Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 24: Resistência à Força

No andar VIP, o trio assiste o confronto, estando Unsai com a expressão mais séria entre eles.

“Não abaixe a guarda”, pensa. “Kaon é do tipo que fará de tudo para ganhar.  Apesar da sua grande vantagem, fique de olhos bem abertos, Holpos.”

— Hoh… Aquele alto está emitindo uma impressão melhor do que na primeira fase. — comenta Shinsai. — O que ele fez para ficar desse jeito?

— Sendo sincero, nada de mais. Só o fiz estudar todas as informações que tínhamos, e a formular algumas estratégias contra os mais fortes.

— Entendo. Que sorte então, Kaon foi o oponente que você conheceu melhor.

“Sim. Para poder tocar nos favoritos, esse é um muro que terá que ser destruído. Está e suas mãos.”

 

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Em outra parte do prédio, Ury conversa com um médico, um estranho, que está coberto por um manto longo — o chefe.

— Como está meu irmão? 

— Ele sofreu algumas fraturas na mandíbula, principalmente por próximo do queixo, mas nada que não possamos resolver antes da próxima fase.

— Entendo, sou grato pelo trabalho duro.

— Não seja tão sério, coisas desse nível não chegam perto do que lidamos lá “embaixo”. — Seus pés viram junto do corpo, se afastando dali com passos curtos. — Porém… o estado mental está além do nosso serviço. Se ele ainda poderá lutar em forma, é algo que dependerá da sua consciência.

O rapaz fica mais sério ao ouvir essas palavras, também tomando seu rumo após o fim da conversa.

 

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Na arena, um estrondo soa; Kaon desliza bastante pela areia, seu braço esquerdo vermelho devido a pancada que levou. Seus pés param encobertos pela poeira formada no caminho.

Os dois lutadores se entreolham, estando Holpos com um sorriso esnobe no rosto.

— Quanta força! — grita Gaojung. — Por um instante achei que estivesse vendo Traçal em ação!

O robusto avança com um pulo, encurtando a distância até o adversário, ao estar próximo o suficiente, lança um soco reto na direção do queixo, que emite um baque pesado no acerto.

Na dissipação do vapor o rosto amassado do Kaon é exposto, tendo levado o golpe na bochecha, vendo o oponente jogar a outra mão contra ele, fazendo-o recuar para trás.

Holpos prossegue pressionando com socos laterais, de balanços não muito longos, que forçam o rival a ir de um lado a outro para se manter fora do caminho. Às vezes, no tempo entre as ofensivas, o robusto tenta pegá-lo com a palma aberta, ainda sem sucesso.

Com o tempo o atacante consegue mais dois acertos nos braços do Kaon, emitindo sons pesados pela força nas colisões, mas na saída do golpe reto, ele reage, batendo o lado contrário da sua mão esquerda contra o antebraço do oponente, mudando sua rota. No surgir dessa brecha, um ataque é desferido contra a face do Holpos, afundando sua bochecha.

“Hã? O que foi esse soco de marica!?” Ele vira o rosto junto do corpo, desferindo um ataque na defesa inimiga de dois braços colados, jogando o adversário para longe.

Holpos investe descendo repentinamente seu centro de gravidade, ganhando uma velocidade anormal que usa para achegar-se do rival.

O robusto joga um soco lateral de esquerda, batendo em parte na guarda e o lado do corpo do Kaon, marcando-o. Em seguida ele desfere um direto de direita, que se choca contra o lado da face do adversário, tornando sua visão turva — só um é o bastante.

Quando Holpos ia seguir para dar um chute, para subitamente, buscando a saída de um movimento pela finta, mas nada acontece. Os dois se encaram, congelados no tempo.

Um festival de estáticas por seus pelos sentidos do Kaon ao ter a coxa acertada em cheio por um chute. Holpos retorna a perna, em seguida joga um soco de direita; o lado contrário da mão do adversário empurra seu antebraço, desviando a ofensiva que marca o ar como o disparo de um canhão.

O robusto investe para fazer um ataque com o demais punho, que compartilha do mesmo destino, seguindo por um lado vazio ao ter a rota redirecionada. Com a aproximação do oponente, Kaon para de afastar os antebraços, girando as mãos para agarrar os bíceps dele, puxando-o para baixo até dar uma cabeçada no seu nariz.

