Volume 2
Capítulo 4: Heroina e Amante
Desde que era pequeno, Kaito Sena via os herois com desdém.
Ele aprendeu o conceito durante o pouco tempo que frequentou a escola. Por algum tempo, ele teve esperança que um viesse salva-lo, mas não importava o quão fervorosamente desejasse, ele ainda continuava recebendo queimaduras de cigarro por seu corpo, continuava tendo ematomas e contiuava tendo que mendigar restos de comida para seu pai e suas amantes.
Como resultado, ele passou a condicionar o conceito da palavra herói, assim como suas histórias, a algo ridículo, absurdo, do fundo de seu coração.
Uma pessoa assim jamáis poderia existir.
Se existisse alguém capaz de corrigir as injustiças do mundo, então toda a dor e tristeza de Kaito, ou melhor, a própria existência dela, nunca deveria ter existido.
Irônicamente, a crueldade e a dor que Kaito acumulou dentro dele só ajudou a fomentar a crença de que herois não existem. De certo modo, ele fez o papel de vilão e sua vida era a personificação do quão inexistente e sem sentido os herois eram.
Até o dia em que foi estrângulado até a morte, sua percepção nunca mudou.
Além do mais, seu novo mundo também era desprovido de heroi. Por um lado era um mundo fantástico, rico em mágias e espadas, pelo outro, era uma terra amaldiçoada por demônios. Não hávia nobres cruzados ou campiões lendários.
A única pessoa lutando era a princesa da Tortura, uma pecadora imperdoável.
Ela eram absoltamente perversa, estando no topo de uma montanha de cadáveres, mesmo assim, aqueles que ela esmagou conseguiam ser piores que ela.
Kaito Sena tinha desdém por herois.
No entanto, naquilo que diz respeito aos vilões, ela não podia dizer o mesmo.
— // — // —
Kaito estava sentado sobre uma cadeira no quarto feito de pedra. Ele tinha olheiras sob seus olhos.
Como uma reconstituição da cena anterior, Elisabeth estava deitada na cama a sua frente. As runas carmesins pulsando ao longo de seu corpo cresceram ainda mais, cobrindo sua pele pálida quase como uma segunda roupa. Esporadicamente, ela lançava alguns gemidos doloridos e febris. Toda vez que isso acontecia, Hina, que estava de prontidão em sua cabeceira, se agitava um pouco.
Além de limpar seu suor, não hávia nada que ela podia fazer.
Alguns dias se passaram desde que retornaram da cidade portuária e entregaram as duas crianças para seus parentes, que vieram junto dos membros da Igreja. Mesmo com os cuidados devotos de Hina, Elisabeth não recobrou a consciência. Impotentes, tudo oque Kaito e Hina poderiam fazer era esperar seu despertar.
"É horrível ter que lidar com a frustração"
Kaito colocou sua força nas suas mãos cruzadas. Sua feridas estavam curadas e o poder que possuiu temporariamente desapareceu. Já não mais sentia a sensação do rabo do cachorro em sua pele.
Kaito ainda não tinha dito a ninguém sobre oque aconteceu. Hina deu vários olhares interrogativos em sua direção, mas decidiu se focar em tratar Elisabeth. Em concordância com sua decisão, Kaito resolveu ficar em silêncio.
Ao observar o corpo esbelto, coberto de carmesim de Elisabeth, ele deu o mesmo murmúrio que deixou escapar já várias vezes.
— ... Elisabeth.
— ... Com licença.
Derrepente, os dois ouviram a voz de uma terceira pessoa.
Hina pegou sua alabarda do chão e se pôs de pé. Em sincrônia, Kaito sacou um faca de seu bolso e pressionou contra sua mão. A presença no outro lada da porta, entretanto, permaneceu imóvel.
— Hina, você da conta?
— É claro. Mestre Kaito, é melhor que se fique longe da vista do corredor.
Depois de confirmar a sua segurança, Hina se aproximou da porta e rápidamente a abriu. Ela balançou sua alabarda, pressionando-a contra o pescoça de quem lá estava. A silueta negra levantou suas mãos para o alto assustada.
Uma voz aflita veio de dentro de seu manto.
— Eu... Eu vim em paz! Só estou de passagem eu sou um aliado! Sou seu humilde açougueiro, amigos tanto dos gourmets quanto do vádios! Eu trago carne deliciosa todo dia! Isso mesmo, sou eu!
— Olha só, é o Açougueiro.
— Meu amigo!
— Acalme-se. Eu resentida por minha condito, embora eu acredite que, dada a condição debilitada de lady Elisabeth, nós tivessemos suspendido as entregas por hora.
Hina olhou para cima com a mão no queixo. O Açougueiro balançou a cabeça positivamente. Ele baixou suas mãos e então trouxe uma sacola grande, coberta com remendons em formato de "X", a qual sempre carregava consigo.
Talvez pelo alívio, ele colocou a mão sobre o peito e suspirou. Logo em seguida virou seu olhar para Elisabeth.
— Oh, pobre madame Elisabeth... Como isso pôde acontecer com uma senhorita de tanto vigor?
— Desculpe, mas ela não acordou ainda. Se veio desejar melhoras, está sem sorte.
— Não, não era minha intenção. Eu vim fazer uma entrega... De carne.
— Mas nós pedimos para...
Hina repetiu suas palavras bastante confusa, mas o açougueiro apenas balançou sua cabeça para os lados.
— De fato, minha amável senhorita emprega, você requisitou este pedido, mas se a madame Elisabeth acordar e não tiver carne fresca em mãos, eu acho que ela ficaria bastante desapontada."
— ... Senhor Açougueiro.
— É desenroso para um açougueiro permitir que um cliente fique com fome. Eu trouxe sua seleção de costume comigo, quanto ao pagamento... Se o pior acontecer antes de madame Elisabeth ser capaz de comer, eu não vou cobrar por isso.
— Açougueiro, você...
— Madame Elisabeth tem sido uma fiél patroa para mim. Me trás muita felicidade quando ela grita Delicia!. Eu rezo para ela se recuperar rápido para poder voltar a comer carne do jeito que tanto gosta.
Puxando o canto de seu manto timidamente, o Açogueiro olhou para baixo e sussurou baixinho. Kaito e Hina olharam um para o outro surpresos. Eles falaram para ele, com seus olhos cheios de emoção.
— Meus sinceros agradecimentos, Senhor Açougueiro. Como a eterna amante e serva de meu mestre, Kaito, o espirito com o qual carrega suas obrigações resoou fundo em minhas ingrenagens. Só imaginar isso já me basta. Eu irei de bom grado pagar suas dispesas com minhas próprias econômias. Por favor, aceite."
— Não, eu pago. Obrigado, Açougueiro... Tenho certeza que Elisabeth ficara feliz.
— Não, não, não, que isso, só estou fazendo meu trabalho!
— Espere um pouco.
O Açougueiro estava toda sem jeito, quase dançando, por causa de ter sido pago. Talvez se dando conta dequela imprevista mudança de eventos, Kaito olhou para ele com olhos desânimados. Depois de dançar e se remexer, o Açougueiro derrepente ficou sério.
— Muito bem, vocês dois. Vocês não precisam vestirem essas caras tristes! Conhecendo madame Elisabeth, ela vai ficar de pé logo, logo! Ah, é mesmo, eu também tenho um presente de melhoras para ela!
O Açougueiro pegou um grande, flácido e escuro pedaço de carne.
— Não estão surpressos? É um fígado de um troll!
— Se manda.
— Dizem que faz o corpo crescer e ficar forte.
— Você está parecendo um vigarista.
— Eu não sou um vigarista! Eu sou um açougueiro! Tudo que vendo é tão genuino quanto pode ser!
— Ah, mas uns bons amigos não me disseram que certas coisas são poblemáticas justamente por serem genuinas?
Dessa vez, Hina pegou a alabarda com vontade e Kaito cortou sua mão.
Hina se posicionou de modo que protegesse os outros três. Enquanto protegia Elisabeth e o Açougueiro, Kaito virou-se para a janela da qual ouviu uma voz masculina despreocupada.
Em algum momento, as persianas háviam sido cortadas e o homem responsável por isso estava sentado em sua haste. O estranho tinha bandagens por todo o corpo e estava pressionando as solas dos pés uma contra a outro. Ele então levantou seu chapéu de seda.
— Mil perdões, é uma má hora?
O homem era estranhamente magro. Além das endurecidas bandagens sujas e o chapéu de seda, ele não vestia mais nada, Sua boca, a qual pouco aparecia por entre as faixas, estava curvada em formato de meia-lua ao se apresentar.
— Eu, meus caros compatriotas, sou o Marquês! Peço desculpas pelo lastimável estado em que me encontro! Eu estou no final do castigo que sua amável majestada, o Rei, me aplicou. Pro inferno com aquela prostituta! Droga, aaaaa! Vá pro inferno! Mi.. Minhas desculpas.
O Marquês se curvou brevemente. Uma agulha prateada em forma de cérebro estava em seu pescoço.
