Torture Princess Japonesa

Tradução: MatheusPD

Revisão: MatheusPD


Volume 1

capítulo 5: A Terra Natal da Princesa da Tortura

Elisabeth estava sentada em seu trono, de pernas cruzadas como sempre, observando o céu triste e nublado.

Um orbe de luz azul-pálido pairava em frente dela. Kaito não sabia dos detalhes, mas enquanto o orbe rodava lentamente, ele projetava a imagem de alguém que parecia ser muito importante. O estranho é que por mais que ele pudesse ver a pessoa, seu rosto estava borrado, não importando o ângulo que olhava, nem mesmo um único traço.

A figura misteriosa falava em tom baixo, frio como o gelo.

"Nós estávamos discutindo a transferência do Kaiser para a capital, por isso seu selo estava incompleto, além do mais, Clueless possuía um talento para arranjar favores e foi assim que ele conseguiu a informação confidencial da localização do Kaiser, assim como os métodos para libertá-lo, do oficial encarregado da prisão. Muitos da liderança da Igreja, eu inclusive, estão indo para a capital se preparar para um festival, deixando as nossas defesas enfraquecidas... Este incidente foi trazido por várias deficiências e infortúnios de nossa parte."

— Apenas diga de uma vez que foi negligência, seu tolo. Chega de relações públicas, vamos falar de problemas mais pertinentes.

— A igreja formalmente demanda que você, Elisabeth Le Fanu, traga-nos o Kaiser, vivo ou morto.

Elisabeth suspirou uma vitória silenciosa com a declaração do orbe. Ela cruzou as pernas novamente e sorriu.

— Então sobrou mais uma vez para mim limpar a sua bagunça. Assim tem sido de novo e de novo. Mais uma vez seu Deus vai sentar e cruzar os braços, deixando nós largados a própria sorte. Tudo o que você tem para se defender é a autoridade que dispõe. Você amarra os cachorros em nome de seu Deus, depois se senta e os chicoteia.

— Nós não temos o poder para enfrentar estes monstros, por isso somos forçados a confiar em você. Isso não é de forma alguma contraditório, tanto que Deus está constantemente ao seu lado. Ele nos põem a prova, é verdade, mas suas bênçãos estão conosco, assim cômodos todos as suas criações.

— Hahaha! Que idiotices bonitas estas que você regurgita, seu charlatão! De acordo com sua doutrina, aqueles homens, reduzidos àquelas formas grotescas por terem feitos contratos com demônios, também não são as criações dele? Eu, a Princesa da Tortura, também não sou uma criação do seu Deus? Posso perguntar onde estão suas bençãos? Sua palavras são pura hipocrisia!

— Suas bençãos sempre estiveram com você. Deus é eternamente misericordioso. Você deveria saber que, mesmo agora, ele está chorando lágrimas de sangue, mesmo que a esteja punindo, com a esperança que você pague por seus pecados. Eu lhe conheço desde que era criança, Elisabeth, filha de meu querido amigo... Sei que você tem todas as razões do mundo para odiar demônios.

Elisabeth tremeu por um instante. Sua expressão ficou sombria e ela fechou seus lábios. Do seu lado, Kaito observou seu gesto com precaução. Ela de repente olhou para ele, que rapidamente tratou de disfarçar.

Sem prestar atenção ao silência de Elisabeth, o homem continuo a falar:

— Tome cuidado para não esquecer as palavras que estão entalhadas em sua espada: ‘Você é livre para agir como quiser, mas reze para que Deus seja sua salvação’. O início, o meio e o fim, tudo está na palma de sua mão.' A Igreja pôs um grande número de feitiços no Kaiser também. Nós os colocamos em ação hoje mais cedo. Eles irão durar por 7 dia, então este é o tempo que você tem para aplicar-lhe sua punição.

Seu tom não mudou enquanto notificava ela de seu tempo limite. Ele não carregava nenhum sinal de ameaça. Foi precisamente este fato que fez Kaito ficar apreensivo.

"7 Dias? Será que ela vai ser capaz de fazer alguma coisa contra o Kaiser em tão pouco tempo? E o que vai acontecer se não conseguir?"

Que tipos de calamidades acometeram o mundo em um evento como esse?

Com nada mais a dizer, seu convidado terminou de falar dando uma ordem:

— Até o dia de sua morte, tente pelo menos fazer algo de bom.

A luz do orbe desapareceu e ele caiu no chão com um som delicado. Kaito pegou. Aquele orbe havia sido feito de papel fino, oque não fazia sentido uma vez que podia transmitir imagens.

Ainda confuso olhou para Elisabeth e perguntou:

— Então, sobre o que era?

— Era um comunicado de Godd Deos, o líder da Igreja. Sempre com a mesma aparência de velho...

Ela balançou a cabeça e não disse mais nada. Enquanto mantinha o olhar fixo na parede, Kaito decidiu perguntar uma coisa que o incomodava bastante.

— Você sabe para onde o Kaiser foi?

— Eu sei.

Sua resposta foi curta e grossa, para o alívio de Kaito. A dificuldade de sua tarefa poderia aumentar bastante dependendo se soubessem ou não a sua localização. Elisabeth deixou seus olhos semi abertos ao olhar pelo buraco em sua parede, como se estivesse vendo um lugar distante, porém diante dela estava apenas a silhueta de várias árvores escuras e o pequeno brilho cinza de algumas nuvens.

— O Kaiser voltou para casa. Para o meu castelo, o lugar onde nasci.

Porque o Kaiser retornou para a terra natal de Elisabeth?

Porque o Kaiser chamou seu nome tão afeiçoadamente?

Kaito esperou que ela elaborasse uma resposta, mas Elisabeth não disse mais nada e Kaito não perguntou. Eles apenas esperaram, olhando pelo buraco na parede.

Seu silêncio persistiu. O vento soprou lá fora trazendo consigo o cheiro de chuva. Elisabeth respirou fundo e depois soltou. Ela estalou sua língua e se levantou com tanta força que derrubou sua cadeira.

— Vamos.

— ...Sim.

Sua foi estava tingida de raiva. Kaito balançou a cabeça. No momento seguinte ele sentiu um chute em sua canela. Pelo visto sua resposta não era digna de um servo.

— // — // —

A cidade natal de Elisabeth estava atrás de uma muralha. De todo território que a nobre casa Le Fanu possuiu, esta cidade era especial. Era aqui que a lenda sangrenta da Princesa da Tortura começou.

A cidade foi desenhada como um leque, com o esplêndido castelo com muros brancos em seu centro construído no topo de uma colina, fazendo bom uso de sua topografia única. O muro que o cercava formava uma plataforma de invocação para bestas míticas, além de prover uma linha defensiva em caso de emergência. Agora tudo aquilo servia a um outro propósito.

Com seu portão fechado firmemente, toda cidade estava selada. Se alguém conseguisse ter um único gracejo do que estava além daquele limiar, não encontraria nada mais que a morte, pois aquela muralha agora servia como nada mais que uma gigantesca lápide.

