Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 9

Capítulo 5: Chamado da Alma

PARTE 1

Já fazia muito tempo desde aquele dia...

A linda lua pairava no céu.

Ele olhava para a lua, sentado na varanda da residência.

Ele segurava um copo de vinho. O vinho aromático difundia-se no ar.

“Yakou-sama.” Um chamado vinha de dentro da residência, na escuridão que o luar não havia alcançado.

“Você ainda não mudou de idéia?”

Ele sorriu amargamente e tomou um gole de seu vinho em resposta a essa pergunta.

Então, ele respondeu, ainda sorrindo:

“Sim.”

Então, ele deixou cair o sorriso e continuou:

“Desculpe.”

Os sons de insetos que vinham do pátio com indiferença e suavidade aliviavam o silêncio entre eles.

Ela silenciosamente olhou para seu mestre ao luar.

Então, ela se sentou corretamente e lentamente inclinou a cabeça.

Independente de como fosse, o tempo que passaram juntos era precioso.

 

 

“Kon! Estou contando com você!”

Harutora deu um salto para trás, encarando Kagami. Kon materializou-se usando o Fogo de Raposa como uma cortina de fumaça de fogo, e a Asa do Corvo imediatamente se virou para escapar.

Mas...

“Aah?”

Kagami emitiu um som perigoso, cortando casualmente com a katana na mão esquerda.

A cortina de fumaça de Fogo de Raposa que Kon colocou fora dispersada pela lâmina. Kagami estendeu a mão direita em direção a Harutora, curvando os dedos enfeitados com garras.

Elas rasgaram o ar, primeiro na horizontal e depois na vertical. Kuji-kiri. A energia mágica que havia sido infundida em seus dedos passou pelo espaço, fazendo surgir um padrão de grade na frente de Harutora que foi derrubado pela parede mágica.

Foi o movimento que repeliu o Nue na primeira vez que se viram. Se a Asa do Corvo não estivesse enrolada em torno dele, não teria sido estranho se ele tivesse morrido.

Kagami olhou com olhos estreitos para Harutora e disse:

“Não corra. Eu posso cortar um de seus braços ou pernas, se você tentar.”

Embora ele também fosse um General Divino, ele era completamente diferente de Kogure – mas ele dava um sentimento avassalador. A indescritível sensação de estar na frente de uma fera carnívora selvagem. Harutora caiu de joelhos depois de ser derrubado pela grade mágica, olhando com ódio para Kagami.

... Por que tinha que ser agora!?

Exorcista independente Kagami Reiji. O Onmyouji Nacional de Primeira Classe conhecido como Ogre Eater. Ele havia cruzado o caminho com Harutora muitas vezes. Ele era a pior pessoa para ter como inimigo agora.

“Você cuidou desse cara antes.”

Depois de dizer isso, Kagami apontou a lâmina para Harutora. Essa lâmina se chamava Higekiri e era o recipiente que abrigava o Shikigami servo de Kagami, Shaver.

Kagami estava falando sobre o incidente na filial de Meguro no mês passado. Juntamente com a operação de varredura do Sindicato dos Chifres Gêmeos que os Investigadores Mágicos haviam realizado, Kagami fora escolhido como guarda de Natsume e ele posicionou seu Shikigami Shaver ao lado de Harutora e dos outros.

Mas Shaver havia destruído a ferramenta mágica que um membro do Sindicato dos Chifres Gêmeos havia trazido, levando a uma cadeia de Desastres Espirituais. Depois de ter sido atingido por miasma e perdido o controle, atacou Natsume, Harutora e os outros que estava vigiando. Essa fora a primeira batalha até a morte no sentido mais verdadeiro que Harutora havia experimentado.

“Graças a você, o poder espiritual dele ainda não foi capaz de se recuperar. Isso não é muito cruel?”

“Não seja ridículo! Natsume e eu quase morremos por causa desse cara!”

“Foi uma boa lição? Ouvi dizer que você cresceu um pouco, Harutora? Mas...” Kagami sorriu ironicamente. “Parece que a outra não aprendeu a lição dela.”

“Seu desgraçado!” Kon ficou indignada diante de Harutora, o pelo em suas orelhas e cauda arrepiando. Escusado será dizer que Harutora sentiu seu sangue ferver como Kon. Mas Harutora suprimiu suas emoções raivosas com uma vontade de ferro.

Quem ouviria atentamente os uivos de um cachorro louco? As provocações de Kagami não tinham sentido. O que ele tinha que fazer agora era escapar com todas as suas forças. Isso era tudo. Mas isso não seria nada fácil de fazer. Ele tinha que se concentrar completamente e agir com toda a sua alma. Ele não podia se dar ao luxo de ser dominado pela raiva.

“...”

Harutora ficou encarando Kagami e se levantou devagar. Kagami instantaneamente mostrou uma expressão intrigada quando viu a atitude da Harutora.

“Você se tornou um pouco mais inteligente...? Não, isso está errado.”

É claro que Kagami já havia entendido o motivo da determinação de Harutora. Embora ele tenha elogiado o fato de não ter reagido à provocação, sua atitude se tornou ainda pior depois.

“Isso não é apenas ânsia de se tornar independente, é? Você acha que se tornou um tengu depois de fazer Shaver de tolo? Ou você está sendo controlado pela Asa do Corvo? Você acha que, como reencarnação de um lendário Onmyouji, você pode se igualar até a um General Divino, desde que tenha vontade?”

“...”

Ele não era um oponente que pudesse negociar. Ele não achava que poderia pegá-lo de surpresa enquanto ele estava falando também. Ele só podia lutar de frente. Não havia razão para vencer. Ele só precisava escapar do alcance de Kagami.

“Parando para pensar sobre isso, eu também tenho algum interesse na Asa do Corvo. Assim como a reencarnação de Tsuchimikado Yakou. Mesmo que chutar você não seja muito divertido se você for apenas um cão selvagem arrogante...”

Kagami falou friamente e depois avançou com suas botas de couro. Harutora gradualmente teceu sua estratégia naquele tempo. Kon também silenciosamente puxou sua lâmina, guiada pela intenção de luta de seu mestre. As pressões espirituais dos dois aumentaram lentamente, aproximando-se gradualmente do ponto crítico.

“Muito bem, venha, Harutora. Assim como prometi antes, mandarei você voar com um chute.”

Esse se tornou o sinal.

Harutora atacou com uma velocidade incrivelmente rápida, lançando talismãs em direção a Kagami. Ele rapidamente infundiu energia mágica na magia que ele havia tecido. A expressão de Kagami ficou séria quando ele viu esses movimentos consecutivos.

“Order!”

O que ele lançou foram talismãs de proteção. Três talismãs de proteção ergueram paredes mágicas ao mesmo tempo, formando um grupo de acordo com sua magia tecida individualmente com Kagami ao redor. Ao mesmo tempo, ele jogou talismãs novamente. Desta vez, cinco deles. Harutora correu para o lado enquanto os observava cercar a primeira parede mágica novamente.

“...”

*Swish* Kagami casualmente balançou Higekiri sem nenhum interesse.

Não importava a primeira parede mágica, mesmo a parede mágica que fora erguida depois foi cortada ao mesmo tempo. Como uma faca quente cortando manteiga. Kagami nem sequer olhou para a parede mágica, seguindo Harutora que atacava pelo lado com um olhar frio.

“O que isso deveria ser?”

A voz de Kagami estava mais decepcionada do que desdenhosa e até carregava um traço de raiva.

Mas esse era o objetivo de Harutora. Para Harutora, essa fora a primeira e maior oportunidade de vitória. Ele havia conseguido o ponto cego do Ogre Eater.

“Order!”

Magia ativada quando a barreira fora cortada como pano. O que ativou foram os dois talismãs dos elementos madeira e fogo misturados com o segundo grupo de talismãs de proteção.

“O que!?” Kagami se virou e um talismãs do elemento fogo acendeu por causa da aura de madeira do talismã do elemento madeira diante dele.

A madeira gera fogo, conforme a Geração Mútua dos Cinco Elementos. Além disso, a mágica havia sido substancialmente alterada para fazer com que o calor produzisse fumaça, em vez de chamas. Vomitou fumaça como um vulcão, e fumaça negra florescendo por dentro.

Então, como para condensar a fumaça, a segunda parede mágica se estendeu para dentro. A parte cortada se reparou enquanto cobria completamente Kagami com uma fumaça preta inchada.

A primeira parede mágica tinha dois objetivos. O primeiro era ocultar os talismãs dos elementos que foram misturados aos talismãs de proteção que ele lançara na segunda vez. O outro era fazê-lo pensar que a segunda magia de proteção tinha sido igual a primeira, exibindo um talismã de magia original.

A primeira parede mágica foi para enganá-lo, e a segunda parede mágica produziu a fumaça preta agora em expansão que havia sido direcionada para dentro. Além disso, ele se afastou da magia para desviar o olhar. Era uma combinação complexa de magias.

Claro, ele não achava que isso poderia derrotar Kagami. Mas a fumaça negra fechou-se por dentro, espalhada como as chamas de Kon e depois foi toda comprimida em Kagami novamente. Além disso, quando ele foi selado dentro da aura de fogo da fumaça negra, o fogo conquistaria a aura de metal de Higekiri.

Ele havia parado Kagami. Sua magia havia sido tecida especialmente para esse objetivo – para essa estratégia.

“Kon, estou contando com você!”

“S-Sim!”

Deixando Kon lá, Harutora passou rapidamente pela estrada com a Asa do Corvo em um piscar de olhos. Antes que a parede mágica fosse destruída e a fumaça negra se dispersasse – enquanto a visão de Kagami era selada, ele deixava o campo de batalha e correria para um beco estreito.

Deixar Kon para trás era para adiar ainda mais sua busca, mesmo que só por um pouco. Kon seria capaz de se desmaterializar no último momento e escapar em segredo. Enfim, o tempo era precioso. Além disso, era um oponente poderoso contra o qual ele teria poucas chances se lutasse seriamente. Então, Harutora escolheu colocar tudo o que tinha para escapar.

Ele passou por um beco estreito, seguindo em direção à rua ao lado. Bem quando saiu correndo, ele foi iluminado por luzes à sua frente. Um carro que acabava de se aproximar freou em pânico. Logo antes de se baterem, Harutora pulou o teto do carro.

A estrada para a qual ele voava era uma via de mão dupla de quatro faixas. Havia tráfego mesmo neste momento. Harutora imediatamente elevou sua altura vários metros, mas se ele voasse mais alto que as estruturas circundantes, seria visto de relance de longe.

... Ocultar!

No instante em que ele pensou isso, a Asa do Corvo usou furtividade em seu mestre sem que Harutora precisasse usar magia. Embora ele estivesse surpreso, ele se sentia mais agradecido. Nesse caso – exatamente quando ele estava se preparando para subir mais uma vez.

“Isso é bem legal.”

Uma lâmina de energia mágica voou para ele. Ele não conseguiria evitar. Mesmo que a Asa do Corvo imediatamente sacudisse a bainha para se defender, a lâmina cortou o tecido e derrubou Harutora do ar.

“Ugh!?”

Ele caiu por cima da estrada, colidindo violentamente com uma placa do outro lado da estrada. Embora a Asa do Corvo tenha diminuído o impacto, ele ainda tinha dificuldade em respirar. Ele olhou desesperadamente na direção em que o ataque viera, notando a figura de Kagami segurando uma katana na saída do beco que ele acabara de passar.

... Tão rápido!

Como ele fez isso – ao pensar nisso, ele notou os traços de energia mágica sob os pés de Kagami.

... Droga! Ele usou o fluxo da aura!?

Era o Passo Distante.

Uma magia de extraordinariamente alta dificuldade do Onmyoudou Imperial que permitia o movimento através do fluxo da aura através do chão. Kagami ignorou a fumaça negra e as paredes mágicas que o cobriam e escapou da armadilha de Harutora através do fluxo da aura sob seus pés.

Ele havia testemunhado claramente o Passo Distante de Kagami antes, mas havia esquecido quando formulou sua estratégia. Ele fora descuidado. Além disso, sua discrição havia chegado tarde demais, mesmo por ser descuidado. Se ele tivesse se escondido ao mesmo tempo em que escapara, ele poderia não ter sido pego instantaneamente, mesmo que Kagami tivesse escapado da armadilha com o Passo Distante.

Harutora cambaleou por causa do impacto violento da colisão. Os carros que passavam buzinavam enquanto o evitavam freneticamente. Quando ele tentou tropeçar na calçada, a próxima lâmina veio. Embora ele tenha rolado para evitá-la, um carro atrás dele acelerou.

Na frente da lâmina de energia mágica.

A lâmina atingiu a parte da frente, arrancando o capô. Os pneus guincharam e as rodas traseiras derraparam. Ele girou. Quando passou pelo marcador de linha no centro, bateu em um carro do outro lado da estrada, causando um estrondo.

Os dois carros se chocaram enquanto as buzinas continuavam tocando. Os carros atrás deles pararam em pânico. Em frente as estupefato Harutora...

A próxima lâmina.

“Seu...!!”

Ele se esquivou desesperadamente, incapaz de gritar o resto da frase. No entanto, a próxima lâmina de energia mágica passou voando, como se ele nem estivesse vendo o que estava ao seu redor.

A estrada de asfalto estava destruída e os carros foram destruídos. As portas automáticas dos prédios desmoronaram e as placas foram cortadas. Carros viraram para a calçada. Motores pararam. Gritos, buzinas e freios continuaram um após o outro, criando novas falhas.

Caos.

“Estou com o Bureau de Exorcismo! Estou começando a purificar um Desastre Espiritual. Vocês, pessoas comuns, vão encontrar abrigo!”

Depois que Kagami os advertiu em voz alta, ele caminhou vagarosamente até a estrada cujo tráfego havia sido interrompido. Harutora duvidava da sanidade de Kagami.

“O que você está fazendo...!?”

“Ah? Como assim? Você ouviu, estou purificando um Desastre Espiritual. Essa Asa do Corvo era originalmente uma ferramenta mágica designada como proibida. Como você a trouxe para fora, bem, pode haver algum dano.”