Arrepios correram pelas costas de Kaito. Após examinar mais de perto, a pele do Marquês por de baixo das faixas estava sériamente queimada. A cor, originalmente branca, dos curativos era amarelado por causa dos fluidos corporais. Não possuia mais cabelo nem pálbebras e seu olhos estavam inchados. Kaito e Hina, entretanto, não estavam tão preocupados com seu estado quanto estavam com seu nome.
"De acordo com a hierarquia dos demônios, a posição do Marquês é bastante elevada."
Ele não era um inimigo o qual os dois tinham esperanças de vencer, ainda sim, eles ficaram na frente de Elisabeth e do Açougueiro para protege-los. Com sua voz rouca de nevorsismo, Kaito retirou suas palavras do fundo de sua garganta.
— O que você quer, Marquês?
— Ra ra ra ra ra, céus... Oque? AAA!
O Marquês escorrego da haste da janela e caiu balbuciandoo no chão. Ele então convulsionou de um lado para outro. Imediatamente ele se ergue como se fosse içado por cordas, colocando sua mão contra o peito.
Kaito franziu o cenho. Algo estava saindo por entre as bandagens.
"Tem algo preso em se peito?"
— Po..Por... Por favor, você ir... Não, não, não, pare! Pare com isso! Me perdoe! Eu faço qualquer coisa! Por favor!!!
Enquanto o Marquês relutava, bravejava e se contorcia, ele próprio pegou aquilo preso em seu peito e o arranco sem pausa. Diante do olhos de Hina e Kaito, com ambos em silêncio, ele cortou do seu peito até a virilha e retirou algo retângular. Era uma penteadeira, e não era pequena, adornado com uma corrente em forma de serpente. Sangue e orgãos esmagados escorriam pelo seu vidro.
Enquanto o Marquês espumava e expelia pûs, ele so o ultimo de suas forças para colocar a penteadeira no chão. Sua ferida provavelemente teve mágia aplicada de antemão, pois começou a se fechar na mesma hora.
Ainda soltando o móvel, o Marquês perdeu a consciência, com seus olhos se revirando para trás da cabeça.
O espelho estava imundo, coberto de sangue e gordura. Derrepente, uma luz sinistra veio de seu interior. Uma figra escarlate surgiu. Apláusos, rufo de tambores e, o mais distinto de todos, uma voz feminina sedutora surgiu.
— Está ligado? Ainda não? É mesmo...? Eu achava que já deveria ter sido própriamente ativado. Tem certeza? Ora querido, está ligado! Agora comecem! Quanto a você Elisabeth, como tem passado? Desculpe por toda comoção.
O Réi abriu seu leqe de penas e sorriu, entretanto, ela parecia desagradada com a imagem que estava projetando e moveu sua cabeça para o ângulo que melhor mostrava sua beleza.
Por mais despreocupado que parecesse, sua presença estava mais sinistra que nunca.
— ... Fiore, o Réi.
Kaito engoliu seco. O sangue e a gordura eram especialmente espeços nas laterais do espelho, então ele não tinha uma boa noção dos arredores dela, embora parecesse haver uma grande multidão de pessoas em suas costas. Ele não conseguia dizer oque estava acontecendo, mas ocasionalmente ouvia vozes lançado elogios para o Rei.
Finalmente satisfeiita com seu ângulo, Fiore assentiu, ajustou se cabelo e suspiro.
— Oh, eu tinha a introdução perfeita preparada... Mas eu suponho que as coisas nem sempre vão de acordo com o plano. De todo modo, eu tenho algo para discutir com você, então mandei o Marquês lhe traxer este espelho para mim. Ele ainda está vivo por acaso? Se ele não tiver sido muito teimoso, poderia fazer a gentileza de elogia-lo para mim? As habilidades dele de controle mental são parecidos com as minhas, e para piorar ele é um notório narcisista. Ele é um garoto muito mal que raramente faz oque mandam, embora, recentemente ele tenha sido um mascote bem obediaente. Eu estou realmente grata.
Seu tom realmente era de apreciação. O Réi inspecionou o sangue correndo pelo espelho do seu lado.
A torcida atrás dela ficou nitidamente mais barulhenta. Ela virou-se de costa e lançou um beijo com as mãos. Ao virar-se de volta para o espelho, colocou suas mãos em frente a seu rosto.
— Ah, é mesmo. Eu não devo deixar o esforços do Marquês serem desperdiçados. Irei direto ao ponto. Com o segundo "Sacrifício" tendo sido bem sucedido, eu pretendo levar o Marquês até vocês, o Supremo Marquês e mais mil de meus lacaios e familiares e audaciosamente atacar se castelo, mas isso causaria problemas, não é Elisabeth?
O Réi sorriu docemente e pôs o indicador nos lábios. Com os olhos cheios de piedade, ela fechou seu leque. Com a pose de uma emperatriz, o Rei, Fiore, apontou diretamente para o espelho e fez um arrogante convite.
— Fugir não fará bem algum. Eu vou caça-los até o confins da terra. Vocês são como peixes no meu anzol, por isso, eu tenho uma proposta para vocês. Se ajoelhe e me sirva, Princesinha. Eu duvido que ira propriamente cumprir minhas ordens se eu fincar uma agulha em você, então vou simplesmente aceita-la como é. Você será um belo mascote. Eu amo todos que são fortes, não apenas homens e você... Você até que é bonitinha.
No que dizia respeito ao Réi, esse era provavelmente o melhor cumprimento que ela poderia oferecer a alguém. Kaito e Hina franziram o cenho e olharam um para o outro. Se ligar para suas ações e para o silêncio de Elisabeth, o Réi continuou.
— De fato, eu vou até mesmo permitir que traga aquela autômata com você como presente. Quanto você garoto amado, eu poderia viver sem ele, mas tenho certeza que posso encontrar um luhar para guardar um lixo ou outro. Vou tratar você bem. A final, agora que parei para pensar, você é a querida filha de meu querido amigo Vlad. Eu vou de mimar da cabeça aos pés, como se fosse minha própria filha.
— E isso lá é coisa que se diga pra própria filha?
— Por mais que tenha sentimentos pela senhorita Elisabeth, eu sou a serviçal do mestre Kaito e dele apenas.
O Réi, por outro lado, não prestou atenção em nenhum deles.
As vozes ficaram cada vez mais altas atrás dela. Ela virou-se e acenou alegremente. O sangue e a gordura que estavam no espelho escorreram para chão.
O Réi volto a olhar pelo espelho. Quando viu voltou a ver seu rosto, Kaito franziu o senho por reflexo.
A expressão dela mudou drasticamente ao ponto de quase ser confundida por outra pessoa. Quando falou, suas expressões eram elegantes como as da Guilhotina.
— Muito bem, Elisabeth, chega de tolice. Vamos conversar a sério.
O Réi respirou fundo e tomou se devido tempo antes de continuar.
— A Igreja não vai te salvar. Você será morta. Eu vou te matar e você vai ficar desse jeito. Então, porque, você ainda insiste em lutar? Você tem o direito de mergulhar fundo na trevas e também o poder para isso.
Não se podia entender oque ela estava pensando, mas seu tom era bem maternal.
— ... Talvez esteja na hora de uma história. Quando eu era uma criança, um docê e bondosa, um jardineiro tolo chamou minha atenção.
Derrepente, a superfície do espelho estremeceu. Uma garotinha melancólica e um jardineiro com o rosto que parecia um sapo esmagado, mas com uma expressão genial, apareceram.
O Réi seguiu adiante.
— Dias vinham, dias iam e os aduultos em minha vida me banhavam de gentileza e mentiras afeiçoadas. Eles odiavam meu pai que ficou rico derrepente. Não importava oque tinha acontecido, eles beijavam sua mão e seguidamente o visitavam. Eu era como uma pequena rainha. Não importava oque eu fizesse, as pessoas nunca me davam bronca... Mas ele sim... E para completar, nunca mentiu para mim. 'Se fizer coisas ruins, a punição um dia chegará, jovem senhorita.' Oh, que coisas mais tolas ele disse para mim, mas era isso que eu gostava nele... Irônico, não é? Era isso que eu gostava nele.
O Rei falou com uma voz deprimida, quase como se estivesse com vergonha. Logo em seguida, um espétaculo macabro surgiu no espelho.
O homem de antes hávia sido despido e amarrado em uma árvore. Seu corpo estava inchado ao ponto de parecer com uma bola. Ele tinha ematomas por todo corpo e estava a beira da morte.
Uma garotinha carregando doces estava procurando por ele assustada. O cesto em seus braços tinham doces para duas pessoas...
— Mas ele morreu depois de ser acusado de um crime pelos outros servos. Eles disseram que ele hávia roubado o pente dourado de minha mão e saiu para tentar vende-lo... Mas que farça. Nenhum outro homem era mais rigoroso e devoto que ele, mas... Ninguém deu ouvidos para as explicações daquele homem feio.
A cesta caiu e seus doces foram espalhados. Eles rolaram, pegando toda a sujeira do chão. Sua imagem foi desaparecendo.
O Rei voltou a cena. Seus lábios estavam torcidos levemente e seus olhos estavam entreabertos, como se estivesse olhando para uma memória distante. Eventualmente ela balançou a cabeça de um lado para outro, se descidindo não chorar pelo passado.