De acordo com os rumores, a Princesa da Tortura em pessoa, Elisabeth Le Fanu, foi a responsável por selar os portões. Ela então invocou dispositivos de tortura por toda a cidade e os usou para torturar até o ultimo morador. O banquete vindo daquela chacina durou 3 dias e 3 noites, das quais incontáveis gritos de agonia soaram como uma grande sinfonia.

Ela usou o genocídio nesta cidade como uma oportunidade para superar a planicie das estacas e criar uma montanha de corpos nunca antes vista.

"… Quanto mais eu descubro, pior fica."

Todas estas informações foram repassadas para ele através da própria Elisabeth. Quando ele perguntou sobre o lugar para onde estavam indo, ela deu a ele um documento que a Igreja hávia montado, entitulado "Registros da Princesa da Tortura". Elisabeth ao ver o rosto aterrorizado de Kaito quando leu sua ficha, apenas deu de ombros.

— Quem exatamente você pensa que eu fui? Não é a toa que sou a Princesa da Tortura. Eu posso estar caçando demônios, mas ainda sou a maior criminosa deste mundo, uma a qual nem mesmo a morte pode redimir.

A terra onde Elisabeth, Kaito e Hina estavam era um lugar de onde todas estas histórias mórbidas se originaram e que agora não passavam de ruínas carbonizadas.

Depois do massacre, aqueles responsáveis por se livrarem da quantidade massiva de corpos não tinham condições de fazê-lo, por isso eles colocaram fogo em tudo que estava dentro dos muros. O fogo durou 7 dias. Depois do inferno ter se extinguido, a cidade foi declarada como "amaldiçoada" e selada definitivamente.

Kaito, após ver as pilhas de ossos humanos por entre as rachaduras dos destroços carbonizados, murmurou:

— Com certeza este lugar é amaldiçoado.

— Até mesmo a Igreja disse que este lugar foi abandonado por Deus.

Elisabeth falou em um tom leviano, demais até mesmo para ela. Kaito não sabia dizer se ela realmente não se importava ou se estava fingindo.

"Ela nunca escondeu seus crimes e a única coisa que ela faz é caçar os outros iguais a ela, mesmo sabendo de seu fim. Será mesmo que ela não guarda nenhum remorso?"

Não havia exagero em dizer que Deus abandonou aquele lugar. As casas aprodecendo, os dispostivos de tortura, a quantidade absurda de esquelos espalhados pelas ruas com alguns empalados em estacas como oferendas para o Diabo em pessoa, lembrando muito as pinturas do inferno.

Em contraste com aquela cenário morbid, o castelo branco era grande e radiante. Ele não tinha marcas de queimado ou corrosão. Parecia até que era um brinquedo que colocaram em cima de uma pilha de sujeira e cinzas.

Elisabeth, a pessoa responsável pelo terrível estado dessas terras, estalou sua língua:

— Não estou em posição de reclamar, mas o ar deste lugar é bem desagradável. Assegure-se de não baixar a guarda. O Kaiser já se instalou. Mesmo eu não tenho idéia do que nos aguarda, mas o que quer que seja, tenha certeza de que não é bom.

— Sim, senhora. Vou permanecer em posição de batalha. Mestre Kaito peço que você se mantenha atrás de mim para evitar ser atingido.

— Ok. Obrigado.

Kaito assentiu e foi para trás de Hina. Ela sorriu enquanto se curvava.

— Não se preocupe. Não importa o que custar, eu vou te proteger, Mestre.

Sua palavras foram banhadas em sua usual admiração, porém sem seus braços ela carregava uma alabarda, bem maior que ela. A arma possuía uma silhueta diabólica. Sua ponta de lança era notavelmente grossa e larga, se misturando com um machado em sua lateral. Parecia ser bastante pesada, mas Hina a carregava com a mesma graça e dignidade com que carregaria uma xícara de chá. Era difícil para Kaito definir se enxergava aquilo como positivo ou assustador.

Elisabeth estava certa: O ar era bem desagradável. A atmosfera, também, era abafada. Era como se o fogo ainda estivesse queimando em algum lugar sob o chão. Todos os corpos já deveriam ter deteriorado ou se transformado em cinzas agora, mas Kaito ocasionalmente sentia um forte cheiro de putrefação. Ele podia sentir como se todo ódio e remorso daqueles que morreram ainda estava se decompondo, como sua carne, acumulando seu odor pelo ar. Tudo isso por causa de uma única mulher.

"Desprezível Elisabeth, Repulsiva Elisabeth, Cruel, Hedionda! Amaldiçoada seja! Que queime pelo resto da eternidade!"

Toda a cidade foi tomada por sussurros, os quais não eram ilusões, afinal este é um lugar de morte. Esta é a terra natal de Elisabeth, o lugar onde a princesa da tortura nasceu, mas ela parecia ignorar a pressão que se abatia sobre ela e continuou caminhando com toda postura de um governante.

"No que será que ela está pensando agora?"

Kaito queria saber como ela se sentia, mas ele não tinha ideia do que perguntar e como perguntar. Ele nem mesmo tinha certeza se tinha um porquê para fazer isso, além do mais, lidar com o Kaiser era sua prioridade.

Kaito seguiu Elisabeth em meio às pilhas de sujeira e cinzas. A cidade estava pilhada com as atrocidades que haviam acontecido ali. Crânios semicarbônizados estavam empilhados uns sobre os outros como grãos de areia. Uma árvore grande sobreviveu ao fogo e em seus galhos estavam os esqueletos de 3 pessoas e um cachorro, presos por arames. A forma como foram postos mostrava que quando o cachorro tentasse se libertar, suas unhas iriam cortar as outras pessoas.

Kaito franziu suas sobrancelhas diante dos corpos. De repente um crânio na pilha lentamente se virou.

— ah?!

— O que aconteceu, Kaito?

— Veja ali.

Um esqueleto estava virando preguiçosamente seus pescoço, com suas órbitas vazias apontadas diretamente para Elisabeth. Kaito esfregou seus olhos, mas não importava quantas vezes ele olhasse, aquele amontoado de ossos estava olhando para eles, foi quando aconteceu…

Um bando de esqueletos surgiram de trás de uma casa em ruínas, fazendo sons de ossos estalando a seco. Lanças atravessavam seus retos e saiam em suas bocas, com suas colunas cheias de farpas, seus braços e pernas haviam sido arrancados. Eles dançavam pelas ruas em êxtase.

Ao ver o quando horrenda foi a tortura que se abateu sobre seus corpos, Kaito engoliu seco. Um dos esqueletos se aproximou e estendeu os restos de sua mão como se implorasse, com Kaito a segurando sem pensar. Quando o fez, sua mão foi torcida e puxada, mas logo um sou de algo quebrando foi ouvido e o esqueleto foi esmagado.

— Não se atreva a tocar no mestre Kaito, seu lixo!

Kaito apressadamente voltou para trás de Hina. Os esqueletos se aproximavam um atrás do outro, com seu principal alvo sendo Elisabeth, a qual nem sequer deu atenção.

— Céus, como são barulhentos.

