Torture Princess Japonesa

Tradução: MatheusPD


Volume 1

Capítulo 3: Caça ao Tesouro

O fígado de cervo selvagem marinado com uvas passas voou pela sala.

Kaito segurava uma bandeja de prata para se proteger da chuva de comida. Ele então bloqueia uma faca, lançada logo em seguida, com maestria.

Eu. Já. Te. Disse. Para não ficar jogando comida!

Esta forma de expressão já se estendia por 2 semanas. Ele já estava mais que acostumado, tanto que até se assustou com sua apatia.

De todo modo, ele terminou de bloquear os ataques e colocou seu olhar sobre o culpado: Elisabeth.

Ela colocou um pé em cima da mesa, pressionando sua testa com seu dedo indicador. O copo de vinho que Kaito havia preparado com tanta delicadeza, estava virado. Lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ela gritava.

Isso é horrível! A doçura e a acidez das uvas passas... O fígado capaz de encher a boca com gosto a sangue, mesmo estando seco como areia... Ambos os sabores combinam tão mal que eu tenho certeza que você foi abençoado com o dom da destruição culinária!

Estou honrado em receber este elogio.

Isto não é um elogio!

Ela atirou um garfo contra ele. Em uma impressionante demonstração de precisão, o garfo acertou alguns centímetros acima da bandeja, ficando cravado na testa de Kaito. Ele a arrancou fora. Sangue jorrou de sua ferida.

Senhorita Elisabeth, ó Senhorita Elisabeth. Aparentemente estou sangrando.

E o que me interessa?! Um servo meu deveria se curar apenas com o poder da força de vontade.

Não estou certo do quanto este poder pode me ajudar.

Kaito pressionou sua ferida e suspirou. De fato, ferimentos deste tamanho já não o incomodavam. Ele já estava acostumado com a dor do dia-a-dia, afinal. Depois de ter sua mão arrancada e reimplantada, essas pequenas coisas nem o faziam suar mais.

As pessoas realmente se acostumam com tudo, mesmo assim, sua comida se recusa a melhorar.

Em matéria de comida, a habilidade de Kaito beirava o inexistente, por causa disso, ele não conseguia chegar a um acordo com a fúria de Elisabeth, por mínimo que fosse.

Nesse ponto ele nem se esforça muito para melhorar. Ainda sim, por alguma razão, Elisabeth ainda nutria esperanças nele, mas o seu desapontamento só crescia a cada dia que passava.

Eu já perdi as esperanças em sua culinária, por isso, não precisa fazer o jantar esta noite.

Ela disse isso após o segundo prato de Kaito, Coração salgado grelhado, também ter fracassado. Quando finalmente desistiu, Elisabeth foi até a sala do trono. O céu azul aparecia através do buraco na parede, resultado da batalha anterior. A besta do Cavaleiro havia sido a responsável, mas a dona do castelo acabou deixando assim sem se importar. Estranhamente ela ainda continuava a utilizar a sala, mesmo com os danos.

Elisabeth se ajeitou no trono, logo em seguida apoiou sua cabeça entre as mãos. Sua expressão lembrava a de alguém com dor de cabeça. Ela então apontou para uma porta a qual Kaito não tinha familiaridade.

— Em troca, eu ordeno que você passe o dia vasculhando o tesouro.

Tesouro?

Quando Kaito terminou de repetir estas palavras, Elisabeth pisou com força no chão. No meio da sala uma espiral de trevas e pétalas carmesins se abriu, como a chama de uma fogueira. Ela convergiu para um único ponto, gravando um retângulo incandescente no piso, então desapareceu deixando para trás uma porta.

A porta se abriu a partir de dentro, como se usa-se engrenagens para isso. Por trás dela havia uma escada caracol. Considerando o projeto do castelo, seria muito estranho haver uma escada dessas debaixo da sala do trono, mas pra começo de conversa portas também não surgem do nada. Kaito achou que seria melhor deixar seus pensamentos para ele mesmo, mas demonstrou estar impressionado.