— É uma historinha trivial. No que se refere a um conto, eu acho bastante relevante. Elisabeth, algum dia você, também, vai entender. Não importa o quanto nós nos incomodamos, vivamos nossos dias ou morremos, é tudo que o mundo tem a nos oferecer. Bem, mal... Tudo é a mesma coisa. Ninguém vai no elogiar e ninguém irá nos punir. Por causa mundo lhe condenar e se recusar a reconhecer seus esforços... Eu não consigo ficar sentada olhando.
O Rei, então, pôs um fim repetino, um tanto solitário, a sua história.
— Você me lembra de mim mesma, na minha juventude.
Depois de ouvir suas palavras, Kaito engoliu seco. Ele sentiu um pouco de empatia por ela.
A Princesa da Tortura precisava suportar. Ela merecia morrer sobre a montar de corpos que ela própria criou, mas para puni-la é necessário jogar toda a responsábilidade em seus ombros e simplesmente larga-la a própria sorte?
"Eu particularmente não penso assim... Ela está certa. Não consigo suportar ficar de braços cruzados sem fazer nada, também."
Kaito mordeu seu lábio. Elisabeth não respondeu nenhuma vez. Ainda sim, o Réi terminou de falar. Ela se virou e seu vestido de crinolina
Puxados por seus colares, um certo número de lacaios seguiram atrás dela.
O espelho, recém limpo dos resíduos, revelou uma oque estava acontecendo atrás dela.
Quando Kaito viu, teve que suprimir a intensa vontade de vomitar.
O Rei estava em dentro de uma grande tenda de circo. Incontáveis homens e mulheres clamavam da audiência. Eles estavam eufórico, fervorosamente batendo palmas e gritando elogios para o Réi.
A audiência estava focada em um plataforma circular com um corrosel sobre ela. Ele estava decorado como um bolo colorido e as pessoas, montando cavalos em forma de lâminas, tiveram sua bocas amarradas com arame farpado. Um lacaio com uma bolsa sobre a cabeça estava gerando energia para o carrossel ao girar uma alavanca, fazendo-o girar cada vez mais rápido.
Toda vez que os cavalos de madeira subiam e desciam, as ocilações nos seus corpos os cortavam cada vez mais fundo, com uma fonte de sangue escorrendo pelas feridas.
Os homens e as mulheres na audiência subiram suas vozes frenéticamente. Um deles, entretanto, subiu seu tom um pouco tarde demais, talvez por estar chocado. Um lacáio arrastouu ela até a plataforma. Seus gritos histéricos cessaram somente qundo sua boca foi preenchida com arame farpado.
O Rei se virou. As correntes em suas mãos chacoalharam enquanto ela gesticulava a cena infernal atrás dela.
— Bem, mal... É tudo a mesma coisa.
— Ela é um monstro!
Kaito voltou atrás em seus pensamentos. Ele não podia aceitar uma única coisa que viesse da boca daquela mulher.
Todos que apreciavam um espetáculo como aquele eram desprezíveis. Kaito poderia ter falado isso alto, mas ninguém ali presente tinha o poder de convencer com a verdade aquela mulher arrogante.
O Réi falou com ternura, como se olhasse para a humanidade como insetos.
— Nós temos o direito de oprimi-losm Elisabeth.
— O que você pensa que é? Uma porca, um Deus?
Uma voz afiáda correu pelo quarto e uma lança acertou o espelho. Fragmentos de vidro e prata brilharam pelo ar.
Acordado pelo impacto, os pés do Marquês arranharam o chão de pedra ao se atingido depois do espelho. Ele de alguma forma conseguiu se manter de pé, segurando a penteadeira. Por trás da superfície quebrada do espelho, o Réi sorriu com ainda mais fervor. Sua imagem agora era destorcida e sua voz fria contrastava com ela.
— Ninguém tem este direito. Nem você, nem eu, nem as pessoas, nem os reis e nem o deuses.
Quando ele voltou sua vista para a fonte daquela pungente declaração, Kaito soltou o ar.
Uma linda mulher estava de pé na cama, tão afiáda quanto uma lâmina.
— Elisabeth.
O vestido com um toque sádico, feito de seu próprio mana, parecia estar a beira de se dissolver. Seu tecido preto, o qual deixava muito do corpo a mostra, parecia mais uma sombra. As porções mais expostas de sua pele estavam cheios de grandes runas carmesins. Mesmo com seu corpo violado, ela ainda não foi impedida de fazer pouco caso do Marquês.
Ela estalou a língua e proferiu palavras cheias de desagrado.
— De quem mesmo que está falando? Mas que piada, Réi. Não se cansa de colocar palavras em minha boca. Recompensas dígnas não tem nada haver com minhas ações enquanto Princesa da Tortura. Tudo que estou fazendo é pagar a taxa pelo prato em que eu comi e lambi até deixar limpo. O prato cheio de carne, sangue e prazer. Uma porca gorda como você que se recusa a tomar conhecimento da aniquilação que espera um assassino e tirano no seu fim, não tem o direito de falar.
— Elisabeth, você...
— Por que falhou em perceber? Bem e mal... Tudo é a mesma coisa? Que tolice. O mal leva consigo a punição. Oque você tenta tomar como verdade não é nada além de seu próprio ego."
Elisabeth olhou nos olhos com Réi com escárnio.
Com a animozidade de um lobo, e autoproclamada "porca imunda" continou.
— Não use o passado para se justificar. Tudo oque esta fazendo é pegar um único lado conveniente dele e falar como se fosse uma verdade universal. Sabe, Réi, eu tenho pena de você. Você não consegue se sentar e ficar de braços cruzados? Me poupe da sua misericórdia. Se pretende me atormentar, então faça. Se quiser me matar, então que seja. De qualquer modo minha morte será solitária e cruel. Que assim seja. Mesmo assim eu não tenho a intenção de morrer sem lutar. Se cortar minha cabeça e ainda posso usar meus dentes para lhe cortar membro por membro.
Sua posição era tremendamente desvantajosa e a face de Elisabeth se contorceu ainda mais.
Com um sorriso que era a própria definição de mal, ela seguiu.
— Eu quero isso, você majestade, o Rei! Vamos ver o quando o quanto o rosto de uma bruxa que força os outros a elogia-la consegue se contorcer!
— ... Não fique convencida por eu ter lhe mostrado um pouco de gentileza, garotinha.
A mascara do Réi finalmente caiu. Sua bela, comportada e cheia se missericórdia expressão desapareceu.
Enquanto se virava para Elisabeth, sua aparência sinistra realmente se tornou condizente com o demônio que era.
— Farei minha declaração então. Eu não permitirei que morra pacificamente... Eu vou lhe transfomar em minha posse, lhe violar, arrancar seus intestinos enquanto ainda está viva, colocamos de volta e garantir a você todas as dores que essem mundo tem a oferecer até você implorar desesperadamente e amaldiçoar sua própria existência.
— Esplêndido, mas que belo fim para um torturador! Por mais que se divirta, o mundo sem dúvidas irá cobrar a sua dívvida... E eu terei que paga-la de todo jeito. Eu estarei aguardando, aqui em meu castelo, pela minha morte e pelo seu sangue ser derramado.
— Você late muito! Eu espero que não se arrependa disso, Elisaneth Le Fanu.
O Rei estalou seus dedos e a luz do espelho desapareceu.
O Marques, com seu corpo trêmulo e convulsionando, se lançou para frente. Derrepente ele colocou suas mãos no chão e saltou como um gafanhoto.
Preocupado com o fato dele estar tentando vomitar seu coração, Kaito e Hina se levantaram sua guarda. O Marquês conseguiu aterrizar em segurança e deu uma profunda reverência antes começar a andar de forma estranha em direção a janela.
Hina mirou sua alabarda em sua costas, mas resolveu baixa-la. Kaito assentiu, concordando dela ter feito a melhor escolha.
"O Marquês tinha o poder de controlar mentes. Honestamente, não tenho certeza se ele é capaz de usar estando sobre controle do Réi, mas... Nós não podemos ser descuidados."
Seu inimigo saltou sobre a armação da janela e desapareceu.
Ao mesmo tempo, Elisabeth caiu sobre um dos joelhos encima de sua cama, já sem poderes. Kaito e Hina se assustaram.
O primeiro a reagir foi o Açougueiro. Ele saltava dos panos que o cobriam para ajudar Elisabeth, segurando-a com seus braços escamosos.
— Madame Elisabeth, Por favor, se recomponha! Olhe para mim. Sou eu, o açougueiro! Seu vizinho amigável, Açougueiro, pegou você! Venha, senhor servo estúpido e senhorita empregada amável, me ajudem!
— Estou indo! Elisabeth, você está bem?!
— Senhorita Elisabeth, por favor, não se esforce! Você precisa deitar!
— Minhas desculpas. Eu causei problemas a vocês... Essas runas são realmente encômodas.
Elisabeth deitou-se na cama e Hina puxou o lençou para cobri-la. Enquanto afundava em seu travesseiro, ela olhou para seus outros servos.
Sua face brilhou um pouquinho. Por um instante, seu olhar ficou sereno com o distinto formato de seu sorriso.
