Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 25: Um Passo para a Destruição

Holpos investe enquanto vocifera, alcançando o adversário em um instante. Com a proximidade arqueia os braços por volta da cintura dele.

“Não vai escapar!” Usar o recuo súbito deixa de ser viável para Kaon. “Fiz questão de esperar esse momento em que iria tentar fugir! Achou mesmo que eu não ia decorar o tempo após ver tantas vezes?!”

Um ruído soa; os olhos do Holpos sobem em surpresa, vendo uma circunferência de ar pelo seu ombro e, em seguida, que o adversário está completamente fora do seu alcance, movendo-se rápido e com o corpo inclinado para trás.

“I-isso é?!... Ainda conseguiu ‘usar’?!”

Com o espaço criado entre eles, ambos suavizam mais suas posturas, voltando às poses que usaram no início da luta. O público grita para os que torcem, divididos em opiniões devido à consistência no combate de ambos os lados. Os lutadores são marcados pelos ataques que levam, principalmente Kaon, que tem mais do seu sangue gotejado pela terra; sua respiração está pesada.

“Hah! Agora tenho certeza!” O robusto abaixa mais o seu centro de gravidade. “Essa é técnica que sustenta seu estilo neutro! Finalmente ele está usando!”

— O que está acontecendo?! — fala Gaojung. — Faz algum tempo que Holpos não consegue mais pressionar o oponente de forma consistente!!

— Isso significa uma coisa — começa Malena —, Kaon se adaptou! Todo o tormento que sofreu antes foi apenas uma etapa para este instante!

O citado suspira densamente, desfazendo parte da postura para investir contra Holpos, liberando socos de balanços baixos contra a guarda dele, conseguindo vários contatos. Os narradores ficam impressionados, o robusto começa a sofrer pressão o suficiente para ficar receoso de atacar.

“Esse bastardo…! Como se esses golpes servissem para algo!!” Ele abre a defesa, mandando a palma aberta na busca do adversário, encontrando apenas o vácuo à frente; uma circunferência de ar se move por seu peito e à frente está Kaon caído, repelido e prestes a bater as costas.

Holpos imerge numa perseguição, descendo de uma vez até sentir um impacto no plexo solar que o faz levantar de imediato, assustado.

Erguido, ele ver que o adversário evitou uma queda total com o apoio das pontas enrijecidas dos pés, estando estendido o braço usado para o atacar. Vapor é emitido do punho cerrado.

“Isso é ruim…!” Holpos sorri, se parecendo com Traçal na expressividade; seu sangue ferve e o coração bater mais rápido. No prosseguir do confronto, ele troca socos com o adversário, levando poucos de retorno, não se importando mais com algo como esquivar. De três a quatro ataques que dá, Kaon só consegue revidar com um. A diferença entre os dois fica clara para todos como o dia.

Sangue mancha as paredes, terra, punhos; o som à volta se torna fraco e confuso, a vista do atingido é jogada de um lado para outro constantemente, notando clarões nas transições de cada impacto. Dominado por completo.

“Se continuar assim, as coisas vão acabar mal! hahaha!”, pensa o robusto. “Esse cara é fraco, mas o estilo dele me incita a continuar atacando… com toda a minha força! Não vou conseguir parar!... Isso está divertido demais!”

Um chute lateral estoura na perna direita do Holpos, afetando de leve seu equilíbrio; Kaon aproveita para emendar uma sequência de três socos pelo rosto do oponente, parando ao ser empurrado pelo peitoral, voltando a ser quem é espancado.

Como estou me movendo tão agressivamente? Não sei…”, continua. “Minha mente tá uma bagunça, e sou eu que estou ganhando, então, por quê?! Por que é você que parece tão tranquilo?!” Kaon o encara em meio ao vermelho seco que cobre seu semblante. “Não sabe que se eu focar aura e força o suficiente, mesmo que só por um instante, quando socá-lo em um lugar ruim pode significar a morte?”

Eles se acertam simultaneamente, sendo pior para o que está mais ferido; o sangue acumulado na sua boca é espalhado para fora. Estrondos soam, seus punhos avançam devagar, amaldiçoados pelo tempo devido aos seus sentidos aguçados. Os olhos do Kaon não se mexem apesar do dano que leva, continuando a fitar o oponente que estoura gotas vermelhas no caminho da sua última projeção.

 

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— Qual seu sobrenome e idade? Quanto possui de força ini?

— Meu sobrenome é Fenride  — responde Holpos para o entrevistador. — 19 anos, 317 II.