Eu não sabia que existia um lugar desses aqui no castelo.

De fato há. Um pensamento passou pela minha cabeça depois do empecilho com o Conde outro dia. Sua comida é pior que a de porco, mas seu purin é deveras saboroso e sua habilidade de se manter racional estando sob pressão, juntamente com o sua falta de medo por minha pessoa, são dignos de nota, quando estende os lençóis, você não esconde descontentamento, por exemplo. Por isso decidi lhe conceder uma para arma, para usar caso eventualmente precise se defender contra um demônio sozinho.

Bem... Acho que eu deveria dizer que estou feliz ou será grato?

Um adendo seria o fato de que o lugar o qual chamo de "tesouro" é um espaço mágico. Eu peguei tudo do meu castelo na minha cidade natal e os joguei no tesouro. Os objetos lá embaixo estão embebidos em ódio e memórias amargas, então tome cuidado no que encostar, alguns podem até mesmo te matar.

Espere um pouco, isso é só mais uma forma de punição!

Cale-se! Pare com esse choro e vá de uma vez!

O chute que se seguiu depois dessas palavras fez com que Kaito voasse como um brinquedo.

Lá estava ele mais uma vez sendo chutando para longe, em direção a nova escadaria. Com um tempo incrível a porta começou a se fechar atrás dele. Ele tentou empurrar e puxar, mas ela sequer se mexeu.

Seu caminho de volta foi cortado.

Essa Elisabeth é louca!

Naquele instante a escadaria começou a chamá-lo, encorajando-o a segui-la. Os degraus flutuavam no ar e gentilmente se curvava para o caminhar de Kaito. Ele olhou para baixo, mas tudo oque viu foi uma descida que não parecia ter fim. Um vento morno soprou das profundezas. Ele não sabia dizer se havia sequer um andar no final de todos aqueles degraus.

...Você só pode estar brincando.

Kaito por reflexo engoliu a seco quando olhou para aquela série de escadas flutuando sem ao menos um corrimão. Ansiedade brotou de seu coração, mas ele sacudiu sua cabeça e reavaliou a situação.

"Elisabeth geralmente tem algum objetivo com as coisas que diz."

Ele iria precisar de uma arma se ele pretendesse lutar contra os demônios. Se tivesse uma consigo antes, talvez a luta contra os corvos e a aranha tivesse sido diferente. Não hávia nenhuma garantia de que ele não fosse se encontrar de novo em uma situação parecida. Ele não queria fazer o mesmo erro uma segunda vez.

Nunca mais…

Se isso significava procurar através de uma espaço mágico, então assim seria.

Pelo visto não tenho escolha.

Kaito encarou a escadaria, a qual não seria de se admirar que dessem para as profundezas do inferno e se reergueu. Ele abriu seus braços para se equilibrar, com o barulho de seus passos ecoando através das trevas abaixo dele.

// — // —

Ele esperava que as trevas ao seu redor continuassem para sempre, se surpreendendo ao descobrir que estava errado.

Enquanto caminho, entulhos começavam a aparecer entre as escadas. Uma gaiola gigantesca e uma dama de ferro apareceram na penumbra, seguidas por um balanço e um cavalo de madeira sem seguir nenhuma ordem ou motivo para estarem ali. Com as ferramentas de tortura ficando cada vez mais a mostra, podia-se ver terríveis evidencais de seu uso. O peito da dama de ferro estava coberto por sangue coagulado e os espinhos que recobriam a gaiola estavam cobertos de pedaços de carne e gordura.

Kaito percebeu algo enquanto olhava para as ferramentas enferrujadas. Diferente daqueles invocados por Elisabeth com magia, estes eram reais. Os que Elisabeth conjura são sempre sem uso. Não havia dúvidas que ela possuía a habilidade de invocá-los sem limite, todos livres de ferrugem ou gordura.

