Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 7: Velocidade à Beira da Morte

A aura se comparada a força das yrai é como a diferença das chamas de uma tocha para uma fogueira. Então… qual seria a escala de diferença entre os fogos das tochas? e como isso é balanceado em competições para manter a “justiça”? A resposta é que foram feitas categorias como as de pesos em cenários de luta, sendo calculado ambos nelas — tanto a quantidade de aura e peso — para uma decisão se o indivíduo pode ou não participar.

As pessoas com mais ini podem participar das categorias de competições que envolvem menos aura, contanto que não ultrapassem a limitação de energia imposta, o que resultaria em uma eliminação imediata. Isso também vale para os eventos que envolvem yrais, nesses não há nenhuma influência do peso, é irrelevante considerando o poder das joias, mas existem exceções, torneios que são bem mais libertos sobre a aplicação da aura e yrais, como os do Holliver que existiram praticamente sem qualquer restrição, sendo os mais criticados pela mídia.

Um dos motivos desse organizador ter continuado no ramo por tantos anos mesmo com a pressão externa é graças as regras leves e por ninguém nunca ter morrido em seus torneios, ao menos não dentro deles, sendo esse o principal motivo de queda dos seus concorrentes. O peso do seu nome — algo construído por vários anos — e seus apoiadores também funcionam como pilares importantes para que não caia.

Voltando ao assunto sobre a divisão das categorias de aura, se for considerado tudo o que foi citado antes, é natural uma questão surgir: “O quão catastrófico pode ser uma luta entre pessoas com forças ini muito distintas?”. Naturalmente — pela falta de aura equivalente — a defesa de um dos dois seria precária em contraste a do outro, por exemplo: uma pessoa com 300 II levar um soco de um lutador com mais de 800 II… 

O punho do Traçal se aproxima da face do Omnislai, que está vendo de relance a imagem do punho se aproximando: um desenho branco dilacerando o ar no caminho. Ele abre a boca, apertando as pupilas em espanto.

...seria o equivalente à batida de um carro.

O soco dilacera a imagem da cabeça do rapaz, avassalando todo o vento ao redor da arena com a passada — uma que falhou. O suor do rosto do Omnislai é jogado para fora no recuo da cabeça, sua boca solta um ruído incompressível. Ele conseguiu evitar a morte por não hesitar no movimento da fuga mesmo com a forte impressão formada pelo ataque, porém, não é hora para se desesperar, muito menos de ficar paralisado, pois o sorriso do Traçal lhe entrega a mensagem de que este instante ainda está longe de acabar.

“Hahahaha! Já que esse não pegou...”, pensa o robusto, “vou ter que me contentar com um acerto qualquer, não é?”

Ele sai da postura de pós-golpe de uma vez, dando um passo à frente, forçando a saída de um soco desde à altura da cintura com o braço esquerdo, que não chega sequer a se estender mais da metade para alcançar o centro do tronco do Omnislai: o punho afunda na carne, a aura esverdeada do acertado está toda focada na área, mas o impacto ainda é absurdo, fazendo seu rosto se contorcer de dor enquanto sente os pés deixando o chão; o rapaz é jogado para longe do solo, voando a mais de um metro como um fantoche, batendo as costas na parede do outro lado da arena, rachando-a.

A plateia emite um som pesado de espanto, os jurados estão suando frio, olhando descrentes para o que acabaram de ver.

— Omnislai voou para longe!... — grita Gaojung, mais parecendo assustado que surpreso. — Quanta força!! O que acabamos de presenciar não foi praticamente uma tentativa de assassinato?! 

— O-o q-que Traçal está pensando?! — diz Malena. — Se ele matar alguém… vai ter sérios problemas!!

 

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Jay e Ury estão assistindo a luta, expondo seriedade pelas sobrancelhas dobradas.

— Você conseguiu entender o que aconteceu? — indaga Ury.

— Sim! Ele conduziu Omnislai para o canto com os diretos, de uma forma tão natural que apesar dele ser experiente com combates, não conseguiu perceber que foi encurralado. Isso o limitou a duas direções, o que facilitou o trabalho de acompanhá-lo com os olhos, um momento que Traçal aproveitou para atacar com todo seu poder, confiante de que o adversário ia desviar a tempo, e então finalmente encaixou o golpe que planejava.