Ela estalou seus saltos enquanto caminhava. Toda vez que o fazia, estacas de ferro surgião do chão envoltas em escuridão e pétalas carmesins. Isso se mostrou ineficaz pois uma vez atingidos, eles se montavam novamente. Mesmo com Hina e Elisabeth lutando, não conseguiam ver um jeito de derrotá-los.

— Até quando vocês pretendem ficar fazendo esses ataques fúteis e miseráveis? Vamos. Com certeza você se deu conta que, mesmo se um século se passasse, esses esqueletos nem mesmo me arranharam. Porque não vem pessoalmente? Não me diga que não tem mais cartas para jogar, porque isso seria muito patético.

Os três seguiram abrindo caminho, repelindo os ataques dos esqueletos. Eles chegaram até a estrada principal que levava até o castelo. Ela era larga e muito bem pavimentada por tijolos, em consideração ao grande fluxo de carruagens que passavam por ela. Ela estava cheia de placas de metal derretido, fachadas de casas que uma vez foram esplêndidas e lojas cobertas por cinzas, com seus tetos ainda intactos. Mesmo em seu atual estado de decadência, ainda podia se encontrar traços da antiga prosperidade da cidade.

Naquele momento uma figura aterrorizante podia ser vista guardando o caminho do lugar onde toda aquela tragédia começou. Ela era uma mulher alta, vestindo uma roupa preta da cabeça aos pés, como se estivesse de luto pelos incontáveis mortos.

Seu rosto estava escondido atrás de um véu negro, com seu longo e lustroso cabelo preto balançando ao vento. Tudo que ela vestia, desde seus sapatos e sua longa saia até o colar em seus pescoço, eram pretos. Ela era estranhamente fina, com seu longo vestido negro deixando muito para imaginação. Seu chapéu de abas largas havia sido decorado com uma coleção de lírios brancos. As flores tinham um ar sombrio, como aquelas que deixam nas sepulturas e seu brilho era a única coisa que se desviava de suas vestes negras.

Elisabeth parou, então, com raiva, impôs um pergunta para aquela mulher:

— Suspeita mulher de preto, foi você a necromante responsável por esses ataques irritantes?

— ...Então você não hesita, nem mesmo quando confrontada com as vítimas que atormentou, nem com aqueles que você corrompeu e nem com aqueles que matou sem misericórdia?

Sua voz era muito rouca para uma mulher, ainda sim, de algum modo, soava bem nos ouvidos. Elisabeth franziu as sobrancelhas. Ela apertou seus olhos carmesins, como se a procurasse em suas memórias.

Kaito, que estava a seu lado, também ficou pensativo. Ele não estava acostumado a vê-la demonstrar emoções para seus inimigos que não fossem ódio ou frustração. A mulher continuou em um tom cristalino como água:

— Você por acaso acha que depois de terminar sua refeição não deve se importar com os ossos?

— Exatamente, é o que estava prestes a dizer... Espere... Esta voz, este jeito de falar... Você é...?

A mulher não deu sua resposta às indagações de Elisabeth, invés disso, pegou a saia de seu longo vestido e levantou do chão sujo de cinzas bem alto. De repente os ossos começaram a cair.

Os ossos sacudiam enquanto se montavam em sua forma original. A mulher acariciou os crânio de um dos recém montados esqueletos, como se fosse seu gato. Ao ver os novos inimigos a sua frente, Kaito ficou sem palavras.

Suas mãos e seus pés foram torcidos e suas costas eram curvas como um arco. Eles saltitavam como cachorros nas quatro "pernas". Quando estavam vivos, seus corpos foram presos em uma determinada posição por tanto tempo que já não podiam voltar ao normal.

Havia esqueletos pequenos bem… pequenos... Todos pertenciam a crianças.

Os esqueletos faziam barulho enquanto rastejavam em direção a Elisabeth. Eles tentavam fazer um som com seus dentes, como se quisessem gritar, mas não conseguiam. Mesmo assim Elisabeth não hesitou, os golpeando com suas pernas.

Ela esmagou um crânio de criança com seus saltos. Os ossos se partiram. Seu chute foi tão forte que uma corrente de vento chegou até a necromante, com seu chapéu sendo levado por ela. O rosto daquela mulher, já não mais escondido por seu véu, veio a vista.

Ela sorriu. Ela era linda, mas seus lábios aveludados, seus olhos de amêndoas e um sinal em sua bochecha, davam-lhe um ar genérico.

— Você não manteve contato, senhorita Elisabeth.

Seus olhos azul-cinza se encheram de lágrimas enquanto ela se curvava profundamente. Logo após recolher seu chapéu e limpar a sujeira, ela ergueu sua cabeça, pondo-o na diagonal para que não cobrisse mais seu rosto. Ela continua falando com seus olhos cheios de nostalgia.

— Eu vejo que não mudou nada, jovem senhorita, mesmo que eu tenha sugerido que seria melhor para você fazer alguma coisa a respeito desse seu temperamento.

— Então você... Marianne?

Pela primeira vez a voz de Elisabeth ficou trêmula. A mulher acenou com alegria. Após ver a raríssima reação de Elisabeth, Kaito perguntou:

— Quem é ela?

— Ela foi minha tutora, mas o que está fazendo aqui? Se me lembro bem, você era uma mulher comum, uma com bastante educação e aparência agradável, mas ao mesmo tempo exigente e que também perdeu a chance de se casar. Então porque está aqui e como se tornou isso?

— Está brincando comigo, minha senhora? Você realmente acredita que eu realmente poderia viver como uma mulher normal depois de presenciar toda aquela brutalidade?

A mulher, Marianne, falou como se estivesse cantando o trecho de uma música. Suas mãos delicadas, envoltas em luvas de seda preta, se moveram. Toda vez que ela as subia e descia, os esqueletos espalhados pela rua se moviam de acordo, assim como um maestro regendo uma orquestra. Ela continuou falando:

— Oh, com certeza eu deveria ter fugido depois da infâme princesa da tortura ter gentilmente esquecido de mim. Eu deveria ter saido desta cidade e ido morar no campo, vivendo o resto dos meus dias em silêncio... Mas eu não pude. Não depois de ver minha própria adorável, dócil e teimosa pupila, invocar alegremente aparelhos de tortura e massacrar os inocentes. Depois que eu vi o inferno que você criou, jovem senhorita, eu pensei comigo...

Marianne olhou discretamente para Elisabeth. Um olhar cheio de remorso e pena.

— ...Esta provação foi minha culpa, nascida de minhas próprias falhas. Se eu tivesse sido uma tutora melhor... Seu eu tivesse sido capaz de guiá-la por um caminho digno, então mesmo depois que seus pais morreram, você não teria se desviado tanto. Toda a responsabilidade caiu sobre meus ombros e eu falhei em salvá-la, minha senhorita.

— Quanta bobagem. Qual parte disso é sua culpa? Você tem um ego muito inflado, Marianne. Minha natureza sempre foi cruel desde minha infância e seus ensinamentos nunca a influenciaram, nem para melhor nem para pior. Nada que fizesse teria mudado alguma coisa. Simples assim.

Elisabeth apontou uma de suas unhas negras. Kaito, antecipando o surgimento e aparelhos de tortura, engoliu seco, mas Elisanbeth não invocou nada. Ela apenas apontou.