"Então porque este lugar está cheio deles?"

Agora me pegou.

Balançando a cabeça, Kaito continuou.

De repente ele descobriu que as escadas haviam desaparecido e seu caminho ficou nivelado novamente. O lugar começava a tirar o senso de equilíbrio de Kaito sem ele se dar conta até ter piorado. O chão de pedra parecia mais com um grande degrau e ele continuou como se não houvesse fim.

Os itens ao seu redor ficavam cada vez mais desorganizados. Havia uma gema do tamanho de seu punho, um vaso redondo coberto com ornamentos tridimensionais e um barril antigo com rum. Havia uma pele de tigre, havia marfim, um candelabro quebrado, algum tipo de múmia pequena. Lá estava um machado de bronze, uma espada de ferro e um lança de prata.

Ele puxou a espada mais bonita de um vaso que ali estava e começou a cambalear para atrás.

Não dá... É pesada demais... Aquele machado e aquela lança não parecem melhores.

As armas que o Conde havia preparado deviam ter sido escolhidas para crianças usá-las, entretanto, as armas do tesouro eram feitas para soldados e cavaleiros experientes. Elas não pareciam ter nenhum tipo de assistência mágica também. Como Kaito não tinha passado por nenhum treino, ele duvidava que poderia usá-las com um mínimo de eficácia.

Ele deixou a espada de lado, ela caiu e afundou em uma pilha de moedas de ouro, que lembravam a cama de um leão. Desviando seus olhos das riquezas, ele continuou andando, mas quanto mais longe ia, menos semelhantes a armas os objetos se tornavam.

Uma cadeira aparentemente confortável. Uma peça de costura bordada. A pintura de uma floresta profunda.

...huh?

De repente Kaito pisou em algo macio. Quando olhou para baixo encontrou um ursinho de pelúcia com algodão saindo por seu peito. Ao examinar o lugar ele percebeu estar rodeado por brinquedos de criança.

Aparentemente ele chegou a um lugar contendo itens que Elisabeth ganhou quando era bem pequena.

Como prova de que foram dela, os animais de pelúcia tiveram seus peitos abertos e as bonecas decapitadas. Os pedaços de madeira, porcelana e algodão espalhados eram tristes de se ver.

Pelo visto tem bastante tempo que ela faz isso...

Kaito murmurou desanimado. Dizem que as pessoas nunca mudam, mas não era nada adorável, pra dizer o mínimo. Ele se preparou para lançar o ursinho longe com raiva, mas sentiu pena e por isso o colocou gentilmente na mesa.

Quando estava prestes a seguir em frente, ouviu uma voz distante.

Elisa...Beth...Eli...Sa...Beth...

Quem está ai?

Kaito congelou por um instante. No momento seguinte a voz profunda do homem o envolveu como uma serpente.

Elisabeth...Ó Elisabeth.. .Minha querida filha… Elisabeth...

A voz foi incrivelmente assustadora. Ela era rouca e abafada, como vento soprando entre as árvores ao mesmo tempo que era quente. Kaito sentiu que se continuasse ouvindo por mais tempo, suas orelhas iriam derreter e que sabe seu cérebro.

O que...É isso?

Levado por um intenso e visceral desgosto, Kaito deu um passo atrás. A voz ficou mais e mais alta, como se o estivesse perseguindo. Ele começou a correr instintivamente para tentar escapar da voz, mas ela se recusava a deixá-lo, perseguindo-o com uma estranha tenacidade.

Elisabeth...Elisabeth...Minha querida filha...Elisabeth...

Que droga. O que diabos tá acontecendo?

Não importava o quão distante ele fosse, a voz continuava. Ele olhou ao redor procurando por um jeito de escapar, então encontrou algo. Atrás de uma pilha de brinquedos quebrados, que lembrava uma montanha de corpos, estava uma porta. Parecia que a pilha de brinquedos eram os soldados protegendo ela. Disposto a tentar qualquer coisa, Kaito torceu a fechadura.