— Entendo.

A entrevista prossegue.

— Quais suas impressões do torneio?

— Hmm… Me parece acirrado! Mas, nada que possa intimidar o grande eu!

— Ah! Seria você um narcisista?!

— “Narci” o quê?!

— Nada, nada. Esqueça sobre isso. Diga algo que gosta e algo que odeia.

— Gosto de ganhar! Odeio não me destacar!

— Por isso que gosta de ganhar?

— Mmm… não sei. Só sei que gosto quando reparam em mim! afinal todos nós lutadores nos esforçamos para subir no ringue e ganhar! Quero que me elogiem por isso! porque mesmo não estando no topo, estou me esforçando ao máximo!

— Fiquei sem palavras. Que pessoa honorável, torcerei por você.

— Hahaha! Não irá se arrepender! — Ele levanta o braço direito, destacando os bíceps de que tanto se orgulha.

— Qual o seu maior desejo envolvendo este torneio?

— Quero ganhar! e a yrai! Com ela, vou ganhar mais! — diz ao bater as mãos na mesa, fazendo-a estremecer.

— I-isso soa bem, boa sorte.

 

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A entrevista do Kaon:

— Não sei meu sobrenome. 19 anos. 2 II. — O homem ouve em alto volume a última parte.

— P-poderia repetir o último trecho? Não o escutei direito…

2 II é a medida de frequência da minha aura.

— Por favor, responda seriamente, queremos mostrar um conteúdo sincero para o público.

— Tenho 2 II. Seja da minha vontade ou não.

— Isso é…! Não…! — Ele revira apavorado a folha que tem em mãos. — O que você está fazendo neste torneio?! É loucura ser um lutador com essa “frequência”!! Não vai durar em nenhuma luta!!

— “O que você está fazendo neste torneio?” É óbvio… Eu vim para lutar.

 

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Holpos acerta um cruzado de esquerda na cabeça do adversário, jogando-o para trás.

Ele avança numa perseguição, agarrando na primeira oportunidade o braço esquerdo do Kaon, fazendo uma “chave” nele. Estalos soam pela mente do pego, que reage lançando um soco contra a face do oponente; o seu punho acerta o fígado do Holpos, que fica atordoado com a dor.

“Hã!? Não era um golpe por cima?!”, pensa, dando uma afrouxada no agarrão, um momento que o adversário aproveita para puxar o próprio braço e escapar.

O membro pego fica caído, escancarando que está deslocado.

Kaon ignora o dano, investindo subitamente, e, quando toca novamente o chão, solta um soco de direita com efeito de torção da cintura como um carateca. O impacto amassa a carne, Holpos se contorce.

— Eu já disse!! NÃO FUNCIONA!!! — Holpos ignora o choque, indo para as costas do adversário, onde fecha um mata-leão pelo pescoço dele. “Irei pôr toda minha aura nesta técnica!! Toda minha força!!”

O puxa para trás, levantando-o.

Os sentidos ficam abalados. O traço dos lutadores engrossam; o ar ferve; o público e narradores se levantam junto do volume dos brados da torcida, algo que o robusto também faz, esbravejando forte o suficiente para alcançar até as arquibancadas mais altas. Que holofotes ofuscantes.

Kaon desce seu centro de gravidade, suas pernas se dobram para os lados, explodindo poeira por volta dos pés firmados. Ele segura o braço que sela seu destino, começando uma disputa de força bruta entres eles; veias ressaltam, ambos avermelham, elevando seus corpos aos limites.

Devido à diferença de aura o mata-leão afunda cada vez mais no pescoço, tirando o pouco do brilho de vida no olhar do pego, imergindo-o numa escuridão abismal. Adeus holofotes.

“Bora, juiz! Apita!”, grita Holpos em sua mente. “Se você não apitar… vou matá-lo!!”

O tempo passa, o homem não esboça nenhuma intenção de pegar o apito.

“Assopre!! Assopre!! ASSOPRE!!! POR QUE… NÃO ASSOPRA?!!”

No alto, Holliver sorri. Um sorriso largo — empolgado ao limite — expondo toda a podridão da sua alma.

— QUE DROGAAA!!!

Um barulho de batida soa alto, trocando o vigor na expressão do Holpos para surpresa; um som que percorre todo o seu corpo. Os lábios do Kaon se movem, gravando suas palavras na mente do oponente:

Você não está errado. Essa é sua força, usá-la com seriedade só demonstra seu respeito… 

Holpos fica apavorado, sua forma vibra no fim do aperto de sua técnica; ele desliza pela borda das costas do rival, tendo o corpo virado até se chocar na terra, causando um estrondo e o levantamento de bastante poeira.