Os narradores e o público ficam pasmos. Sangue esguicha na colisão dos lutadores.

“Ah! Agora ele conseguiu!”, pensa Holpos, se afastando do adversário que faz o mesmo. Ele está sangrando pela área acertada ao ponto de formar dois caminhos vermelhos até o queixo, enquanto Kaon sangra no centro da testa. “Tch! Foi você que me bateu, por que está nessa condição?! Que patético!”

Holpos restabelece o equilíbrio, arrancando contra o rival, conseguindo pegar o braço dele.

— Meu turno novamente!

Ele puxa o braço do adversário, quebrando sua postura, o aproximando para dar um soco. O braço pego é apertado como uma garrafa seca; o punho corta o ar até o rosto do Kaon, cada vez mais próximo do seu olhar gélido. 

O rapaz lança seu pé contra o do Holpos, explodindo a terra sem encontrar nada, pois foi previsto; o oponente está com a perna para trás, mostrando um sorriso arrogante.

— Hahaha! Como se esse truque fosse funcionar contra o grande eu! — Por ter jogado parte do seu equilíbrio para se esquivar, Holpos está numa pose de quase queda que impulsiona mais ainda o balanço do seu soco, um que atinge em cheio a cara do rival. Os músculos do seu braço estão enrijecidos ao limite, mostrando várias veias ressaltadas durante o estrondo do êxito..

Kaon é jogado contra o chão, por onde bate as costas e roda, vendo o mundo torcer-se até parar de frente sobre o chão, estirado igual um defunto. Sangue cai como uma chuva tardia.

— E ESTÁ ACABADO!!! — braveja Gaojung, levantando-se da cadeira. — Que soco impressionante!! Esse é realmente Holpos?!

— Definitivamente! — responde Malena. — Eu disse! Ele não é mais o mesmo! Para este torneio, todo o preparo que fez deve ter liberado o seu potencial por completo! 

— Não há dúvidas! Com essa demonstração é fácil dizer! Holpos prova ser tão forte quanto um dos Quatro!!

A terra é manchada de sangue seco por próximo da cabeça do que foi derrubado, estando ele numa posição desconfortável com os braços e pernas quase virados. Do outro lado, o robusto estala a língua, passando a mão no rosto para tirar o excesso de sangue.

— Levante!! — vocifera Holpos com um olhar enraivecido.

Uma perna dobra-se repentinamente, deixando um rastro no chão, logo acontecendo o mesmo com a restante e os outros membros, que se empurram da terra de qualquer jeito, levantando Kaon devagar. Ele sobe o olhar sombreado, afundando os arredores na sua intenção sombria. O oponente não é afetado pela sua hostilidade, assim como ele próprio não se abalou nenhuma vez desde o início do combate.

“Achei que ali ia ser o fim daquele desgraçado…” Holpos estala os dedos de um punho ao pressioná-los contra a outra mão. “Quando eu tava quase batendo nele, senti o seu punho me acertando nas costelas, o que por reflexo direcionou a maioria da minha aura para defendê-la. Haha! Esse guaxinim! Quantos truques você tem? E, o quão longe irá pela vitória?”

Kaon cospe sangue para o lado, estando com o centro do rosto coberto de arranhões. Ele retoma sua postura de luta, aguardando alguma ação inimiga.

 

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— Que humilhante… — pensa Humine, alto o suficiente para escapar pela sua boca.  Ele está numa cama, mantendo as costas apoiadas enquanto assiste a televisão. O quarto em que se encontra é semelhante ao que Omnislai repousou, havendo a diferença dos móveis estarem ao contrário.

O rapaz toca o pescoço, que está enrolado por várias coberturas de faixas. Na TV, o programa que vê não é o do torneio, e sim um filme de ação qualquer, com carros acelerando demasiadamente para chegarem ao outro lado de uma ponte que desabou.

Batidas na porta soam, o assustando.

“Huh? Quem poderia ser? Afinal o pessoal da academia não pode entrar aqui…” Humine se vira com uma expressão de desgosto. “Não me diga que é o Traçal! Pensando bem, só pode ser ele, não é?... Aquele maldito viria para me perturbar só por causa da luta?!”

Pela demora de uma resposta, mais batidas são dadas na porta.

— A-ah! Pode entrar!

A maçaneta gira, quem se revela é Omnislai, fazendo o outro arregalar os olhos de surpresa.

— Por que você está aqui?!