A porta se abriu, mas atrás dela não havia luz e sim uma escuridão ainda mais profunda. Depois que passou pela porta, Kaito sentiu seus olhos se arregalaram.

Ele estava no meio de uma sala desconhecida.

...huh?

Intrigado, ele observou seus arredores. Ela é claramente o quarto de uma criança.

As paredes retangulares estavam cobertas por um papel de parede com um design amarelo florido. Ao lado da janela estavam adoráveis esculturas confeccionadas artisticamente. A mobília era toda branca. Acima de uma linda cômoda, com puxadores de metal, estavam algumas bonecas e animais de pelúcia. Havia uma cama de 4 pilares com teto, coberta por lençóis cinza-pérola e com um grande colchão, sem sombra de dúvidas bastante macio.

Sentada na cama estava uma jovem garotinha, vestindo uma camisola. Seu peito estava coberto por uma cor vermelha de sangue. Sua figura era chocantemente magra. Suas veias eram visíveis sobre sua pele pálida. Seu longo cabelo com certeza já foi bonito, mas agora estava sem nenhum brilho e as pontas estavam enredadas. Enquanto seus olhinhos redondos e seu nariz bonito pareciam terem sido esculpidos, seu olhar era vazio, desprovido de tudo que remonta à vida. Seus lábios estavam impregnados com restos de sangue.

Depois de ver o rosto familiar enegrecido pelo espectro da morte, Kaito engoliu seco.

Não havia erro. Aquela garota era Elisabeth quando nova.

"Droga… Eu com certeza não era pra estar vendo isso."

Ao se dar conta disso, Kaito começou a se mover lentamente. Ele continuou fazendo isso até chegar à porta por onde ele entrou. Quando conseguiu sair, o cenário diante dele tremeu como a água agitada de um rio, até desaparecer. Tudo oque restou foi uma montanha de brinquedos quebrados e a porta.

Parecia que ele havia conseguido escapar do quarto. Kaito olhou ao redor e suspirou em alívio depois de ver que estava no tesouro, mas a voz voltou a assombrá-lo novamente. Sem tempo de pensar sobre oque tinha visto, Kaito deu a volta e começou a correr. Ele correu sem rumo, desesperadamente tentando se livrar do espectro de Elisabeth e a voz de um daquele homem chamando por ela.

"Já chega, droga... Isso não me diz o menor respeito!"

Kaito não tinha nenhuma vontade de aprender sobre o passado daquela mulher rude e também orgulhosa. Com certeza aquelas eram memórias que ela não queria compartilhar com ninguém, oque deu a ele toda a motivação que precisava para não espiar. Kaito não morria de amores por ela, ainda sim ele não conseguia se livrar do sentimento de a estar traindo.

Elisabeth Le Fanu era a lobo orgulhosa e a porca imunda.

Aquela mulher inabalável que se apresentou como tal, parecia completamente diferente daquela frágil garotinha.

Ver ela daquele jeito não era uma liberdade que Kaito, enquanto servo, poderia se dar ao luxo.

Depois de pensar sobre isso, Kaito se encontrou em um lugar novo, um com uma ambientação bem diferente.

...Onde eu estou?

 

Bloqueando o caminho de Kaito estava um muro de pedra. Ao inspecioná-lo descobriu que possuía uma construção estranha, diferente dos muros feitos de blocos. Ele se estendia em ambas as direções. Parecia que não tinha fim, como se tivesse chegado ao fim do mundo. Kaito então notou algo.

O que… É aquilo?

Por alguma razão uma luz circular pairava sobre uma determinada área do muro. Kaito se aproximou cautelosamente.

Haviam algemas de ferro saindo do muro naquele lugar. Presa a elas, como se fosse uma mercadoria à mostra, estava uma mulher nua.

Que diabos?

