Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 5

Story 4: Frias Memórias no Escuro

Muito quente.

Não, muito frio.

Seu rosto estava quente, mas seu corpo estava muito frio. Estava com muita dor de cabeça e suas mãos estavam flácidas e impotentes. Ele estava coberto de suor, o nariz pingava e ele não conseguia parar de tossir.

Quanto azar... O garoto reclamou.

Ele sabia há muito tempo que sua sorte não era boa, e dessa vez ele pegara um resfriado no dia em que iria à casa da amiga para brincar. Ele tinha andado de bicicleta até aqui depois da escola terminar no dia anterior ao final de semana prolongado. Uma vez que ele acordou, seu corpo não se sentia bem. Quanto azar.

Ele tossia continuamente, assoando o nariz.

Se ele estivesse em seu próprio quarto, pelo menos ele teria mangás para ler, e ele poderia – sem o conhecimento de seus pais – jogar videogames, mas ele estava no quarto de hóspedes de outra pessoa. Esta casa tinha um vasto pátio em que ele poderia brincar, mas não havia quase nada para se fazer dentro de casa.

Em particular, esse quarto de hóspedes era tão grande que criava ansiedade. A família tinha trazido um aquecedor para ele, então o quarto não estava frio, apenas chato.

Ele não podia ouvir nada na casa silenciosa, mesmo se ele se concentrasse. Quanto mais ele olhava para as linhas desconhecidas na madeira do teto, mais inquieto ele se tornava.

*Coof*

Até mesmo o leve som da tosse inexplicavelmente carecia de um senso de realidade.

Quanto azar. Seu cérebro febril pensou confuso. Repentinamente, a porta se abriu com uma batida.

Uma garota entrou no quarto. Ela era a filha da família – a amiga de infância do garoto. Uma vez que ele a viu entrar, o rosto do garoto se iluminou momentaneamente.

Agora ele finalmente teria alguém para conversar, era seu pensamento. Ele estava se sentindo entediado porque dormir sozinho estando resfriado era solitário. Embora ele não quisesse espalhar sua doença para os outros, se fosse apenas uma conversa...

Depois da garota entrar na sala, ela caminhou silenciosamente ao lado da cama onde o garoto estava deitado. O garoto olhou alegremente para a garota que estava ao lado do travesseiro.

No entanto, a expressão da garota era estranhamente sombria enquanto olhava para o garoto.

A garota olhou para o garoto com uma expressão séria, solene e um tanto preocupada, mas também tinha um pouco de receio. As coisas nas mãos da garota o incomodava ainda mais.

Talismãs, gohei, sakaki, shimenawa, jades amarradas com cordas, um shakujou com sinos no topo, uma espada usada em rituais e até mesmo rosários e vajras.

Todas eram ferramentas mágicas.

 

“...?”

‘O que você está fazendo com essas coisas?’ O garoto queria perguntar, mas ele não conseguia falar, sua boca apenas emitindo tosse. Com essa tosse, a expressão da garota tornou-se ainda mais solene e sua boca jovem se apertou.

Ela assentiu com a cabeça levemente, como se comunicando consigo mesma, com expressão solene.

“Não... Não se preocupe...”

“...?”

“Eu... Eu vou tratar seu resfriado...!”

“...?”

Os olhos com quais a garota encarava o garoto carregavam uma vontade firme. O olhar do garoto se mostrava confuso enquanto ele olhava inexpressivamente para a garota.

Era evidente quão ruim era a condição do garoto pelo fato de seu instinto não ter avisado.

 

 

Seu coração teve um pressentimento ruim após ter esse sonho.

 

 

“Oi, você chegou cedo hoje, Harutora... Ei, você está bem?”

Os estudantes do dormitório devoravam o café da manhã no refeitório do primeiro andar do dormitório masculino da Academia Onmyou.

Ato Touji entrou no refeitório, reprimindo um bocejo, segurando uma bandeja enquanto procurava por um lugar vazio. Ele notou que Tsuchimikado Harutora tinha começado a tomar o café da manhã antes dele, o que era raro.

Touji imediatamente franziu as sobrancelhas ao ver Harutora.

“Você parece diferente, Harutora.”

Assim como Touji dissera, a condição física de Harutora era claramente ruim. Seu rosto parecia estar febril, seus olhos estavam enevoados e nublados, seu nariz estava vermelho, parecendo que ele deveria ter espirrado algumas vezes. Ele não tocou no café da manhã na mesa.