Com a frente para o alto, desta vez é para ele que as luzes são ofuscantes.

O público se cala. As íris do robusto vão para os lados, focando no seu braço esquerdo estendido para cima, uma informação que penetra em sua mente, recriando o momento em que foi arremessado com aquele membro sendo usado como alavanca. As mãos que realizaram tal ato nunca largaram seu pulso, algo que o deixa estático, relembrando das últimas palavras ditas:

…contra alguém mais forte.

Kaon puxa o membro, arrastando o oponente para mais perto. Prestes a atacar desde o alto, acaba com o rosto escurecido por estar contra os holofotes.

Antes que Holpos pudesse se mover, um punho toma sua visão, aproximando-se como um borrão súbito, repleto de tinta, avassalador. 

O robusto passa a aura de todo seu corpo para o rosto, o mundo enegrece num breu, ressaltando o brilho vindo da concentração de energia. 

Resta a espera. Milênios em milésimos.

Sem aviso, muito menos paciência, enfim o murro surge o atingindo no centro do peitoral, fazendo-o contorcer a expressão pela dor descomunal. O estrondo soa, os ossos partem.

Juntos dos estalos, o apito soa.

Cada parte do corpo treme, emitindo suas silhuetas para o ar na forma de ondas. Holpos fica com os dentes à mostra, perdendo a visão em um único instante, desmaiando, derrubando as costas elevadas de volta para o chão devido ao fim do espasmo. Para de se mover.

— É melhor quando são derrotados sem ficarem com os rostos amassados demais, não é? — fala Kaon, no mesmo tom pesado da entrevista, o seu habitual.

Ele para de olhar o oponente, virando-se para caminhar na direção da saída, pensando:

“Essa batalha será uma boa referência.”

O público treme o prédio numa exaltação repentina. Gaojung está de pé, gritando:

— E é K-KAAAAOOONNN QUEM LEVAAAA A LUTA!!! — 

[11° Luta (2°F) - Holpos vs Kaon

Duração - 9 m 53 s

Vencedor - Kaon

“Foi uma batalha equilibrada, com uma colisão final decisiva. Não sinto necessidade de um comentário maior, mas devo dizer que fiquei surpreso com a precisão do ganhador”, comentário do Laerte.

 

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Um grito soa de um quarto de tratamento. Jay está apontando com o indicador, mantendo o braço alongado e parte da postura elevada da cama, olhando com descrença para a TV. Seu queixo está enrolado com faixas, sustentando em baixo uma barra de plástico com gelo dentro.

— Aquele “cara dos fundos” ganhou!! Não pode ser!!

— Como assim “cara dos fundos”? — pergunta Ury, que está sentado próximo em uma cadeira.

— Foi ele que também entrou pela passagem dos fundos nesses dois dias de torneio! Mas não esperava que fosse chegar nas semifinais! Que surpresa!

Ury fecha mais a expressão, se tornando hostil sem que o irmão perceba por ficar focado na transmissão.

“Tem algo estranho nesse lutador e em como ele luta. Vencendo com apenas 2 de aura? Isso fede a história mal contada. Humpf! No final das contas eu não tenho o direito de o criticar por estar usando algo. Somos da mesma laia.”

Em outro quarto, Omnislai encara a TV com uma expressão irritada, o que deixa Humine tenso. Repetições de momentos importantes da luta passam, havendo um debate de Malena e Gaojung sobre cada parte.

 

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De volta à arena, em uma arquibancada mais baixa, as pessoas conversam entre si, ainda afetadas pela empolgação no ar.

Entre eles está a mulher de cabelos brancos, se destacando na multidão por ser a única com a cabeça abaixada, orando. Ela começa a tremer, o que chama a atenção de um casal ao lado, que é assustado junto dos indivíduos próximos quando a moça ergue os braços de uma vez, gritando:

— AEEEE!!! ELE GANHOU!!! HA HA HA!!!

“O que há com essa mudança rápida de personalidade?!”, pensa o casal perto, abraçados.

A mulher ri por mais algum tempo, ficando com as bochechas vermelhas pela excitação. Ela olha para a arena com o pouco que revela das íris rubras — centros afiados —, expirando densamente ao ver a imagem do Kaon passando no telão.



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