— Vá. Eu não sei porque apareceu somente agora depois de tanto tempo, mas eu não quero mais ver seu rosto de novo. Você fez muito por mim na minha infância, nos dias em que não podia sair de casa. Eu devo fazer vista grossa novamente, mas não uma terceira vez. Suma de minha vista e quem sabe poderá ter uma morte tranquila.

— Mesmo depois de ser atacada, Elisabeth vai deixá-la ir?

Kaito estava sem palavras. Ele se lembrou da imagem de Elisabeth enquanto criança que viu, tentando imaginar esta estranha, mas gentil mulher ao lado daquela garotinha frágil. Kaito pôde ver uma visão de como seria a tutora e sua pupila teimosa lado a lado com incrível facilidade.

Marianne levou suas mãos ao rosto em desespero.

— É tudo minha culpa... É minha culpa que você se tornou tão corrompida... Eu prec...

— Se recomponha, Marianne! Escute quando os outr...

— Oh, Minha senhorita!

Os ossos dos dedos de Marianne estalaram enquanto se contorcia. Os esqueletos em seus pés a acompanharam em seu ataque histérico, até colapsar. Então se combinaram em uma forma não humana, a de uma montanha, que despencou sobre Elisabeth. Ela deu pouca importância, mas no momento seguinte uma explosão de ossos foi lançada em sua direção e um cavalo pálido se libertou de seu interior.

— Mas o que...?!

Os olhos de Elisabeth ficaram pasmos. Kaito também estava sem palavras. O Cavaleiro, que deveria estar morto, estava montado sobre um cavalo fotoluminescente. Mesmo que se parecesse, ele não era o verdadeira Cavaleiro.

O "Cavaleiro" que estava diante deles era feito de carne putrefata. O peito de seu cavalo estava dissolvido com as costelas expostas. Quem o montava estava coberto por larvas que saiam das fendas de seu capacete. Mesmo para que tivesse sido ressuscitado, seu corpo estava em péssimas condições, mas, ainda como o original, os galopes de seu cavalo ainda eram acompanhados por descargas elétricas. Então um raio surgiu das mãos do Cavaleiro criando uma lança.

— Moedor de ossos!

Elisabeth empunhou um martelo cheio de espetos. Ela esmagou a carne podre do Cavaleiro junto de seus ossos, laçando seu corpo longe. Antes que pudesse ser destruído, o monstro espetou sua lança contra o chão. Seu estado era decadente, mas seus ataques ainda possuiam força.

Marianne, que estava observando com um olhar cabisbaixo, ergueu sua cabeça com um sorriso cheio de devoção.

— São coisas como essa que me fazem lhe amar tanto, senhorita!

Ela gritou histericamente. Sua respiração era ofegante e, como se estivesse tentando conter sua excitação, seus braços se cruzaram ao redor de seu ventre.

Elisabeth deu um passo atrás, com seu rosto ficando visivelmente incomodado. Kaito estava igualmente desconfortável, não só isso como também estava suando frio. Marianne estava diante deles com fogo em seus olhos, claramente fora de si.

— Os pecados que você carrega estão além do que você é capaz de pagar, senhorita. Você irá morrer sem ser amada, amaldiçoada e desprezada. Eu sou a única que pode lhe salvar. Eu sou a única que ousaria tentar. Este é meu dever, o qual foi imposta a mim no momento em que eu não consegui detê-la. Eu estou plenamente decidida, minha jovem senhorita. Eu vou matá-la com minha próprias mãos!"

"Era o Cavaleiro, não é...? Você conseguiu um talento bem estranho. Mesmo que eu tenha falhado em compreender suas intenções, "aquele homem" com certeza foi quem instigou isso. Quanto poder o Kaiser conferiu a você?"

Elisabeth ignorou sua confissão histérica. Marianne sorriu para a questão que foi imposta a ela. Com um som retumbante, os ossos se juntaram mais uma vez em uma torre. Uma chama azul a encobriu. A cena lembrava um ritual de magia negra, com o novo e grotesco Cavaleiro surgindo das chamas. A torre se ergueu de novo e de novo, produzindo cada vez mais deles.

Em frente deles a torre criou uma fileira de pequenas caixas e dentro de cada uma, um sapos em carne viva. Suas incontáveis patas gosmentas caminhavam sobre a rua de tijolos, enchendo a área de veneno.

Adiante deste exército demoníaco estava Marianne, com seus braços abertos.

— Tudo isso é porque eu te amo!

— Você... Você enlouqueceu.

Quando a voz histérica de Marianne alcançou os ouvidos de Elisabeth, ela respondeu com uma voz baixa e por mais discreta que tentou ser, estava realmente abalada.

Hina empunhou sua alabarda em prontidão, com seus olhos fixos em seu oponente, sem nem mesmo desfazer sua postura para falar:

— ... Estou profundamente enojada, ainda sim, eu consigo entender os sentimentos dela.

— // — // —

Nota do tradutor: Por diversas vezes desde que começou o capítulo eu realizei vários cortes. Até então não achei eles dignos de nota, mas pela quantidade achei necessário fazer esta nota.

É dito que Marianne é uma mulher de seios grandes: Resolvi deixar isso de fora porque "em meio a uma cidade queimada até as cinzas cheia de mortos espalhados pelas ruas encontramos uma mulher com um busto exacerbado"...

Quando ela levanta a saia e expõe partes de esqueletos é dito: "Marianne levantou sua saia tão alto que deu para ver que estava sem calcinha. "Em meio ao grito infernal das vítimas do massacre, uma mulher levantou seu vestido expondo pedaços de corpos e suas "vergonhas"......

Os ataques "histéricos" na verdade são ataques "yanderes". Pra quem não sabe vamos simplificar e dizer que são ataques de "paixão" onde ela toca partes do corpo (os seios), fica salivando, fica vermelha e fala em tons sensualizados por causa de sua "paixão" por Elisabeth....................

Também cortei um dialogo entre Hina e Kaito onde ele diz para ela para não seguir os mesmos caminhos que Marianne, afinal as duas são o mesmo tipo de personagem. Esta eu vou explicar: Acho que tirar sarro de uma mulher que enlouqueceu depois de ver homens, mulheres e crianças sendo torturadas pela pessoa que ela amou como filha (olhando por esse lado o que disse anteriormente consegue ficar ainda pior) pega muito mal, tanto como tentar consertar a parte salgada da história colocando açúcar em cima. Tentem fazer isso na cozinha e vão descobrir que não dá certo.

Na verdade, foram muitas mudanças que mudaram consideravelmente o "ar" deste capítulo, mas acho que ficou melhor assim. Qualquer coisa comentem.

— // — // —

— Cuidado, Hina!

O exército de sapos saltaram juntos. Eles não se importaram com o fato deles estarem pisoteando uns aos outros ao investirem em Kaito e Hina. A automata foi tão rápida que sumiu e reapareceu em frente aos sapos, brandindo sua arma.

— Como se atrevem...