“... O quê? Não fale bobagem, Touji...” Harutora zombou. “... Como eu poderia – *Coof* – pegar um resfriado? *Coof* Eu sou orgulhoso da – tosse – minha saúde...”

“Então os idiotas também podem pegar resfriados.” Touji respondeu calmamente, sentado na mesma mesa que Harutora. “Você deve procurar a gerente e pedir-lhe remédios para resfriado. Tome seu café da manhã, tome os remédios e volte para o seu quarto para dormir um pouco.”

“Ei, Touji, o que você está falando? Eu – *Achoo* – não estou resfriado.”

“Não se preocupe, deixar de ir para a aula por um dia não terá o menor efeito em suas notas.”

“Pare de brincadeiras, estou bem – *Coof Coof Coof*!”

“Ah, olhe para o que você está fazendo. Não tussa assim, é nojento.”

Harutora tossia enquanto assoava o nariz, com a testa balançando. Touji olhou para seu bom amigo, a expressão em seu rosto mais perto do estupor do que de preocupação.

Parecia que o redfriado de Harutora era bastante severo, então talvez ele estivesse com febre alta. No longo tempo que ele o conhecia, esta era a primeira vez que Touji vira Harutora assim.

“De qualquer forma... Eu vou para a aula... Afinal, eu sou... um membro da família Tsuchimikado...!”

“Se Natsume ouvisse suas palavras, ela definitivamente derramaria lágrimas.”

“... Além disso, eu não – *Sniff* – estou resfriado... eu estou incrivelmente saudável...”

“Isso pode ser chamado de saudável? As pessoas dizem que os idiotas não podem pegar resfriados, mas parece que isso significa que os idiotas não percebem quando estão resfriados.” Touji falou implacavelmente.

Só então, um estudante que também morava no dormitório entrou no refeitório do dormitório.

Era um garoto cujos longos cabelos pretos estavam amarrados com uma fita rosa. Mas, na verdade ele não era um garoto, sua verdadeira identidade era uma garota que estava posando como um garoto. Touji – e Harutora – sabiam disso.

Touji levantou a mão ligeiramente, chamando: “Natsume.” Tsuchimikado Natsume notou Touji, seu rosto se iluminando.

Mas no segundo seguinte, Harutora empurrou a cadeira para trás, gritando em voz alta e se levantando. Seu rosto estava quente e sua atitude estava claramente em pânico.

“Tou... Touji, eu vou indo na frente!”

“Você está indo?”

“Ah... Se quiser, pode terminar o meu café da manhã! Até mais!”

Harutora empurrou a bandeja para Touji e saiu apressadamente do refeitório do dormitório, tossindo e assoando o nariz.

Natsume, que observava à distância, ficou parada, perplexa. Touji, que estava por perto, também ficou atordoado.

“... O que esse cara está fazendo?” Touji olhou para a bandeja que Harutora havia empurrado, sem saber o que fazer. O café da manhã na bandeja há muito tempo se tornara frio.

 

 

“... Assim...”

A voz rouca de quem lia soava como se estivesse traduzindo escrituras. Isso reverberava pela sala de aula silenciosa.

A mais famosa instalação de preparação Onmyouji – a Academia Onmyou. Os estudantes que entravam ali para estudar tinham objetivos de se tornarem Onmyouji profissionais e se aperfeiçoarem a cada dia, então eles tinham expectativas muito estritas de si mesmos e – essencialmente – ninguém falava durante as aulas. Durante as palestras, apenas a palestra do professor entrava em seus ouvidos, juntamente com o som da escrita.

No entanto, nesse dia, outro ruído estava misturado na sala de aula.

*Coof Coof Coof*

*Sniff Sniff Sniff... Honk... Sniff Sniff*

O som irritante de tosse e nariz sendo assoado soava continuamente, soando excepcionalmente irritante na sala de aula silenciosa.

O barulho vinha do assento traseiro mais distante do quadro da sala de aula, onde uma pessoa estava sozinha, muitas vezes deixando escapar um barulho irritante. Honestamente, suas ações criavam problemas para os outros, e os estudantes que originalmente estavam sentados nas proximidades tinham mudado de lugar um por um.

Mesmo que os olhares de protesto dos colegas de classe tenham disparado em direção ao culpado que estava fazendo o barulho, essa pessoa não percebera, então todos se voltavam para seu ‘mestre’. Natsume sentara-se em seu lugar, encolhendo seu corpo em vergonha.