Kaito parou estupefato. Ele olhou algumas vezes para se certificar do viu, mas logo se deu conta que lá estava uma linda garota de cabelos prateados, presa à parede pelos seus pulsos. Ela foi deixada naquele lugar presa como um animal em exposição. Kaito a viu e partiu para ajudá-la.

// — // —

Nota do tradutor: Prazer sou seu tradutor, mas vamos deixar as apresentações para o final do livro.

Tive que me manifestar devido a uma modificação considerável neste trecho. Normalmente não dá para traduzir na literalidade, pois dificultaria a compreensão dos significados pelo público em geral e por isso é comum alterações, entretanto está considero digna de nota.

No momento que Kaito avistou a garota, é descrito no texto original que ela estava presa a parede largada ali cruelmente mesmo tendo um corpo lindo e um par de seios fartos…

Se não bastasse ainda é descrito que o protagonista "sentiu algo errado" (o que obviamente estava na cara) mas estava mais preocupado com a vergonha que sentia e com a possibilidade de ser classificado como "tarado".

É complicado em uma cena dessas que o importante seja um par de tetas e o cara dizer que o problema é ela ter sido largada, mesmo sendo gostosa ao mesmo tempo que tentava controlar a vergonha dando pequenos olhares indiscretos (tratando ela como um objeto mesmo tendo reclamado de terem largado ela como um animal), então resolvi cortar esta parte porque pegou muito mal e o a história ainda foi escrita por uma mulher.

// — // —

Ei, você está bem?

Ele tentou falar com ela, mas ela permaneceu imóvel. Ele não tinha como saber do porque ela ter sido presa, mas considerando que Elisabeth não faz prisioneiros, Kaito achou muito pouco provável que fosse um inimigo.

Se ele saísse de lá não havia como ter certeza de que conseguiria voltar, ele então preferia se arrepender de salvá-la do que não fazê-lo.

Com tudo isso em mente, Kaito decidiu tentar libertá-la. Ele procurou nos arredores, mas não encontrou nada que pudesse ajudar. Daí ele descobriu um pequeno saco de couro atado no tornozelo dela. Seus braços estavam suspensos, então ela jamais alcançaria, algo bastante cruel de fato.

Dentro dela Kaito encontrou uma chave e um bilhete. Ele pegou a chave e abriu as algemas. Seus braços caíram sem reação. Mesmo que agora estivesse livre, ela não se mexia. Enquanto Kaito olhou ao redor buscando algo para cobri-la, seus olhos caíram sobre o bilhete no chão. Nele estava escrito com letras vermelhas gigantes:

MANUAL DE INSTRUÇÕES: AVISOS SOBRE A INICIALIZAÇÃO

Quando seus poderes de golem decifraram a escrita, Kaito olhou novamente para o corpo da garota.

Quando olhou mais de perto, percebeu que seus braços finos estavam ligados por juntas esféricas e seu cabelo não era verdadeiro, mas sim feito com fios de prata. Ela era um robô, ou seja, provavelmente um dos objetos guardados no tesouro.

No momento seguinte sua cabeça se moveu ao som de clacks. Ela olhou para Kaito com seus olhos feitos de esmeraldas, que brilhavam de maneira ameaçadora. Kaito ficou com calafrios daquele olhar.

Seu rosto era bonito como se tivesse sido esculpido, mas não possuía expressão e era duro como uma máscara.

A garota, ou melhor, a robô, começou a se virar com suas juntas se movendo em direções diferentes. Alarmado pela anormalidade, Kaito correu seus olhos de volta para o bilhete.

Depois de ler as palavras em vermelho, seus olhos se arregalaram e ele começou a correr.

CUIDADO, ELA PODERÁ ATACAR A TODOS SE NÃO FOR DEVIDAMENTE INICIADA.

Kaito correu como um condenado.

Atrás dele podia-se ouvir o som do robô rapidamente rastejando pelo chão atrás dele.

