Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 6: Intocável

Traçal e Omnislai rodam para impulsionar seus socos, acontecendo do ataque mais baixo romper o ar com o aumento de velocidade, amassando a bochecha do robusto com o acerto.

O punho do Traçal atravessa a imagem residual do oponente, pulverizando-a enquanto o que deveria estar sendo atingido se encontra o chutando na parte detrás do joelho; a perna se dobra, Omnislai toma distância após concretizar o ataque, evitando um balanço da mão do outro sobre seu rosto.

Todo o local é tomado pelo silêncio, aquele instante foi o suficiente para alcançar tal feito. A plateia e os narradores estão perplexos com a demonstração de velocidade.

— N-no… NO CHÃOOOOO!!! — brada Gaojung. — Em menos de dez segundo de luta Traçal foi forçado a cair!! Forçado a prostar-se!!

— A velocidade do Omnislai está incrível! — diz Malena. — Ele realmente não tem uma yrai com ele?!

— Não! Existem revistas antes das lutas, e há sensores para captar qualquer sinal delas se forem usadas durante o combate! Essa velocidade é pura!

Traçal tira o joelho do chão, voltando a ficar totalmente erguido. Omnislai expira forte, abaixando o centro de gravidade enquanto mantém os braços levantados; semelhante a uma postura de boxe, mas com a diferença deles estarem alinhados na mesma distância todo o tempo.

O robusto investe inclinando-se para o lado, liberando um soco desde cima, amassando a cabeça do oponente — ao menos a imagem residual; Traçal tem sua cabeça balançada por dois impactos, que a enchem de vapor.

Areia é jogada para o lado no girar de um pé, o robusto empurra o braço direito com a mão aberta, desejando conseguir uma palmada ou agarrar, atravessando mais uma vez apenas a ilusão do oponente, que foi para trás, por onde dispara três socos que cortam o ar instantaneamente até ele, marcando-o entre as sobrancelhas, acima e abaixo do nariz. Omnislai se abaixa, batendo também no centro da garganta e do plexo solar dele.

O olhar afiado do Traçal espia por uma brecha do vapor, vendo o momento se passar em lentidão: Omnislai está virando constantemente os braços para os dois lados, disparando um direto ao pisar mais à frente que tampa toda a vista do oponente, pois o alvo é justamente sua cabeça. Um brilho leve de tom verde cobre o golpe, tingindo também a forma do ar à volta, que está torcido em um sentido giratório; o golpe enfim raspa no queixo do Traçal, forçando uma inclinação repentina da sua cabeça.

Apesar do contato, o robusto não cai, ficando paralisado com a sensação do cérebro chacoalhando. Apenas por um momento.

Os olhos do Omnislai se abrem mais ao verem que o adversário está prestes a chutá-lo pelo lado, forçando-o a saltar para o lado, indo em direção as costas dele, por onde é recepcionado por uma pancada com o lado contrário da mão. O rapaz põe os braços no caminho, seus pés arrastam numa resistência inútil — tamanha força do impacto —, levantando poeira por onde passa.

Quando sente que deixou de sofrer o efeito do golpe do oponente, ele percebe que foi repelido por dois metros.

— Aaah…! Senti essa até nos ossos! — Os seus braços estão vermelhos, principalmente o direito. — Você tem força para dar e vender, hein? Até encolheu os dedos para concentrar mais poder na base da mão.

— Hahahaha! — Traçal coloca as mãos nos bolsos, ficando em uma postura reta, cheia de aberturas. — Ei! Eu já entendi como seu estilo funciona, e agora?!

— Hã?... Está… falando sério?

— Humpf! É bem simples. Você fica virando os braços para adicionar efeito de torção nos golpes. — Ele gesticula com os próprios.

— Que inesperado, seus olhos são realmente bons por conseguirem analisar meus ataques durante uma luta. Geralmente meus oponentes fazem isso com gravações, colocando em câmera lenta e tals.

— É normal as “formigas” usarem truques para tentar melhorar o desempenho, porém… vai precisar por mais empenho nas pernas se quiser me ferir!

— Fala sério, “nas pernas”?... Então conseguiu perceber que não estou usando a técnica completa… 

— Eu deixei passar antes. Venha de novo contra mim usando aquela porcaria e eu arranco sua cabeça! — Ele estende o braço direito para o lado, enrijecendo-o ao ponto de bastantes veias ficarem à mostra. O punho cerrado emite uma pressão que faz o ar à volta ficar denso, pondo Omnislai em posição de batalha pelo alerta crescente. — Me mostre aonde pode chegar com esses truques! Enquanto isso vou fazê-lo entender na pele que é tudo inútil contra a “força verdadeira”!

Traçal avança, lançando um direto de direita que rompe o ar como um torpedo, que o oponente evita caindo para o lado, não demonstrando nenhuma tensão apesar de presenciar tamanha demonstração de poder. 

Tênis deslizam subitamente pela terra, ajustando Omnislai para a postura que deseja. Ele respira fundo; os pés, joelhos, cintura, ombro e cotovelo se movimentam, deixando um rastro de luz verde por onde passam, como os olhos; a silhueta dele rasga o ar de uma vez, deixando seu traçado para trás na forma de manchas negras, martelando um soco no fígado do oponente, envergando-o enquanto o impacto se inunda em vapor, alcançando o outro lado do torço.

Pés arrastam pela terra com intensidade o suficiente para levantar uma nuvem poeira baixa à volta, ocultando-os por completo. Omnislai está congelado na postura de acerto do golpe, tendo arremessado todo o corpo pesado do adversário por três metros apenas com a força do impacto.

