Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 17: Passe para o Topo

Um fotógrafo está incrédulo com o que vê, encoberto pelos clarões das câmeras. O público fica agitado, se amontoando nas bordas do caminho que leva ao interior da arena. Os seguranças impedem um avanço maior.

— Ele veio!! — grita um fotógrafo no telefone. — Shinsai veio em pessoa assistir o torneio!!

O campeão do circuito profissional surge diante do Torneio da Corte.

Ele tem 1,87 m de altura vestido com um terno para a ocasião. Seu cabelo é negro, liso e mantido para trás; sua face é inexpressiva, mantendo olhos sempre semiabertos, não esboçando nenhuma reação mesmo com o ataque dos flashes.

Ao chegar na entrada do prédio ele se vira e se inclina um pouco à frente, em um gesto de respeito a todos ali, que ficam surpresos; em seguida segue seu rumo, desaparecendo no interior do local.

— Caramba — comenta um fotógrafo —, não esperava que ele fosse vir! Que presença!

— Ele é quem está no topo do mundo das artes marciais — diz outro —, porque ele viria até essa cidade por um torneio como esse?

— Talvez ele seja um fã do Holliver.

— Entendo… Isso é inesperado, considerando que nunca participou de algum torneio dele.

— E se for para negociar pela yrai?...

— Ah! é verdade! Mas a dele não é uma Tier 6?

— Sim, mas na academia dele os maiores nomes só tem as de Tier 4, não? Seria uma boa aquisição.

— Mmm… Não sei se acredito nisso, não soa como algo que ele faria, apesar de ser possível. Prefiro acreditar que veio como um expectador.

— Fiquem atentos!! — fala outro fotógrafo para sua equipe próxima, também estando em uma ligação pelo celular. — Se ele veio, qualquer outro nome gigante pode aparecer! Não podemos perder para as outras revistas na qualidade das fotos! Peguem os melhores ângulos!!

— CERTO!!! — respondem em uníssono.

Com o passar do tempo, Traçal chega junto do seu pai no local. Em sequência, Laerte e Ury.

Holpos quando aparece no local não causa uma comoção, mas o pouco público interessado por ele o faz manter um sorriso bobo ao andar pelo tapete vermelho; sua mão balança de um lado ao outro, acenando para esse pessoal. Ele está acompanhado do Unsai, que puxa o boné que usa para mais baixo, tentando ocultar sua presença envergonhada.

Mãos afundam pelos bolsos, um cabelo amarrado como rabo de cavalo balança de um lado a outro. Os passos desse indivíduo chamam a atenção dos fotógrafos, surpreendo-os: Omnislai comparece ao evento. Ele está vestido com um terno cinza, caminhando sem expôr receio. Os clarões o encobrem, só parando quando tal desaparece no interior da arena.

No segundo e último dia do Torneio da Corte, seis lutadores compareceram pela frente, sendo suposto que os dois restantes entraram pelos fundos.

 

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— (...) agora é contigo. — fala Unsai. Ele e Holpos estão em um corredor, havendo uma escadaria à frente. — Vai lá, traga a honra da vitória para nossa academia. O pessoal iria te enaltecer até caírem de cansaço.

— Hahaha! Isso soou interessante! Não vou falhar como você, apenas aguarde! Meu nome se espalhará por todo o país!

— Impossível impossível.

— Hã!? De novo isso?!

— Só estou brincando, haha… Você estudou bem os oponentes, e acordou hoje sem nenhuma preocupação. Você pode ganhar, então me mostre até onde pode ir.

— Com certeza! Não perca um movimento! Deixarei todos da plateia em choque! — Ele vai embora por uma rota próxima, sumindo da visão do Unsai, levando consigo uma mochila para fazer seus preparativos.

— Falou!

O demais, vendo que seu amigo já partiu, se vira com um sorriso modesto, indo no rumo dos degraus ao lado.

— EI!!! Espera aí!!

— Huh?

Unsai olha para quem está gritando, deparando-se com a cena de alguém correndo na sua direção.

— Omnislai!

— Eai!

Ele acelera, surgindo de uma vez à frente do outro; um punho perfura o ar, acertando a face do Unsai, espalhando vapor à volta.

— Hm? O que foi?

O rosto do acertado não sofreu nenhum dano ou marca, pois, fora a aproximação em corrida do outro, tudo havia sido algo da sua imaginação.