O peito do sapo mais próximo explodiu, com suas entranhas e veneno chovendo em cima dos seus companheiros. Hina investiu, quase dançando em cima de sua carcaça por conta de seus golpes. Todos os monstros a sua frente foram aniquilados. Ela balançou sua alabarda mais uma vez, para limpar o veneno da lâmina e logo em seguida parou.

— ... Os pedaços de carne atrapalham...

Hina baixou seu centro de gravidade, partindo em uma corrida feroz. Já ao lado do cavalo do Cavaleiro, ela desferiu um golpe que o partiu em dois. A parte de baixo da montaria foi lançada longe. A parte de cima caiu no mesmo lugar em que estava, com o Cavaleiro atônito ainda montado. Hina decepou a cabeça do cavalo, com o cavaleiro já sem as pernas caindo e tendo sua cabeça esmagada com um chute dela.

O caminhar gracioso e elegante de Hina a levou de volta para Kaito. Ela limpou mais uma vez a sua lâmina, ajeitou sua postura e sorriu para seu mestre. De fato, era um sorriso angelical.

— Mil desculpas. Eles não mais ficaram em nosso caminho, meu mestre. Pelo seu bem eu posso abraçar a morte de bom grado, mas tenha certeza: Eu não deixarei que toquem com um único dedo em seu precioso corpo.

— Obrigado, isso é um grande alívio. Agora que me dei conta: Oque aconteceu com Elisabeth?

Kaito, embora pasmo com a força de Hina, tratou imediatamente de procurar por Elisabeth.

Os demônios produzidos em massa estavam investindo contra Elisabeth em ondas, entretanto, ela não demonstrou preocupação, muito pelo contrário, balançava uma bola de espinhos ao redor com desenvoltura, quebrando eles em pedaços.

— O que exatamente eles são, Marianne?

— Quando o Cavaleiro ainda estava vivo, tratei de tomar uma amostra de seu sangue e a usei como catalisador para invocar uma parte de sua alma e duplicá-la. Este é o resultado de colocá-la em invólucros temporários de carne.

— Isto não seria possível para uma simples necromante. Vlad com certeza lhe ajudou.

— De fato. Ele foi de tremenda ajuda para mim. Eu tive que sacrificar muitas pessoas para chegar até aqui. Isso foi tudo por você, senhorita. Que escolha eu tinha? Esses sacrifícios foram todos necessários para que uma fraca e ordinária mulher como eu podesse enfrentar a Princesa da Tortura.

Em meio às palavras de Marianne, um grupo de demônios se formou. Seu material de base provavelmente era carne humana. A cidade estava coberta de esqueletos, sem nenhum pedaço de carne. O estômago de Kaito se contorceu quando pensou na quantidade que ela precisou para usar esta técnica.

Marianne juntou suas mãos envoltas em luvas de seda preta, como se rezasse.

— Sim... Eu não tive escolha. Eu não tive escolha! Eu não tive escolha nenhuma! Para poder me tornar como você, eu não tive escolha se não suportar os mesmos pecados!

Chamas azuis correram ao seu redor com sua intensidade variando conforme ia aumentando sua voz. Elas se juntaram como se recriassem o mesmo fogo que havia tomado conta da cidade e com isso mais um exército de cavaleiros se formou.

Os novos lacaios atacaram Elisabeth, enquanto uma nova onda de sapos avançavam sobre Hina e Kaito.

— Como se atrevem a mostrar seus rostos deformados diante do mestre Kaito?!

Hina empunhou sua alabarda, mas antes tratou de prever como o veneno se espalharia antes de cortá-los. De repente os ossos espalhados pelo local se juntaram para formar um escudo e bloquear os seus ataques. Eles não foram páreos para seus golpes, mas serviram ao seu propósito de proteger os sapos.

— Hina, você está...

— ...Quanto à insolência!

Hina gritou, então desferiu um ataque com a sola de seus pés no focinho de seu inimigo. Sua cabeça ficou em pedaços, com o corpo padecendo logo em seguida. A saia de seu vestido flutuava graciosamente enquanto aterrissou com maestria.

— Estou agradecida por sua preocupação, mestre. Que homem gentil você é... Mas era apenas um problema trivial.

Quando Kaitou olhou novamente para Elisabeth, suas circunstâncias pareciam as mesmas de antes.

Vários esqueletos estavam presos a sua bola de ferro. Ainda que seus corpos estivessem em frangalhos, eles se agarravam nos espetos e enterravam seus pés no chão para tentar fazê-la parar. Kaito então entendeu qual era o plano de Marianne: Ela estava usando os corpos que Elisabeth deixou para trás soterra-la.

— Ah, você consegue sentir isso, senhorita? O remorso percorrendo sua pele e a angústia preenchendo seu peito? Você está à beira de ser morta pelos inocentes que massacrou tempos atrás. Consegue sentir? Consegue sentir eles desejando sua carne e seu sangue? Consegue sentir todo ódio e a tristeza daquelas que assassinou?

Marianne apertou seus braços em torno do abdómen enquanto gritava histericamente. Lanças foram apontadas para Elisabeth de todas as direções.

— Você entende, senhorita? Entende que aqueles que matou poderiam ter vivido uma vida normal? Você não tinha o direito de ter matado nenhum deles. Nenhum deles!

Marianne estava visivelmente instável. Sua histeria havia sido varrida de seu rosto. Ela apertou seu abdômen com ainda mais força, tanto que respirava com dificuldade, como se tentasse mostrar sua dor em meio a lágrimas.

— Por que, senhorita? Porque fez algo tão terrível? Porque não consegue entender o quão errada você está?! Porque, Elisabeth!!!

Kaito encarou mudo. Tudo oque Marianne dizia e fazia era contraditório. Ela estava tentando de bom grado matar Elisabeth por causa do seu amor, mas ao mesmo tempo tentava fazê-la cair em arrependimento.

— Senhorita, porque não consegue entender...? Eu vou para-lá. Vou fazer oque tem que ser feito. Todos vão gritar. Eu tenho que matá-la. Eu preciso para-la. Eu preciso... Eu. Minha. Elisabeth, minha culpa. então...

O que estava diante de Kaito, Elisabeth e Hina não passava de uma casca vazia do que um dia foi uma mulher. Marianne deu uma gargalhada sinistra e cobriu seu rosto. Por pouco não pareceu um grito. Os lírios de seu chapéu balançavam gentilmente. Mesmo com Elisabeth estalando sua língua, ela falou com delicadeza.

— ... Que estado miserável você está, Marianne. Eu suponho que eu seja mesmo a culpada disso.

De repente Elisabeth parou de andar. Kaito ficou a observando. Uma mão esquelética a agarrou e puxou para dentro do mar de mortos. A Princesa da Tortura foi enterrada entre ódio e a sede de sangue daqueles que ela assassinou.

Repugnante Elisabeth, repulsiva, Cruel e hedionda Elisabeth! Amaldiçoada seja! Que queime por toda eternidade!”

Kaito pensou que pudesse ouvir os gritos dos mortos. Ele gritou se recusando a escutar suas palavras.

— Elisabeth! Pare de ficar fazendo cena e volte pra cá de uma vez!

— Lady Elisabeth, eu estou indo!

