Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 18: Entre os Lobos

Confete vermelho se espalha pelo ar, rondando o interior da arena até pousar no chão. O público está animado com a visão, reparando que a iluminação se concentra em Holliver, que se encontra vestido com o traje de rei, um distinto do outro dia.

Os holofotes destacam a área de combate, sons de passos metálicos soam dos corredores; com o tempo, oito indivíduos de armadura chegam à arena. As bordas das placas cinzas brilham, refletindo presenças que ganham o foco da plateia. Elmo por elmo é desequipado, expondo os rostos dos competidores, que mantém o equipamento debaixo dos braços; Humine e Holpos acenam para a multidão com muita energia.

Faz bastante tempo desde que receberam a oportunidade de me servir, fala Holliver, sua voz é espalhada pelo ambiente. Os lutadores ficam com um joelho e punho no solo, subindo o olhar para encará-lo. Vocês realizaram tarefas importantes, conseguiram se tornar uma parte digna das minhas tropas, escalando para posições elevadas. Mas… está na hora de desejarem algo maior, e, lhes darei a chance de lutarem por isso. (...) Preciso de guardas reais, reduzam seus números a metade e venham ao meu encontro. Estarei no aguardo! COMECEM!!!

A plateia estremece, afundando o prédio em um mar de excitação.

O tempo passa, os lutadores se foram, dando lugar à roleta de sorteio, que teve metade dos nomes da primeira rodada retirados. Ela é girada, parando no Jay, em seguida, Humine; os dois assistem pelas TVs postas em seus quartos, sentindo o ar à volta ficar denso pelo surgir de uma nova rivalidade. A seta segue rodando, parando desta vez em Kimai e depois em Laerte; um estalo soa na escolha do Holpos, que ficou contra Kaon; os restantes, Traçal e Ury, ficam com a última luta da rodada.

— E ESTÁ DECIDIDO!!! — braveja Gaojung. — AS QUARTAS DE FINAIS ESTÃO PEGANDO FOGO!!! 

— Não consigo nem supor qual será a luta principal da fase… — diz Malena. — Kimai vs Laerte ou Traçal vs Ury? Os dois favoritos podem estar em xeque nessa rodada.

— Lembrando a todos que esse foi o último sorteio! Uma medida tomada para que os participantes não focassem em apenas um oponente! A partir disso as chaves foram definidas!

— Temos Humine e Jay como a luta de abertura… Que combinação interessante.

— Aproveitando o momento… — Ele se abaixa, pegando de baixo da mesa a sacola com uma caixa dentro, entregando-a para a moça.

— Hum?... O que é isso?

— Um presente.

— Eh? sério?!

—  Hahaha! É um agradecimento pela companhia.

— Que inesperado! — Ela puxa o laço, tirando um urso de dentro do pacote, abraçando-o depois de um grito. — Que fofo! Eu realmente posso ficar?!

— Claro, todo seu.

— Sua mulher não vai ficar brava?

— Pior que ela ficou! Hahaha! Por favor não me lembre, tive que comprar um gigante para ela!

— Tem uma versão gigante?!

— Aí que foi um problema, não tinha… tive que mandar fazerem por encomenda, hahaha… 

Os dois riem, iniciando uma discussão animada para a transmissão. O mundo assiste, ansioso pela proximidade do primeiro confronto.

 

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Em um dos salões VIPs estão Omnislai, Unsai e Romanto, andando no rumo de alguns assentos para assistirem o conteúdo do telão. Em contraste ao lugar de apostas, há pouca luz, havendo gravetos com pontas luminosas indicando o espaço entre os sofás. Alguns por ali bebem com mulheres debruçadas sobre eles; a conversa dos narradores soa pelo local.

— O tempo passou voando, em? — comenta Unsai. — Esse andar é impressionante, quanto será que Holliver gastou nesse prédio?... 

— Provavelmente mais do que iremos ganhar nessa década — responde Omnislai, rindo desconcertado.

— Sintam-se livres para me chamar quando desejarem. — Romanto se despede, pegando-os de surpresa.

— S-sim! Eu e Omni somos gratos pela recepção, até mais!

Romanto vai embora.

— Eita! Esqueci de perguntar quais são nossos lugares!