— Sim… Hum… Ele não é só uma pilha de músculos, está acostumado a enfrentar todos os tipos de inimigos, a como colocá-los na palma da mão, e, a correr riscos. Só o dano psicológico daquele balanço foi alto, somando com todo esse resto, podemos ver o resultado.

— Vai ser complicado para o baixinho continuar agora.

— Não… Talvez já tenha acabado.

— Hã? por quê?

— É possível que ele não tenha conseguido focar a aura nas costas a tempo, levou apenas um instante da pancada para sua colisão no muro, sendo a última um fator inesperado.

— Sim… levantar depois disso vai ser complicado.

 

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Laerte se vira, deixando o lugar em que acompanhava o confronto.

— Aonde você vai? — indaga Kimai.

— Preciso pegar uma barra de chocolate para acompanhar o resto, volto em um minuto.

— Hã? — O rapaz o olha com estranheza. — Ah! Então realmente acabou?... Pobre Omnislai...

— Huh?  Como assim “acabou”?

— Hein?!

— Hahaha… Não seja tolo, Kimai. Não tem como ter acabado para ele só com isso.

— Isso quer dizer…! — Ele vira de uma vez, ansioso, olhando de novo para a arena. Seus olhos se abrem mais em surpresa, um sorriso se forma em seus lábios. — AH!!! 

Omnislai não está mais com as costas coladas nas paredes, estando de pé com os braços caídos. As pálpebras estão baixas, quase levando os olhos a um mundo de escuridão. A respiração está pesada, ele fecha a boca ao ofegar por alguns instantes, abaixando o rosto para tensioná-lo em fúria.

— Realmente! E ainda me parece estar com bastante energia! O que acha que vai acontecer agora, Laerte?! — Kimai percebe que o outro já se foi do local. —  Ah… Que rápido…

 

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— (...) depois daquele impacto — fala Gaojung —, o juiz foi forçado a checar a condição do Omnislai! Será que a luta vai prosseguir?! ou a vitória já é do Traçal?!

— A vida dele está em jogo aqui — diz Malena —, pessoalmente acredito que esse confronto deveria ser parado. É triste perder um prêmio da escala desse torneio, mas seria ainda pior perder tudo na busca disso. Se eu fosse o juiz, iria parar essa luta, simplesmente está muito desequilibrado.

— Não há como discordar de você, porém nós sabemos como funciona um torneio do Holliver, onde sequer é permitido a interferência dos treinadores ou técnicos nas lutas. Se o lutador quiser lutar, ele vai lutar!

Traçal estende o braço no rumo do Omnislai, fortalecendo os músculos dos dedos ao ponto de emitir ruídos.

— VAMOS!!! — Todos no estádio são calados pelo volume altíssimo da voz. — Essa droga de dança não deu nem para aquecer meu ombro! Vai deixar que isso acabe assim?! Vai embora sem me mostrar nada que preste?! Treinou por vários malditos meses para chegar só até esse limite?! Ponha sua maldita cabeça na linha de fogo se tiver mais algo para mostrar, senão vaze como o lixo que é!

— Claro que não acabou ainda, seu desgraçado!! — brada Omnislai, veias ficam avantajadas na sua testa. O cabelo dele está bagunçado pelo laço que segurava o rabo de cavalo ter quebrado. — Bora juiz! Estou totalmente bem, me ponha de volta no jogo!

O narrador bate as mãos na mesa, falando:

— UAU!!! Nem parece que foi jogado contra a parede igual um boneco agora a pouco! Omnislai está transbordando de empolgação!!

— Também estou surpresa com Traçal, é a primeira vez que o vejo animando um oponente! O que ele está esperando conseguir com isso?!

— O que está dizendo, Malena? não é óbvio?! Ele quer uma boa luta!!

A plateia está animada, espalhando clamores pelo reinício da batalha. O juiz toma distância dos lutadores, preparando-se para soar o apito.