// — // —

Kaito correu pelo tesouro como um atleta em corrida de obstáculos. Ele pulou sobre uma cadeira, se espremeu por entre 2 cômodas e deslizou por uma montanha de moedas de ouro. Finalmente ele chegou ao seu destino.

A robô pelo visto não parecia saber se esquivar e simplesmente correu em linha reta, por isso ela foi se atrasou destruindo oque bloqueasse seu caminho. Kaito tomou vantagem disso, conseguindo criar distância entre ele e ela, mas ele sabia que se tropeçasse iria se juntar aos objetos destruídos.

Mas que droga! Porra, isso só pode ser brincadeira!

Os músculos de suas pernas se alongaram ao ponto de quase se romperem. Ele correu pelos últimos degraus da escadaria ignorando a dor nas pernas com pura força de vontade. Se ele para-se estaria morto e não tinha nada para se defender.

Engolindo seu medo, ele de alguma forma conseguiu chegar a saída, mas ela ainda estava fechada. Kaito bateu na porta enquanto gritava desesperado.

Elisabeth! Abre essa porta! Anda!

O que foi agora, Kaito? Você finalmente aprendeu a lição? De agora em diante eu espero que você prove devidamente a comida antes de servir.

Que se dane! Só abre essa porta de uma vez! Vem rápido!

De repente Kaito sentiu um calafrio, como se seu coração fosse perfurado por uma agulha.

Confiando em seus instintos ele se jogou no chão. A perna do robô passou raspando perto da sua cabeça. Ela atacou como uma cobra, a partir de um ângulo bizarro,com seus pés atravessando a grossa porta. Elisabeth gritou em confusão.

Era só o que faltava. Que barulho infernal é esse?!

Kaito começou a desviar de uma chuva de estilhaços. Ele estava coberto de feridas e rolou pela sala do trono, mas conseguia se distanciar da entrada do tesouro. O robô estava cambaleante. Seu caminhar e sua pele pálida fazia ela parecer um fantasma.

Elisabeth havia se servido vinho, mas acabou cuspindo atônita com a situação. Sua expressão era de surpresa, algo quase nunca antes visto e sua voz estava cheia de confusão.

Seu inútil! O quão longe você foi?! Essa coisa é uma automata, uma criação de mau gosto do meu padrasto. Na ausência de ordens ela simplesmente destrói tudo em seu caminho! Porque demônios você ativou aquela coisa?!

Ok, eu admito que fiz burrice, mas como é que eu ia adivinhar?! Eu só soltei as algemas e ela se ligou sozinha!

Aquelas correntes são o que ativam ela, seu imbecil!

Elisabeth jogou fora sua taça de vinho e a mesinha que a acompanhava. Pelo visto o momento relaxante que ela estava tendo foi completamente destruído.

Mas que vexame! Dizer que vou ter que me ocupar com uma mera boneca!

Ela se levantou do trono bastante irritada e estalou seus saltos 2 vezes no chão.

Trevas e pétalas carmesins pairaram pelo ar. Uma chuva de espinhos foi disparada através delas, mas os reflexos da boneca eram excepcionais e sua capacidade de saltar era como de uma besta. Dito isso ela conseguiu escapar com maestria. Ela segurou um espinhos entre as mãos e outro com as solas dos pés e aterrissou sem nenhum machucado.

Nossa... Quem diria que você seria capaz de esquivar disso?

Murmurando em admiração, Elisabeth levou suas mãos até sua nuca e as lançou de volta para frente. Um machado especial feito para decapitação foi lançado das trevas, mirando o pescoço da boneca, mas por incrível que pareça, ela abaixou tanto que parecia tê-la deslocado e assim desviou por pouco mais uma vez. Elisabeth surpreendeu-se.

As pernas da boneca faziam clicks enquanto se entortavam, com ela saltando novamente, desta vez em direção ao trono. Ela se aproximou de Elisabeth, que estava esperando por isso. Com um estalar de dedos Elisabeth disse:

Cadeira de afogamento.