— Não fale alto, idiota — repreende Omnislai. — Uh… Vamos pegar um lugar que esteja vazio, qualquer coisa a gente pede desculpas se já for de alguém.

— Certo.

Eles vão procurando por assentos livres pelas áreas mais distantes do telão, transitando enquanto cumprimentam os que estão sentados pelo caminho. Em certa parte, uma risada feminina faz Unsai sentir calafrios, tirando seu foco naquele trecho. Não tendo sucesso na busca atrás, eles andam pelas brechas nas fileiras do meio, enfim achando um sofá em que podem sentar despreocupados.

— Que confortável… mas não consigo deixar de ficar nervoso com esse clima. — Unsai estende os braços por trás do móvel, virando a cabeça para o alto.

— Talvez tenhamos que acostumarmos com esse ambiente no futuro. Tipo, os figurões estão reunidos como amigos, então deve ser comum uma reunião desse naipe, e creio que o futuro das nossas carreiras poderão ser influenciando em cada uma delas.

— Por enquanto creio que isso só vai valer para você. Ah… bem, estou mais preocupado com aquela TV ali do lado.

— Como assim? Onde está?

— Ali para a direita.

Na tela dela está sendo mostrado os valores investidos em Humine e Jay respectivamente: “$41.858,00”  e “$160.271,10”.

— Quanta grana! — Omnislai fica desnorteado, olhando fixamente para a televisão. — Será que também apostaram na minha?

— É bem provável. Me pergunto… se isso é legal. Em todo caso, não é da minha conta.

Uma garçonete passa por eles para pegar seus pedidos, voltando depois com lanches e bebidas, colocando os conteúdos na bandeja sobre uma pequena mesa à frente. Os dois agradecem, pegando suas partes em sequência.

— Huh? — Unsai estranha algo ao pegar um dos pratos com sanduíches.

— O que foi?

— Será que foi um engano?... Veio bem mais do que pedimos.

— Verdade… Hahaha! Não vejo pro… — A dupla congela ao ver uma mão robusta pegando um dos sanduíches, acompanhando com os olhos a retração do braço que os leva até a boca, onde é mordido. Shinsai está sentado ao lado deles, mastigando sem nenhuma preocupação; os rapazes branqueiam, sentindo suas almas esvaírem dos corpos.

— SHIN- — A boca do Unsai é tampada pelas mãos do Omnislai, impedindo o começo de uma confusão. O homem não se importa, vendo-os com seus olhos desanimados, jogando o que sobrou do sanduíche para dentro da boca. Seu terno está jogado ao lado do móvel. — C-como!? Por quê!?

— Eu já estava aqui desde antes de chegarem. — Shinsai tem uma voz pesada, mas branda em ritmo. — Também fiz o sinal para a garçonete trazer mais uma porção. Sanduíches e refrigerantes, é…? Fazia tempo que não comia isso, porém não abusem, em grandes quantidades essa alimentação pode destruir o preparo físico de vocês.

— Só pode ser brincadeira… — Unsai segura a própria testa.

— Do nada estamos tomando uma bronca do melhor lutador do mundo?...

— Parece que sim… Ah! É mesmo! Estamos invadindo- — Ele ia se levantar, se impedindo ao ver o gesto da mão do Shinsai, que está sendo balançada para indicar que continuem sentados.

— Apesar de não tê-los convidado, podem ficar. Terão dificuldades em achar outro sofá livre.

— E-entendo… nos desculpe pelo inconveniente…

— Como está sua orelha? — Ele aponta enquanto segura uma lata na mesma mão. — Lembro que foi arrancada.

— Está boa, não tiveram dificuldades em recolocar, mas as cicatrizes vão precisar de um tratamento à parte para sumirem com o tempo.

— Decidiu que não vai “tirá-las”, certo?

— Ah... sim… Como sabia? — Unsai o observa, pensando: — Ele viu a minha batalha? O campeão do mundo?

— A forma em que luta é como um livro aberto sobre sua personalidade. Enfim… não fique entristecido pelo resultado, só teve azar.