“... Sério, o que esse idiota está fazendo...?” Natsume reclamou com Touji que estava sentado ao lado dela.

“Ele está resfriado.” Touji respondeu casualmente.

Os dois sentaram-se no centro da sala de aula e havia um pouco de distância entre eles e o assento de Harutora.

Embora tivesse saído do dormitório primeiro, Harutora só entrara na sala de aula antes da aula começar. Ele escolheu um lugar muito atrás, como se estivesse evitando os dois, mas a julgar pelo incidente no refeitório do dormitório durante a manhã, Harutora poderia estar evitando Natsume.

“... Ei, Natsume. Não é de muita ajuda para o nome da família Tsuchimikado se ele ignora completamente esse tipo de condição e vem para a aula, certo?”

Poderia até ter o efeito oposto. Touji olhou para Natsume. “”Não entenda mal.” Natsume protestou baixinho.

“Eu não o forcei a vir para a aula com esse resfriado. Eu fiquei até surpreso. Eu pensei que ele iria se aproveitar do resfriado e dormir no dormitório...”

“Mesmo que ele não estivesse resfriado, ele parece ser o tipo de pessoa que poderia matar aula para dormir no dormitório.”

“Além disso, Harutora nunca ficou resfriado nos últimos anos... O que exatamente está acontecendo com ele?”

Natsume também parecia não saber. Isso realmente não era como algo que Harutora faria.

“Poderia ser... Será que ele finalmente se vê como um membro da família Tsuchimikado?”

“Isso é absolutamente impossível.”

“Isso, não é completamente impossível, olhe, pode ser por causa da febre...!”

“Então o cérebro dele fritou de vez devido à febre? Isso pode ser possível.”

Touji falou com malícia. Natsume estava inadvertidamente falando mais e mais duramente enquanto examinava a condição de Harutora.

“... Isso é estranho. De quem é esse Shikigami?” Assim enquanto eles estavam discutindo, o professor repentinamente falou em surpresa.

Eles olharam para a mesa do professor. Havia uma jovem sentada nela. Ela era uma jovem garota vestindo quimono. Um par de orelhas pontudas brotava de sua cabeça e uma cauda em forma de folha saia de suas costas.

“Kon?”

A garota era a Shikigami defensiva de Harutora, Kon. O coração de Natsume pulsou e ela se levantou da cadeira.

Kon, que estava sentada na mesa, virou a cabeça por cima do ombro para olhar para Natsume, dizendo: “... *Burp*...”

Natsume não conseguia esconder seu choque.

“... O que você disse? Kon?”

Kon levantou-se instavelmente na mesa diante do professor... Então seu pé escorregou e ela caiu.

A Shikigami normalmente ágil não estava preparada e caiu de cabeça. Porque ela parecia uma garotinha por fora, as alunas gritaram inadvertidamente.

Kon, que caíra no chão, parecia não se importar, quase como se ela não tivesse notado que havia caído.

Ela inclinou o corpo, levantando-se devagar e trêmula, seus movimentos obviamente anormais. Seus passos estavam cambaleantes, suas mãos agitadas, seu rosto jovem estava claramente atordoado e seus olhos estavam vazios – sem saber onde olhar, como se estivesse sonhando. Suas orelhas de raposa caíram e sua cauda seguia um estranho ritmo contínuo.

“... Ela está bêbada?” Os alunos sentados na primeira fila murmuraram.

“Bobagem! Como eu poderia estar bêbada... *Burp*.” Kon falou com um insulto e quase nenhum dos alunos se sentiu surpreso com isso.

“Harutora! O que você está fazendo?” Natsume rugiu freneticamente.

“...”

“Harutora!”

“... Huh? Oh... Está tudo bem... Não precisa se preocupar – *Achoo*!”

Ele estava em um estado extremamente preocupante. Além disso, uma vez que ele espirrava, Kon parecia responder com um arroto.

“O que está acontecendo, Natsume?”

“Harutora está resfriado, colocando sua aura em uma condição instável. Além disso, Shikigami defensivos e Shikigami servos são diretamente afetados pela condição física do mestre!”

“É por isso que Kon está bêbada?”

“Normalmente alguém lidaria com esse tipo de situação de antemão, mas Harutora não sabe o que fazer!”

Enquanto Natsume explicava para Touji, Kon ainda balançava com passos tropeçados próxima da mesa. Ela balançava bastante, só então notando Harutora.

“Ha... Ha... Harutora-sama! Quando você foi até aí!?”