Uma cadeira surgiu do chão atrás da boneca e a prendeu com cintos de couro. Esta cadeira lembrava a que Kaito foi forçado a sentar, mas não possuía buracos para espinhos, tendo somente algumas correntes para torná-la suspensa.

De repente, uma seção retangular no chão abaixo da boneca se abriu. Aquele vão estava cheio de água, com pétalas carmesins boiando na superfície.

A cadeira então foi submersa, com sua ocupante esperneando, pois podiam serem vistas bolhas na superfície, até que parou de se mexer. As correntes içaram ela para fora d'água. Elisabeth deu um suspiro de alívio.

Graças aos céus, pelo menos ela se aquietou de novo. O problema é que ela tem a capacidade de bombear água para fora do corpo, então ela vai voltar a funcionar em breve. Talvez seja melhor destruí-la antes que suas engrenagens comecem a girar de novo.

Ei, espera um pouco. Você realmente tem que destruir ela?

Eu achava que isso era óbvio, mas seu eu não o fizer estaremos em grandes apuros! A menos que queira que eu passe o resto de meus dias fugindo de uma boneca homicida! Se realmente fizer questão, então lhe deixarei servir como meu escudo. Que tal?

Calma, eu só queria dizer que foi minha culpa ela ter se ligado... Não seria bom você ter que destruir algo tão bem feito... Não dá para desliga-la como antes?

Kaito tentou apaziguar Elisabeth. Por mais aterrorizante que aquela automata pudesse ser, a culpa era dele por ter ligado e ele tinha receio de destruir algo tão bem elaborado para se parecer com um humano, sem mencionar que ele duvidava seriamente ser capaz de reparar financeiramente Elisabeth por conta disso.

Hum? Espere um pouco. Você tem razão, isso seria um desperdício. Talvez nós consigamos fazer uso dela ainda.

Enquanto Elisabeth ponderava, a boneca começou a tremer. Sons desconfortáveis de engrenagens eram ouvidos enquanto ela entortava sua cabeça em um ângulo impossível para um humano.

Uma luz amedrontadora saia de seus olhos de esmeralda. Elisabeth sussurrou baixinho, quase como uma reza.

Alto, ó engrenagens, você que é arte digna da eternidade.

A boneca subitamente congelou. No momento seguinte seu corpo inteiro relaxou. Vendo a boneca se transformar com apenas algumas palavras, considerando que Elisabeth teve problemas para prendê-la, Kaito ficou bastante curioso.

O que você fez?

É um encanto para ele registar um novo mestre. Para isso ter funcionado, significa que as antigas configurações dela foram completamente reescritas. A partir de agora ela deve conseguir registar um novo mestre. Ao fazer isso, as ordens deste novo mestre serão sua prioridade. Isso deve fazer com que ela pare de atacar pessoas aleatoriamente. Agora...

Quando Elisabeth tentou completar sua frase, a cabeça da boneca começou a girar ao som de clicks.

Ao torcer seu pescoço ela foi capaz de olhar para Kaito. Ele soluçou com surpresa. A boneca, no entanto, não fez mais nada, apenas fixou seus olhos verde-esmeralda nele. Kaito devolveu o olhar perplexo. Seu olhar era quase como se suplicasse. Elisabeth assobiou em admiração.

Ora, ora, ora... Parece que ela o escolheu em meu lugar. Considere-se afortunado. Pelo visto ela pegou o gosto por você depois de tê-la salvo 2 vezes. Que assim seja. Você será seu novo mestre. Só temos mais um problema agora.

Eu? Mestre dela? E que problema é esse que você disse?

Ao se tornar o mestre desta coisa, uma "relação" deve ser estabelecida. O seu criador infelizmente tinha um apreço por colocar as pessoas em saia justa. Os tipos de relação são estes: "Pai e filha", "Irmãos", "mestre e serva" e "Amantes"... Só uma é correta. Se escolher errado a automata irá se voltar contra você, seus mestre e te matará. Um problema trivial para mim, mas já pra você...

