doce, o jogou na boca.
As cortinas se fecharam, e a música calma parou, sendo substituída por uma melodia tensa e sombria, muito diferente e carregando desconforto em seu tom.
Quando elas se abriram novamente, Lin Xi foi revelada, com um dos seus servos lhe passando uma carta, e suas irmãs ao redor, encarando uma trouxa de couro que foi posta sobre a mesa.
— Senhorita Lin, — a moça leu em voz alta, não pensando que pudesse haver algo íntimo na carta. E nem deveria ter mesmo, eram apenas noivos. Que tipo de intimidade deveriam ter para esconder? — agradeço seu presente. Saiba que fiquei feliz com ele, porém, não mais me mande flores e doces. Esses são presentes destinados a amigas femininas, eu quem deveria enviá-los para a Senhorita.
A voz da moça foi sumindo conforme suas palavras morriam, enquanto o servo desconfortávelmente desviava o olhar do rosto vermelho da jovem. Lin Xi não leu mais e se perdeu em pensamentos.
— Espero que goste do presente que lhe enviei. Foi escolhido e domado por mim. — uma das irmãs completou, vendo que sua irmã não iria terminar de ler.
Os 5 pares de olhos presentes no palco pousaram na trouxa. — Domou? É uma Besta Feroz? — com a pergunta de Lin Xi, o servo abriu a trouxa e uma sombra saltou de dentro, fazendo o servo ficar pálido e com agilidade tentar agarrá-la.
Causando um grito espantado nas jovens damas, a sombra se revelou sendo um animal peludo, com olhos azuis como uma gema e pequenas patinhas.
Sua cabeça era pequena e redonda, muito cheia de pelos, enquanto seu corpo era cumprido e baixo. Seu pelo, preto e branco, com algumas manchas alaranjadas.
— Que fofo! Eu quero um para mim! — uma das irmãs gritou.
— Não! É meu! Eu vi primeiro!
— É da Lin Xi! Ei! Soltem! Não é de vocês!
Com os berros animados e as senhoritas aos gritos, Lin Xi correu atrás do animal fofo.
— Lin Ning! Esse animal é meu!
As cortinas se fecharam, enquanto a música tensa que não fazia o menor sentido com a cena continuava a tocar.
Qin Xa não conseguia mais suprimir seu sorriso.
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