Inesperadamente, ela deu um grande passo à frente, pisando nas mesas onde livros e cadernos tinham sido colocados e pisando em cabeças que não evitaram a tempo, dançando levemente pela sala de aula.

“Ei.” Harutora inclinou-se para trás, tentando fugir, mas ela se levantou, agarrando seu pescoço. “Uwah... Harutora-sama é tão quente...”

Ela esfregou-o com a bochecha, a cauda fofa acariciando todo o corpo do seu mestre. Kon era uma Shikigami kitsune, mas sua presença não era como uma raposa, mas sim mais como uma gatinha.

“O que você está fazendo! Kon! Saia, não seja rude!” Natsume correu em direção ao assento de Harutora com o rosto vermelho. Assim que ela chegou perto, fora a vez de Harutora se levantar de repente.

 

 

“Na... Natsume!” Ele respirou laboriosamente, empurrando a cadeira para trás e recuando. Claro, Kon ainda estava agarrada na cabeça dele com força. Ele falou com uma consciência nebulosa. “Não... Não se preocupe comigo! Eu estou bem! Não se preocupe!”

“Pare de fazer barulho, Harutora! Como alguém pode não se preocupar se você diz uma coisa dessas?”

“Realmente não é nada! Eu realmente... mas parece que a minha cabeça está mais pesada do que a normal...”

“Isso é porque a sua Shikigami está sentada em sua cabeça, não tem nada a ver com o seu resfriado!”

“Ha... Harutora-sama...”

“Kon! Fique sóbria já!”

“... Nn... Está um pouco quente...?”

“Se você não gosta do calor, então solte Harutora agora...! Idi... Idiota! Por que você está tirando suas roupas neste tipo de lugar!”

Kon torceu o corpo na cabeça de Harutora, puxando o suikan por cima da cabeça e tirando-o. Ela balançava a cauda, fazendo cócegas no nariz de Harutora e fazendo com que Harutora espirrasse várias vezes seguidas, mas ele ainda tentava escapar de Natsume com um passo trôpego.

“... Ei, Natsume, o que exatamente você fez com Harutora?” Touji disse, sua expressão cheia de suspeita.

“Que rude! Eu não fiz nada!”

“Mas ele claramente está com medo de você, certo?”

“Não é minha culpa!”

Natsume negou desesperadamente. As reações dos dois não provocaram pequenas comoções entre os estudantes.

Harutora era o Shikigami de Natsume, isso era um fato bem conhecido entre os alunos da classe. Além disso, Natsume normalmente exigia estritamente que as ações de Harutora não envergonhassem o nome da família Tsuchimikado, então eles sentiam a mesma suspeita que Touji.

“... A educação espartana foi exagerada...”

“... Tradições assustadoras de famílias tradicionais...”

“... Ele está mostrando seus verdadeiros sentimentos por causa da febre...”

“Não... Não é nada disso! Não entendam mal! A família Tsuchimikado não é o tipo de família tradicional que vocês estão imaginando...!”

“... Parando para pensar sobre isso, o relacionamento deles é realmente muito estranho...”

“... Agora que você diz, houve rumores espalhados anteriormente...”

“... E não da pra combinar primavera e verão...?”

“Eu disse, vocês estão enganados! Por que vocês estão se alterando cada vez mais!? Além disso, o que você quer dizer com ‘combinar primavera e verão’!?”

Enquanto Natsume se agitava e se defendia de todos, Harutora ainda continuava a fugir e Kon ainda estava torcendo o corpo e se despindo em sua cabeça. Cada um deles estava mal-humorado e a situação se tornava cada vez mais difícil de resolver.

“Nes... Nesse caso...” Natsume fora forçada a um canto e decidiu aproveitar a oportunidade para limpar esse caos.

Um talismã que parecia ter sido feito por Natsume apareceu em sua mão direita. A palavra ‘perigo’ estava escrita nele. Os rostos de seus colegas de classe ficaram pálidos ao perceber e eles fugiram dos dois um por um.

No entanto...

“... Order!” Antes que Natsume tivesse tempo de utilizar o talismã, outro talismã já havia flutuado para Natsume acima das cabeças dos outros.

Aquele talismã era do elemento madeira dos cinco elementos, e havia três deles no total. Os talismãs se transformaram em videiras no ar, amarrando Natsume, Harutora e Kon. Todos caíram no chão da sala de aula em um instante.

Os alunos da turma ficaram surpresos, voltando-se para o quadro. “... Ahem.” O professor, que havia jogado os talismãs, tossiu levemente, olhando para os alunos presentes com uma expressão avaliativa.