Hina também gritou e então correu para ajudá-la, mas, antes que conseguisse chegar, a pilha de ossos começou a se contorcer e a murmurar, dando a Elisabeth a mesma dor que um dia eles sentiram. Marianne subiu o tom mais uma vez:

— Você entendeu? Como finalmente entendeu, senhorita? Ah, minha senhorita. Minha querida Elisabeth!

— Eu já tinha entendido... Desde o...

Uma voz baixa vazou da pilha. Hina então parou no meio do caminho. Quando o fez, a voz explodiu.

— Começo!!!

Em conjunto com sua voz odiosa, correntes surgiram de todas as direções. Elas tiniram ao serem lançadas por Elisabeth, se enrolando e girando como um tornado, dilacerando o que restava dos corpos esqueléticos.

A tempestade de correntes aumentou, florescendo como uma rosa de ferro. Elas cavaram o chão, lançaram destroços e esmagaram ossos até virarem migalhas. Se já não tivesse bastado ter torturado aquelas pessoas, agora ela as estava pulverizando. Após ver as correntes parecerem cobras com ódio, Hina louvou a mestra de seu mestre.

— Parabéns, Lady Elisabeth! Não esperava nada menos. Entretanto isto é... Cuidado! Perdão, mestre Kaito.

Hina retornou a ele o mais rápido que pôde e o colocou em seus braços para tirá-lo de lá. Quase imediatamente o lugar onde estavam foi atingido pelas correntes. Uma casa semi-destruída apareceu em seu caminho e as correntes terminaram de colocá-la abaixo. Cinza e farpas se espalharam pelos ares.

Uma vez que a impressionante nuvem de poeira baixou, Elisabeth estava lá, sozinha, respirava com dificuldade. A Espada Executora de Frankenthal estava em uma de suas mãos com uma luz incandescente.

Marianne deu um passo atrás. Os poucos Cavaleiros restantes se alinharam em frente a ela. Antes que pudessem atacar, Elisabeth fincou sua espada no chão.

— Buraco infernal!

Com suas palavras a terra estremeceu. Uma longa cavidade em forma de cone surgiu bem no meio da rua, com os Cavaleiros caindo nela. No fundo daquele buraco gigantesco, um mar infinito de insetos esperneava e gritava. Eles tinham carapaças lustrosas de ferro preto e pareciam não pertencer àquele mundo. Os insetos envolveram os inimigos, fazendo sons terríveis ao comerem a carne putrefata deles. Eles pareciam agradecidos pelas generosas oferendas.

Marianne recuou, mas não pôde escapar das correntes que saiam do chão como serpentes. Elas a prenderam da cabeça aos pés. Ela foi içada no ar assim como Elisabeth havia sido quando Kaito a viu pela primeira vez.

Marianne olhou diretamente para Elisabeth, esperando pelo final da resposta que ela começou. Ambas as mãos de sua pupila estavam no cabo de sua espada e ela estava mais séria do que nunca.

— Me desculpe, Marianne. Eu já tinha entendido isso a muito, muito tempo.

Marianne olhou com surpresa.

— Eu não tinha o direito de ter ceifado a vida de uma única pessoa neste mundo. Todo aquele que matei tinha uma vida saudável, uma vida que eles tinham todo o direito de viver como bem quisessem. Eles eram inocentes e eu os matei. Eu os matei com crueldade, de uma maneira terrível, sem piedade e sem justificativa. É como disse Marianne: Nem mesmo minha morte vai ser o suficiente para pagar pelos meus pecados.

A voz de Elisabeth carregava consigo a sinceridade de uma confissão, ainda assim ela não se arrependia nenhum pouco, se mantendo firme em sua declaração.

— Eu me tornei a Princessa da Tortura com plena consciência das consequências.

Elisabeth não disse nem mais uma palavra. Seus cabelos balançavam ao vento, vento que parecia carregar o calor do antigo fogo que ali queimou. De fato, um vento que sussurrava da mesma forma que o lamento dos mortos com sua sede de vingança. Tomando todo ódio e a malícia dos mortos para si, Elisabeth seguiu em frente.

— Eu não pedirei perdão, nem por sua simpatia, porque é verdade que eu me deleitei com seus gritos e me banhei em seu desespero. Você deve guardar todo o desdém por mim quando morrer. Me insulte e amaldiçoe meu nome... Mas gostaria que me desculpasse, Marianne.

— ... Elisabeth...

— Eu pretendo lhe encontrar em breve... Muito breve.

Os lábios de Elisabeth tremeram. Por um breve segundo ela fez expressão de uma garotinha indefesa. Ela retomou a força não com que segurava sua espada. Marianne, ao vê-la daquele jeito, balançou sua cabeça, fechou seus olhos e logo em seguida abriu, então falou com os modos de um professor.

— Jovem senhorita, eu sei que a espada de Frankenthal é um poderoso catalisador, capaz de invocar correntes e dispositivos de tortura, mas também sei que ela em sí foi feita para permitir que os executores deem uma morte indolor aos condenados antes de os colocar na estaca. Uma arma forjada da gentileza. É com isso que pretende me matar?

— Sim. Com esta lâmina eu colocarei um fim a uma louca e pacata mulher.

— Não posso concordar com isso, senhorita. Não é do seu feitio. Seria muita hipocrisia você demonstrar misericórdia a alguém, principalmente a mim, como se dissesse que minha vida vale mais que as outras que ceifou. Você deve me torturar como todos os outros.

Elisabeth franziu a testa. Ao desafiar Elisabeth, Marianne tinha um olhar flamejante com determinação.

— Se você rejeita a idéia de me fazer sentir dor, então me mate através da dor. Só então o mundo estará livre de qualquer pessoa capaz de abalar sua determinação. Se você quer manter seu poder, não pode ter nada que lhe atrapalhe de usa-lo.

— // — // —

Nota rápida: Acontece meio que um jogo filosófico neste diálogo, mas infelizmente tive que interpretar e resumir, pois acredito que envolva valores da cultura japonesa que são complexos e estranhos para nós ou o autor viajou na maionese. Não sei dizer qual dessas hipóteses está certa.

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Marianne fechou seus olhos e depois os abriu gentilmente. A expressão que mostrou para Elisabeth era severa. A professora de sua infância seu mostrou mais uma vez.

— Se você fizer vista grossa, mesmo que para uma única pessoa, sua determinação irá enfraquecer. É assim que as coisas são.

Elisabeth não respondeu, mas Marianne mudou suas expressão de novo, de professor, para um adulto falando para uma criança obstinada, com um olhar cheio de afeto.

— Eu te amei do fundo do meu coração, Elisabeth. Mesmo agora, eu te amo tanto quanto você era criança.

Ela sorriu. Suas próximas palavras estavam cheias de tristeza.

— Depois que me matar, eu acredito que não haverá ninguém nesse mundo que te ame de verdade.

— Sim... Não terei mais ninguém, nem mesmo uma única pessoa, pelo resto da eternidade.

Elisabeth confirmou com timidez a afirmação de Marianne que acenou para ela com a cabeça. A professora então baixou o seu olhar esperando pelo pior. Sua pupila largou a espada de Frankenthal.