Kagami falou sem rodeios com uma atitude indiferente. Em outras palavras, ele planejava culpar todo esse desastre como sendo pela Asa do Corvo.

“Bastante admirável, Harutora. Essa armadilha agora era excepcional, mas deixe-me dizer que você está colocando muita ênfase em pequenos truques. Em batalhas reais, você tem que ser mais esperto.”

... Que vergonhoso...!

Seu coração se contorcia de raiva. Mas, por outro lado, ele sentia raiva de sua própria superficialidade.

Por exemplo, a batalha mágica entre Ohtomo e Doman, gravada em seu coração. Embora tivesse sido uma batalha real, havia sido simultaneamente uma competição mágica. Os dois obedeceram às regras silenciosas e compararam suas técnicas.

Mas isso era diferente. Ele estava ganancioso pela vitória.

As pessoas que ouviram o aviso de Kagami fugiram gritando. Isso faria com que as equipes de purificação de Desastres Espirituais chegassem ainda mais cedo. Harutora desesperadamente atormentou seu cérebro. No momento, o mais importante era o que fazer em seguida. Mas agora que havia perdido sua melhor oportunidade, as mesas viraram e ele foi forçado a seguir o caminho mais perigoso.

... O que ele deveria fazer?

“O que há de errado, você não vai fazer nada? Então eu vou.”

Depois de dizer isso, Kagami agarrou Higekiri ao contrário e levantou-o acima da cabeça, jogando-o fora.

“Hah!”

“O que!?”

Aturdido, Harutora mandou a Asa do Corvo bater as asas para escapar no ar. Mas naquele momento, Kagami já havia formado um selo com as mãos livres.

“Noumaku sanmanda bazaradan kan!”

Uma energia mágica avassaladora explodiu e chamas se acenderam ao redor de Kagami. As chamas se estenderam e se tornaram uma cobra ardente. Ele ergueu o pescoço em forma de foice, atacando Harutora no ar.

Fora a primeira vez que Harutora ouvira esse encantamento. Era uma magia desconhecida que ele nunca tinha visto.

Mas...

... A Maldição de Acala!

Por alguma razão, ele sabia disso. Ele aprendeu uma vez na sala de aula? Mas, independentemente disso, ele sabia. E ele também sabia como deveria responder.

“Noumaku samanda bazaradan sendamakaroshada sowataya untarata kanman!”

Ele formou um selo e entoou um encantamento. Magia de proteção de Acala. Embora os olhos de Kagami se arregalassem, Harutora não teve o tempo de prestar atenção. Mesmo se ele tentasse compensá-lo, a energia mágica que ele reunira instantaneamente era insuficiente. Habilmente recuou com a Asa do Corvo enrolada ao seu redor enquanto neutralizava desesperadamente a cobra de fogo. Ele eliminou lentamente a maldição de Kagami, em vez de fazer tudo de uma só vez.

Mas, nesse tempo...

“... Interessante.”

Kagami sorriu.

“Agora eu me lembro. Isso... Começou com aura de metal, certo? Geração Mútua dos Cinco Elementos... Order!”

Magia de talismã. Os talismãs dos elementos que ele lançou no ar eram dos elementos metal, água, madeira e fogo.

Primeiro, o talismã do elemento metal se tornou lâminas que atacaram Harutora enquanto ele escapava da cobra de fogo. A Asa do Corvo desviou no lugar de Harutora, que se concentrava em sua magia de proteção.

Então, as lâminas desviadas absorveram o calor da cobra ardente e a água emergiu em sua superfície. Depois que a água apareceu, o talismã do elemento água foi ativado. A energia mágica gerada formou uma torrente que cobria a estrada de asfalto. Harutora percebeu e lembrou quando viu.

... Foi isso!

Desta vez, um talismã do elemento madeira absorveu o fluxo de água, criando videiras em forma de árvore. Harutora apressadamente refinou a energia mágica. Embora ele tivesse neutralizado a cobra de fogo, o talismã final do elemento fogo estava sendo ativado no momento. As videiras acenderam instantaneamente e deram origem a uma serpente de chamas muitas vezes maior que a serpente de fogo.

A magia da Geração Mútua dos Cinco Elementos que Ohtomo havia mostrado a Doman. Não fora outro senão o próprio Harutora que contara a Kagami. Uma onda de calor correu pela estrada como um tsunami, jogando o ar circundante em confusão. A pele de Harutora foi chamuscada pelo sopro da serpente flamejante gigante.

... Aquele desgraçado!

Kagami roubou a magia do professor de confiança de Harutora e a usou para atacá-lo. Naquela época, Doman havia desenhado um selo mágico no ar e controlado um vento negro – um vento contendo aura de metal – e o usado para gerar uma cascata negra de aura aquática, conquistando a aura de fogo de Ohtomo. Mas Harutora não podia seguir isso, não importava o quê. Tudo o que ele poderia fazer era usar a Asa do Corvo para escapar mais alto no céu.

Não.

Suas mãos se moveram naturalmente.

“Vento!”

Ele ordenou a Asa do Corvo de uma maneira que nem ele entendia. A Asa do Corvo imediatamente espalhou seus ventos – criando um vento negro com aura de metal. Imediatamente depois, os dedos de Harutora teceram o selo mágico de Doman no ar, exatamente como ele vira naquela época. O vento negro produzido pela Asa do Corvo tornou-se uma torrente de água, indo direto para a serpente com a força de uma avalanche.

O vapor irrompeu com um som estridente. O vento produzido soprou e Harutora olhou para as mãos, estupefato.

... Entendo.

Era a Asa do Corvo. Conhecimento de magia escorria da Asa do Corvo. Aquele sentimento. Parando para pensar sobre isso, tinha sido assim quando ele tratou Natsume. Naquele momento, ele não teve tempo de suspeitar por causa de sua obstinação. Mas agora que ele pensava nisso, a magia que ele não poderia ter conhecido havia aparecido uma após a outra em sua mente.

... Poderia ser? Por causa de Yakou!?

Mas o estado de choque de Harutora foi instantaneamente interrompido.

“Interessante!”

Kagami gritou. A aura de Kagami e o espírito de luta foram claramente transmitidos à Harutora através da densa névoa fumegante.

“Isso não é demais, Harutora!? Ou é Yakou!? Nesse caso, eu vou levar a sério também!”

Kagami atravessou a estrada de asfalto enquanto cortava um kuji-kiri novamente. Desta vez, o padrão de grade correu em direção à Harutora como se tivesse sido lançado. Harutora se defendeu instantaneamente com a Asa do Corvo, mas Kagami aproveitou a abertura para finalizar seu movimento.

Kagami correu para o Higekiri jogado. Ele usou a parte da frente da bota para chutar a lâmina no ar e, em seguida, agarrou o punho novamente, empurrando a ponta na estrada de asfalto com um baque.

Então, ele formou um selo básico na frente de Higekiri, assumindo seu poder espiritual enquanto entoava um encantamento.

“Noumaku saraba tatagyateibyaku saraba bokkeibyaku sarabata tarata senda makarosyada ken gyakigyaki saraba biginnan untarata kanman!”

Magia do Reino do Fogo. Toda a energia mágica de Kagami se fundiu com o poder espiritual da lâmina divina Higekiri, instantaneamente se transformando em magia.

Pavoroso.

O mar de chamas que ele vislumbrou cobrindo o prédio da Agência do escritório... Poderia parecer comparável a essa magia. Um poder destrutivo claramente superior às defesas da Asa do Corvo. Ele seria facilmente derrotado se o envolvesse.

“Droga!” Com uma batida da bainha da Asa do Corvo, Harutora escapou desesperadamente no ar.

“Eu não vou deixar você fugir!” Kagami gritou. A magia do Reino do Fogo se estendeu para cima, tornando-se uma torre de chamas furiosas e se aproximando da Asa do Corvo.

Como se julgasse que não poderia escapar, a Asa do Corvo passou voando pela frente das chamas e imediatamente desceu, roçando pelo movimento da magia do Reino do Fogo. Ele provavelmente estava protegido por uma barreira, mas Harutora foi rapidamente agredido por um ataque intenso que quase o fez perder a consciência.

A magia do Reino do Fogo de Kagami estava focada no poder ofensivo, e seus movimentos eram um pouco lentos em comparação. A Asa do Corvo decidiu usar sua velocidade sobre seu poder defensivo. Mas, mesmo assim, havia limitações. A magia do Reino do Fogo de Kagami cortava continuamente suas rotas de fuga, forçando gradualmente a Asa do Corvo a um canto.

... Este é o fim!?

Se isso continuasse, ele seria morto muito rapidamente. Ele tinha que diminuir os movimentos do Reino do Fogo, mesmo que por um instante. Água conquista o fogo. Ele teria que lançar uma magia de água. Essa magia era – agora ele sabia. Fluía para ele da Asa do Corvo.

Ele formou um selo.

“Tanyata udakadai bana enkei enkei sowaka!”

O mestre da água na antiga mitologia Védica Indiana, Varuna. Ele também era conhecido como um dos Adityas. O Aditya dos mares.

A energia mágica fresca se tornou uma garoa que se tornou chuva e finalmente uma chuva que atingiu a magia do Reino do Fogo de Kagami. Outra tempestade de vapor d'água surgiu, produzindo turbulência caótica que se agitou em torno da Asa do Corvo.

Magia da água para conquistar a magia do fogo.

No entanto, não foi suficiente. Deveria ter força – Harutora infundiu sua energia mágica, que praticamente ficara fora de controle depois da batalha contra Shaver, sem desperdiçar uma gota. Mas, mesmo assim, estava longe de ser suficiente. A força de Kagami era muito poderosa.

A magia do Reino do Fogo não foi perturbada.

A chama subiu, atacando a Asa do Corvo. A visão da Harutora estava manchada de vermelho pelo fogo. Ele não conseguiria fugir. Harutora cerrou os dentes...

“Canalha!”

A magia do Reino do Fogo ficou desordenada. A Asa do Corvo rapidamente se esquivou. Ele escapou das garras da morte, mas... ele não teve tempo para se aliviar. O olhar de Harutora voou em direção a Kagami.

“Kon!?”

Kagami ficou de pé na frente de Higekiri que estava preso na estrada de asfalto. Seu braço esquerdo havia sido ferido com uma facada pela lâmina de Kon. A Shikigami defensiva que ele deixara para trás e encarregara de interromper Kagami conseguiu chegar a tempo de salvar seu mestre.

Mas...

A expressão de Kagami se torceu por causa do sangue que jorrou. A fúria pura ardia em seus olhos. Raiva que era mais por ter interrompido a batalha mágica do que pela dor que fluía de seu pulso, junto com raiva de si mesmo por ser negligente.

“... Pirralha de merda.”

Sem qualquer preocupação em alargar sua ferida, Kagami afastou com força seu braço esquerdo esfaqueado.

A posição de Kon quebrou no ar quando ela foi lançada junto com uma grande quantidade de sangue.

“Desapareça.”

Ele esfaqueou a lâmina diretamente nela. Kon instantaneamente torceu seu corpo no ar.

Mas ela não conseguiu se esquivar.

Em frente ao atordoado Harutora, a lâmina cheia de energia mágica de Higekiri atravessou o peito de Kon.

 

PARTE 2

Era uma batalha de magia de espadas e magia de ilusão.

O parque noturno. O amanhecer se aproximava gradualmente. Tenma se retirou para um lugar seguro e cuidava da inconsciente Kyouko enquanto assistia a batalha mágica diante dele em transe.

Toda vez que a Espada Demoníaca de Kogure brilhava, os talismãs de Ohtomo eram cortados em dois. Além disso, toda vez que a Espada Demoníaca de Kogure brilhava, os talismãs de Ohtomo interrompiam prontamente a lâmina.

Vai e volta. Mas uma sensação tensa relampejou como eletricidade através daquele movimento de pés e dedos indiferente. Parecia que suas intenções e estratégias profundas e sobrepostas poderiam ser vislumbradas através do tempo de sua respiração e do fluxo de seus olhares. É claro que Tenma não conseguia presumir sua verdadeira abstração, mas ele entendia claramente que era algo incrível.

Então, a energia mágica que explodiu dos dois formou um laço completo em seus estados de alto rendimento.

Suas energias mágicas e as auras que emitiam pareciam quase exatamente iguais. Além disso, até a atmosfera que emergia era inexplicavelmente equilibrada, como o Taijitu do Onmyoudou.

Uma batalha equilibrada e harmoniosa enquanto fluíam intensamente. Tenma não conseguia nem desviar o olhar enquanto pensava em como essa cena era inexplicável.

Durante isso.

“Jin!” Kogure gritou novamente. “Pense nisso novamente. A previsão de Kyouko-kun é uma questão separada de suas ações serem certas ou erradas! Você realmente permitirá que Harutora-kun use a magia proibida? Você quer transformar seu aluno em criminoso?”

“... Zenjirou, não é mais esse tipo de pergunta.”

“Então qual é? Estou falando de uma pergunta real. Se o Ritual Taizan Fukun for bem-sucedido, a Agência Onmyou caçará Harutora-kun como um criminoso. Até Natsume-kun será igual. Ressuscitada, você acha que ela será capaz de viver normalmente no futuro? Primeiro...”

Kogure balançou a lâmina e Ohtomo a evitou por um fio de cabelo.

“Você acha que vai dar certo? O Ritual Taizan Fukun? As chances são de uma em mil! E quem sabe o que acontecerá se falhar! As coisas podem se tornar irreversíveis!”

“Coisas irreversíveis aconteceram há muito tempo.”

Ohtomo respondeu e cortou com um selo de lâmina, e Kogure ergueu uma barreira para impedir a magia.

“Portanto, estou sendo imprudente. Meus alunos dizem que podem fazê-lo, então o que posso fazer além de confiar neles?”

Uma discussão incompatível entre o exorcista Kogure, que protegia as noites de Tóquio, e o professor da Academia Onmyou, Ohtomo, que guiava seus alunos para o futuro. Não era apenas que seus pensamentos eram diferentes, suas respectivas posições também eram diferentes.