— N-nada…

Sua perna direita sobe um degrau num recuo.

“Nem ferrando”, pensa Unsai, “essa velocidade é absurda… Eu teria perdido com um golpe se tivesse enfrentando ele na primeira rodada…”

— Você vai para o andar VIP, não é? Desconheço as pessoas por lá, então que tal irmos juntos?

— Ah? Tudo bem.

Os dois começam a andar pela escadaria. 

— Essa situação é uma surpresa, Omnislai. Não acreditei que outro lutador derrotado fosse aparecer além de mim.

— Me chame só de Omni.

— Certo.

— Bem… eu fiquei curioso para ver como vão se desenrolar os próximos confrontos, e como recebemos ingressos gratuitos por participarmos como lutadores, decidi que devia  assistir de perto ao invés de ser por uma TV.

— Entendo.

— Ainda sim foi vergonhoso passar pelo tapete vermelho… — Ele coça o queixo com o indicador. — Talvez eu devesse ter ido pelas portas dos fundos.

— Acho que iria gerar boatos ruins se fôssemos por lá, tipo: “Aqueles maricas ficaram muito envergonhados para mostrar a cara depois de terem perdido. Que vergonha”, algo assim.

— Aí creio que você está exagerando um pouco, hahaha!

— Talvez.

Eles chegam perto de um segurança, que está parado à frente da curva de um corredor.

— Ei! — diz Unsai. — Pode nos dizer onde fica nossos acentos? Os convites que recebemos não mostram… — Ele entrega os papéis, que o homem aproxima dos seus olhos ao pegá-los.

— Subam. — O segurança devolve os convites, apontando para outra escadaria.

— Entendido… Valeu.

A situação se repete, se repete e se repete mais algumas vezes. A dupla fica tensa, principalmente quando chegam a um andar em que o corredor está enfeitado por quadros, vasos e lustres.

— Omni… Você está pensando o mesmo que eu?

— Provavelmente… mas é difícil de acreditar que vamos parar “lá”. Um engano… pode ser isso.

A dupla entrega os papéis para um dos guardas, que se encontra ao lado de duas portas grandes de madeira, estando com uma armadura acinzentada de elmo alongado. Ele se inclina levemente, em seguida vai abrir a entrada, expondo os rapazes a um novo mundo. As portas são fechadas quando eles entram, abandonando os boquiabertos.

— Olá senhores, se me dão licença... — diz uma empregada ao se aproximar. Ele põe um emblema na roupa de cada. — Tomem cuidado para não perderem, é o comprovante dos seus direitos como VIPs. Qualquer problema que encontrarem, chamem algum segurança.

— Sim… — respondem, ainda incrédulos com a vista. 

Os rapazes dão uma boa olhada pelo local. Há uma grande movimentação nas mesas de jogos, por onde pessoas gritam devido aos resultados das apostas, estando outros conversando enquanto seguram taças de champanhe ou vinho. O lugar é um salão espaçoso, um com molduras presas aos pilares e tapetes vermelhos com traços claros cuidadosamente posicionados pelo chão. As mulheres usam vestidos distintos, algumas expondo partes das pernas ou bustos com as aberturas, estando com os cabelos presos em penteados caprichados; seus lábios e olhos maquiados — naturalmente também os corpos — estão destacados na vista da dupla.

— E-eu deveria ter vindo de terno! — exclama Unsai.

— Esse meu nem se compara com os desses caras!

— O que deveríamos fazer agora?!

— Não faço ideia… V-vamos começar dando uma volta, evitando chamar atenção.

— Parece bom… Caramba! Se os outros que perderam soubessem que receberam acesso ao andar VIP, com certeza teriam vindo! Têm tantos figurões por aqui!

— Desde profissionais de renome à ex-profissionais que fizeram história. Pelo que fiquei sabendo da semana passada, o nível dos que estão aqui está muito acima.

— Vamos andar logo, senão vão pensar que somos estranhos por ficarmos parados por tanto tempo na entrada.

— S-sim.

Eles caminham perto das paredes, passando longe dos amontoados com mais gente, cumprimentando devidamente os indivíduos que cruzam seus caminhos. Telas estão espalhadas por cantos diferentes do local, desligadas por ainda faltar tempo para o evento começar.