Ela soltou um pequeno suspiro. Falou baixo, quase como um rei antigo dispensando um importante conselheiro.
— Está situação é bem como ouviram. Mais de mil inimigos agora marcham para o castelo. Eu pretendo lutar, mas não desejo que nenhum de vocês faça parte disso. Se quiserem correr, então o façam. Eu vivi a vida solitária de um lobo e eu meu fim deve ser como o de uma porca patética. Sozinha. Não há necessidade de virem comigo... Vocês podem levar consigo qualquer coisa de valor que quiserem.
— Do que está falando Elisabeth?! Isso é besteira!
— Eu concordo. Pense no que está fazendo, senhorita Elisabeth!
— Hina, você me serviu bem. Eu não vo esquecer o quão deliciosa é sua comida, nem o quão devotamente cuidou de mim... Daqui em frente, vivam como quiserem, com toda a energia que seus corações tiverem. Eu não desejo nada além de felicidade para você... E para você...
— Elisabeth olhou para Kaito. Ela bufiy e falou baixo, mas com firmeza.
— Seu tolo... Se grande imbecil...
— Nossa, Elisabeth, até vesmo numa hora dessas?
— Você teve o privilégio de receber uma segunda chance... Só pare com isso. Vai... Ficar tudo bem.
Kaito engoliu a seco. Um gentil sorriso se abriu no rosto dela.
— Você já fez o bastante.
Por um momento, Elisabeth levantou sua mão. Quando estava prestes a alcançar a ferida que Kaito hávia feito em sua mão, ela parou e cerrou com força seu próprio punho.
Olhando para Kaito e Hina, continuou falando em seu tom distante e abafado.
— Não deixem serem acorrentados por nada... Sirvam apenas vocês mesmo... É... Assim que... tem que ser... Eu...
Seus olhos se fecharam. Kaito e Hina, o primeiro em particular, engoliram as palavras que estava prestes a dizer. Elisabeth, como em um sonho, continuou falando, com seu olhar vazio.
— Eu matei, matei... E continuo a matar... Meu pai... Os demônios...
Ela gentilmente caiu no sono.
Mesmo invadida pela dor e pela fatiga extrema, ela rejeitou o convite do Réi e voltou a seu coma. Enquanto olhava para seu rosto, Kaito cerrou os dentes com toda a força que tinha.
Ele desesperadamente lutou contra sí próprio para evitar deixar o ráiva burbulhando em seu peito escapar.
"O que quer dizer com Não há necessidade de virem comigo?! Está dizendo que já fiiz o bastante?! Nós inda temos muito tempo juntos, não temos? Eu te fale isso, não falei?!"
— Você ter me trazido de volta a vida e me envocado para cá deve ter sido coisa do destino... Então, até começar a caminhar na estrada para o inferno, eu tentarei ficar a seu lado o máximo que puder, mesmo que eu seja o único.
Kaito já hávia dito isso a Elisabeth. Ela deveria morrer sozinha, sem nem mesmo um único demônio a seu lado, mas talvez não fosse ruim que um humano a acompanhasse até chegar a hora.
Durante a vida sangrenta de Elisabeth Le fanu, ela foi acompanhada por um único servo tolo.
Kaito pensava que isso soava bem. Houve mais uma importante verdade a qual se recordou
A Princesa da Tortura teve prazer em matar e tortura seu povo. Talvez seus atos hediondos, cometido sem medo de Deus, foram todos cometidos para extender sua vida ou talvez para derrotar seu "pai", cujo poderes já haviam superado os de qualquer pessoa no mundo.
Seus motivos ainda eram um mistério.
Ela nunca falou sobre isso...
— ... Senhor servo estúpido... Você está bem? É uma cara bem feia essa que está fazendo.
— ... Mestre Kaito, me perdoe, mas...
Hina e o Açougueiro chamaram Kaito com cautela, entretando, ele nem mesmo estava escutando. Seus punhos se cerraram e ele saiu correndo.
— Senhor servo!
— Mestre Kaito!
Kaito deixou os três para trás. Ele correu pelo corredor deserto. Sua respiração era ofegante e seus olhos estavam queimando de cólera, fixado no caminho a sua frente.
Ele sentiu algo estar errado. Não sabia oque era, mas sabia que algo estava errado com toda aquela sitação.
— // — // —
O céu cinza aparecia pelo buraco na sala do trono. Estava mais uma vez nublado. As nuvens densas pareciam a barriga de uma baleia acima das árvores.
Atingido pelo ar húmido e a luz tímida, Kaito ficou no centro da sala de pedra com uma face em uma das mãos.
Ele abriu sua palma, a qual já se encontrava semiaberta desde o aparecimento do Marquês. Depois de dar um breve aceno com a cabeça, ele deliberadamente colocou sua faca no corte. Ela foi enterrada em sua carne de forma nojenta. Após cortar na profundidade necessária, ele a jogou no chão. Seu sangue escorreu sobre a pedra.
Usando ele como tinta, Kaito desenhou um simbolo retângular.
— ... La (Abra).
Ao seu comando, o sangue se transformou em chamas carmesins. Ele queimou sobre o chão de pedra e depois desapareceu sem deixar vestígios. Uma porta negra surgiu. Kaito não a tocou, ainda sim se na valocidade dos ponteiros de um relógio. Uma luz fraca saiu dela.
Era a entrada para o tesouro de Elisabeth.
— Nossa, que bom que funcionou. Melhor entrar.
Kaito soltou o ar de alívio. Ele já hávia visto antes como Elisanbeth abriu o tesouro, mas não tinha certeza se seria capaz de fazer o mesmo. Mesmo com dúvidas decidiu seguir sua intuição e conseguiu abri-lo.
Elisabeth tinha dito que Tudo que é preciso para se utilizar magia é um pequeno gatilho. Sempre que ele se encontrava a beira da morte, sua alma resoava com o forte mana em seu sangue e lhe mostrava suas memórias. Agora que era capaz de envocar o mana do sangue dela, conseguiu ter acesso a algumas informações também.
Kaito deu um passo adentro no tesouro. Degraus retângulares flutuavam no bréu em intervalos fixos, formando uma espiral. Quando olhou da beira para baixo, nada além dos degraus era visível. Um vento morno soprou para cima. Kaito assentiu, dai desceu mais um degrau.
— Aqui vamos nós.
As escadas não tinham corrimão, mas Kaito dei firmes passos largos por elas. Depois de algum tempo, entulhos e aparelhos de tortura surgiram na sua vista.
— ... Talvez em algum lugar por aqui?
Kaito parou e começou a procurar por algo. Oquele ele buscava não era algo muito usado, mas ocasionalmte era útil. Elisabeth provavelmente largou aquilo nos andares mais altos do tesouro.
Eventualmente, Kaito enxergou seu alvo nos pés de uma sangrenta e enferrujada dama de ferro.
Era um orbe feito de papel fino, um dispositivo mágico que a Igreja usou para entrar em contato com Elisabeth quando ordenaram que ela subjulgasse o Kaiser.
— É isso. Agora, para ligar... Mesmo que consiga não tem garantias de que vá se conecatar...
Kaitto nervosamentte o colocou sobe sua mãos ensanguentada. O sangue tingiu ele de carmesin, então derrepente fez um barulho e voltou a ser branco. O sangue desapareceu completamente
O orbe começou a emitir uma luz azul pálida, como se tivesse usando o sangue como fonte de energia.
Ele flutuou no ar, brilhando e rodando, até eventualmente uma figura surgir em sua superfície.
Tendo conseguido dar o primeiro passo, Kaito cerrou seu punho. A transmissão se conectou com alguém, só faltava descobrir com quem e de onde era. Kaito tentou definir de quem era a silueta, mas a imagem estava destorcida, como se fosse coberta por uma camada de névoa. Era difícil até para definir suas características.
Kaito apertou seus olhos, tentando pelomenos descobrir se era ou não um membro da Igreja. Enquanto tentava, a pessoa falou sem delengas.
Kaito reconheceu aquela voz bem carateristica.
— ... Quais assuntos tem a tratar, Elisabeth?
— Godd Deos... É você mesmo? Nossa, pelo visto acertei na loteria.
Kaito falou em espanto. Parecia que ele hávia sido sucedido em contatar aquele que esperava.
Godd Deos era o lider da Igreja e o único responsável em lidar com Elisabeth. Kaito duvidava dele ser o tipo de pessoa a qual se poderia casualmente iniciar uma conversa. Pelo visto sua hipotese, de que o orbe era um equipamento de comunicação mágica diretamente ligado ao alto escalão da Igreja, estava correta.
Godd Deos também foi aquele que ordenou acreditarem no voto de Elisabeth em não fazer contrato com nenhum demônio, promentendo que no pouco provável evento dela o fazer, ele ofereceria sua própria vida para sela-la. Ele era provavelmente a melhor pessoa para se fazer um apelo sobre o estado atual de Elisabeth, entretanto foi ele quem ordenou o extermìnio do Kaiser, dizendo que ela deveria fazer algo de bom para o mundo antes de morrer.