“Além disso...”

Ohtomo olhou para Tenma. Tenma ficou tenso de surpresa.

“Você ouviu? Parece que Suzu também está relacionada a isso. Nesse caso, a chance de sucesso é muito maior do que uma em mil.”

O rosto de Kogure ficou vermelho ao ouvir isso.

“Jin!” Ele cuspiu. “Você ainda está preparado para confiar nessa mulher!”

“Claro, eu nunca confiei nessa mulher. Mas ela raramente falha.”

Ohtomo estava muito calmo em contraste com o Kogure agitado. Em vez de ser composto, ele estava tentando negar sua flutuação emocional. A raiva de Kogure se transformou em amargo remorso quando viu sua aparência.

“Não.” Embora sua voz estivesse calma, ele negou-o com firmeza. “Eu sei que ela teve um grande fracasso, quando estava traindo você e eu.”

“...”

Ohtomo não respondeu com nada, olhando imóvel para Kogure. Kogure suportou o olhar de Ohtomo sem se posicionar.

Que tipo de olhar Ohtomo estava mostrando por trás das lentes dos óculos naquele momento? Tenma não podia ver, nem sentiu que deveria olhar.

Antes que ele notasse, os dois pararam de se mover em algum momento, se confrontando no centro do parque.

Kogure respirou fundo e lentamente, exalando com a mesma velocidade.

Ele segurou a Espada Demoníaca com as duas mãos, apontando a lâmina para Ohtomo. Uma postura de olhos claros. Então, ele inverteu a lâmina em suas mãos.

Ele assumiu a posição inversa com a katana. Originalmente, o chamado inverso se referia a girar instantaneamente a lâmina durante o golpe. Seus preparativos especiais de antemão eram uma espécie de aviso antagônico.

Kogure balançou a lâmina para lutar até agora. No entanto, ele não pretendia bater e não estava preparado para cortar Ohtomo.

No entanto, Kogure estava agora assumindo a posição inversa. É claro que até a parte de trás da lâmina poderia ser mortal, dependendo das circunstâncias... Expressava que ele não iria mais se segurar. Não era uma proclamação para que Ohtomo saísse do caminho, mas sim uma proclamação de que ele o afastaria com sua lâmina.

‘Quão correto’, Ohtomo parecia dizer enquanto sorria fraca e ironicamente. Sua mão direita avançou, batendo no chão com a bengala que segurava enquanto ele mantinha essa postura enquanto esperava por Kogure.

“... Om chishabana shira madayama karashiya yaku kasha chibatana hobaga gatei matara hatani sowaka.”

O mantra da subjugação de um dos quatro reis celestiais, o deus da guerra Bishamonten. Uma poderosa aura derramou de todo o corpo de Kogure e a energia mágica gradualmente convergiu para a Espada Demoníaca. A pressão espiritual da espada divina inchou, fazendo-a sentir como se o espaço centralizado na lâmina tivesse começado a se torcer.

Os membros de Tenma tremiam de medo. Sua garganta estava seca e ele sentiu como se estivesse prestes a desmaiar só de assistir.

Por outro lado, Ohtomo se manteve composto. Ele olhou para a aura emitida pela lâmina divina de Kogure com um olhar penetrante, como se estivesse olhando para o amanhecer de um penhasco. Ele relaxadamente adotou uma postura flexível em relação à força que muito bem poderia tirar sua vida.

*Sss* A lâmina de Kogure vibrava levemente. A mão Ohtomo agarrou sua bengala com um pouco mais de força.

No entanto, esse momento não chegou.

“Parem aí, vocês dois voltam.”

As auras dos dois estavam perturbadas. Tenma também ficou surpresa, voltando-se para a direção da qual a voz veio.

“Hoho.”

Um garoto apareceu no parque noturno acompanhado por uma voz estranha. Tenma duvidava de seus próprios olhos porque o intruso não se importava com a situação.

Mas a atenção de Tenma rapidamente se moveu atrás do garoto.

“Ah!” Ele olhou para lá e inadvertidamente soltou um suspiro. Um Shikigami. Um Shikigami de Doman que atacou o prédio da Agência. Além disso, havia outra pessoa. Havia um homem que estava apoiado no ombro do Shikigami – um velho extremamente fraco.

O garoto riu com um ‘hoh’ novamente.

“Aliás, essas palavras agora eram desse cara, não minhas. Parece que ele não pode falar agora, então estou falando por ele.”

Ele falou com Kogure e Ohtomo, que estavam atordoados e enraizados no chão.

Quem era? Tenma olhou para o garoto e o velho. Ele não reconhecia o garoto. Ele não seria capaz de esquecer uma criança tão peculiar mesmo depois de apenas uma olhada. Mas ele sentiu que o velho era um pouco familiar. Sua aparência mudara muito, mas eles se conheceram em algum lugar – exatamente enquanto ele pensava nisso...

“... Chefe Amami.”

Kogure falou com uma voz rouca. Isso o fez lembrar. O velho que havia visitado o quarto do hospital antes deles quando foram ver Ohtomo. Ele lembrou que era o ex-chefe de Ohtomo, o chefe dos Investigadores Mágicos, Amami Daizen.

“Aquele velho imortal...” Foi Ohtomo quem disse isso. Sua voz parecia estar estranhamente trêmula. “Você deve parar de agir de maneira tão imprudente quando estiver nessa idade, é inadequado para uma pessoa idosa. Você criará problemas para as pessoas deixadas para trás.”

O velho estava extremamente fraco.

Mas ele sorriu rebelde para Kogure e Ohtomo.

 

 

“Kon!”

A lâmina de energia mágica de Higekiri atravessou o flanco esquerdo de Kon. Os olhos azuis da garota se arregalaram como se eles fossem saltar.

Kagami pegou Higekiri. A expressão de Kon congelou e seu corpo estava coberto por um Lag intenso. Ela tropeçou enquanto tentava escapar, esgotou suas forças e caiu na estrada com um barulho.

O Lag em todo o corpo dela não parou. Kon perdeu o equilíbrio. A estrada de asfalto do outro lado dela era visível através de sua transparência.

“Kon!?”

Kon não respondeu. Mas ele sentiu o vínculo espiritual entre mestre e Shikigami se enfraquecendo rapidamente. Sua mente estava em branco. Suas pernas que tentavam correr pedalavam no ar.

Kagami não parou seu ataque.

A ferida na mão esquerda era bastante grave, mas Kagami priorizou o golpe final em vez de tratamento. Ele deu um passo em direção a Kon. A lâmina de Higekiri que se estendia de sua mão direita brilhava branca com a luz remanescente da magia do Reino do Fogo.

A Asa do Corvo voou como uma flecha, respondendo ao grito sem palavras de Harutora.

Ele circulou por trás e atacou entre Kagami e Kon. Mas no instante em que Kagami olhou para ele – um olhar tão quente quanto o magma – a Asa do Corvo mudou seu caminho.

“Ei!?”

A Asa do Corvo se afastou agilmente, ignorando o protesto de Harutora. Ela julgou que não deveria entrar no alcance da espada de Kagami.

A essa altura, a Asa do Corvo havia sofrido os cortes de energia mágica que voaram de Higekiri várias vezes. Embora não tenha sido ferida, a lâmina nunca havia perfurado o usuário.

Mas o ataque surpresa de Kagami no início tinha sido diferente. A lâmina de Higekiri havia cortado a bainha da Asa do Corvo. Em outras palavras, um corte direto da lâmina de Higekiri superaria o poder defensivo da Asa do Corvo.

Ela priorizou a segurança do usuário, e não seus pensamentos. Era um julgamento natural de uma ferramenta mágica que protegia seu usuário, mas se desviava das regras de que um Shikigami deveria obedecer absolutamente aos desejos do mestre. Harutora zangou-se. Em outras palavras, a Asa do Corvo atualmente não havia reconhecido Harutora como seu verdadeiro mestre.

“... Harutora. Você está olhando para mim?”

Enquanto seu sangue escorria, Kagami falou com uma voz que parecia paralisante devido à sua raiva incrível.

“O mestre está se preparando para se arriscar por um Shikigami? Isso não é suficiente?”

Depois que cuspiu abuso, ele olhou para Kon caída na estrada. Não era a intenção de matar que surgiu em seus olhos. Era apenas uma decisão fria de reduzir algo como o talismã do inimigo.

“Droga!”

Ele não podia simplesmente sentar e assistir. Mesmo que isso fosse o que a Asa do Corvo decidisse.

... Vá!

A Asa do Corvo bateu suas asas novamente quando Harutora implorou.

Ele se aproximou de Kagami. Kagami lançou um olhar penetrante para Harutora novamente. O resultado foi o mesmo. A Asa do Corvo bateu suas asas novamente antes de alcançar o maior alcance que Higekiri poderia ter, ganhando a sustentação para escapar acima. Depois que Kagami confirmou que Harutora havia mudado de curso, ele impiedosamente levantou Higekiri sobre sua cabeça, voltando o olhar para o corpo desmoronado de Kon.

Nesse instante, a Harutora soltou-se da Asa do Corvo.

Quando seus braços deslizaram para fora das mangas, um suspiro surpreso veio da Asa do Corvo, ou talvez isso fosse apenas uma ilusão. Harutora desceu, caindo na estrada. Suas pernas dobraram quando absorveram o impacto. Quando Kagami virou a cabeça surpreso, ele correu para frente com todas as suas forças.

“Kon!” Kon abriu fracamente os olhos.

Então, o feroz lampejo de uma lâmina.

A primeira coisa que ele sentiu foi calor. Queimando de calor. Um choque ardente, como se ele tivesse tocado um ferro abrasador. Um calor e choque que forçaram todos os seus pensamentos – junto com a dor.

Mas, ao mesmo tempo em que sentia calor, choque e dor, sentia uma sensação leve e não confiável nas pontas dos dedos.

Ele tinha que protegê-la.

Esse sentimento chamou Harutora da fronteira entre os reinos da consciência e da inconsciência.

Então, antes que ele percebesse.

Harutora estava de pé na estrada, segurando Kon nos braços.

Ele não conseguia se lembrar do que havia feito. Mas ele se afastara cerca de cinco metros e estava em uma postura inclinada enquanto confrontava Kagami, que segurava Higekiri.

“... Entendo.” Kagami falou. Sangue escorria da lâmina de Higekiri. “Você é um verdadeiro idiota.”

Seus ouvidos mal captaram essas palavras e elas quase não entraram em seu cérebro. O cérebro de Harutora estava cheio de dor. Fora a primeira vez que experimentava uma dor tão onipresente. Em qualquer caso, dor. A dor difícil de suportar não diminuía nem um pouco.

Um rugido apressado ressoou. Por um momento, ele não percebeu que era o seu próprio fluxo sanguíneo. Toda vez que seu sangue fluía, uma dor intensa passava por ele. A dor se enfureceu e explodiu. Continuou sem parar.

Kon virou o corpo dela nos braços.

“... Harutora... sama...!?”

Harutora olhou para a Shikigami em seus braços porque a voz dela continha um choque enorme. Ele sentiu como se algo estivesse diferente do habitual. Não era o Lag intenso em sua Shikigami. Pelo contrário, a figura refletida em seus olhos era claramente irregular.

Ele percebeu por esse motivo.

Seu olho esquerdo não enxergava.

Então, Harutora finalmente percebeu que a metade esquerda do rosto estava molhada e que era a fonte da intensa dor que destruía seu pensamento.

Seu olho esquerdo havia sido cortado.

A lâmina de Higekiri que Kagami usou cortara fortemente o rosto de Harutora de cima para baixo, logo acima do olho esquerdo.

“... Seu desgraçado...” Kon experimentou Lag quando se virou para Kagami nos braços de Harutora. “Seu desgraçado!”

Kon uivou, enfurecida. Um berro sem prestar atenção em suas próprias feridas, que facilmente levou a que seu Lag fosse apagado.

Mas escusado será dizer que Kagami não se importava.

“... हुं.”

O mantra da sílaba-semente de Kundali rebateu Harutora e sua Shikigami. Ele não tinha mais a proteção da Asa do Corvo. Ele foi atingido de frente e enviado voando. O chão e o céu giraram intensamente e, quando ele pensou nisso, um forte impacto cumprimentou todo o seu corpo. Só depois de algum tempo ele percebeu que havia caído na estrada de asfalto.

Todos os seus nervos estavam paralisados, e a dor era a única coisa que dominava seu corpo. Ele não conseguia mais mexer um dedo.

... Ugh...

Ele poderia morrer. Harutora realmente sentiu isso em meio à sua consciência nebulosa.

A razão pela qual não parecia real era porque sua capacidade mental havia diminuído. A cena diante dele se refletia em seus olhos embaçados enquanto ele permanecia em seu estado de falta de realismo.

“... Que conclusão chata.”

Kagami falou aparentemente arrependido enquanto levantava Higekiri. Kon cambaleou na frente dele, enquanto o Lag aparecia por todo o corpo dela.

Aquelas costas pequenas. Ela abriu os braços para tentar proteger Harutora.

“EU...” Kon falou. Ela reuniu sua força de vontade, reunindo o significado de sua existência, e proclamou resolutamente. “EU NÃO VOU PERMITIR QUE UM PIRRALHO COMO VOCÊ ROUBE O MESTRE PELO QUAL EU ESPEREI TANTO TEMPO!”

*Thump* Seu coração bateu forte.

Harutora arregalou o olho direito. Com o olho esquerdo manchado de sangue...

 

 

A linda lua pairava no céu.

Ele olhava para a lua, sentado na varanda da residência.

Ele segurava um copo de vinho. O vinho aromático difundia-se no ar.

“Yakou-sama.” Um chamado vinha de dentro da residência, na escuridão que o luar não havia alcançado.

“Você ainda não mudou de idéia?”

Ele sorriu amargamente e tomou um gole de seu vinho em resposta a essa pergunta.

Então, ele respondeu, ainda sorrindo:

“Sim.”

Então, ele deixou cair o sorriso e continuou:

“Desculpe.”

Os sons de insetos que vinham do pátio com indiferença e suavidade aliviavam o silêncio entre eles.