Seus longos e sedosos cabelos pairavam no ar e seus olhos estavam virados para o céu. Sua expressão era calma. Um silêncio pesado se abateu sobre eles. Nenhuma das mulheres, nem a executora nem a executada se moveram.

Foi quando os arredores de Kaito congelaram…

— // — // —

"... Que... Diabos?"

O som de vidro quebrado havia sumido. Depois de alguns segundos, Kaito se deu conta o quão estranho estava seu entorno.

Tudo ao alcance da vista estava congelado, com um leve brilho azul. Não apenas Elisabeth e Hina, mas também os fragmentos de ossos lançados pelo vento e as nuvens de poeira. Ele tentou alcançar os objetos, entretanto algum tipo de película transparente o impedia de tocá-los.

— O que está acontecendo? Hina! Elisabeth!

Sua voz não conseguiu alcançar nenhuma delas. Durante sua confusão, Kaito de repente sentiu alguém atrás dele, fazendo se virar com a força do susto.

— É um prazer conhecê-lo, ó alma imaculada.

— Estou honrada com sua presença, ó alma pura.

Duas garotas se curvaram para ele segurando as saias de seus vestidos de forma bastante polida. Seus uniformes de serviçais eram ainda mais antigos que o de Hina. Uma carregava uma caixa atada com um laço e a outra segurava um relógio com os ponteiros parados. Ambas tinham um longo cabelo feito de fios trançados de ouro e seus olhos eram cristais púrpuros. Vendo tantas partes não humanas, Kaito pôde perceber que não eram humanas.

Eram bonecas, assim como Hina. Elas ficaram inexpressivas enquanto falavam. Apenas seus lábios se mexeram.

— Você acha que Elisabeth irá matá-la?

— Acha que a Princesa da Tortura pode mata-la?

— O que? Que diabos vocês duas estão dizendo?

— Que coisa mais dolorosa, matar um ente querido.

— Que tristeza, tirar a vida de alguém que admira.

— Entendo, vocês estão certas, mas não é como se eu pudesse impedi-la.

Kaito apertou os punhos com forças. Ele não conhecia nada sobre os laços de Marianne e Elisabeth. Ele não tinha como saber quais memórias elas fizeram juntas ou oque estava se passando em suas cabeças naquele momento.

A decisão estava apenas nas mãos de Elisabeth. Kaito certamente não permitiria que ela fosse adiante com aquilo, ainda mais considerando o quão limitado era seu conhecimento da situação. As serviçais balançaram suas cabeças em sincronia.

— Ninguém disse para impedi-la.

— Nós não nos referimos a nada deste tipo.

— A questão que lhe impomos não diz respeito a Elisabeth, mas a você —

— O que querem dizer?

Kaito não tinha ideia a que ponto queriam chegar. Quem eram elas para início de conversa?

A empregada carregando a caixa soltou alguns sons mecânicos, então lentamente caminhou adiante. Kaito, desconfiado, deu um passo atrás. A garota desfez o laço e mostrou seu conteúdo para ele.

Kaito cobriu sua boca, assolado por uma forte vontade de vomitar. Dentro da caixa estava uma pilha de aranhas com penas de corvos crescendo por todo seu corpo. Elas rastejavam uma sobre a outra com suas patas cobertas pelas penas. E lá estava, enterrado sobre aquele amontoado de horrores diminutos, um recém nascido. Quando Kaito tentou salvá-lo, parou antes que suas mãos alcançassem a caixa.

— Não pode ser.

— Ora, ele se deu conta?

— De fato, ele percebeu?

Depois de um segundo olhar, pode-se notar que patas de aranha estavam saindo da cintura da criança. Ela já tinha dentes e seu sorriso era, por incrível que pareça, cruel. Um choque atingiu Kaito quando compreendeu o que era aquilo.

— Isso... é o Conde?

Agora que pensou sobre isso, o Conde estava fora do grupo de demônios revividos por Marianne. Assolado pelo desgosto, tratou de tomar distância.

— Marianne possui a alma do Conde também.

— Nós a colocamos no corpo desta criança.

Do Jeito que as coisas estão, quando ele crescer irá se tornar igual àquele homem grotesco.

O menino acaricia as aranhas com sua mão gorda como alguém que estava acariciando um mascote. Uma certa inteligência astuta estava em seus olhos e com uma risada de escárnio ao olhar para elas.

Kaito levantou seu punho, mas não pôde se convencer a baixá-lo. Se ele estivesse encarando o Conde original, o teria matado em um piscar de olhos. Ele sem sombra de dúvidas o teria esquartejado membro por membro, entretanto a criatura diante dele ainda mantinha a mesma natureza de seu inimigo, mas também era só uma criança.

Kaito poderia matá-lo facilmente e ao mesmo tempo estaria fazendo o mesmo que seu pai. Ele se forçou a desfazer seu punho e pôs as mãos sobre seu rosto pálido.

As serviçais, que observavam tudo, olharam uma para outra e continuaram:

— Ah, é tão difícil fazer uma escolha no calor no momento.

— Bem, nós podemos esperar que atenda a nossas expectativas.

— Por hora será o bastante.

Subitamente, a serviçal levantou a caixa, então, sem um pingo de hesitação, ela a jogou contra o chão. As aranhas, em pânico, tentaram correr por entre as frestas na caixa, mas foram esmagadas pela criança que forçou seu caminho para fora. A empregada, que estava com a caixa, colocou seu pé sobre a criança e depois a esmagou com toda sua força. Seu poder era sobre-humano, tanto que o bebe foi completamente esmagado, com sangue azul saindo de suas feridas.

— Agora que ele está morto, se sente melhor?

— Agora que lidamos com ele, se sente aliviado?

— Como eu est...? Não, é mentira. Eu estou aliviado, droga. Por Deus! Vocês não fizeram esta coisa? Porque então...

— Precisamente. Nós a fizemos, mas mesmo que ela esteja morta nós podemos fazer mais.

— Desde que Marianne, a necromante que carrega sua alma em seu útero, nós podemos fazer quantos quisermos.

Após ouvir isso, o sangue do rosto de Kaito foi drenado. Ele observou o corpo mutilado. Sua capacidade de produzir mais dessas coisas era algo que não podia tolerar.

— Agora, eis a questão. Você mataria Elisabeth? Ou você não mataria?

— Se ela não puder matá-la, nós pretendemos raptar Marianne e usá-la para criar um exército de condes.

Kaito olhou para o rosto pálido de Marianne. Nele estava estampado sua determinação para morrer e sua exaustão perante a vida. Ela não era o tipo de pessoa que deveria se tornar um necromante.

— ...Quer dizer que vocês vão explorá-la ainda mais? Ela já não teve o suficiente?

— Até que seu frágil coração quebre, nós pretendemos produzir condes em massa e libertá-los pelo mundo.

— Ah, aquele espetáculo vai vir a público mais uma vez. Incontáveis e encantadores Grand Guignols serão exibidos.