Kaito se preparou, porém, antes que pudesse falar, Godd Deus falou em seu usual tom calmo com ar de dúvida.
— Está voz não é de Elisabeth. Quem é você?
— Sou servo de Elisabeth. Kaito Sena.
— Ah, a "alma imaculada" que Elisabeth envocou de outro mundo. Qual assunto tem a tratar comigo? Você pediu a permissão de Elisabeth antes de usar meu precioso orbe?
— Godd Deos, Elisabeth está em estado crítico. Por favor, me escute. Sua morte pode causar problemas sérios a vocês, certo?
— Me dê os detalhes.
Kaito respirou fundo. Parecia que ele não precisaria se preocupar em ser rejeitado de imediato. Ele hávia removido a primeira barreira. O resto só dependia de sua explicação;
Ele molhou os lábios e começou a falar conforme as coisas vinham a mente.
— Primeiro, a morte do Kaiser fez o Réi entrar em ação. Ao usar o coração de outros demônios, ela pode envocar o sacrifício... Com isso, ela selou os poderes de Elisabeth.
Atropelando as palavras, Kaito, de alguma forma, terminou sua explicação sobre a batalha na cidade portuária e a declaração do Réi. Ele deixou bem contextualizado o estado em que Elisabeth se encontra. Sua fala foi finalizada com sua súplica.
— Neste ritmo, o Réi vai matar Elisabeth. Na melhor das hipoteses, os dois vão morrer. Vocês da Igreja precisam...
— Eu entendo. Era oque mais ou menos esperavamos da situação.
— ... O que?
Incapaz de compreender a informação que acabou de receber, Kaito reagiu interrompendo. Godd Deos não ofereceu resposta a sua falta de educação.
"Quer dizer... Que a Igreja já sabia?"
Finalmente Kaito conseguiu entender a situação.
— O ques está dizendo?! Elisabeth está prestes a ser morta! Se a Princesa da Tortura morrer, isso não seria um problema para vocês da Igreja sentandos em suas poltronas como espectadores?! Se já sabe disso, então por que...?
— Se a Igreja mandar todo o paladino a sua disposição para reforças as defesas do castelo de Elisabeth, há uma possibilidade deles mudarem a situação, entretanto, ao faze-lo, estariamos abrindo mão das defesas da capital e das grandes cidades.
— Como é?
Kaito novamente interrompeu perplexo. Godd Deos falou em um tom desprovido de sentimentos, um tom bem distante de algo impreciso como sentimentos.
— A capital possui 3/10 de nossa população total e é nosso centro econômico e politico. Se ela for atacada, a humanidade se encontraria em um grande dilema. O Rei não é tolo. Se nós enviarmos nossos paladinos, ela irá atacar em sua ausência e mandar só uma parte deles seria só uma gota d´agua em uma fogueira. Não há garantias de que nós possamos derrota-la, mesmo com todas as nossas forças. Talvez esteja pensando em trazer Elisabeth para a bem defendida capital. Há uma grande repercursão apenas por deixa-la viva. Se o pior acontecer, ela pode ser linchada logo ao chegar.
— Mas...
— Resumindo, não temos cartas para jogar. Perder Elisabeth é lamentável, mas no momento nossa melhor chance de vitória é faze-la lutar contra o Réi. A Princesa da Tortura deve estar pronta para lutar uma batalha que resulte em uma derrota mútua, sem o risco de envolver mais ninguém. Se não conseguir, pretendemos atacar o Réi enquanto estiver debilitada. No pior caso nós perderemos a Princesa da Tortura e todos os nossos paladinos... Esta é uma jogada que não estamos preparados para fazer.
— Tudo que está opção lhes da em uma pouco mais de tempo ou vocês são capazes de matar o resto dos demônios?
— Nós provavelmente não seremos capazes de destrui-los, entretanto, com o Kaiser eliminado, nós podemos fortificar a capital e as grandes cidades de modo a prevenir uma invasão. Muitos nas regiões adjacentes irão morrer, mas a humanidade não perecerá. Depois disso, iremos entrar em uma longo periodo de equilibrio com os demônios. Durante este tempo, planejamos buscar por opções.
— ... Vocês vão simplesmente abandonar ela? Vocês fizeram ela lutar toda esse tempo e agora estão dizendo que não se importam dela morrer?
— Nós não abandonamos ela, simplesmente estamos sem escolha. Não se esqueça servo. Por mais que ela seja uma ferramente bem efetiva, ela também é pecadora. No fim, ela será executada sem falta. Não faz diferença se ela morrer agora... De todo modo, sua morte será horrível.
— Godd Deos falou a verdade despreocupadamente. Seu tom era mecânico, enquanto falava das ofensas de Elisabeth.
— Esta mulher deixou muitos corpos em seu despertar. As massas que foram massacradas não permitirão compaixão e os cavaleiros chacinados não aprovarão anistia. Não importa quantas boas ações ela faça, o número de mortos sempre será o mesmo. Além do mais, o fato dela ser uma pecadora é o motivo pelo qual nós a acorrentamos como uma cão.
Kaito cerrou os punhos. Uma simpática verdade estava entres as palavras frias de Godd Deos.
A razão pela qual a Igreja estava fazendo Elisabeth pilhar boas ações não era para aliviar sua sentença, mas para salvar sua alma apôs a morte. Nenhuma reparação iria trazer de volta suas vítimas. A sentença pelos seus crimes em vida já hávia sido dada.
Além disso, fazia bastante sentido da Igreja colocar a segurança de seu povo acima da Princesa da Tortura. Deixar a capital exposta pelo bem dela seria o mesmo que sacrificar o rei para proteger a rainha no xadrez. Mesmo assim, a ráiva borbulhava no peito de Kaito.
Ele falou em um tom seco, vindo do funda de sua garganta.
— Então, basicamente é culpa de vocês por serem fracos, não é?
— ... Perdão?
— Vocês, que não dão a mínima e que não sacrificam nada, estão jogando pedras em alguem que puxou sua espada de uma montanha de corpos. Vocês não cometem crimes e não nunca tem dúvidas por um instante se quer. Vocês só fazem merda, ainda sim ficam presos a suas opiniões como se fossem melhor que os outros. Com isso tudo ainda tem coragem de chamar os outros de pecadores."
— Servo.
— Se vocês fossem mais fortes, a Princesa da Tortura nem mesmo teria nascido, teria?
Kaito não sabia porque Elisabeth hávia sido escolhida para lutar. Ela nunca falou sobre isso. Ele não sabia se a interpretação que tinha estava certa, mas a cuspiria em qualquer um que ignorasse a possibilidade e jogasse pedras nelas.
Apòs alguns segundos de silêncio, Godd Deos surpreendentemente aceito a crítica com seu tom de voz inalterado.
— De fato, nossa falta de força é um pecado.
— Se você concorda, então...
— Mas saiba, servo. Nesse ponto é impossível adquirirmos forças para ajudar Elisabeth e o fato da Princesa da Tortura ser a pessoa que deve se sacrificar permanece. Como os representantes do povo, nós não podemos perdoar seus crimes, pois nós também representamos aqueles corpos. Assim como você se mantem ao lado dela, nós nos mantemos ao lado da longa fila de mortos e suas famílias.
Kaito olhou silênciosamente para o orbe. Ele não podia enxergar o rosto da figura a sua frente, mas podia sentir seu olhar.
Good Deos estava olhando diretamente para Kaito, sem um pingo de vergonha.
— Ela caminhou sobre corpos, bebeu do seu sangue e obteve seu poder. Você pensa que podemos apreciar qualquer coisa construida com esse poder? Não não importa que pessoa ela tenha sido, o mal é o mal. Sem justiça, a ordem no mundo entraria em colapso. Está é o tipo de pessoa que ela se tornou e ela sabe disso.
— // — // —
Nota do tradutor: Nesta última frase, quando ele se refere a Elisabeth dizendo que o mal é o mal, há dois tipos de interpretação:
1 - Pode significar que ele possui uma ideia dicotômica onde só existe o mal e o bem e nada entre os dois, portando, não interessa o que ela tenha feito de bom, ela ainda cometeu erros, uma visão pláusivel visto que muitas religiões pregam coisas parecidas.
2 - Pode significar que o mal que ela fez, portanto seus crimes, são gravíssimos e irreparáveis e por isso o mau é o mau, mas na verdade a frase mais precisa a ser usada seria a justiça é a justiça, em outras palavras, por mais que ela tenha feito boas ações, seus crimes não podem ser perdoados, porque isso seria injusto com as vítimas.
Na minha opinião, talvez haja ai no meio um pouco da primeira com a segunda: Ele tem a visão dicotômica e usa o argumento dos crimes de Elisabeth para justificar ela, uma vez que ele diz não importar com a justificativa (daria para entender como não há justificativa para tamanha atrocidade ou ele realmente não se interessa), o que também é comum em várias obras, por exemplo Sword Art Online, que era incrìvel e virou uma das histórias mais decepcionante e irresponsável que já vi.
— // — // —
— Lhe pergunto novamente, servo. Você tem permissão para usar meu precioso orbe?