Ela silenciosamente olhou para seu mestre ao luar.

Então, ela se sentou corretamente e lentamente inclinou a cabeça.

“Eu sempre esperarei. Até o fim dos tempos. Porque eu... sou sua...”

 

 

 “Hishamaru?” Harutora murmurou.

Naquele momento, os cinco selos Tsuchimikado que continuavam a prendê-la começaram a se desfazer, cumprindo seu antigo contrato.

O crepúsculo do anoitecer.

 

 

Os soluços da criança que vinham do fundo da residência finalmente pararam. Pouco tempo depois, um homem apareceu na Sala Campânula, de frente para o pátio.

A idade dele tinha cerca de trinta anos. Ele usava roupas japonesas e óculos de aro dourado. Sua aparência esbelta o fazia parecer um pouco intelectual – uma impressão um pouco requintada. Além disso, rugas enraizadas em preocupação e confusão estavam profundamente gravadas nele.

Ele tinha força para espiar o futuro e poder para ler essas possibilidades. Era um poder difícil de obter para a maioria das pessoas. Mas o poder não era uma bênção para ele. Era um poder que ligava com força seu coração com ansiedade e inquietação. Um poder infeliz que apenas aumentava seus problemas.

Mas agora ele só podia confiar nesse poder. O futuro era extremamente difícil, e ele era impotente para lidar com isso.

Ele se sentou inconsciente e imóvel na Sala Campânula. Ele olhou para o pátio através das amplas portas de correr. A tonalidade do pátio estava mudando, pois era tingida pelo sol poente. Ele assistiu a mudança, extasiado. Somente nesse momento a preocupação e a confusão em seu rosto pareciam enfraquecer um pouco.

Mas ele só podia ser composto e estável por um piscar de olhos.

Antes que ele notasse, havia alguém no pátio.

Do outro lado da varanda. Seus ombros estavam banhados pelo sol enquanto ela inclinava a cabeça em um joelho. Mesmo que ele estivesse constantemente olhando para o corredor, ele não fora capaz de notar a pessoa se aproximando.

Furtividade. Além disso, era o disfarce da desmaterialização. Uma técnica que apenas um Shikigami poderia utilizar. Mas havia várias barreiras fortes na residência, impedindo que entidades espirituais não autorizadas se aproximassem. Ela poderia passar por isso, porque ela havia morado nesta residência no passado.

Seu choque retrocedeu muito rapidamente e um sorriso amargo surgiu em seus lábios.

“Você chegou muito cedo... Não, você esteve esperando esse tempo todo...”

Esperando por seu mestre – ela não respondeu às suas palavras interminadas. Ela não precisava responder particularmente, já que ele havia falado com ela. Isso era natural.

“Quem é você?”

“... Eu sou Hishamaru.”

“Entendo.” Uma voz que parecia clara e mais do que um pouco direta.

Uma estreia bastante cautelosa para um lendário Shikigami. Podia-se notar a misteriosa e poderosa energia espiritual contida em seu corpo, enquanto ela silenciosamente inclinava a cabeça assim.

“O que você quer?”

“Estar com meu senhor.”

Essas palavras reticentes continham uma vontade de ferro que absolutamente não recuaria. Ela só abaixou a cabeça assim porque ele era o atual chefe dos Tsuchimikado. Embora fosse uma posição digna de etiqueta para ela, ele definitivamente não era um objeto de absoluta obediência.

Ele não era da família, nem ela estava relacionada ao sangue. Sua lealdade e dedicação eram apenas para uma alma.

Ele estreitou os olhos por trás dos óculos, olhando-a silenciosamente enquanto ela se ajoelhava no pátio. O sol poente lentamente tingia o rosto ainda abaixado da Shikigami em cores brilhantes.

Ele não conseguia ler as estrelas da Shikigami.

Mas – o futuro seria extremamente difícil, e ele não tinha poder para lidar com isso.

“... Existem condições.”

Ela finalmente olhou para cima. Sua bela e fina aparência foi revelada. Lindos e elegantes olhos azuis olhavam diretamente para ele.

Essas condições estavam agora preenchidas.

Havia cinco selos no total que a prendiam. O primeiro era um selo cobrindo os demais, um selo que cobria os próprios selos. Era um selo cujos objetivos eram esconder os outros quatro selos dos outros e mantê-la inconsciente do fato de que estava sendo selada.

 

 

O primeiro selo acabara de ser quebrado, e a memória do contrato com Tsuchimikado Yasuzumi naquele pôr do sol da noite despertou. Sua autoconsciência que controlava quem ela era. Então, de acordo com os termos do contrato, sua vontade e senso de missão que haviam sido selados ao lado foram libertados consecutivamente.

Naquele momento, ela acordou como uma pequena Hishamaru.

A primeira coisa que Hishamaru confirmou foi a condição de seu mestre – Harutora.

Seu olho esquerdo estava ferido. Ele estava todo machucado. Seu dano espiritual também era enorme. Não apresentavam risco de vida, mas ele estava em uma condição perigosa. Afinal, ainda havia um inimigo diante dela.

Cada segundo contava, foi o que Hishamaru julgou.

Hishamaru conectou os selos restantes, ignorando a ordem original. Ela liberaria todos de uma vez.

Mas, nesse ponto, o inimigo diante dela notou a anormalidade.

Seus olhos se afiaram enquanto ele disse:

“... O quê? Ei!”

Seus instintos não eram ruins. Hishamaru concentrou sua mente inteira no processo de liberação. Ela aumentou vigorosamente sua velocidade.

O segundo e o terceiro selos foram imediatamente retirados e as coisas comprimidas se espalharam.

O segundo selo selava sua personalidade. O terceiro selo selava sua forma. O segundo e o terceiro selos estavam interligados e, originalmente, não eram coisas que poderiam ser instantaneamente liberadas. Felizmente, porém, o terceiro selo havia afrouxado. Depois que o selo que Yasuzumi lançou sobre Harutora foi meio destruído nas mãos do próprio Harutora, ela recebeu a enorme energia mágica liberada por seu mestre e os problemas surgiram na magia. Além disso, o corte de Higekiri anteriormente havia enfraquecido a força do selo novamente. Hishamaru derrubou o terceiro selo no menor número de etapas possível, reduzindo também o tempo que ela levou para conseguir retirar o segundo selo.

À medida que a consciência de Hishamaru se expandia, sua personalidade resistente como Shikigami capaz de ajudar Yakou acordou. Os olhos azuis puros estavam cheios da força madura, fundamentada e intelectual e da capacidade de florescer que Yasuzumi havia deixado especificamente intacta. Ao mesmo tempo, o Lag em seu corpo mudou sua aparência anterior, enquanto ela piscava e começava a crescer.

Suas orelhas e cauda permaneceram, seus braços e pernas estendidos, e seu tipo de corpo mudou, sua aparência amadurecendo lentamente. Era como se ela tivesse crescido dez anos em um piscar de olhos. Ela lentamente recuperou sua forma original como Hishamaru, uma forma que combinava com sua personalidade.

Então, o que apareceu foi uma beleza de outro mundo.

A nitidez imaculada de uma poderosa guerreira, uma beleza encantadora e uma compostura perigosa e sedutora que contrastava com sua natureza real. Seu charme aparentemente sedutor servia como uma folha para sua bela aparência.

Mas a mudança em sua aparência chamou a atenção do inimigo.

“... Noumaku sanmanda bazaradan kan!”

Kagami rapidamente usou a maldição de Acala, colocando-a em Higekiri – então houve um flash. A lâmina de prata cortante liberou uma onda de calor enquanto se aproximava de Hishamaru.

Embora a barreira que ela ergueu instantaneamente neutralizasse o poder da onda de calor, ela não conseguiu bloqueá-la. No instante em que ela julgou que não daria certo, Hishamaru concentrou toda a sua força restante em Harutora atrás dela e não em si mesma. Ela colocou uma barreira para proteger seu mestre. Logo depois, a onda de calor que rompeu a primeira barreira fez Hishamaru voar, e seu corpo ainda em crescimento estava coberto de Lag enquanto se lançava no céu.

A magia de liberação do selo ficou desordenada. Hishamaru rangeu os dentes, mas sua consciência estava voltada para Harutora e não para si mesma. A onda de calor rompeu a segunda barreira que ela levantou. A energia mágica era insuficiente. O corpo de Harutora foi enviado voando impotente e ele caiu pela estrada como uma boneca. Nenhuma força para resistir ou força para escapar permaneceu no corpo de seu mestre. Ele estava prestes a perder a consciência.

Hishamaru tomou sua decisão.

Havia dois selos restantes. O quarto selo selava seu poder espiritual, que era um fator importante para Hishamaru.

No passado, ela havia desistido de sua carne humana e reencarnado como uma entidade espiritual.

Para ela atual, seu poder espiritual era a força diretamente ligada à manutenção de sua existência. Originalmente, ela precisaria passar uma noite inteira – ou pelo menos algumas horas – para desfazer esse selo, a fim de manter sua estabilidade espiritual.

Mas agora, ela precisava de poder espiritual, não importando o quê, para salvar seu mestre. Por isso, Hishamaru não liberou o selo, ela começou a destruí-lo à força.

Ela aplicou magia para liberar o quinto selo e deixá-lo ser empurrado de volta por conta própria. Por outro lado, a magia roubou o controle do quarto selo, e então ela explodiu um canto do selo com seu próprio poder.

Ela converteu seu poder espiritual recuperado em energia mágica e lentamente abriu mais o selo. Sua energia espiritual aumentou rapidamente, mas sua energia espiritual, sem estabilidade, começou a sacudir a existência de Hishamaru desde as raízes. Lag intenso cobriu seu corpo, como se a eletricidade estivesse florescendo dentro dela.

Mas, mesmo assim, não foi rápido o suficiente.

“Que diabos é você?”

Kagami cortou sua lâmina de energia mágica em Hishamaru enquanto ela rapidamente recuperava suas forças. Embora sua força se recuperasse lentamente, ela estava voltando tudo para a destruição do selo. Ela tentou evitar o consumo excessivo, vendo através do jogo de espadas e esquivando-se das lâminas por um fio de cabelo. Enquanto ela atraía a atenção do inimigo, ela destruía progressivamente o quarto selo com todo o seu poder.

Mas como esperado, Kagami estava interessado.

“Shaver!” Depois de ver que o objetivo de Hishamaru era ganhar tempo, ele jogou Higekiri de sua mão no ar.

O Shikigami servo Shaver agarrou o punho de Higekiri depois de se materializar. Um homem alto, esbelto e frágil. Embora ele fosse um Shikigami poderoso que certa vez colocou Harutora e os outros em uma situação mortal, parecia verdade que sua aura ainda não havia se recuperado completamente. Sua expressão estava vazia e seus movimentos não tinham vigor.

Mas Kagami olhou para Hishamaru enquanto comandava friamente.

“Cuide de Harutora!”

Hishamaru imediatamente interrompeu a destruição de seu selo, desmaterializando-se e correndo rapidamente para o lado de Harutora, mas...

“Não me menospreze!”

O kuji-kiri de Kagami derrubou Hishamaru. Hishamaru caiu na estrada enquanto se rematerializava. Nada bom. Não havia abertura. Sua força ainda não era suficiente para bater de frente.

A ferida de Kagami deveria ser bastante dolorosa. Mas Kagami não deixava transparecer enquanto se concentrava em Hishamaru. Ele tentou avaliar seu verdadeiro valor. Então, pelas costas, seu Shikigami segurou Higekiri e começou a se aproximar lentamente de Harutora.

Ela não seria capaz se isso continuasse. Ela se decidiu novamente.

Ela não destruiu o selo, apenas a parte que o selo ligava – sua entidade espiritual se desintegrou e o forçou a sair pela parte rompida. Escusado será dizer que não poderia ser reconstruído se ela fizesse isso, e ela colocaria em risco sua própria substância. Mas, mesmo assim, seu geral aumentaria. Ela poderia recuperar sua força passada por um tempo.

Mesmo depois de sua longa espera atrás do selo, ela protegeria seu mestre ao lado. Seu poder não tinha significado se ela não pudesse protegê-lo, e a razão de sua existência também desapareceria. Ela priorizou a segurança de seu mestre sobre tudo. Isso era um fato da vida de um Shikigami defensivo.

Mas, infelizmente, ela não foi completamente capaz de liberar o quinto selo.

O quinto selo selava as memórias do passado de Hishamaru. As várias lembranças dos anos que ela passara com seu mestre. Para Hishamaru, todas e cada uma delas eram um tesouro insubstituível. Até perder algumas delas seria mais angustiante do que destruir parte de si mesma.

Mesmo assim, ela não poderia priorizar suas memórias passadas sobre seu mestre atual. Uma resolução severa surgiu na bela e pura aparência de Hishamaru, e então ela se desintegrou. Ela empurrou através da fenda do selo a ponto de ser destruída e tomou seu poder em um piscar de olhos.

Não podia mais ser chamado de Lag. Um raio incomensurável explodiu por todo o corpo de Hishamaru. Um gigantesco poder espiritual uivou ao girar em um turbilhão. Kagami olhou para Hishamaru, atordoado.

Hishamaru declarou como se estivesse dando um golpe.

“Fora do caminho, pirralho!”

Ela foi incapaz de controlar imediatamente o poder que havia forçado a recuperar. Hishamaru disparou seu poder espiritual furioso contra Kagami na forma de Fogo de Raposa.

Uma chama azul ardente atacou Kagami como uma avalanche. Kagami levantou uma barreira. O Fogo de Raposa envolveu completamente a barreira.

Então, Hishamaru usou o poder espiritual derramado, refinando a energia mágica desse fluxo. Ela estendeu a mão esquerda e apertou a mão direita. A postura para puxar um arco. As chamas que ela disparou condensaram-se. A expressão de Kagami mudou, mas ele já estava atrasado.

“Hifumiyoimune, kotomochirorane, shikuruyuitowa, sohatamakumeka!”

O canto das palavras divinas disparou uma flecha de energia mágica. Mas, em vez de uma flecha, essa energia mágica gigante seria melhor descrita como um bombardeio.

