Volume 1

Capítulo 20: Parando de Cultivar

 

"Como eu vou ganhar dinheiro nesse mundo?" pensava Qin Xa, enquanto voltava para o seu quarto. Ela queria dinheiro, mas não sabia como ganhar, e ela também não queria ser super rica como na sua vida passada.

Aquela vida lhe ensinou que não importa quanto dinheiro você tenha, se o resto do mundo não progredir, curar uma mísera doença é impossível. E nesse mundo a riqueza valia muito pouco também.

"Dado ao tamanho desse mundo, eu duvido que alguém seja rico o suficiente mesmo com uma montanha de dinheiro e joias, haha." 

"Mas eu preciso de dinheiro para comprar aquele item e armas, assim como artes marciais e técnicas de cultivo..." colocando suas compras no canto, ela balançou sua lança. 

"Só comprei essa lança porque a arte marcial que ganhei requer uma, mas não quero me especializar em lanças. Que se dane que as lanças sejam os dragões das armas e as espadas e sabres sejam as fênixes ou sei lá, tudo isso parece uma bobagem criada por alguém que é obcecado por armas. Como que eu posso ganhar dinheiro com algo assim?"

Seus olhos esmeralda de repente brilharam quando uma ideia passou por sua mente. 

"Será que por aqui tem torneios? Em Pássaro Azul tinha um torneio mensal que dava alguns prêmios ao vencedor, era legal ver a forma como eles lutavam tão arduamente por dinheiro. Pelo menos quando ninguém perdia um braço ou dois..."

Ela queria um ítem interespacial porque eles eram muito convenientes. Mas o mais barato já era caro para ela, isso a deixou descontente, mas agora ela tinha algo para correr atrás pelo menos. 

Com isso, ela colocou a lança encostada na parede e sentou-se na cama.

Qin Xa já havia terminado de cultivar toda a Força Da Montanha Yang, e sua nova arte marcial se chamava Cauda do Dragão Verde das Pedras. Era de nível Mortal e Classe Superior. 

Na cidade Pássaro Azul isso era o mais alto nível de arte marcial, talvez apenas uma ou duas pessoas lá possuísse uma dessas. Mas aqui, isso não passava de um presente que os discípulos internos recebiam. A disparidade de herança marcial que havia entre sua antiga família e essa seita era ridícula. 

"Vamos cultivar um pouco e depois praticar a arte com a lança, como os sabios sempre aconcelharam. Nunca faça hoje o que você pode fazer amanhã... definitivamente não é porque cultivar é mais relaxante e mágico do que... balançar um pedaço de metal!" 

Se convencendo de que estava certa, Qin Xa iniciou sua meditação. Seus sentidos se espalharam por todo o quarto, até voltarem a se concentrar nela. Ela tentou ao máximo ignorar os barulhos que vinham dos quartos vizinhos.

Os quartos dos discípulos eram como os dormitórios mistos, garotos e garotas viviam juntos no mesmo lugar. Isso porque nesse mundo os homens e mulheres tinham muito respeito pela castidade, a maioria deles pelo menos, então incidentes desagradáveis só existiam em lugares realmente sombrios.

Também existiam técnicas que podiam serem cultivadas ao fazer sexo, mas isso era bem impopular. Afinal de contas, quantas pessoas estão dispostas a passar horas e horas fazendo sexo, todos os dias, durante décadas? Nem todo mundo possuía a aptidão para esse tipo de coisa. 

Na verdade, pelo que Qin Xa pesquisou antigamente, eram realmente poucas pessoas que praticavam cultivo duplo.

Então era improvável que algum homem fosse importunar as mulheres e vice-versa. Buscar a força era o instinto dessas pessoas, os que buscavam o prazer carnal eram poucos. 

E normalmente esses poucos possuíam uma fama extremamente macabra. Qin Xa ainda lembra de uma história que as empregadas contavam, que uma vez um homem praticou uma técnica de cultivo obscena, e nas suas aventuras pelas camas alheias, ele fez como inimigo mais de 100 artistas marciais poderosos que esquartejaram ele, queimaram seu corpo e selaram suas cinzas em uma montanha errante.

O mais curioso dessa história era a presença de uma montanha que viajava sozinha. Qual era o princípio por trás dessa coisa? 

Mas graças a histórias desse tipo, essas técnicas que necessitavam de dezenas ou centenas de parceiros, eram bem impopulares.

O Qi dentro de Qin Xa começou a circular, quando ela finalmente se livrou de pensamentos inúteis sobre montanhas errantes.