Desa vez, Kaito manteve sua boca fechada. Um desconfortável e pesado silêncio se abateu sobre eles. Então Kaito respodeu de forma curta.
— Não. Não tenho.
— Suspeitei desde o princípio... Seu tolo. Entretanto, como amigo do pai dela, fico feliz em saber que ela tem um servo que se preocupa com ela. Para ela ter conseguido um companheiro como você no final de sua jornada sangrenta... De fato, ela também é alvo da graças de Deus.
— ... De Deus?
Murmurando, Kaito franziu o cenho. Ele começou a ponderar sobre algo. O orbe provavelmente hávia sido programado para transmitir primeiramente sons, por isso, Godd Deos não devia conseguir ver sua expressão. Quando ele continuou a falar, sua voz contia um supreendente grau de sinceridade para alguém que estava falando com o servo da Princesa da Tortura, um o qual também era alvo da inquisição.
— Como Elisabeth é uma das criações de Deus, nós sinceramente esperamos que ela supere os desafios impostos a ela e que os bons feitos de sua parte a permitam encontrar a salvação no pós-vida.
— ... Deus?
Novamente, Kaito respondeu quem essa palavras apenas. Derrepente, toda sua tensão se esvaiu. Para dizer a verdade, seu corpo inteiro relaxou e ele se sentou na escaria. Com suas pernas suspensas, ele tinha um olhar vago e sua pose melancólica fazia parecer que estava relaxando.
Repentinamente, seus olhos ganharam um brilho inocente parecido com um jovem menino.
Por algum motivo, Kaito começou a falar de algo completamente não relacionado com o tema.
— Sabe, eu não acho que herois existam.
— Herois? Eu não entendi.
Godd Deos deu uma resposta confusa perfeitamente razoável. Kaito riu em escárnio. Com seus olhos distante, ele fixou o olhar em um outro lugar qualquer.
— Sabe, cruzados ou campiões. No começo eu até queria que alguém assim me salvasse, mas não demorou muito até eu parar de acreditar que algo assim existia. Não existe ninguém que proteja os fracos, salve os outros, ponha um fim as injustiças ou ensine honestidade. Se existisse, então não háveria pessoas como eu que foram espancadas e mortas, háveria? Sabe oque mais...
— ...?
— ...Isso soa muito parecido com Deus.
Kaito falou baixo e seco. Godd Deos demorou um pouco a responder.
Como um dos lideres da Igreja, aquela era uma declaração a qual ele poderia ter negado, mesmo que tivesse que mentir. O argumento era cru e não poderia ser usado nem mesmo para criar dúvidas em uma doutrina religiosa tão bem estabelecida. Talvez a rezão do atraso na resposta de Godd Deos foi o fato da voz de Kaito ter um ar inocente como de uma criança.
Com a voz de uma criança perguntando se Deus existe, Kaito falou como se não existisse.
— Eu acho que ele não existe no fim das contas.
— Deus é aquele que ouve preces e salva...
— Não, sua doutrina pode estar certa, mas eu estou falando de mim.
Aos poucos a energia de Kaito foi retornando, com ele se virando para outro lado.
Parecia que ele hávia esquecido alguma coisa. Sua mão não parava de mexer em seu bolso, então ele deu um grande suspiro.
— Eu tenho certeza que existem lugares onde Deus e herois existem, mas oque quero dizer, é que eles não existiam onde eu estava. Estou dizendo que eles não estavam lá para me ajudar... Mas sua explicação faz sentido para mim.
— Certamente não parece que fez.
— Não, eu entendo que estou sendo um idiota. Se alguém perguntasse se a Princesa da Tortura é boa ou ruim, é óbvio que a resposta seria a segunda. É um absurdo pedir aos aliados de sua vítimas que venham salva-la. Se eu estivesse do lado das vítimas, então eu estaria torcendo para ela ser usada até os ossos e depois ser posta na estaca. Quer disser que isso não tem nada haver com vocês. Sou eu quem ela envocou e isso não passa deu tendo autopiedade, por isso é uma problema meu.
— Servo... Oque você quer me dizer?
— Eu quero dizer que a pessoa que me salvou não foi Deus ou um herói. Não foi a fé ou algum de vocês.
Kaito olhou diretamente para o orbe.
As coisas que estava dizendo eram mais que uma piada. Não hávia sentido ou lógica por trás delas. Ainda sim, ele falou oque vinha a mente. A Incerteza e angustia em sua expressão desapareceram.
— Foi a Princesa da Tortura, a mulher mais maligna do mundo.
Uma vez, uma mulher forçou um milagre sobre um jovem garoto que vivia em um mundo sem Deuses ou herois. Ela concebeu uma segunda vida para ele, uma pessoa que foi explorada até os ossos e não conhecia nada além da dor.
"Aquilo foi... Aquilo foi horrível, desumano... E maravilhoso para além da imaginação."
— Então eu não vou depender de vocês, Godd Deos. Eu farei oque eu puder. Já tomei minha decisão.
— Espere, o que pretende fazer?
— Eu não tenho arrependimentos, então não importa o resultado que nos espera, vocês devem assegurar o mesmo.
Kaito levantou a mão ensanguentada. Uma lança de gelo saiu de sua palma. Com um som afiádo, ela atravessou o orbe. A conexão foi cortada...
Kaito colocou sua mãos novamente no bolso, respirou fundo e suspirou, então, tocou na pedra, a qual estava emitindo calor até por fora da roupa.
— // — // —
Kaito subiu pela escadaria do tesouro. Quanto mais alto estava, mais a penumbra sumia. A luz escapava pela entrada retângular no topo.
A seguir ela com seus olhos, ele viu Hina em pé ao lado da entrada.
Seu rosto estava angustiado, com ela olhando para a escuridão de baixo.
— Oi, Hina.
— Mestre Kaito...
Quando seus olhos se encontraram, seu lindo rosto relaxou e ela suspirou de alívio.
Kaito, tendo terminado de subir as escadas, parou na sala do trono.
No mesmo instante, o céu já mostrava o crepúsculo. Parecia que as grossas nuvens se abriram. A sala estava coberta com uma luz dourada.
A grande tapeçarias decorando os muros também reluziam a luz e os cabelos prateados de Hina brilhavam com ainda mais beleza. Olhando para ela, Kaito disse:
— Desculpe por sair correndo daquele jeito. Como estão Elisabeth e o Açougueiro?
— Lady Elisabeth está dormindo. Quanto ao Acougueiro, ele disse que, devido a hora, ele planeja ir após o jantar. Até lá, tem planos de ficar ao lado da senhorita, oque me trouxe até aqui.
— Ainda ficando aqui depois de tudo aquilo... Não posso dizer que não estou grato, mas, nossa, aquele cara tem nervos de aço.
Kaito folou em tom de admiração, embora pensar na imagem do Açougueiro lhe acenando com o polegar o irritasse de certo modo. Dai se lembrou de sua mão, ainda em seu bolso, embebida em sangue. Seu uniforme de mordomo estava coberto de manchas vermelhas escuras.
Ao perceber o quão ruim aquilo devia parecer para Hina, Kaito desengonçadamente tentou explicar.
— bem... É... Hina, é que...
— Por favor, perdoe minha falta de modos, Mestre Kaito.
Após um breve murmúrio, Hina caminhou pela sala e lhe deu um abraço caloroso. Ela então enterrou seu rosto em seu ombro. Seu cabelo prateado roçou agradavelmente contra sua bochecha.
Hina falou para Kaito, o qual estava enrijecido de surpresa, em uma voz abafada que soava como se ela estivesse a beira das lágrimas.
— Eu estou tão feliz que esteja bem... Eu temia que você não iria retornar.
— Como? Mas porque Hina? Eu... Só fui pegar uma coisa.
— Recentemente eu tenho sentido que você está ficando cada vez mais distante, mestre Kaito... E parece que você está se machucando em lugar onde eu não posso lhe alcançar. A mágica que está usando tem uma aura perigosa nela... E aquele poço lá embaixo é escuro, vazio e assustador. Eu pensei que você tivesse sido tragado por ele. Por favor, não vá mais lá sozinho. Por favor, não me deixe sozinha... Eu te imploro.
Kaito tentou balbuciar alguma coisa confusa. Era fato o tesouro ser um espaço mágico preenchido indiscrimidamente com coisas trazidas do antigo castelo de Elisabeth. Tinha falta até mesmo de um corrimão e se alguém tocar em algo errado, é possivel acabar morto, ainda sim, não hávia motivos para um autômato poderoso como Hina ter medo delo.
Pensando em suas palavras, Kaito recordou-se de um certo acontecimento.
Hávia uma parede iluminada, com correntes de ferro saindo dela. Uma garota nua estava içada por eles, como um produto em exposição em uma loja. Tendo confundido ela com um humano, Kaito desfez seus grilhões.
"Será que Hina tem memórias desde antes de mim liga-la?"
— Ei... Hina...
A pergunta estava na ponta de sua língua, mas Kaito decidiu não dize-la. Ela estava levemente trêmula enquanto o abraçava. Aparantement, ela não se deu conta da ferida em sua mão. Depois de pensar por um momento, Kaito colocou seus braços ao redor dela, tomando cuidado para não sujar seu uniforme de empregada e apertou com força.