— Sim… Tudo de antes foi só uma apresentação — fala Traçal, cerrando os punhos. — Não é você o homem que quer derrotar Laerte há anos? Me mostre a “lança” que poliu para penetrar em todas aquelas camadas de talento, irei quebrá-la em pedaços e rirei do seu desespero!

— Tch! Pare com toda essa frescura, sei que só quer me humilhar para impor mais seu nome.

— Hahahaha! Em nenhum momento ocultei isso. Entretanto, se é o que quer, a partir de agora serei mais simples em minha abordagem, seu caipira! — Os dois levantam os braços, tomando suas posturas para a batalha. — Vamos lutar até bagunçar todo esse lugar!

— Bem melhor! Certo!!

O apito soa, o público comemora, a batalha retorna.

Em uma das fileiras de bancos está um senhor de idade, aparentando estar na casa dos 70 a 80 anos. Ele usa uma touca e outras roupas de frio, apoiando por capricho as mãos no pedaço de madeira, que serve como apoio para quando andar. 

“Tenha cuidado, Omni” pensa ele. “Posso notar daqui a intensidade selvagem desse rapaz, que chega a formar a imagem de uma besta. Não o deixe te ‘morder’ em hipótese alguma, pois se aquelas presas pontiagudas te tocarem... será o fim.”

Os homens à volta do idoso têm corpos bem treinados, estando todos de pé torcendo. Dois dele batem em tambores, gerando sons pesados.

“Nós, a academia ‘Lobos de Shinjicai’, iremos te apoiar com todas nossas forças!”

Mais batidas são dadas nos instrumentos, chegando aos ouvidos do Omnislai, que está com os olhos fechados para focar-se no som.

“Obrigado a todos por terem vindo!” considera. “Devem estar preocupados, mas não existe a possibilidade de eu sair dessa arena sem mostrar tudo o que aprendi com vocês. Vou ganhar, e pôr o nome Lobos de Shinjicai de volta aos holofotes!”

O apito soa, causando um rebuliço nas arquibancadas.

Omnislai avança com um pulo, surgindo repentinamente na frente do oponente, que não se mexe, vendo sua imagem se desfazer como em sua previsão: o rapaz está continuamente indo e voltando por todos os lados, procurando causar uma abertura com esse jogo de pés sobrenatural.  Socos com efeitos de torção são disparados, chocando nos braços do robusto; a cada impacto ele volta a adentrar no mundo de imagens residuais, se tornando intocável.

— Não — começa Traçal —, não, não! Está tirando uma com a minha cara?! Por que ainda está confiante nisso?!

“Hum?”

— Seu ingênuo! Até quando vai acreditar que o “mundo de velocidade” é só seu?!

A terra sob os pés do robusto explodem, sua sombra cobre o oponente pela proximidade que conquista neste instante, quebrando o ritmo dele. Omnislai reage, suas articulações viram, impulsionando um ataque, atravessando a barriga do adversário; a imagem residual do Traçal se desfaz, o chão onde ele esteve está estourado, ligado a uma linha de poeira até onde se encontra agora, que é ao lado do adversário — um completamente exposto.

O ombro do robusto gira, lançando um soco que abala as formas à volta; um pavor percorre Omnislai, afundando-o em um mundo de cores escuras, confusas, confundindo seus sentidos.

O punho robusto entra em contato com sua pele; um tênis gira pela terra junto do corpo, formando uma espiral de poeira. Ele está forçando uma esquiva ao rodar na direção oposta a do ataque, reduzindo o dano que leva enquanto se permite ir para o lado; as costelas pegas no impacto trincam, espalhando uma dor eletrizante. 

Apesar de ter diminuído a potência da ofensiva inimiga, Omnislai rodopia pela força residual da pancada, sendo jogado para o chão ao tropeçar, por onde bate as costelas, cuspindo saliva e sangue ao girar, vendo o mundo se tornar um borrão.

O narrador fica perplexo, gaguejando até finalmente poder gritar o que deseja:

— FOI SUPERADA!!! A VELOCIDADE DO OMNISLAI… FOI SUPERADA!!!



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