Pelo seu corpo inteiro, o Qi fluía da forma mais suave que ela sentiu até agora, e levemente, apenas levemente, ela sentiu a nostálgica sensação de prazer que uma vez havia sentindo em sua primeira vez cultivando. 

Vinha do fundo do seu estômago e se espalhava por sua carne e ossos, até chegar a sua boca. Era um prazer muito característico. Mas em poucos segundos, aquele prazer desapareceu. 

Qin Xa ignorou isso e continuou sua prática, até que...

"Pare de cultivar." Uma voz soou na cabeça de Qin Xa e ela abriu os olhos. Não havia ninguém ao seu redor, mas ela podia jurar que ouviu. Será que foi um fantasma?

Mas como uma coisa dessas era possível? Ela nunca remexeu no túmulo de ninguém. 

— Quem está aí? — ignorando seus pensamentos, ela encarou a porta.

— Abra a porta, sou eu.

"Irmã Zi?" Qin Xa ficou surpresa com a visita. Desde o banquete elas não se encontraram e nem trocaram cumprimentos, receber uma visita era algo além de inesperado.

Depois de abrir a porta, ela cumprimentou a mulher respeitosamente. 

— Esta discípula cumprimenta a Anciã Menor.

— Hmm. Deixe-me entrar, preciso conversar sobre algo importante com você. — Irmã Zi falou depois de assentir para a saudação de Qin Xa.

— Por favor, entre.

Ela entrou e sentou na cama de Qin Xa com naturalidade. Talvez fosse impressão de Qin Xa, mas havia um pouco de cansaço naquele olhar.

Depois de sentar-se, ela mandou Qin Xa se sentar também, e como foi dito Qin Xa sentou, na cama. Ao lado dela. 

Irmã Zi encarou Qin Xa por um momento e seus lábios franziram.

— No chão. 

— Mas essa é a minha cama, por que eu tenho que sentar não chão?

— Agora!

— Sim senhora!

Sentada no chão, Qin Xa parecia insatisfeita. "Mas essa é a MINHA cama! Quando eu for poderosa, vou fazê-la sentar no chão também." Pensamentos petulantes inundavam a mente de Qin Xa.

— Faça isso apenas quando você for poderosa. Até lá você senta no chão e faz o que eu digo, sem reclamar.

Os olhos da Irmã Zi eram acusadores e frios, Qin Xa se encolheu sob a pressão da aura dela. Por mais que seu corpo fosse forte, ele não estava a par com o Reino do Espírito Desperto. Apenas o peso do Qi era como tentar atravessar um pântano lamacento.

— Esta discípula não ousa pensar em algo tão rude... — Qin Xa disse, estremecendo e ficando pálida, enquanto desviava o olhar por todos os objetos do quarto 

— E eu não posso ler mentes, não adianta ficar se perguntando isso. Agora, você sabe porquê eu mandei você parar de cultivar?

Ela perguntou com sua habitual voz firme e olhar afiado. Qin Xa se sentia muito pressionada com esse olhar, ela se lembrava de um certo juíz que havia conhecido a muito tempo.

— Não?

Suspiro. 

— É porque sua base esta ficando muito fraca. Não adianta apenas ter um monte de Qi dentro de si, você também tem que ter controle sobre ele.

— Hmm? Mas minha fundação está perfeitamente estável, como ela pode estar fraca?

— Estabilidade não é a mesma coisa que força. Dizer que sua fundação está estável, é apenas para sugerir que não há nenhum problema com a energia que corre por seu corpo. Mas dizer que sua fundação está forte é dizer que sua energia está toda sob controle.

— Mas eu tenho controle sobre ela-

— Não, você não tem. Sua velocidade de cultivação é tão absurda que você não está conseguindo aprender o que devia apropriadamente, muitos "gênios" morrem cedo por causa disso. Não aprender cada característica que uma camada tem a oferecer, é igual a pular várias páginas de um livro enquanto está lendo. No final você não vai aprender a lição que ele tem a dar e vai interpretar ele de forma errada.

A explicação da Irmã Zi foi rápida e direta. Sem a enrolação que a maioria dos artistas marciais tinham. Mas Qin Xa entendeu a essência. 

"Pensando assim é verdade. Mas eu achei que estava fazendo tudo certo, ninguém disse que eu deveria aprender com as camadas, apenas superar elas."

Para Qin Xa, ela não estava fazendo nada de errado, afinal era isso que ela havia aprendido. 

Mas parece que isso não era inteiramente certo de se fazer também. 

Afinal não é porque o "certo' é certo que ele é totalmente "certo".

— Então o que eu faço? Eu aprendi que tinha que superar as camadas e avançar de reino, ninguém disse que eu tinha que aprender nada. Não é só reunir Qi até transbordar e continuar avançando? Foi isso que me ensinaram.