— Eai. Pode tomar refrigerante? — Ele carrega uma lata em cada mão, subindo a que oferece.

Algum tempo passa. Sentado na cadeira de visitante, Omnislai puxa assunto:

— Então não foi nada grave? Na hora que vi seu pescoço sendo cortado, achei que passaria por um bocado de problemas.

— É, por sorte não pegou em algo importante. — Ele toma algumas goladas do refrigerante. — Por que veio, senhor Omnislai?

— Que forma horrível de me chamar! Hahaha! Me chame apenas de Omni.

— Certo. — Humine vira outra vez a lata.

— Eu me perdi procurando o banheiro, aí depois decidi dar uma volta e te visitar por estar passando perto.

— Eh?! É possível se perder dessa forma?! Por que não pediu informações?

— Eu pedi, mas ainda sim me perdi. Não se preocupe, sei como voltar daqui, afinal conheço esse setor.

— Ah! sim… Você também foi parar aqui depois de se derrota- ah! Foi mal!

— Sim, foi dessa forma… 

A conversa morre com o clima mórbido. 

Omnislai se foca na TV.

— Não quer assistir à luta? — pergunta, causando impacto imediato na expressão do Humine, que fica desanimado.

— Na verdade… não vi muito da segunda do Laerte contra Kimai. Quando fico deprimido, pareço a droga de um moleque birrento. Me falta vontade- não, estou com repulsa de qualquer coisa relacionada ao torneio.

— Entendo, é compreensível. Sendo sincero, estou com o mesmo sentimento, por isso não consigo ver essa luta.

— Hã?... Mas você viu a do Laerte, certo?

— Sim, e também a sua.

— Ei, é só a quarta luta que será a do Traçal, não é para um desses caras que você perdeu.

— Hahaha… Humine… 

— O quê?

Omnislai não consegue controlar a força da mão, amassando a lata que segura ao ponto de jorrar o líquido por alguns buracos. 

— Eu não perdi só uma vez.

O outro fica embasbacado, abrindo bastante a boca antes de gritar um “hã!?” que soa até o lado de fora.

 

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No salão do andar VIP, Unsai sua muito com o que vê pelo telão; suas sobrancelhas não conseguem ficar paradas. Ao lado dele é onde Traçal está sentado, por sinal, de maneira excessivamente relaxada, com os braços estirados para os lados do topo do sofá enquanto mantém as pernas no banco em que são colocadas as bandejas dos pedidos.

— Que movimento lixo — comenta Traçal, ficando com um sorriso estampado. — Minha avó faz melhor.

Unsai tenta ignorar a existência dele, Shinsai está indiferente quanto a situação.

— Ei! Shinsai! Quando será sua próxima luta?! 

— Não sei, ninguém mais quer me desafiar faz algum tempo.

— Bando de bundas moles!

O tom informal do Traçal deixa Unsai ainda mais tenso, girando suas íris numa espiral de confusão.

— Shinsai, vocês se conhecem? — indaga, interrompendo-os.

— Sim, apesar de ser muito raro conversamos.

— Foi ele que quebrou a cara do meu pai até que ele não pudesse mais competir — diz Traçal, surpreendendo Unsai ao ponto de o deixar perplexo.

— Não há problema em dizer isso?...

— Hum? Por que teria? Todo mundo viu aquela luta, não? O mundo sabe que o chão foi limpado com meu pai.

“Que filho sensacional”, considera Unsai, “como ele consegue dizer esses negócios sobre o pai tão levianamente?”

— Ele foi um adversário interessante — comenta Shinsai.

— É. Pai era forte, mas não o mais. Ou seja, um fracassado de certo modo.

“Eu vou sufocar com essa conversa!” Unsai segura seu pescoço, tendo dificuldades para respirar.

— O que acha dessa luta, Traçal? — pergunta Shinsai. — Afinal seu oponente será decidido nela.

No telão é mostrado Kaon e Holpos trocando socos, torcendo o ar à volta pela intensidade das suas movimentações.

— É hilário. Mesmo os seus melhores atributos são inferiores aos meus. Se Holpos tem “70” de força, tenho mais de “100” de força. Se Kaon tem “70” de técnica, tenho mais de “100” de técnica.

— Nesse caso… seus olhos só podem enxergar um rival agora.

— Sim! Laerte é minha maldita esperança para a final! Hahahaha!!



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