As empregadas riram em sincronia. Kaito foi tingido de fúria. Ao mesmo tempo, imagens de aranhas rastejando passavam por sua cabeça. Os gritos ensurdecedores de crianças eram ouvidos em sua mente. Neue amaldiçoando seu destino e depois sorrindo amargamente. O garoto sendo puxado para a escuridão e depois desaparecendo. Kaito pensou ter ouvido seu lamento, até mesmo seus ossos se partindo. A primeira pessoa a desejar-lhe felicidade sendo brutalmente assassinada. Sua mente foi preenchida por mágoa e sede de vingança. Em algum lugar dentro dele, um estranho som retumbava. Seus olhos estavam abertos como um maníaco assassino quando impôs uma questão as suas ouvintes.

— ... Vocês acham que eu vou deixar?

— Você é impulsivo, mas sensato, devo admitir.

— Mas não somos nós que você deve encarar.

As serviçais seguraram as saias de seus vestidos mais uma vez, dobrando os joelhos para se curvarem com elegância. Aquela que estava com a caixa apontou para Marianne, presa pelas correntes. A outra levantou seu relógio.

— Agora, devemos prosseguir?

— Você tem apenas alguns segundos para fazer sua escolha. Aja rápido se preferir.

— Faça como quiser, mas tenha a certeza que não tenha arrependimentos.

As duas desapareceram. A cor voltou ao mundo. O vento gelado soprou e levou as nuvens de poeira com ele. Elisabeth mordeu seus lábios, então levantou sua mão. Aquele foi o sinal para Kaito agir.

Disseram a ele que tinha apenas alguns segundos para decidir, por isso não esperou para ver o que aconteceria se ela estalasse os dedos ou não. Se não não o fizesse não haveria tempo de evitar que a situação piorasse.

Kaito havia entendido perfeitamente as duas insinuaram. Sua consciência estava limpa, pois sabia oque tinha que ser feito. Ele pegou a espada de Frankenthal que estava cravada no chão. A lâmina era surpreendentemente leve, talvez pela magia embebida nela. Elisabeth se virou, com seu olhar carmesim claramente alarmado pelas atitudes dele. Ignorando isso, seu corpo foi praticamente lançado para frente. Kaito sabia o quão cruel era aquilo.

Não importa o que eu faça, Marianne irá morrer de todo jeito, seja pelas mãos de Elisabeth ou por ser usada até a morte. Só restava seguir este caminho.”

De todo modo ela não pode fugir de seu destino. Reconhecer a realidade de sua situação ajudou-o a amenizar seu sentimento de culpa enquanto procurava por uma possível "terceira opção".

...Desculpe.

Kaito atravessou Marianne com a espada que correu quase sem resistência pelo seu peito.

— ...Porq...?

Marianne tossiu sangue. Seus olhos estavam arregalados com surpresa. Kaito aliviou-se quando sentiu o sangue quente correndo por seu rosto. Por um segundo, ele não se deu conta do que tinha feito. De repente um sentimento nauseante se apoderou dele quando viu suas mãos sujas de sangue. Sua vista alcançou Marianne, a mulher que acabara de matar.

Seu rosto estava perplexo. Kaito pediu desculpas de novo e de novo. Por alguma razão ela sorriu gentilmente.

— Ah... Muito... Obrigada... Era... Assim que... Tinha que ser...

Suas palavras eram entrecortadas. Ainda com uma expressão tranquila, sua cabeça foi baixando cada vez mais. Admirado, ele revisou suas palavras que ela disse em sua mente. Quando o fez, um potencial final para suas palavras lhe veio a tona.

— Espere, foi você que...?

Talvez Marianne não quisesse adicionar mais nenhum pecado ao fardo de Elisabeth, mas antes que ele pudesse terminar seu raciocínio, ele foi arremessado. O chute foi tão forte que o arrastou rua abaixo entre cascalho e cinzas até bater em uma pilha de escombros. A dor que correu pelo seu corpo foi tão intensa que ele tinha medo que seus órgãos tivessem se rompido, além do fato de ficar tossindo sangue.

Elisabeth estava no mesmo lugar de antes. Ela olhou para o corpo de Marianne. Seu rosto estava desprovido de expressões. Ela então pegou o cabo de sua espada, ainda presa em Marianne e a puxou com força. O sangue esguichou da ferida, tingindo o chão de preto. Seus cabelos flutuavam com o vento enquanto ela se virava para Kaito. Seus olhos estavam queimando de puro ódio.

— Por que agiu por conta própria, seu imundo?! Dependendo da resposta que me der, sabe muito bem qual punição lhe aguarda.

Seu salto alto estalou enquanto se aproximava, com ela parando logo em frente a Kaito. Ele estava olhando pasmo para a mão pálida que vinha a seu encontro. Antes que seus dedos o alcançassem, sua visão ficou turva. Hina o havia pego e saltado para outro lugar. Ela raspou no chão ao aterrizar, carregando ele em seu braço esquerdo, com o direito segurando sua alabarda em prontidão. Elisabeth estalou a língua.

— Largue-o, boneca.

— Eu me recuso. Você não é minha mestra.

As duas trocaram olhares uma com a outra. Sabendo que este não era um inimigo que ela poderia lutar com apenas uma das mãos, Hina gentilmente largou Kaito e ficou a sua frente como um escudo. Apertou seus lábios com frieza.

Tentando evitar a luta, Kaito abriu sua boca, mas sua respiração era tão dificil que não pôde falar. Ele tentou seu melhor para reunir forças em seus pulmões.

— Ei, vocês... Duas, parem com is...

Quando finalmente conseguiu forças para falar, ele se deu conta que o tempo havia congelado de novo.

Mesmo com a visão embaçada por conta da dor no abdômen, ele conseguiu enxergar as serviçais diante dele. Uma estava com os sapatos encardidos com o sangue do bebe e a outra estava com seu relógio. Elas viraram seus olhos púrpuros esculpidos por Kaito sem dizer uma única palavra. Seus rosto então se contorceram em uma expressão que era tudo menos natural.

As donzelas vestiam sorrisos horrendos e mesmo assim ainda se curvaram mais uma vez com elegância.

— Você passou, alma imaculada.

— Nosso mestre chama por você.

Elas murmuraram contentes e partiram para agarrar Kaito pelos ombros. Ele tentou sem sucesso resistir enquanto era arrastado. Tudo o que pôde fazer foi olhar por cima do ombro. Ao tomarem distância, o mundo congelado envolto em uma película azul voltou à vida.

— O que? Kaito?

— Mestre Kaito? Não pode ser! Mestre, onde está você?!

Elisabeth e Hina ambas deram falta dele e o procuraram nos arredores. Ele não estava longe delas. Kaito podia ver tudo, mas só podia desejar que o vissem. Hina chegou a virar em sua direção, mas um rugido soou.

Trevas surgiram, tomando consigo a luz, como se quisessem bloquear sua visão. A escuridão então tomou a forma de músculos torcidos e pelos lustrosos. Não tardou sua transformação em um cachorro gigante e medonho, com olhos carmesins flamejantes como o fogo do inferno. O Kaiser havia chegado, parando consigo o tempo.

Ele riu com uma voz que parecia ser quase humana. Esta foi a última coisa que Kaito viu antes de perder a consciência.

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