"... Eu acho que vi uma mãe e seu filho brincando assim no parque uma vez."
Kaito tentou levantar Hina, mas estava para além dele. Ela era bem mais pesada do que ele esperava. Por mais fofa que sua aparência fosse, ela era toda feita de metal por dentro.
Alguns segundos silênciosos se passaram e Kaito gemeu novamente tentando levanta-la. Hina olhou com espanto.
— Mestre Kaito, posso perguntar oque está tentando fazer? Espere. Isso é cheiro de sangue? Mestre Kaito, sua ferida!"
— Não, está tudo bem. Já que estamos assim, Hina você quer fazer um giro?
— Certamente não está bem... Né? Se está dizendo, mas como assim um giro?
Hina moveu seus pés para ficar em posição. Os dois giraram. Hina frenéticamente girava seus pés.
Eles giraram, giraram e eventualmente começaram a rodopiar sobre o chão de pedra. A saia do uniforme de Hina se levantou delicadamente. Rápidamente piscando seus olhos verde-esmeralda, Hina segurou Kaito com força para ele não escapar e seguiu girando os pés cada vez mais rápido. Não tardou e a força da rotação fez Kaito levantar os pés do chão.
Segurado por Hina, ele girou preso em seus braços.
— Não, não, Hina, pro outro lado! Eu queria fazer isso com você!
— Perdão? Mas mestre, me perdoe por dizer isso, mas eu acho que levantar o corpo de um autômata deve ser bem difícil, dada sua força física... Se bem que isso é bem divertido. Isso faz minhas engranagens ficarem quentes e mácias... Opa!
— O que!
Kaito tentou recuperar o balançando colocando os pés no chão e os dois balançaram como resultado. Hina manobrou seu corpo sobre o dele para abafar a queda.
— Des...Desculpa! Hina, você está bem?
— Sim, estou... Para falar a verdade, está situação foi bastante lucrativa para mim.
Com uma expressão extasiada, Hina acariciou Kaito contra seu amplo busto. Era uma posição um tanto problemática e ele esperneava para tentar se libertar. Ele não poderia necessáriamente ficar cercado por aquela sensação de maciez.
Kaito rápidamente escapou, fazendo vista grossa para a visível decepção no rosto de Hina e então caiu ao lado dela.
O chão era duro e gelado, mas os dois se repousaram como se estivessem deitados em uma cama de flores.
Com a luz dourado brilhando sobre eles, Kaito falou baixinho.
— O medo se foi?
— Mestre Kaito...
— Eu vi uma criança bricando assim no parque a bastante tempo atrás. A criança estava chorando e a mãe dele pegou ele nos braços e girou ele de novo e de novo."
— De novo e de novo?
— Eu realmente não entendia oque estava vendo naquela época, mas agora eu entendo que é para horas como essas. Por isso eu pensei em tentar. Se não está mais com medo, acho que é porque funciona."
— ...
— Hina?
— ...
— Hina, está ouvindo? Funcionou?
— Oh! Eu não aguento mais! Eu te amo tantooooooo!
Derrepente, Hina soltou um grito. Kaito seguiu deitado, surpreso com ela cobrindo o rostou e rolando de novo e de novo para cada vez mais longe dele, até bater na parede.
Enquanto ponderava silênciosamente sobre oque deveria fazer, ela voltou rolando de volta, ainda com as mãos cobrindo seu rosto.
— Eu não estou entendendo nada, mas bem vinda de volta.
— O que eu vou fazer se você fizer com que eu te ame ainda mais, mestre Kaito?! Não da! Não da pra aguentar mais! Alguém me segure!
— Hina, não acha que ai é demais?
— Eu te amo tanto, tanto que não consigo nem expressar...! Mil perdões...! Ra ra ra ra ra!
Ainda cobrindo o rosto, Hina ficou em posição fetal e ficou rolando de um lado para outro. Depois de ficar se contorcendo por conta da sindrome do amor, ela conseguiu se acalmar.
Ainda em posição fetal, sussurou.
— Eu lhe disse, Mestre Kaito. Eu disse que eventualmente eu explicaria o porque lhe ter escolhido e porque não poderia ter sido outra pessoa.
— É, você tinha dito isso.
— Para por tudo em palavras, levaria uma semana, entretanto, permita-me começar desde o princípio. Antes de ter me ligado, antes de estabelecer minhas configurações... Antes mesmo de terminar de ser construida, eu já conseguia perceber o mundo.
Kaito assentiu, suas suspeitas haviam sido confirmadas. Parecia que ela era mesmo capaz de dizer oque estava acontecendo ao seu redor, ainda estando em seu estado dormente. Sua consciência não foi ligada naquela hora, mas era impossível definir em que ponto um corpo robótico era capaz de perceber o mundo.
— Embora eu pudesse obter informações, eu era incapaz de sentir ou pensar. Quando vim ao mundo e pude observar aqueles a minha volta sendo ativados e servirem a seus mestres sem qualquer emoção, eu era incapaz de me mover... Você se lembra das serviçais autômatas que estavam com Vlad? Elas não foram programadas com 4 opções de relacionamento: Pai e filha, Irmãos, mestre e serva ou Amantes. Elas foram projetadas apenas para serem servas... E eu fui projetada para ser presenteada aos outros.
— ...Presenteada aos outros?
— Um presente o qual vlad gostava de dar a seus convidados. Para aqueles pelos quais ele não tinha apreço, fazia questão de nos entregar sem dizer a eles a resposta correta e para os de seu agrado, ele partilhava as 4 opções para nos usarem como brinquedos. As garotas dadas como presente tiverem destinos miseráveis. Todo tempo em que estivesse nos castelo daquele homem, eu vi bonecas com 3 seios a mais e genitais instaladas em seus rostos, todas elas servindo alegremente seus mestres como amantes.
— Isso é doentio...
— Naquele tempo, eu era incapaz de pensar. Tudo oque fiz foi apenas observar. Quando a batalha entre a Princesa da Tortura e Vlad começou, eu ainda não hávia sido ofertada a ninguém, invez disso, fui posta em um armazém. Um dia, eu fui transportada para o tesouro de Lady Elisabeth e lá fiquei. Tempos e tempos se passaram, até que, em algum ponto, o periodo para renovar o contrato temporário que tinha com Vlad, para não desobedece-lo, expirou e eu retornei ao modo de espera. Quando eu já não tinha mais esperanças de alguém vir até mim, você chegou.
Hina fechou seus olhos, como se estivesse pensando no passado.
— Eu senti eu calor e vi seu olhar repousar sobre mim, mas invez de rudemente me tocar ou me examinar como uma mercadoria, você simplesmente pergunta se eu estava bem e defez meus grilhões.
— Bem... Eu fiz porque achei que fosse humana.
— Dentre todas as pessoas que eu conheço, nenhuma delas teria salvo uma garota amarrada que nem se quer conheciam. Quando recém ativadas, muitas bonecas eram preenchidas pelo ódio... O ódio de ter sua paz estraçalhada e serem forçadas a servir. A menos que recebessem ordens, elas iriam se consúmidas pela ráiva e destruiriam tudo em seu caminho. Eu, como não era exceção, ataquei você, mas enquanto eu me encontrava consumida da cabeça aos pés e sabia o quão perdida estava, pensei fervorosamente que queria estar com você.
Kaito pensou naquela vez. A boneca, mergulhada na cadeira de afogamento, olhou para ele. Ela focou seus olhos verde-esmeralda nele, como se implorasse.
— ... Aquela foi a primeira vez que uma vontade tão grande tomou conta de mim. Você me libertou sem nenhum ganho pessoal e me salvou de ser destruido, mesmo eu tendo tentado te matar. Você era diferente, então eu quis ficar a seu lado. Se fosse para eu servir, então seria impensável servir outro se não você. Mesmo depois de ter me escolhido como amante, eu nunca duvidei de meus sentimentos por você.
— Hina...
— Permita-me dizer uma coisa arrogante: Você é um homem realmente merecedor de meu amor.
Hina abriu os olhos e virou para o lado. Seus olhos de esmeralda brilhavam enquanto olhavam para Kaito. O amor em sua expressão era tão real quanto poderia ser. Ela então esticou a mão e gentilmente enolveu sua palma ensanguentada.
— Oh, que machucado feio esse seu, mas você ainda consegue entender a dor dos outros. Você morre de medo, ainda sim, se mantem ao lado daqueles que lhe são preciosos e ainda tenta tratar os outros com gentileza. Entre o ódio e o desespero o qual nos encontramos, você ainda mantém um coração que valoriza nosso dias tediosos.
— ...
— Quando eu vejo você tentar preservar sua gentileza e ternura, mesmo sabendo as loucuras e terrores deste mundo... Qual motivos eu teria para não lhe amar? Você diz que nunca me deu nada e que não é nada além de uma pessoa comum, mas esse não é o caso. Eu recebo muito, muito mesmo de você. Tantas coisas maravilhosas.
Lágrimas se formaram nos cantos de seus olhos de esmeralda. Elas cairam no chão, brilhando sobre a luz do crepúsculo. Enquanto elas caiam sobre o chão duro de pedra, Hina sorriu alegremente.