“É verdade que eu tive bastante azar nas últimas trocas, entretanto, não acho que posso chamar aquilo de má sorte, é desconsiderar todo o esforço e habilidade do oponente… Porque estão me dizendo isso?... Até o treinador na ligação também…”

Enquanto isso, Omnislai tem dificuldade em respirar. Ele sente a aura densa que é emanada do Shinsai torcer o ar à volta em azul; os olhos dele, que possuem o mesmo tom gélido, transmitem uma impressão de indiferença em sua vastidão seca, levando-o a pensar:

“Como Unsai está tão tranquilo?... Sendo sincero, se fosse viável caçar outro lugar para sentar eu teria pedido licença e ido. Aqui ficou sufocante quando ele se revelou, sinto como se meu pescoço não pudesse sair do alcance dele independente do quanto minhas pernas se movessem.” Sua atenção tenta se manter no telão, suas pálpebras tremem. “Não senti isso na visita do Lorde… Será que era por ele estar calmo? Se for, significa que Shinsai está sempre preparado para lutar, preparado… para matar… podendo desligar e ligar a sua intensidade igual um interruptor.”

Omnislai morde a mão, fazendo sangue escorrer do ferimento; sua expressão está com a testa franzida e um olhar ameaçador.

“Geralmente me empolgo para brigar com qualquer um que seja forte, mas ele é diferente. Cada molécula do meu corpo está gritando que não quer o confrontar… Minhas pernas estão tremendo, não consigo acalmá-las. Então… esse é o topo do mundo?”

 

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O momento do primeiro confronto chega.

Humine está caminhando pelo corredor, já tendo se trocado para o combate. A plateia está nervosa, aguardando a entrada dos lutadores; a música ambiente, feita por tambores e trombetas, tem uma mudança, se tornando algo de ritmo mais frequente e intenso.

Os pés do rapaz param pela presença do Traçal à frente, que se encontra com as costas apoiadas em um muro, encarando-o junto de seu sorriso esnobe.

— Por que você está aqui? Não me diga que veio encorajar e dizer que vai torcer por mim!?

— Que merda está dizendo? Hahahaha! Isso tudo é porcaria sem valor, tenho algo útil de verdade: um conselho.

— Isso também é inesperado… Qual o motivo para querer me ajudar? 

— Só estou retribuindo o favor daquele dia. Porém, não é o que interessa agora. “Canelas”…

— Hã?...

— Acerte as canelas. Foque o melhor do seu estilo nisso.

— Ah… entendo! Sou grato. — Seu tom se solidifica na última parte.

Traçal passa pelo rapaz, abandonando o local; uma mão cai desde o alto, acertando Humine no meio das costas com a palma, fazendo-o esboçar uma careta que destaca seus dentes cerrados e contornos da boca igual um velho.

— E… agora? — O atingido está inclinado, ficando com uma mão na marca do impacto. — Por quê?!...

— Só me veio a cabeça que seria interessante ver que cara o estrangeiro faria se perdesse para um desconhecido igual a você, então te dei mais uma coisa para ajudar a combatê-lo. — Ele se vira, voltando a prosseguir pelo corredor com as mãos nos bolsos. — “Ímpeto”. Apesar dos poucos neurônios que possui, a use bem, desperte com essa dor.

— Tch! Apenas aguarde… Traçal! Vou amassar a sua cara após acabar com o Jay!

— Como se fosse possível, retardado. Me chame se for sair com mais gatinhas! Hahahaha!

Um sorriso se forma no semblante do Humine, que volta a seguir seu rumo. Suas íris estão queimando com poderosas chamas.

Os barris na entrada da arena jorram faíscas azuis e verdes em grandes quantidades, criando uma nuvem de fumaça que é aberta na passagem do Jay, que surge com parte do olhar exposto, um tão ameaçador quanto o de um assassino. Ele está trajado com as mesmas roupas da primeira fase.

Do outro lado são lançadas faíscas vermelhas e amarelas, saindo o usuário de ninjutsu do interior da tempestade de brasas: Humine.

— (…) tão ágil que é difícil não ser feita uma comparação com Omnislai! — começa Gaojung. — Dos portões de fogo veio um desconhecido, um que a qualquer brecha pode perfurar seu coração, como um ninja!! Será que seu estilo pode confrontar a “rocha” de frente?! Surtirá efeito?! Oh! O juiz se distância! e o apito soaaaa!! QUE A BATALHA, COMECEEEEE!!!

“Confrontos da segunda rodada:

Jay vs Humine

2º Kimai vs Laerte

3º Holpos vs Kaon

4º Traçal vs Ury



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