 

 

Depois que os olhos de Kagami se arregalaram muito, a energia mágica colidiu violentamente com sua barreira, eliminando e perfurando a leve resistência. A barreira explodiu para trás por causa da enorme pressão. A estrada de asfalto foi arrancada e fragmentos voaram no ar.

Sucesso. Mas Hishamaru não tinha tempo de aproveitar sua vitória. Em um canto de sua visão, Shaver, que avançava lentamente, estava ao lado de Harutora. Higekiri em suas mãos – a lâmina que a perfurou e roubou o olho esquerdo de seu mestre – abrigava uma luz ameaçadora novamente. Mas não haveria uma terceira vez. Hishamaru correu, sua cauda tremulando com o vento. O Shaver atual não era poderoso. Tudo ficaria bem, desde que ela o afastasse de seu mestre.

Ela poderia fazer isso.

Contudo...

“Ainda não acabou!”

Magia de chamas parou seu caminho. Ela foi pega de surpresa e escorregou. Era Kagami. Como isso era possível? Depois que ela pensou nisso, algo despertou em suas memórias recentemente esvaziadas.

Passo Distante. Mais uma vez – mas ela não achava que ele seria capaz de usar instantaneamente uma magia de alta dificuldade naquele espaço de tempo. Aquele homem realmente era um dos melhores de apenas um punhado de Onmyouji modernos. Hishamaru lamentavelmente trincou os dentes, preparando a próxima magia, mas...

Ao mesmo tempo, Shaver levantou Higekiri acima de sua cabeça.

O coração dela de repente se apertou.

Ela lançou as chamas enquanto corria em direção a Shaver. Mas nem é preciso dizer que Kagami não permitiria isso. Ela deu passo após passo, mas estava longe demais. O terror gradualmente percorreu todo o seu corpo.

“Não!” Hishamaru correu, abandonando a defesa. Mas mesmo que ela pudesse ignorar as feridas infligidas pela magia de Kagami, ela não poderia recuperar a velocidade que havia perdido.

Ela poderia fazer isso...?

Não – ela não conseguiria.

Shaver desceu Higekiri. No momento em que Hishamaru soltou um grito...

“Com isso, são dois favores.”

*BOOM!* Algo pesado caiu do outro lado de Harutora.

Um homem. Um homem cheio de músculos corpulentos, mais alto que dois metros – não, ele parecia ainda maior agora. O homem estendeu a mão direita ao mesmo tempo em que pousou, pegando e parando facilmente a lâmina de Higekiri.

Seus curtos cabelos dourados brilhavam como uma coroa e uma luz intensa disparava dos olhos estreitos entre suas feições cinzeladas. Ele usava terno sem gravata. Agora, suas roupas normalmente na moda pareciam valentes como uma roupa de batalha. Não havia substância na manga esquerda vazia que era soprada pela aura demoníaca do homem, batendo com elegância.

“Kakugyouki!?”

“Ei, Hishamaru. Parece que você está com muita dificuldade. Você ficou fraca?”

O homem – Kakugyouki – sorriu rudemente, depois empurrou a lâmina de Higekiri de volta com a mão direita. Shaver o confrontou por causa de Harutora. Sua expressão vazia até agora desapareceu, e ele revelou hostilidade e berrou como um animal selvagem. Sua intenção de luta surgiu porque ele estava na frente deste Oni.

Kakugyouki murmurou.

“Patético. Volte mais tarde.”

Então, levantando a lâmina que ele agarrara, ele jogou Higekiri voando junto com Shaver.

Shaver foi jogado e caiu perto de Kagami, desmaterializando rapidamente. Apenas Higekiri caiu na estrada de asfalto. Kakugyouki olhou para Kagami.

“O que você quer?” Ele perguntou provocativamente, levantando uma sobrancelha.

“...!?” Kagami cerrou os dentes.

Abrigando Harutora abaixo dele, Kakugyouki dominou o ambiente com sua aura demoníaca. Hishamaru também olhou para Kagami, que havia empurrado seu mestre para essa situação com um olhar que continha clara intenção de matar.

Aquele Onmyouji arrogante poderia querer brigar se seu oponente fosse apenas Hishamaru.

Mas quando Kakugyouki apareceu para enfrentá-lo como oponente – ele não seria estúpido e arrogante o suficiente para acreditar que poderia.

“Você é uma desgraça.”

Ela acendeu Fogo de Raposa. Kagami imediatamente levantou Higekiri, esquivando-se da bola de fogo gigante. Então, ele realizou um trabalho de pés complexo e desapareceu. Passo Distante. Ele havia se retirado.

Ela poderia prosseguir, mas isso poderia atrapalhar o fluxo da aura. Mas agora, Harutora era a prioridade.

Ela correu para Harutora, infundindo feitiços de cura nele com todo o seu poder.

“Um pano!” Ela gritou sem se virar.

Kakugyouki encolheu os ombros, resignado, arrancando a manga esquerda vazia. Ele nem recebeu uma palavra de agradecimento por salvá-la. Em vez disso, se ele pedisse agradecimentos, ela começaria a dar-lhe sermões severos sobre ‘o que você tem feito esse tempo todo?’. Kakugyouki sorriu amargamente para Hishamaru, que colocou um pano no olho esquerdo de Harutora, enquanto o Lag cobria seu próprio corpo.

Ele sabia que ela era dedicada ao seu mestre. Embora não valesse a pena ouvir, ele ainda disse:

“Honestamente. Você é tão dedicada.”

“... Ugh.” Então, Harutora gemeu e torceu seu corpo quando Hishamaru derramou magia nele. Hishamaru apoiou alerta a parte superior do corpo de Harutora.

Hishamaru apoiou Harutora em uma posição sentada na estrada e ele gemeu novamente. Então, ele abriu um pouco o olho direito restante, virando silenciosamente o olhar para a Shikigami e Oni diante dele.

Lágrimas transbordaram dos olhos azuis de Hishamaru. Aquelas lágrimas eram como joias deslumbrantes em sua bela aparência que era de tirar o fôlego.

“... Hishamaru.” Harutora disse.

Depois que as bochechas de Hishamaru ficaram vermelhas de gratidão, ela se afastou um pouco, ajoelhou-se e curvou-se.

“Ei!” Então, ela latiu com raiva, sabendo que a presença ao lado dela não havia se mexido.

Depois que Kakugyouki olhou para Harutora, ele deu de ombros deliberadamente como se quisesse dizer ‘só um pouco’. Mas então ele sorriu e voltou para o lado de Hishamaru, ajoelhando-se e assumindo a mesma postura.

Uma estrada desolada da qual o tráfego fora cortado.

Na frente de Harutora, que estava sentado na estrada de asfalto, os atendentes anteriores de Yakou se curvaram profundamente como se reunissem com seu mestre anterior.

Os lendários Shikigami, Hishamaru e Kakugyouki.

Além disso, o lendário Onmyouji, Tsuchimikado Yakou.

*Flap* Com o som de asas batendo, um Yatagarasu pousou no ombro de Harutora. Hishamaru lançou um olhar afiado e perigoso para o infiel que não havia aparecido até agora.

Mas...

“Deixe, Hishamaru. Ela sempre foi assim.”

Hishamaru tremeu por causa dessas palavras.

“Como...” Ela confirmou com uma voz trêmula. “Como devemos abordar você?”

Escusado será dizer que Hishamaru também tinha as memórias de Kon. Não importava o que seu mestre escolhesse, sua devoção não seria manchada – mesmo assim, ela ainda estava nervosa.

Harutora respondeu indiferentemente a isso.

“Do que você quiser.”

Então, Harutora colocou força em seus membros e preparou-se para se levantar. Hishamaru entrou em pânico primeiro e tentou ajudá-lo, mas Kakugyouki levantou o corpo de Harutora tão naturalmente quanto a respiração e o fez ficar de pé. Claro, ele também notou o olhar ressentido de Hishamaru, mas Kakugyouki não prestou atenção. Porque não haveria tempo para isso.

“... Então?”

Levantando-se também, Kakugyouki abaixou a cabeça para olhar para Harutora enquanto perguntava.

“O que faremos agora?”

Harutora olhou rapidamente para Kakugyouki e depois olhou para Hishamaru.

Em uma voz desapaixonada, ele disse:

“Vamos realizar a cerimônia do Ritual Taizan Fukun e traremos Tsuchimikado Natsume de volta a este mundo.”

 

PARTE 3

É claro que Kurahashi e os outros tinham suas razões para não matar Amami imediatamente. Porque eles estavam em guarda por maldições.

Era natural para um praticante do nível de Amami ter implantado maldições de vingança que seriam ativadas caso ele fosse morto – pelo menos assim era para a geração de Amami e Kurahashi. Como resultado, como eles deveriam lidar com ele se tornou um problema, limitando-se a garantir a vida do praticante. Eles eram pessoas que viveram nesse tipo de época.

Portanto, desde que a verdade fora escondida de Kurahashi e ele entendia que não seria mais capaz de obter ajuda de Amami, ele decidiu não matá-lo imediatamente. Ele decidiu passar algum tempo lentamente diminuindo o poder e a vitalidade espiritual de Amami. Isso era para que, mesmo quando a maldição fosse ativada, seu poder fosse enfraquecido. Esse também era o método natural de resposta para os da geração de Kurahashi e, na verdade, havia vários exemplos desse tipo de resolução nos registros que a Agência Onmyou não poderia tornar pública.

Mas mesmo que ele o deixasse viver por enquanto, ele obviamente não o deixaria em paz. Ele lançou o mesmo selo mágico de supressão de energia que estava em Kagami Reiji e Dairenji Suzuka, mas, em vez de limitar, era para apagar – ele lançou para que ele não pudesse controlar nenhuma energia mágica, e até mesmo sua capacidade de sentir aura fosse selada. Ele também queimou a garganta com magia para impedi-lo de entoar encantamentos e cortou os tendões das mãos para torná-lo incapaz de formar selos. Então, ele roubou sua consciência e o trancou no inferno subterrâneo, lançando uma magia antiga que o mataria depois de dez dias. Em certo sentido, poderia ser chamado de uma disposição cruel com menos consideração pela dignidade humana do que simples assassinato.

Amami não deveria ter conseguido virar a mesa depois de ter sido selado com tanta força. E Kurahashi não teria permitido.

Mas...

Havia também alguém que não podia concordar com a posição de Kurahashi. Miyachi. Embora ele não pudesse pedir ajuda, ele hesitou em tirar a vida de Amami. Ele decidiu depois liberar a magia proibida que mataria Amami por conta própria e substituiu-a por uma magia proibida diferente que congelava o sujeito. Ele pensou que iria acordar Amami quando todos os obstáculos desaparecessem depois de meses ou até anos e fazer com que ele vivesse o resto de sua vida com a identidade de um homem velho, e não como praticante.

Mas Miyachi não sabia.

A barreira que guardava a prisão subterrânea era apenas algo com o objetivo de manter o interior trancado. Era difícil chamá-la de à prova de falhas por contato externo.

Além disso, quando ele descobriu as verdadeiras identidades de Kurahashi e dos outros e descobriu que sua vida estava em risco, Amami imediatamente deixou para trás um leque como se estivesse deixando pistas.

O nome desse leque era Oboro. Um Shikigami mecânico de alto nível que Amami havia feito através de um esforço dedicado. Sua força não era grande, mas possuía uma personalidade que imitava seu mestre – tornando-o quase tão capaz quanto Amami. Era uma personalidade que poderia atuar como seu substituto e fazer julgamentos semelhantes.

Depois que a consciência de seu mestre se interrompeu e soube que ele ainda estava vivo, Oboro tentou entrar em contato com seu mestre com todo o seu poder. Então, mesmo que fosse incapaz de liberar a magia proibida do corpo de seu mestre, conseguiu entrar em contato com a consciência de seu mestre através da barreira.

Escusado será dizer que a barreira da prisão era forte e Amami não podia controlá-lo, mesmo que ele tivesse recuperado a consciência. Mas Oboro trouxe várias opções ao seu mestre, enquanto especulava que tipo de escolhas ele faria, recebendo finalmente instruções do seu mestre.

Além disso, se Oboro fosse quem substituiria a atividade mental de Amami, quem substituiria os olhos e a atividade de Amami seria a compra que ele achou interessante antes, o Shikigami feito pelo homem, Aranha Travessa, que ele havia lançado dentro do prédio da Agência.

A Aranha Travessa tinha dois pontos fortes. Um era que ele poderia agir autonomamente semi-permanentemente. A segunda era que, após a conclusão de sua configuração inicial, mesmo pessoas comuns sem capacidade de usar magia – é claro, junto com Onmyouji, cuja capacidade de usar magia havia sido selada – poderiam controlá-la. Desnecessário dizer que Amami já havia concluído a instalação da Aranha Travessa quando ele a lançou no prédio da Agência.

O Amami, meio morto e ainda consciente, controlava a Aranha Travessa com Oboro como intermediário, concentrando-se desesperadamente em explorar a chance de contra-atacar. Ele esperou um milagre improvável, esperou uma convergência coincidente, espalhando uma teia por esse tempo. Isso era força de vontade e obsessão. Não havia mais nada. Não era absolutamente exagero dizer que a possibilidade de ser recompensado era minúscula.

Mas aquela porta fora aberta. Viu Harutora. Viu Ohtomo. Viu Touji, Kyouko e Suzuka. Além disso, viu Tenma.

E no final, Doman. Depois de Ohtomo deixar o prédio da Agência, Doman relutantemente terminou sua batalha mágica com Miyachi e se afastou. Mas ele riu alto quando viu Amami, quem seu Shikigami havia trazido.

Escusado será dizer que ainda não fora vitória de Amami. Amami apenas se arrastou de volta para fora do inferno. A batalha começava agora. E a chance de vencer essa batalha era ainda menor do que sua sobrevivência anterior.

Mas parecia que sua sorte ainda não havia acabado. Amami avaliou isso de si mesmo.