Uma chance em quatro é bastante difícil. O que eu deveria escolher?

Eu juro que não tenho a menor das ideias. Seria bem mais fácil destruí-la, mas você achou esta opção desagradável. Então é isso... Entre "Pai e filha", "Irmãos", "Mestre e serva" e "Amantes", eu aconselho a escolher aquela com menos chances de trair você.

Elisabeth sorriu com maldade, dai voltou para o trono como se tudo estivesse acabado, pegou sua taça de vinho e sua mesinha e se aconchegou para ver tudo de camarote.

Elisabeth na certa estava simplesmente aproveitando o espetáculo. Kaito freneticamente matutava em sua cabeça, afinal sua vida estava em jogo. Ele sabia que iria morrer se escolhesse "pai". Ele não entendia nada quanto a irmãos, mas uma de suas memórias relacionadas a "amigos" era bastante desconfortável. Ao ver sua relação com Elisabeth e confirmar olhando para ela, "mestre e serva" não era opção. Só restava…

Eu vou de "Amantes".

Como todo bom virgem fracassado...

Foi bastante rude, mas antes que Kaito pudesse protestar contra o abuso verbal de Elisabeth, a boneca começou a se mexer violentamente. Incapazes de conter suas convulsões, os cintos de couro arrebentaram. Jatos de vapor jorravam das aberturas de suas juntas. A resposta dela foi corroendo Kaito por dentro, mas por causa da boneca e não dele mesmo.

Ei, é... Tem certeza que ela não quebrou?

Enquanto ele encarava a boneca, os olhos dela se abriram de repente. Ela rompeu o restante dos cintos e saltou sobre o tanque de água, parando em frente a Kaito.

Kaito se preparou para o pior. A boneca se ajoelhou em frente a ele em um dos joelhos.

Eu peço perdão por deixá-lo esperando. Ó meu querido, meu amado, meu predestinado, meu mestre! Meu verdadeiro amor! Ó meu eterno companheiro!

A boneca gritava em uma explosão de emoções. Esta era a primeira vez que ele escutava sua voz, mas era estranhamente prazerosa. Ela segurou as mãos dele e olhou em seus olhos.

Seu rosto estava envolto pelos seus sedosos cabelos prateados e possuia a primeira expressão que Kaito viu nela.

Seus olhos de esmeralda entreabertos eram brilhantes e delicados. Sua pele era branca e suas bochechas avermelhadas com o calor do momento. Suas curvas eram simples, ainda sim adoráveis, com sua expressão doce extasiada em seu rosto.

Ela esfregava a mão de Kaito contra seu rosto em uma profunda demonstração de afeto. Sua pele lisa era quente e macia, como a de um humano. Com uma expressão de quem é abençoado, ela se pronunciou cheia de amor.

De agora em diante, até o dia em que esses membros forem desplugados de mim e minha cabeça for removida e meu coração de aço parar de bater, eu serei sua companheira e sua mulher. Eu viverei pelo seu bem e só irei quebrar por você. Não importa se quiser me amar ou me destruir, ambos estes privilégios agora são seus e seus apenas.

Ela olhou fundo nos olhos de Kaito com seu sorriso de orelha a orelha.

Por vontade própria, você poderia cuidar de mim até o final dos tempos?

Suas palavras retumbaram como o som de rários, com Kaito e Elisabeth mais estáticos que estátuas. Despreocupada com suas reações, a boneca continuou esfregando a mão de Kaito em suas bochechas. Suas ações adoráveis eram as mesmas de um cachorro para com o dono.

Eventualmente Elisabeth falou baixinho.

É... Ora, parece que tudo saiu nos conformes. Você estaria... satisfeito?

...Boa pergunta...

Ele sentiu que isso era incômodo de certa forma, mas ao ver o olhar extremamente alegre dela, ele preferiu engolir as palavras.

// — // —

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