“Surpreso?”, pensa, vendo a marca do seu punho na camisa do Traçal. Ele sai daquela pose, batendo os punhos pela empolgação. “Hahaha! Saiba que ainda não é tudo o que os ‘truques’ podem fazer!”

Omnislai avança, Traçal se inclina à frente para recepcioná-lo, estando com um sorriso quase fechado — desanimado — ao invés de mostrar tanto os dentes como antes.

 

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Laerte observa a luta pela vidraça, já tendo trocado para uma roupa comum com um casaco escuro que o destaca.

— Onde está o chocolate? — A voz é de um rapaz que acaba de chegar no local.

— Ah! Kimai! É bom vê-lo. Já ingeri açúcar demais por hoje, tenho que me conter.

Kimai usa jeans e um jaleco de couro marrom, um tom que contrasta a sua pele clara e cabelo vermelho, que segue um estilo de “coque samurai”.

— O que está achando da luta? — Ele fica ao lado do boxeador, facilitando que ambos possam assistir o combate enquanto conversam.

— Omnislai está conseguindo impor bem o seu ritmo, nunca o vi aplicar um jogo de pés tão eficiente.

— Entendo. Eai… — Ele olha de relance para Laerte, refletindo a imagem dele em sua íris castanha. — …acha que o ligeiro pode ganhar?

— Não me pergunte isso, Kimai. Nesses quatro anos em que estive no circuito amador, não houve uma única vez que consegui prever o desenvolvimento dele.

— Huh! tudo bem. Só não consigo parar de pensar nisso: "O que aconteceria com Omnislai se ele ganhasse?"

— De fato… — Um sorriso modesto se forma em seu semblante. — Seria algo interessante.

 

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Omnislai parte para cima do Traçal, ele abre as pernas para os lados ao achegar-se o suficiente, despejando uma chuva de “balas”; o adversário levanta a guarda, sofrendo alguns cortes superficiais pelo corpo. A velocidade do rapaz no giro do corpo e recuo dos braços é absurda, usando principalmente o poder da cintura e ombros para manter a constância.

Cansado da tempestade de ataques, Traçal reage com um chute baixo, fazendo um som pesado na passada que desfaz as pernas do oponente — as imagens residuais delas. Aproveitando o recuo inimigo, o robusto investe, jogando uma sequência de diretos com cada braço por vez, sendo evitados por inclinações súbitas para os lados.

O rapaz vê de perto os punhos passando, notando uma aura branca rodeá-los com uma intensidade que nenhum lutador deste torneio conseguiu demonstrar, havendo um contorno espesso da cor sobre a circunferência do membro.

“É igual a do Laerte… não, chega a ser superior.”

Aura, ou força ini, é um poder que acompanha as pessoas desde o nascimento. Não é algo que pode ser fortalecido por medicamentos ou cultivado com treino não há como melhorar a produção da aura de um ser vivo; isso cria uma grande lacuna entre o desempenho físico de pessoas com menos e mais força ini sem o auxílio de yrais.

A quantidade de aura que a maioria das pessoas nasce é por volta de 250 II. Um indivíduo que possa ser chamado de “irregular”: 320 II, de exemplo há Omnislai.  Um “gênio” 450 II, de exemplo há os irmãos Jay e Ury; uma “aberração” 620 II, de exemplo há Laerte. E… um “monstro” 850 II, de exemplo há… 

Omnislai engole a seco. Ele continua esquivando dos socos sem esboçar hesitação, mesmo que saiba que só um deles teria força o suficiente para tombá-lo, movimentando-se tanto que acaba indo para o outro lado do adversário em um instante, prosseguindo em desviar dos diretos que o perseguem.

Quando ele se abaixa de outro golpe, refaz o impulso que usa a força de todas as articulações do corpo, causando um estrondo ao bater na barriga do adversário; Traçal não é repelido por estar com a base de uma perna firmada atrás, acontecendo apenas uma explosão de terra por seus pés.

Ele solta um estalo da língua ao sentir uma dor percorrendo-o como um choque, entretanto não importa, não para ele, voltando a atacar como se nada tivesse acontecido, surpreendendo o oponente com a investida.

Omnislai continua esquivando das ofensivas, encaixando, na primeira brecha que surge, outra pancada impulsionada; a mesma situação de resistência acontece, mais terra é estourada a partir de onde eles estão e, novamente, Traçal volta a socar.

Diretos perfuram imagens residuais, o adversário o rodeia com uma corrida veloz; ele ajusta a posição constantemente, deslizando com um dos pés num sentido giratório para o acompanhar de frente. Seu sorriso volta a expor os dentes, torcendo a expressão, o que intimida Omnislai, que sente as cores que tingem sua presença se tornarem mais depressivas à medida que a apreensão cresce.

O braço do robusto é balançado lateralmente, forçando o outro a se abaixar; parece uma esquiva normal, ao menos até ele levantar, sentindo suas costas baterem na parede, percebendo neste instante que está encurralado. O braço direito do Traçal enrijece, liberando um ataque que o inimigo consegue esquivar indo para o lado, deixando para a parede o destino cruel de lidar com aquela pancada.

O muro racha até o alto, o estrondo é ensurdecedor. Apesar da falha, o agressor não fica infeliz — pelo contrário —, seu sorriso consegue tensionar mais ainda o rosto. Ele aperta a mão direita, cobrindo-a com a aura branca; seu tronco gira com o mesmo peso de um tanque, raspando o punho pelo concreto da parede, fazendo-o surgir bem próximo da face do Omnislai, que está pasmo, prestes a ser esmagado.



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