“Ah, eu não tenho muita certeza dos detalhes da situação, mas esse cara estava definitivamente trancado na prisão subterrânea. Quanto ao resto... Você provavelmente pode imaginar, vendo-o assim.”

Doman olhou para trás depois de dizer isso, olhando para Amami que se apoiava no Shikigami.

Amami estava em uma condição em que era inconcebível que ele estivesse vivo. Agora que o Shikigami Oboro havia sido destruído, ele não conseguia nem formar pensamentos ou palavras. A cruz gigante talhada na testa – o selo em forma de X – nem havia sido tratado adequadamente e estava apodrecendo. Não teria sido estranho que tivesse sido fatal se não fosse a maldição lançada sobre ele mantendo sua vida congelada.

Kogure parou de balançar a espada na frente de Amami. Ele perdeu suas palavras de resposta ao vislumbrar a escuridão da Agência Onmyou.

Tenma prendeu a respiração enquanto observava por causa da conversa dos adultos. Mesmo que ele não pudesse entender tudo o que havia acontecido, a profundidade e espetacularidade foram inconscientemente transmitidas a ele.

“Kukuku.” Doman riu e falou maliciosamente: “... Então? E agora, Ohtomo.”

“Nós recuamos.” Ohtomo respondeu.

“Muito bem.” Doman obedeceu sem reclamar, parecendo completamente satisfeito.

Kogure olhou para Ohtomo com uma expressão solene, com a mão ainda na espada.

“... Jin. Você... O que você vai fazer depois disso?”

Ohtomo virou a cabeça ao ser perguntado. Seus olhares se encontraram.

“Bem, por enquanto, vou fugir por alguns dias.”

“... A Agência Onmyou estará caçando você, você sabe? Eu também, se for ordenado.”

“... De fato.”

“Você acha que vai conseguir?”

“Não... Mas acho que preciso.”

Depois que Ohtomo respondeu, ele encolheu os ombros com um sorriso calmo. Depois que Kogure olhou para Ohtomo por um tempo, ele desviou o olhar primeiro, sua expressão solene perturbada.

Era o momento da despedida de Ohtomo e Kogure.

A lâmina de Kogure tremia enquanto ele se virava com uma postura adequada a um espadachim para Amami, que se apoiava no ombro do Shikigami.

“Chefe Amami. Embora eu não conheça os detalhes da situação, posso ler em seu rosto que você quer que eu os solte. Mas deixe-me dizer isso. A Agência Onmyou é necessária. A maioria das pessoas acredita que é necessário. Enquanto as pessoas exigirem a Agência Onmyou, minha espada será erguida por essas pessoas.”

Mesmo Kogure definitivamente não acreditaria que ele poderia ganhar com Ohtomo e Doman como seus oponentes. No entanto, era por causa da restrição de Kogure que ele foi capaz de deixar as coisas acontecerem com essas palavras.

“... Nada mal. Esse também é um tipo de caminho.” Doman respondeu com um sorriso profundamente sombreado no lugar de Amami. “Onmyouji Kogure Zenjirou. Espero testar minhas habilidades contra você algum dia.”

Kogure embainhou sua lâmina sem palavras, sem responder a Doman.

Então, ele deixou o parque sem olhar outra vez para Ohtomo.

 

PARTE 4

Shikigami defensivos de Tsuchimikado Yakou.

Os braços que o ajudavam.

Harutora secretamente se infiltrou na sede do Bureau de Exorcismo, juntamente com aqueles que já haviam sido chamados de armas.

Ele provavelmente seria capaz de atingir seu objetivo, mesmo que entrasse diretamente. Mas brigas estranhas desperdiçariam tempo. Harutora foi envolvido na Ala do Corvo novamente e lançou furtivamente para se infiltrar no quartel-general com Hishamaru e Kakugyouki. Ninguém o notou enquanto ele entrava na Sala de Repouso Espiritual.

Uma sala inorgânica, fria, monótona e vasta. Uma cama fora colocada junto à parede interna e iluminada de cima por uma luz.

E também – na frente havia convidados que chegaram primeiro.

“... Você finalmente veio.”

Quem respondeu foi Yashamaru, que alcançou preventivamente o lado de Natsume depois de ter sido ordenado por Kurahashi – ou não.

Era Takiko.

Ao lado dela estavam Yashamaru, cujo rosto amargo parecia parcialmente pronto para ceder, e Kumomaru, que mostrava nervosismo.

Takiko deu um passo à frente por trás dos dois Carregadores de Caixão Imperiais.

Depois que Takiko notou o pano que cobria o olho esquerdo de Harutora, sua expressão ficou rígida. Então, embora encontrasse o olhar de seu olho direito restante, ela não conseguia continuar olhando e abaixou o olhar.

Então...

“... Eu ouvi sobre tudo, Harutora... ou devo te chamar de Yakou agora?”

“Chame como quiser.”

Harutora disse friamente a mesma coisa de antes. Embora o interesse tenha surgido por trás do monóculo de Yashamaru ao ver sua atitude, ele não disse nada.

“Então... Harutora? Eu... não vou me desculpar com você. Não pretendia que isso acontecesse com Natsume. Mas isso não significa nada para você, certo?”

“... De fato.”

Harutora respondeu completamente sem rodeios. No instante em que ouviu a resposta de Harutora, a expressão de Takiko se contorceu como se seu coração tivesse sido esfaqueado – a força de vontade em que ela confiava desapareceu instantaneamente.

Se alguém observasse atentamente, eles notariam que os olhos de Takiko estavam avermelhados. Eles estavam inchados depois de chorar e depois de tentar esconder isso.

Takiko reuniu coragem, olhando intensamente para Harutora.

Harutora olhou de volta para Takiko com um olho direito indiferente.

Ele conseguia entender o que Takiko queria transmitir. Harutora não tinha mais nenhum ódio por ela agora. Incluindo sua franqueza e vivacidade original, sua natureza sincera e honesta, sua imaturidade e o que ela provocara por sua imprudência não o deixavam irritado. Na verdade, ele até se sentia um pouco positivo em relação a ela.

Mas ela não era confiável.

O conselho de Kon – Hishamaru – estava agora impresso em seu coração. Ser incapaz de confiar nela não era apenas comprometimento. Era algo que ele decidira que se aplicava à maioria das ocasiões.

Os vivos estavam em silêncio na Sala de Repouso Espiritual que acalmava os mortos.

Foi o Oni de um braço que quebrou o silêncio.

“... Então?” Kakugyouki repetiu sarcasticamente o que havia dito um pouco antes. “E agora?”

O ar na Sala de Repouso Espiritual ficou tenso como se uma eletricidade fraca tivesse passado por ele.

Harutora, com Hishamaru e Kakugyouki à sua esquerda e direita.

E Takiko, com Yashamaru e Kumomaru à sua esquerda e direita.

Os olhos de Hishamaru tinham uma intenção intolerante de matar, mas havia uma agradável irritação nos olhos de Kakugyouki. Em comparação, havia uma luz aguda avaliando Harutora nos olhos de Yashamaru e os olhos de Kumomaru estavam cheios de tensão, resolução e um espírito de luta inflexível.

Tsuchimikado e Souma, que já foram aliados.

Atualmente, essas duas facções estavam silenciosamente espalhando faíscas na Sala de Repouso Espiritual, onde estava o cadáver de Natsume. Se o equilíbrio entre os dois lados colapsasse e a cortina para a batalha fosse levantada... A sede do Bureau de Exorcismo definitivamente sofreria um golpe devastador, não menos do que o que o prédio da Agência havia recebido.

Mas os dois mestres pararam seus Shikigami fervendo ao mesmo tempo. Eles se encararam enquanto levantavam um braço, parando os Shikigami esperando atrás deles.

“Harutora.” Takiko conferiu. “Você vai ressuscitar Natsume? Usando o Ritual Taizan Fukun?”

Harutora não respondeu à pergunta de Takiko. Mas não responder era uma resposta nesta ocasião.

“Vou deixar Natsume com você.” Takiko anunciou lentamente. Hishamaru revelou uma expressão de surpresa ao lado da Harutora.

Por outro lado, Yashamaru disse, mantendo seu comportamento calmo:

“... Princesa?”

“Espere.” Takiko falou friamente sem nem virar a cabeça. Depois que Yashamaru revirou os olhos em direção ao teto, ele não abriu a boca para falar novamente. “... Claro, eu não acho que isso será capaz de compensar as coisas. Mas...”

As palavras saudosas de Takiko pararam e ela engoliu as seguintes palavras.

Ela apertou os lábios, olhou para cima e endireitou o peito. Ela avançou corajosamente assim. Kumomaru perseguiu apressadamente, e Yashamaru também a seguiu.

A distância entre Takiko e Harutora diminuiu. Harutora permaneceu imóvel, a postura de Kakugyouki permaneceu calma e apenas Hishamaru estreitou os olhos lentamente.

“Eu vou contra-atacar no momento em que você fizer algo incomum.” Ela não escondeu seu ar ameaçador.

O som de Takiko e os passos dos outros ecoavam na Sala de Repouso Espiritual. Os dois lados se aproximaram e se tocaram...

Assim, eles passaram um pelo outro.

“... Harutora. Vejo você em outra hora...”

Depois que Takiko soltou essas palavras, ela deixou a Sala de Repouso Espiritual com Yashamaru e Kumomaru.

Hishamaru olhou na direção do Takiko que partia e dos outros com uma aparência de inaceitação.

“... Está tudo bem?”

Sua voz questionadora estava cheia do sentimento de que ela iria lutar com Takiko e os outros sem reservas se ele desse uma única palavra de comando.

Mas quanto à Harutora...

“Está tudo bem.” Ele respondeu assim, girando a bainha da asa do corvo com passos despreocupados.

Eles se dirigiram para as profundezas da Sala de Repouso Espiritual, como se quisessem substituir Takiko e os outros.

A cama posicionada sob a luz. Uma garota estava lá.

Harutora se inclinou sobre sua amiga de infância, chamando-a com a voz mais gentil.

“Desculpe. Eu fiz você esperar, Natsume.”

Então, ele estendeu as mãos respeitosamente, levantando levemente o corpo deitado de Natsume.

 

 

A noite escura de verão se iluminava pouco a pouco, ganhando cores.

Ao mesmo tempo, a luz das estrelas se misturava ao céu, começando rapidamente a se esconder.

Estrelas cuja existência só poderia ser aprendida durante a escuridão da noite. Mas elas não desapareceram, mesmo durante o amanhecer. Elas existiam sem se mover no céu, acompanhadas pelo sol. Sempre esperando a chegada da noite seguinte.

O calor do asfalto que era continuamente assado pelo sol durante o dia não chegava ao telhado. Por outro lado, a temperatura fora roubada por causa do vento soprando constantemente.

Saotome sentou-se levemente na beira da plataforma de pedra, olhando para o céu enquanto seu corpo tenso tremia.

Havia quatro torii ao redor da plataforma de pedra. O torii do norte era preto. O leste era azul. O sul era vermelho. Finalmente, o oeste era branco.

Era o altar celestial no telhado do prédio da Academia Onmyou – o altar preparado para o Ritual Taizan Fukun. Saotome emboscou Tenma em sua casa e, depois de tecer magia para enviá-lo à Agência Onmyou como um Shikigami, ela esperou aqui para testemunhar o resultado.

A vista do telhado do prédio da Academia era muito boa. O céu noturno que se movia lentamente em direção ao amanhecer estava quase acabando. O céu acolhia o amanhecer pouco a pouco. Embora fosse uma cena que se repetia todos os dias, mesmo assim, ela ficou impressionada com a vastidão ao vê-la novamente.

Não importava o que ela pensasse, o que ela desejasse, ou quanta estratégia ela elaborasse, ela era minúscula no final. Além disso, mesmo que ela continuasse trabalhando duro por anos e décadas, instigando um grande número de pessoas e fazendo várias coisas, isso não importava nada para o mundo, pois ele continuava solenemente girando.

Logo amanheceria. A rotação do planeta era o tempo. O tempo que continuava girando de dia para noite e de noite para dia para todos os organismos que viviam nele. Que movimento poderoso e absoluto.

Mas – havia casos. Casos extremamente raros. Pessoas que saltaram para se opor aos movimentos absolutos do tempo. Havia pessoas que escaparam de seus grilhões.

Por exemplo...

*CLICK* O som de uma porta sendo aberta. Saotome, que estava olhando para o céu, virou o corpo e olhou para baixo.

O som veio da entrada da área de tubulações abaixo. Era da porta situada na entrada do telhado. Então, a rede de arame colocada na parte inferior da área das tubulações foi pisada por alguém.

Saotome ficou de pé em frente ao altar.

O vento soprava.

Havia uma diferença de cerca de três metros de altura entre a área elevada em que o altar estava e a área das tubulações. Um corvo preto com asas gigantes abertas se abriu saltando por aquela distância.

O corvo bateu com elegância as asas negras, espalhando partículas douradas de luz. Quando os pés de seu mestre pousaram na área elevada, a bainha caiu levemente como se estivesse dobrando as asas. Então, flutuou livremente no vento que soprava pelo telhado.

Dois Shikigami também apareceram atrás de seu mestre.

Uma era uma mulher com uma beleza de outro mundo. Ela tinha um par animalesco de orelhas e uma cauda em forma de folha, um espírito de raposa. Havia também pessoas que os chamavam de atávicos por causa de suas origens. Sua bela aparência estava cheia de charme desumano, em contraste com sua natureza dedicada e não corrompida.

O outro era um Oni. Um Oni antigo e verdadeiro, cujo braço esquerdo fora cortado acima do cotovelo, o Oni de um braço. Ele era conhecido como o Rashomon Oni e Ibaraki-doji nas lendas do passado. Lendas também diziam que ele era uma mulher de cabelos brancos, mas, na verdade, ele era um Oni perigoso, transbordando com um ar selvagem que fazia o coração dos espectadores palpitar de terror, não de afeto.

Além disso, o Onmyouji que se envolvera na Asa do Corvo que liderava os dois Shikigami...