— E eles estavam certos. O problema é que você é talentosa, talentosa demais para falar a verdade. Você não está superando as camadas, mas sim destruindo elas e rompendo tudo através da força do Qi. Pode parecer a mesma coisa, mas quando você chegar no Reino do Espírito Desperto isso não vai funcionar e você poderá morrer por desvio de Qi.

Irmã Zi suspirou mais uma vez enquanto olhava para ela. Pela primeira vez em sua vida ela pensou que talento era algo ruim. Ou talvez fosse apenas o talento de Qin Xa que fosse ruim.

O talento causava inveja aos tolos, mas para os sábios isso era algo para se ter cuidado e sentir temor.

— Mas você não tem culpa nisso também. Essa é a forma como o mundo funciona, e nós, seres vivo ou mortos, temos que obedecer e seguir por esse caminho.

— Isso quer dizer que eu estou quebrando as regras do mundo ao atropelar esse processo? 

— Sim. Mas isso não duraria muito tempo, afinal não é só de cultivação que se vive um cultivador.

— Mas e se isso também não se aplicar a mim? Sabe, e se eu ficar boa demais em fazer o certo? O que vai acontecer? — Mais pensamentos impertinentes fluíam em sua cabecinha verde. Seus olhos igualmente verdes brilhavam em expectativa.

Como seria ter a capacidade de nunca cometer nenhum erro? De repente Qin Xa queria isso.

"Que fofa." Irmã Zi pensou isso pela primeira vez desde que conheceu Qin Xa. Isso mesmo, Qin Xa era muito fofa. Ela era talentosa e fofa, uma combinação muito perigosa.

— Quer se arriscar? — um sorriso frio tomou conta da irmã Zi e Qin Xa desconsiderou o que disse antes sem pensar duas vezes.

"Morrer apenas ter certeza de algo inútil, quem faria isso? Eu não."

— A partir de hoje você não vai mais cultivar mais do que uma vez por semana, apenas durante uma hora, até que tenha aprendido o que devia. Pergunte entre os discípulos externos o que eles aprenderam e tente aprender também, daqui um mês eu venho lhe testar para ver seu progresso.

— Sim. Obrigado pela sua orientação, Anciã Menor!

Com isso Irmã Zi foi embora e Qin Xa ficou mais uma vez sozinha em seu quarto. Agora que ela não podia mais cultivar, só restava praticar a Cauda do Dragão Verde das Pedras e fazer pesquisas.

— Mas realmente, se eu sou tão boa em algo, que mal há em sempre tentar seguir o caminho certo no cultivo?

Ela estava correndo perigo agora porque errou em aprender as coisas. Qin Xa resolveu que daqui em diante iria sempre tentar pensar por vários ângulos quando fosse cultivar. Com isso ela nunca mais correria o risco de avançar rápido demais.

"O que teria acontecido se ela não tivesse me avisado?"

*****

"Me sinto de volta a quando era um estudante, fazendo trabalho de sociologia com a vizinhança." Qin Xa pensou isso, enquanto segurava um bloco de notas e uma caneta. 

Não era uma caneta altamente tecnológica, mas ainda era o mais próximo possível de uma caneta.

"Uma planta moída enfiada dentro de uma pena, que conveniente esse mundo é." Ela sorriu enquanto encarava a caneta de pena vermelha. Qin Xa não estudou a história das canetas, mas não achava que tinha sido diferente na Terra.

Para conseguir esse bloco de notas e caneta ela teve que voltar para a cidade e comprá-los. Fazer duas corridas de 20 quilômetros não era de forma alguma agradável. 

Mas ela imediatamente começou a caminhar por aí, e busca de alguém para fazer suas perguntas.

— Você! — depois de alguns segundos procurando, ela encontrou alguém. — Você pode me ajudar em algo? — Qin Xa perguntou para um garoto que estava varrendo um dos pátios. Ele olhou para ela, estremeceu e se curvou respeitosamente.

Qin Xa quase engasgou com isso.

— No... no... no que posso ser útil!? Sênior?! — ele disse gaguejando, sua voz repleta de medo e terror. Como se Qin Xa fosse uma criatura medonha.

"Precisa tanto medo? E por que você ficou com medo apenas quando me viu?! Se fosse a minha aura você teria me sentido a 100 metros de distância! Eu sou feia? Por acaso eu estou fedendo? Me diga garoto, você tá vendo alguma peste na minha cara?"

Sua curiosidade estava rapidamente se transformando em raiva. Por alguma razão que ela não conseguia entender.

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