— Você sabe o quanta alegria me traz preparar a comida todo dia? Você entende o quão abençoada eu me sinto quando riu junto de Lady Elisabeth quando ela me dá os parabéns pela comida, ao lhe dar bom dia, ao trabalhar junto com você e ao ser capaz lhe contar sobre meu amor?
— Hina... Tudo me isso me deixa contente, também. Antes de vir para cá, eu nunca experenciei nada como isso. Mesmo depois de ter visto tantas coisas terríveis feitas pelas demônios e ser atingido por aquelas batalhas repulsivas... Ainda sim estou feliz. Desde que vim para cá, eu pude experimentar tantas coisas pela primeira vez.
Inspirado pelas palavras de Hina, Kaito pensou sobre sua antiga vida. Seus dias de quando não sentia nada se não dor e desespero. Com suas costelas quebradas, ele gemia toda vez que se deitava no chão. Ele não tinha forças nem mesmo para afugentar as moscas que pousavam em seu rosto.
Hina gentilmente penteou para trás sua franja e juntou sua testa a dele, como se o consolasse pelos dias que ele hávia deixado para trás. Ela chorou sorrindo. Era um caloroso, gentil e decidido sorriso.
— ... Parece que somos o par perfeito, não somos, Kaito? Você é um homem de tremendo valor. A gentileza que mantém mesmo com toda a tristeza, é como um diamante na lama. É impossível para mim não te amar e é por isso que não quero te perder.
Hina segurou a mão de Kaito. Ele podia certamente sentir seus sentimentos através dela.
— Hina...
Kaito sabia oque deveria fazer. Ela já hávia notada alguma coisa, embora não soubesse dos detalhes, provavelmente sentiu oque ele estava planejando.
Com lágrimas ainda em seus olhhos, ela tentou para-lo.
— ... Mestre Kaito, eu não posso dizer que sei oque está pensando, mas por favor, eu lhe peço...
Hina fez um vago pedido. Ainda sentindo o calor de sua mão, Kaito fechou os olhos. Ele pensou em tudo que hávia acontecido até então.
De quando Elisabeth socou a mesa gritando sobre o quão horrível era a comida dele. Da reação dela quando Hina começou a cozinhar e dos momentos que partilharam juntos.
Ele estava a beira de perder tudo aquilo...
Ele iria perder tudo do mesmo modo cruel que as pessoas massacradas pelos demônios perderam.
— Me desculpe... Mas eu me nego a desistir.
Kaito falou baixinho e daí abriu seus olhos e soltou a mão de Hina. Ela olhou incrédula, mas ele ainda deu a ela um abraço.
Foi a primeira vez que ele lhe deu afeto.
O sangue de sua mão respingou no uniforme de empregada dela, mas não deram importância. Ele colocou forças em seus braços, do mesmo modo que alguém faria com a mulher que ama.
O rosto de Hina ficou rosa e tentou falar algo, abrindo e fechando a boca várias vezes. Antes de conseguir dizer alguma coisa, Kaito falou para ela.
— Desculpe, Hina... Mesmo com você tento tanta estima por mim, eu posso me tornar alguém diferente da pessoa que ama.
— Mestre Kaitop, oque você...?
— Por favor, me escute. Não posso dar os detalhes, mas eu posso mudar. Mesmo assim, tem algo que preciso que acredite. Eu quero proteger nossas vidas. Eu quero proteger essa vida que você ama tanto. Não posso ser fraco a vida inteira. Eu quero proteger você e Elisabeth. Não, eu vou proteger vocês, então, mesmo que me torne alguém diferente... Mesmo assim...
Kaito estalou a língua. Ele estava assustado de colocar sua vontade em palavras. Até então, ele hávia vivido para sí mesmo e não podia mais aceitar isso. Talvez não fosse certo se quer perguntar, mas mesmo com esses pensamentos cruzando por sua mente, deu um jeito de libertar as palavras presas em sua garganta.
— ... Se mesmo depois disso continuar me amando, então por favor, lute a meu lado.
— Mestre Kaito...
— Você disse que não importava oque acontecesse, sempre estaria a frente de todos os meus inimigos. Você disse que, seu fosse para te pedir algo, então deveria ser para me proteger ou lutar a meu lado... Se não se importa em me seguir, então farei de tudo para corresponder seus sentimentos... E se pensar que não sou mais digno de seu amor, então que seja, mas mesmo que aconteça, tem uma coisa que quero que se lembre.
Enquanto seguia falando de forma ambigua, colocou força em seus braços. Ele não poderia contar os detalhes. Se o disesse, ela provavelmente tentaria desesperadamente para-lo. Era precisamente por isso que mantinha suas intenções encobertas, ainda que estivesse demonstrando seus sentimos mais profundos para ela.
— Eu também te amo. Não quero te ver nunca duvidando disso.
— Kaito...
— Eu te amo, Hina... Então é assim? É assim que é sentir amor?
Kaito riu tolamente. Ele apoiava o queixo no ombro de Hina. Lágrimas pingaram de seus olhos. Sua voz era tão melancólica quanto era possível ser.
— Sabe, eu nunca pensei em me apaixonar depois de morto...
Hina o acaricia em silêncio.
Ela o respondeu com gentileza, como se estivessem trocando votos de casamento.
— Não importa que tipo de pessoa se torne, você sempre será meu mestre, meu amado, meu prometido e meu eterno companheiro. Eu sempre serei sua. Não importa oque a vida me traga, não irei me importar... Então se você precisa lutar, então eu lhe peço que me chame. Eu irei acompanha-lo até as profundesas do inferno.
— ... Obrigado, Hina.
Os silenciosamente se abraçaram sobre o chão de pedra.
Foi assim que aproveitaram seus ultimos momentos de paz juntos.
O crepúsculo se foi, com sua luz sendo engolida pelas trevas da noite. O vento carregava um ár frio e a lua já ascendia no céu. Eventualmente, Kaito lentamente levantou-se e caminhou para longe de Hina.
Ela não olhou para trás. Compreensivamente, Hina não tentou impedi-lo.
Ele deixou a sala do trono sozinho. Após descer as escadas, caminhou pelo corredor.
Após alcançar o quarto, parou por um momento, inseguro se deveria bater ou não, resolveu abrir uma fresta da porta. Duas pessoas estavam dormindo dentro dele. Tomando cuidado para não fazer barulho, entrou no quarto para examina-los.
Parecia que o Açougueiro caiu no sono. Seus rosto estava coberto como sempre, mas Kaito pôde ver um rastro de saliva pringando nas cobertas através de seu manto. Kaito tratou de limpar um pouco dela. O Açougueiro murmurou algumas coisas sem nexo.
— Ra ra ra, sinto dizer que não consigo mais comer. Ó, mas se insiste, três tortas está bom.
— Cara, você tem mesmo nervos de aço, né?
Apôs falar com honestidade, Kaito voltou seu olhar para Elisabeth. Iluminada pela luz da lua, seu rosto tinha um beleza fora do comum. Ele olhou para ela por um breve momento e sussurou.
— Você vai ficar furiosa, mas já tomei minha decisão, Elisabeth. Até mais tarde. Quando acordar, vou fazer purin pra você.
Nenhuma resposta veio de Elisabeth que ainda se encontrava em um sono mortal. Kaito se aproximou para tocar-lhe o rosto e então parou no meio do caminho e segurou sua mão firme.
Ele preferiu acenar com a mão, deixando o quarto com passos silenciosos.
— Bons sonhos, Elisabeth.
Logo em seguida de suas palavras ditas como se para uma criança, Kaito fechou a porta. Enquanto estava sobre o luz brilhante vinda do céu, respirou fundo e soltou o ar em seguida.
Ele caminhou pelo corredor e fez seu caminho até o porão.
Quando chegou as passagens subterrâneas, relembrou seu mapa mental antes de seguir avançando cada vez mais profundo nos complexos corredores. Apôs chegar a sala vazia mais distante que sua memória conseguia leva-lo, colocou a mão em seu bolso.
Ele segurou uma pedra transparente com sua mão ensanguentada. Sua rosa indiga já estava em pleno desabrochar.
Derrepente, a pedra emitiu calor, o suficiente para parecer queimar sua pele. Penas negras dançaram diante dos olhos de Kaito. Pétalas indigas se misturaram a elas e juntas preencheram a sala. Um descomunal amontoado de preto e azul cobriu sua visão.
Um cheiro animalesco surgiu do nada. Um vento estranho entrou na sala, lançando as penas e as flores contra a escuridão a sua volta.
Um único homem ficou entre elas.
Ele estava sentando em uma cadeira de ossos de bestas e falou como se estivesse ciente de tudo.
— Muito bem, já tomou sua decisão?
— Sim, já decidi.
Suas trocas de palavras eram bem fluidas, como se fossem amigos próximos.
Então, Kaito Sena vez sua declaração a Vlad Le Fanu.
— Farei meu contrato com o Kaiser.
As palavras pronunciadas por ele eram absurdamente tolas e severamente irresponsáveis.
Este foi o único método que encontrou para enfrentar esta situação.
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