Um pano rasgado parecia embrulhado como um curativo sobre o olho esquerdo. Mas esse pano junto com o lado esquerdo do rosto, pescoço e ombros estava manchado com uma quantidade bastante grande de sangue. Ele ficou gravemente ferido. Mas seu olho direito restante continha uma luz poderosa que a deixava incapaz de sentir isso.

Ele carregava uma garota com os dois braços.

A garota deitada em seus braços também tinha o peito manchado de sangue. Seus longos cabelos negros caíam aos pés dele, tremulando ao vento do telhado, exatamente como a Asa do Corvo.

Saotome manteve sua expressão sem emoção, deixando a cena diante dela ser queimada em sua mente.

Tsuchimikado Harutora, envolto na negra Asa do Corvo e carregando o cadáver de uma garota.

Seus Shikigami defensivos, Hishamaru e Kakugyouki.

As pessoas atravessando o tempo que estavam reunidas diante dela no mundo que estava prestes a receber o amanhecer.

A cortina fora puxada de uma nova noite sob o céu que recuperava seu brilho.

“... Eu estive esperando.” Saotome falou baixinho, segurando uma multidão de pensamentos.

Dizia a lenda que, nos tempos antigos, o Onmyouji Abe no Seimei usou o Método Taizan Fukun para prolongar a vida do monge Mii-dera Chikou, trocando a vida de um de seus discípulos pela dele.¹

 

PARTE 5

O sol começava a despontar no amanhecer.

Os sensores espirituais que pertenciam ao Departamento de Inteligência notaram uma anormalidade espiritual drástica acontecendo dentro da cidade.

A localização era Shibuya. O centro da anormalidade ficava perto da área da Academia Onmyou. Eles imediatamente fizeram um pedido para mobilizar a equipe de purificação de Desastres Espirituais da filial de Meguro, mas quando se mobilizaram, o distúrbio espiritual de repente parou tão abruptamente como havia começado.

Um grande número de equipes de purificação de Desastres Espirituais se mobilizou por causa da comoção no prédio da Agência Onmyou naquela noite. Eles tiveram que ficar atentos aos Desastres Espirituais que estavam acontecendo e quase não havia equipes em espera.

Portanto, a Sala de Comando Exorcista anulou o pedido anterior de mobilização da equipe ao receber o relatório de que a anormalidade havia parado. Eles fizeram com que a equipe voltasse ao modo de espera para poder lidar com um Desastre Espiritual, caso acontecesse. O diretor Miyachi deixou a Sala de Comando Exorcista e o chefe do Bureau de Exorcismo Kurahashi recebeu esse relatório após o amanhecer.

Quando recebeu o relatório, Kurahashi ouviu Yashamaru sobre Takiko deixar Natsume para Harutora.

“Sério...”

Ele retornou a palavra, não se preparando para emitir novos pedidos em particular.

Mas...

Depois de desligar o telefone, ele, que normalmente retornaria imediatamente ao trabalho, ficando em silêncio e imóvel, mergulhando profundamente em pensamentos.

Ele recebera o relatório no escritório. Kurahashi, sem palavras, olhou fixamente para o centro da sala enquanto se sentava em frente à mesa.

“... Mesmo assim.” Kurahashi murmurou como se estivesse falando com alguém. “Mesmo assim, o caminho Onmyou não pode ser cortado...”

Palavras semelhantes às daqueles que criaram o garoto parado naquele lugar há poucas horas atrás.

Ninguém respondeu às palavras de Kurahashi.

Kurahashi estava sentado em frente à mesa do escritório, continuando a olhar para o espaço.

 

 

Desde que Kogure partiu, não havia exorcistas visitando o parque. Ohtomo julgou isso e pediu à diretora Kurahashi através de uma mensagem para levar os alunos e Amami.

Amami perdeu a consciência muito rapidamente depois disso. Ohtomo havia colocado Kyouko, ainda inconsciente, e Amami em bancos, usando uma magia para curar ao máximo cada um deles.

Então, ele confiou várias mensagens a Tenma.

“Até logo.” Depois de soltar essas palavras, ele deixou a área com Doman. Agora eles estavam dirigindo o pequeno carro preto de Doman para fora de Tóquio. No banco do motorista, havia um Shikigami simples especializado que Doman havia feito para ser motorista. Ohtomo sentou no banco do passageiro e Doman no banco de trás.

Assim como Kogure havia dito, a Agência Onmyou provavelmente caçaria Ohtomo. Embora houvesse uma necessidade de se acalmar por enquanto, Ohtomo não estava preocupado. Afinal, essa era sua profissão passada.

Em vez disso, agora...

“... Sacerdote?”

Ohtomo questionou o Doman pelas costas, continuando a olhar pelo para-brisa.

“Você sabe muito sobre o Ritual Taizan Fukun?”

“Infelizmente, não tenho muita certeza das consequências. Mas houve algumas atividades espirituais apenas alguns momentos atrás. Pelo menos provavelmente havia evidências de que Taizan Fukun foi convocado.”

Doman virou-se e olhou para trás de onde tinham vindo – a direção de Tóquio – e disse isso.

Harutora tomou emprestado o poder de Saotome e realizou o Ritual Taizan Fukun. Magia de Alma. Ele havia realizado uma magia proibida banida pela Agência Onmyou. Ele só planejara recuperar Harutora. Ele nunca imaginou que as coisas se tornariam assim.

Talvez ele estivesse errado, mas essa era sua escolha.

Ohtomo havia dito isso a Kogure, que tentou impedir Harutora e o bloqueou. Esse julgamento foi realmente errado? Ele tinha que entender isso de agora em diante. Então, se ele estivesse errado – que outras decisões ele tomaria?

“... Sacerdote.”

“O que foi?”

“Você tem minha profunda gratidão por esta noite.”

“Hoho. Você não precisa me agradecer. Eu disse que esse era o seu favor.”

“... Em relação a esse favor.” Ohtomo se endireitou um pouco, olhando para o banco traseiro por cima do ombro. “Foi por ganhar contra você, certo, Sacerdote?”

Doman percebeu com suas palavras quase indelicadas de confirmação.

“Nada mal...” Ele respondeu enquanto lançava um olhar penetrante através de seus óculos de sol. “Este velho foi superado e derrotado em uma competição mágica que ele propôs. Originalmente, eu estava em uma posição em que não podia reclamar, mesmo que fosse purificado sem deixar rastros.”

“Nesse caso, dizer que você pagou esse favor só com isso...”

“... Hmph, certo, parece um pouco insuficiente.”

A alegria pairava na boca de Doman enquanto ele tentava descobrir as verdadeiras intenções de Ohtomo – junto com um sorriso ameaçador.

“... Certo.” Ohtomo respondeu claramente. “Então, Sacerdote. Por que você não retribui todo o favor restante de uma só vez. Por favor, se torne meu Shikigami. Por um ano a partir de agora... não, dois anos.”

Doman olhou silenciosamente para Ohtomo por um tempo.

Então, seus traços infantis foram preenchidos com humor.

Mas não continha sentimentos ingênuos e infantis. Em vez disso, a infantilidade de sua aparência fora apagada e revelava o rosto feio e envelhecido do fundo. Como se um diabo desumano de centenas de anos atrás tivesse surgido silenciosamente.

“Quão repentino e exagerado. Você entende que tipo de coisa você está dizendo?”

Doman mencionou o reembolso do favor a Ohtomo para prendê-lo com uma maldição. Quanto mais Ohtomo confiasse na força de Doman, mais ele dependeria desse ara-mitama, aceitando as garras de Doman. Doman tinha mirado nisso e concedeu a Ohtomo um favor. Ohtomo também entendia isso.

Então, embora eles tivessem originalmente se unido para a batalha, se isso se tornasse um contrato Shikigami, então a influência deles um sobre o outro seria tremendamente diferente.

“Você... Você será consumido por esse velho, sabia?”

Ohtomo há muito se preparara para essa situação extremamente provável. Em outras palavras, era um contrato com o diabo.

Mas agora que a Agência Onmyou era sua inimiga, ele tinha que se esconder. E ele não seria capaz de simplesmente se esconder, ou a Agência Onmyou estaria rastreando o paradeiro de Harutora.

“Se eu for consumido... Bem, eu vou deixar você ter outra perna... ou vou obter vitória em outra competição mágica e recuperarei minha liberdade.”

Ohtomo falou sinceramente, mas Doman riu alegremente.

“Nada mal, nada mal, vender-se dessa maneira. É assim que os chamados praticantes eram originalmente, embora tenham se tornado significativamente mais escassos recentemente.”

“Sua resposta?”

“Eu aceito. A partir de agora, Onmyouji Ohtomo Jin será meu mestre.” Doman prontamente se comprometeu.

“Obrigado.” Ohtomo falou brevemente, depois voltou o olhar para o outro lado do para-brisa.

O pequeno carro preto carregando um Onmyouji e um ara-mitama seguia pela estrada.

O céu distante refletido no para-brisa começava a clarear rapidamente. Por outro lado, a escuridão no carro parecia estar crescendo gradualmente.

 

 

Um amanhecer comum chegou ao pátio, como se a noite caótica tivesse sido uma mentira.

O céu oriental se iluminou e o vigor refrescante de uma manhã de verão começava a se misturar com o ar circundante. Tenma carregava emoções complexas. Em apenas uma noite, tudo mudou, mas a manhã antes dele agora não parecia diferente do normal.

Tenma estava atualmente na vila Mejiro de Kurahashi. Era uma pequena residência à beira-mar e tinha uma atmosfera tradicional de uma estrutura da era Taisho. O tamanho do pátio era moderado e parecia bem cuidado, embora não fosse lindo.

Tenma sentou-se em um banco no pátio. Na frente dele, havia uma cerca de ferro preto usada como gabinete. Tenma estava sentado no banco, olhando através da cerca de ferro.

Depois que Ohtomo saiu com Doman, a diretora contatada correu para o parque apenas alguns breves minutos depois. Então, ela colocou Kyouko e Amami inconscientes em um carro e entrou na vila junto com Tenma. Agora, ela estava em uma sala realizando o tratamento de Amami.

Só então...

“... Tenma.”

“Kyouko-chan, você acordou?”

“Sim, agora mesmo.”

Kyouko chegou ao pátio. Seu rosto ainda estava ruim, mas ela parecia ter recuperado a calma.

“Eu já ouvi o que você disse para a Avó.”

Depois de dizer isso, Kyouko se aproximou do banco. Tenma se levantou para abrir espaço, mas Kyouko sorriu e balançou a cabeça.

Por ‘o que você disse’, ela quis dizer o relatório do que aconteceu naquela noite. É claro que o conteúdo era extremamente chocante, embora fosse apenas o alcance do que Tenma entendia. Embora a diretora não tivesse dito nada, o fato de eles terem se abrigado nesta vila em vez da residência principal da família era definitivamente para evitar os olhos e ouvidos do chefe Kurahashi. No mínimo, havia uma necessidade de esconder Amami. Ele temia que eles se voltassem para esta vila muito em breve.

Ele não tinha certeza do quanto a diretora havia dito a Kyouko sobre o pai dela. Mas ela teria que enfrentá-lo diretamente mais cedo ou mais tarde, ou talvez ela já tivesse percebido.

Que tipo de decisão a Kyouko tomaria de agora em diante?

“Ohtomo-sensei também saiu.”

“Sim, ele disse para dizer ‘olá’ a todos por ele.”

Certo. Não era apenas Kyouko, Ohtomo também havia tomado sua decisão. Escusado será dizer que Harutora também o fizera.

Touji, Suzuka e até o próprio Tenma seriam forçados a tomar decisões a partir de agora. Independentemente do caminho que todos eles escolhessem, eles seriam incapazes de retornar ao início. Eles não podiam mais voltar a ser estudantes ignorantes.

“... Você não teve notícias da Harutora?”

Tenma silenciosamente assentiu com a pergunta de Kyouko.

O dia amanheceu. Talvez Harutora tivesse realizado o Ritual Taizan Fukun na noite anterior.

No entanto, por que ele não os contatou? Não poderia ter sido que a cerimônia falhou, poderia? Ele ficou cada vez mais ansioso porque não sabia de nada. Mesmo que tentassem contatá-los, Harutora e Natsume provavelmente não estavam carregando telefones no momento.

“Ah, mas eu recebi uma mensagem agora...”

Os olhos de Kyouko de repente se arregalaram quando as palavras de Tenma foram apenas meio faladas. Ele olhou para trás surpreso.

Logo depois, alguém colocou as mãos na cerca de ferro que cercava as terras da vila e disse:

“... Ei, estou atrasado.”

“Touji-kun! Suzuka-chan!”

Tenma e Kyouko correram em direção à cerca de ferro. Touji sorriu levemente, e um leve alívio apareceu no rosto de Suzuka quando viu que Kyouko estava bem. Tenma os informou da localização da vila quando Touji o contatou antes. Tenma tinha ido ao pátio esperar por Touji e Suzuka.

No entanto, a felicidade de Tenma e Kyouko não se transformou em um sorriso completo. Touji e Suzuka eram os mesmos.

“... Harutora-kun não está com vocês, hein?”

“Sim... Em outras palavras, acho que ele também não entrou em contato com vocês.”

Depois que Touji suspirou, ele se moveu para a entrada. Ele entrou no terreno da vila com Suzuka, explicando sua experiência de despedida com Harutora para Kyouko e Tenma novamente.

No final, depois que Touji e Suzuka se tornaram iscas para deixar Harutora escapar, as equipes de purificação de Desastres Espirituais os perseguiram até o amanhecer. Depois, eles aproveitaram a oportunidade para despistá-los com Shikigami simples e finalmente escaparam da perseguição.

“Bem, não foi tão cansativo depois que os corvos tengu se retiraram. É graças a Suzuka.” Touji olhou para trás enquanto agradecia, mas a expressão de Suzuka não esclareceu nada.

Ela olhou para os pés, sem encontrar os olhos de ninguém.

“... Ele disse.”

“Eh?”

“Ele disse que traria Natsumecchi de volta...”

“Suzuka-chan...”

Tenma não podia dizer mais. Kyouko silenciosamente se aproximou dela, abraçando os pequenos ombros de Suzuka. Suzuka não tentou resistir como antes.