— Como estão, meus caros? — pergunta um homem barbudo, espantando os rapazes com o seu surgir repentino.

— Você…! — Omnislai se recorda dessa pessoa. — Você era aquele cara dos testes de admissão!

— Vejo que tem uma boa memória. Me chamo Romanto, é bom vê-los novamente. Sou o encarregado de cuidar do setor VIP.

— Senhor — começa Unsai —, está mesmo tudo bem em nós estarmos nesse andar? Não querendo ser rude, é só que não fomos avisados e nem estava escrito nos convites, então estive considerando a possibilidade de ter ocorrido um engano.

— Não se preocupe, e mesmo que não tivessem a permissão para vir a esse andar, qualquer um que está aqui iria acolhê-los para darem uma olhada se pedissem, afinal sabemos que temos que cuidar bem do “ouro” da nova geração.

— Viu, Omni? Eu te disse que estava bem na fita e que não precisava ter receio de estar aqui. — Ele bate nas costas do rapaz, que está olhando para o lado devido ao nervosismo. — Você teve um desempenho excelente, não há com o que se preocupar! hahaha!

— Também me refiro ao senhor — diz Romanto —, não desmereça seus esforços.

— Hã? Eu?... Mas… eu perdi na primeira fase como um “Zé-Ninguém”…

— Acompanhamos seus esforços desde o teste, sabemos o quanto progrediu. Não é uma pessoa qualquer… Com certeza seu talento não é ordinário, senhor Unsai.

— Vamos… — Ele abaixa o olhar, batendo de leve no nariz com um dedo, esboçando um sorriso. — Não precisa tentar me animar… Obrigado.

— Entenderá futuramente que aquela derrota não manchou seu potencial, não poderia ser possível que a manchasse. Tenho certeza que entenderá.

— Hum?...

Romanto colide as mãos, uma palmada que faz os jovens abrirem mais os olhos em surpresa. Ele diz:

— Em todo caso, devo dizer-lhes que há muito para mostrar nesse andar. Esse é apenas um dos dois salões, também há vários quartos exclusivos de observação pelo corredor. Que tal uma volta antes do evento começar?

— S-soa bem — fala Omnislai. — Por favor, nos mostre.

— Com todo o prazer, irei aproveitar para apresentar os senhores às pessoas que podem causar experiências interessantes.

Os três caminham, Romanto fica sempre à frente deles para mostrar partes do lugar com as estendidas do braço, explicando sobre o lugar sem nunca sair da sua impressão sofisticada.

 

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O horário passa, a plateia é liberada para entrar, ficando estonteada ao chegar nos locais dos acentos: todo o aspecto das poltronas foi remodelado, estão com tons mais fortes, havendo sinais claros da meticulosidade de suas criações em cada fio que as compõem — como a textura de algo feito manualmente. As mãos das pessoas deslizam pelo material, sentindo a maciez antes de sentarem — semelhante aos que estão mais impressionados com as paredes e pilares fazem. O lugar está muito mais dourado que no primeiro dia, repleto de adornos mais complexos, compostos de linhas paralelas indo de um lado ao outro em formas torcidas.

Os lençóis e bandeiras espalhados pelos setores da arena foram igualmente mais caprichados, portando mais jogos de cores e variações de textura que no passado. Os holofotes no teto fazem o local cintilar. No teto, diferente de antes, o desenho do gavião não está sendo ofuscado, pelo contrário, a aplicação de lâmpadas por seu contorno o fez evoluir para uma forma de chamas; para uma fênix.

— OLÁ A TODOS!!! — grita Gaojung, que já está sentado à mesa com a companhia da Malena. — ESTOU FELIZ EM VÊ-LOS NOVAMENTE!!! (...) Espero que tenham descansado devidamente para essa noite! Do começo ao fim, essa madrugada promete ser conturbada!! Tenho certeza que vieram tendo ciência de que terão dificuldades até para piscar! Me sinto honrado de poder estar aqui outra vez com essa maravilhosa moça, que irá me ajudar com a narração!

Ele levanta, abrindo os braços ao olhar para o alto. 

— A partir daqui, serão apenas os melhores se enfrentando até que reste apenas um de pé! Então… por que não começar logo com os sorteios?! Por que não começar decidindo… o destino dos lutadores?! Vamos lá!



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