Os quatro silenciosamente ficaram parados no pátio iluminado pela luz do sol.

Só então...

*Bzzzz* Uma fraca vibração soou e os quatro imediatamente se viraram. Um telefone com uma chamada recebida. O telefone de Tenma.

Tenma rapidamente verificou a tela. Nela, havia um nome que acabara de ser adicionado.

“Saotome-san!?”

Depois de ouvir isso, os outros três ficaram tensos também. Saotome deveria estar realizando o Ritual Taizan Fukun com Harutora.

Ele pegou o telefone às pressas.

“... Good morning, Tenma-kun, você está acordado?” Um tom achatado como sempre, mas sem dúvida era ela.

“Saotome-san!” Tenma apertou o telefone com muita força. “Como está Harutora-kun? O que aconteceu com Natsume-chan? O Ritual Taizan Fukun foi bem-sucedido?”

“Por enquanto...”

Tenma olhou para os rostos brilhantes dos outros três. Os três pareciam ter ouvido a conversa. Touji apertou o punho e fez uma pose vitoriosa, Kyouko juntou as mãos na frente do peito e a tristeza de Suzuka de antes fora apagada.

Mas...

“De qualquer forma, você também teve dificuldades, Tenma-kun. Provavelmente não podemos nos encontrar agora, mas você não precisa se preocupar com esse lado. Faça o seu melhor por aí.”

Ela disse diretamente coisas que não podiam ser ignoradas. Além disso, foi com o ímpeto de estar prestes a desligar o telefone.

Os rostos dos três mudaram novamente.

“Por favor, espere!!” Tenma gritou em pânico. “Como assim, não podemos nos encontrar por enquanto? O Ritual Taizan Fukun foi bem-sucedido? Natsume-chan ressuscitou? Será que o preço que Harutora pagou foi...!?”

“Não há problema, os dois estão vivos. Por enquanto.”

“O-O que significa esse por enquanto? Além disso, o que você quer dizer com não podemos nos encontrar?”

“Há muitas razões.”

“Não seja ridícula! Por favor, explique!”

Realmente não era uma piada. Além disso, com Saotome, havia uma alta probabilidade de ela estar falando sério e não brincando. Tenma desesperadamente aguentou. Mas a voz de Saotome ficou distante depois disso.

“Saotome-san!” Tenma chamou de novo.

Depois de algum tempo...

“Harutora-kun disse obrigado. Que ótimo.”

“Isso não é nada bom! Harutora-kun também está aí? Por favor, deixe-o falar!”

“Com licença, não há muito tempo. Eu tenho que ir.”

“Pare com isso, certo!? Por favor...”

Nesse momento, Touji interveio de repente pelo lado:

“Tenma, viva-voz.”

“Eh? Ah...”

Ele compreendeu muito rapidamente, mudando a chamada para o modo viva-voz. Imediatamente depois, Touji rugiu alto no telefone.

“Harutora! Você pode ouvir, certo? Responda-me!”

“Aah!” O som de lamento da Senpai veio através do telefone alterado para o modo viva-voz. Ela provavelmente tirou o telefone do ouvido em pânico, quando o microfone pegou e enviou o som do vento. Eles também ouviram o som de um motor à distância. O som de um semáforo à distância. O som fraco de vários passos. E também...

Uma risada repentina se espalhou.

Era a voz de Harutora.

“Harutora!”

“Harutora-kun!”

“Harutora!?”

“Bakatora!”

Touji, Tenma, Kyouko e Suzuka gritaram ao telefone.

As quatro vozes foram absorvidas pelo telefone e renasceram em um lugar diferente.

Um curto intervalo.

No entanto, a ligação foi encerrada assim.

Tenma ficou atordoado e rapidamente ligou para ela. Mas a ligação não fora completada. Depois que ele continuou tentando realizar a ligação, ela se conectou por um momento e foi imediatamente interrompido. Ele tentou ligar de volta, mas ainda não se conectava. Então, depois que ele ligou mais uma vez, veio o tom da secretária eletrônica.

“... O que está acontecendo?” Tenma falou por incompreensão. Talvez os outros três tivessem os mesmos sentimentos.

A risada naquele momento, sem dúvida, fora Harutora. Harutora estava lá.

Mas por que ele não tentou explicar nada?

“Poderia ser...” Kyouko murmurou, o rosto pálido. “Será que Harutora... se tornou Yakou...?”

Tenma e Suzuka ficaram congeladas em choque. Harutora havia despertado como Yakou. Isso era uma coisa muito possível. Além disso, era convincente. Se Harutora ainda fosse Harutora, ele definitivamente não teria cortado contato unilateralmente assim.

Tenma e os outros ficaram olhando para o telefone, sem palavras. Essa foi uma mudança extraordinariamente grande que Tenma e os outros não conseguiram lidar. Mesmo que odiassem essa mudança, não podiam imaginar o que fazer.

Mas...

“... Então eu irei perguntar diretamente a ele.” Touji disse.

A expressão de Touji era rígida, pois ele também achava que a possibilidade mencionada por Kyouko era convincente. Mas Touji mostrou um sorriso impertinente para os outros três que inadvertidamente se voltaram para ele. Mesmo que fosse um sorriso falso, esse sorriso continha o estilo ‘Touji’.

“Farei tudo o possível para localizá-lo e questioná-lo ‘quem é você?’... Também confirmo se ele se esqueceu de nós.”

As palavras de Touji instantaneamente arrastaram o coração de Tenma, Kyouko e Suzuka até as raízes, como a profecia de adivinhação de Kyouko.

“... Entendo.” Kyouko respondeu sem pensar. Tenma assentiu depois de encontrar o olhar de Touji e Suzuka apertou os lábios.

“Se ele disser algo como ‘eu sou Yakou’... Eu vou bater nele com força.”

“... Sim, eu também não vou parar. Até Harutora-kun pedir desculpas.”

“... Hah, vocês dois são tão gentis. Ele deveria se ajoelhar antes disso. Quem disse para ele jogar outras pessoas de lado assim?”

Os outros três estavam soluçando até o final. Mesmo assim...

“Tudo bem.” Touji ainda estendia um primeiro aperto firme diante de seus companheiros.

Então...

“Provavelmente nos separaremos depois disso. Não podemos mais ficar juntos como antes.”

Palavras abruptas. Mas eram palavras adequadas para a conversa atual. As palavras duras de Touji não produziram pequena angústia no coração de Tenma e dos outros. No entanto, ninguém o refutou.

Tenma já teve uma premonição antes, e Kyouko e Suzuka também perceberam.

Eles teriam que tomar suas próprias decisões a partir de agora.

Eles não podiam mais voltar a ser estudantes ignorantes.

“Provavelmente nos dispersaremos. Mas, mesmo assim, temos um objetivo em comum. Encontrar Harutora – e Natsume – e dar um belo sermão neles. Vou ensinar a esse idiota o que é cortesia.”

Esse era o vínculo deles.

A magia de um voto que unia os quatro.

Tenma colocou o punho acima do punho estendido de Touji, seguido de Kyouko, e finalmente Suzuka.

Os quatro punhos se tornaram um grupo, amarrando firmemente seus sentimentos.

Para o dia desconhecido em que eles seriam libertados.

Era o momento em que esses filhotes deixaram o ninho.

 

PARTE 6

Ela podia ouvir a voz de alguém...

Ah, é Harutora-kun. Harutora-kun está me chamando. Só isso a fez se sentir muito feliz.

Harutora-kun está me chamando. Natsume, ele chamou. Ela inadvertidamente se sentiu à vontade e seu coração estava quente.

Harutora-kun está me chamando...

Então...

De repente, Natsume acordou.

Ela sentia como se estivesse acamada por um tempo extremamente longo. Sua mente estava confusa e ela inconscientemente olhou em volta.

Uma sala desconhecida. Uma cama desconhecida. Um travesseiro desconhecido. Lençóis desconhecidos. Quando de repente ela se sentiu assustada, uma voz quente extremamente familiar chamou.

“Natsume.”

Natsume olhou distraidamente para a direção da qual a voz tinha vindo. O amigo de infância dela estava sentado ao lado da cama. A expressão de Natsume naturalmente floresceu quando ela sussurrou docemente: “Harutora-kun.”

“Você acordou. Como está se sentindo?”

Como ela estava se sentindo? Ela sentia como se sua mente estivesse enevoada, como se estivesse flutuando no céu envolto em nuvens. Era uma sensação um pouco desconcertante, mas não importava, se Harutora estava ao seu lado. Não havia nenhum problema. Ela não estava preocupada.

“Tudo bem.” Natsume respondeu. Ela sorriu para ele com sentimentos sinceros. Então, Harutora também sorriu de volta gentilmente, balançando a cabeça levemente, mas com firmeza.

Então, ela de repente percebeu. O olho esquerdo de Harutora estava coberto por um pano.

“O que aconteceu?” Depois que ela perguntou isso, ele sorriu amargamente.

“Algumas coisas aconteceram.”

“Você se machucou?” Ela se sentiu preocupada, naturalmente estendendo a mão das cobertas. Harutora riu e agarrou a mão dela, dizendo:

“Não é importante.”

A palma da mão se sobrepôs à dela. O calor de Harutora foi enviado pelas mãos de Natsume. Uma sensação suave, confortável e aliviante.

Mas, no momento em que ficou consciente de que estava de mãos dadas com Harutora, ficou rapidamente envergonhada. Suas bochechas ficaram vermelhas e ela queria puxar a mão de volta. Mas Harutora sorriu e não a soltou, apertando sua mão.

O rosto dela esquentou.

“Harutora-kun?” Ela murmurou confusa.

“Baka-Natsume.” Harutora sorriu e disse. “Por que você teve que me vir me ver como Hokuto? Eu sempre pensei que você estava me evitando naquela época, sabia?”

Repentina e extraordinariamente rápido, como um carro de corrida em uma reta no circuito. Felizmente, sua mente confusa não estava funcionando muito bem. Ainda submersa nos lençóis, Natsume agitou seus membros em pânico dentro de sua nuvem constritiva.

Ela não precisava se olhar no espelho para perceber que seu rosto estava vermelho e seus olhos estavam definitivamente úmidos. Finalmente fora exposto. O segredo que ela sempre manteve em silêncio e escondera em seu coração.

Além disso... Além disso, naquela noite dos fogos de artifício... Ela disse isso, chorando...

Seus pensamentos difíceis de suprimir...

Seu amor mais profundo...

“Ha-Harutora-kun.” Depois que ela disse isso, Natsume cobriu o rosto pela metade, incapaz de dizer mais alguma coisa. Ela ficou encarando o rosto de Harutora. Seu amigo de infância sorriu deliberadamente como se estivesse provocando Natsume.

Natsume sentia como se estivesse sendo muito astuto. Não era justo que ela fosse a única provocada assim.

Por isso, ela reuniu toda a sua coragem. Ela olhou nos olhos de Harutora, fazendo o possível para falar com uma voz trêmula.

“Harutora-kun...” Uma expressão séria também apareceu em Harutora por causa da aparência de Natsume. Embora de repente ela tenha ficado assustada, mesmo assim, ela não conseguia parar.

“Eu amo você...”

Seus sentimentos e desejos foram transmitidos em palavras.

Então, ela procurou por confirmação.

“Harutora-kun, e você?”

Harutora retribuiu um sorriso. Era um sorriso envergonhado misturado com lágrimas.

Então, Harutora continuou segurando a mão de Natsume e silenciosamente aproximou o rosto. Natsume sentiu o coração disparar e até tremeu involuntariamente. Mas, mesmo assim, ela não iria fugir. Ela tremeu – enquanto fechava os olhos.

Uma sensação quente e suave tocou seus lábios.

Era definitivamente a magia mais bonita do mundo.

Uma magiaa que unia sua alma.

Contudo...

“... Desculpe.”

Harutora disse isso, afastando-se dos lábios.

“Eh?” Natsume abriu os olhos um pouco.

“Desculpe, Natsume. Mas um dia... eu definitivamente vou te encontrar de novo...”

As palavras que continuaram depois desapareceram no ar sem serem ouvidas.

“Harutora-kun?” Natsume sussurrou, olhando desesperadamente ao redor de sua visão nebulosa...

 

 

“... Harutora-kun?” Quando ela abriu os olhos, a figura de Harutora não estava lá. “Hã?” Natsume olhou sonolenta ao redor.

Uma sala desconhecida. Uma cama desconhecida. Um travesseiro desconhecido. Lençóis desconhecidas. Mas não era a primeira vez. Era o lugar que ela esteve com a Harutora até agora.

“... Harutora... kun?” Ela murmurou novamente em decepção.

Fora um sonho? Ela não tinha certeza. Seu cérebro confuso ainda não estava funcionando bem. Os lençóis cobriam completamente Natsume, e tudo não estava claro, então ela não podia fazer um julgamento normal.

Mas...

Natsume tocou suavemente seus lábios com os dedos. A sensação que permanecia ali era inexplicavelmente fresca, clara e real. O rosto de Natsume ficou vermelho e ela enterrou o rosto nas cobertas novamente.

Depois que ela fez isso, os lençóis imediatamente puxaram a consciência de Natsume para a escuridão quente. Natsume fechou os olhos novamente. O rosto do garoto que ela amava surgiu dentro daquelas pálpebras fechadas.

“Harutora-kun...” Ela murmurou como se estivesse dormindo. Natsume voltou ao sonho que estava tendo por causa de seus sentimentos felizes.

A luz do sol brilhava nas cortinas da janela ao lado da cama. Mas Natsume continuou a apreciar os lençóis por um tempo, despreocupada.

Um pouco mais.

Só mais um pouco...

Para reunir coragem para voar sozinha no céu escuro e profundo depois que ela acordasse...


Nota:

1 – Aqui, é tido como de fato “Método Taizan Fukun”, e não “Ritual Taizan Fukun”, visto que Abe no Seimei fora o único a, de fato, conhecer todos os segredos dessa magia, na qual ele poderia sempre obter sucesso. Por isso, referindo-se a ele, era um “método”, e não um “ritual”.



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