“Uh... Ato-kun.”

“Sim?”

“Perdoe-me, você poderia ajudar a trazer os Tsuchimikado-kuns para a enfermaria... agora mesmo?”

“Certo.”

 

 

“... Elimine o mal... Purifique o desastre...”

A garota segurava um gohei, completamente absorta e com uma expressão séria. O garoto estava deitado sobre a cama, olhando com os olhos arregalados para o gohei que se movia para frente e para trás acima de sua cabeça.

O ritual já continuava por mais de trinta minutos, e a garota proibira o garoto de se mover de forma imprudente durante o mesmo. No começo, ela até pediu que ele se sentasse direito, mas no final ela só ordenara que ele focasse sua mente. Mas a garota não o instruiu especificamente como se concentrar, apenas dizendo ‘de qualquer modo, você tem que focar sua mente’, provando que a garota não entendia o que ela tinha que fazer a seguir.

“... Nós te veneramos... e oferecemos nossos respeitos...”

O gohei passou por cima de sua cabeça e sua amiga de infância, a garota, conjurava continuamente um encantamento.

A garota acendeu o incenso que ela havia trazido e um aroma desconhecido invadiu o quarto de hóspedes. O garoto tossia repetidamente, mas a garota que estava completamente focada na oração quase não notava a anormalidade.

“Ha...!” Não muito tempo depois, ela gritou estridentemente, franzindo as sobrancelhas e balançando o gohei sobre a cabeça com um grande movimento. Ele se encolheu em seus lençóis, seu corpo ficando rígido de medo.

Então, a garota ficou imóvel. O silêncio feria seus tímpanos – mas feria ainda mais seu coração torturado.

O sutil tom eletrônico de bip soou de repente nos lençóis. O som vinha do termômetro sob a axila do garoto. Ao ouvir isso, a garota apressadamente jogou o gohei em suas mãos, puxando as cobertas e tirando o termômetro do interior das roupas do garoto fraco.

Ela olhou sem piscar para os números no termômetro... então mostrou uma expressão desanimada.

“... Não adianta, a temperatura não diminuiu... subiu ao invés disso...”

Como eu imaginei. O garoto respondeu em seu coração. Ele estava muito feliz que a garota se sentisse assim, mas ele realmente não acreditava que esse tipo de ritual pudesse tratar um resfriado.

“... Ei, você não precisa ajudar. Vou ficar bem se dormir, então Natsume, você...” O garoto tossia enquanto tranquilizava a garota.

“Não!” Mas a garota teimosamente balançara a cabeça com uma expressão séria. “Eu não posso apenas sentar e assistir quando é tão doloroso para você. Está tudo bem, não se preocupe, eu ainda posso fazer outra coisa!”

A garota habilmente escolheu a próxima ferramenta mágica para usar, ignorando completamente a preocupação e o medo no coração do garoto. O garoto só podia puxar devagar os lençóis e se cobrir.

Então, a garota começou um novo ritual.

“... A vi ra hum kham... Namu Myouhou Ren... Namu Amitabha... Sowaka!”

“...”

“... A forma é o vazio, e o vazio é a forma... naumaku samanda... Sowaka!”

“...”

“... Gyatei Gyatei... Ah, oh não, eu esqueci de montar o altar protetor.”

O que seria um altar protetor? A dúvida veio à mente do garoto inexpressivo. Seja o que fosse, ele tinha um pressentimento ruim em seu coração.

 

 

“... Harutora fugiu?”

“Isso! Quando eu fui para a enfermaria, ele não estava mais lá... Ele não foi até você?”

“... Eu não o vi...”

Touji comia o especial do dia – guisado de missô de cavalinha – no refeitório da Academia durante a hora do almoço. Ele atendeu ao telefonema de Natsume, olhando em volta enquanto segurava o telefone.

Depois da comoção pela manhã, apesar de Natsume ter sido levada à enfermaria com Harutora, Natsume havia retornado imediatamente à sala de aula para a próxima aula, deixando Harutora e Kon na enfermaria. Assim que as aulas da manhã terminaram, Natsume se dirigiu imediatamente para verificar a condição de Harutora, mas ela notou que Harutora, que deveria estar deitado na cama e se recuperando em silêncio, tinha saído da enfermaria em algum momento.

“Talvez ele tenha voltado para o dormitório para descansar depois de acordar? De qualquer forma, ele está resfriado, então tudo bem se ele sair mais cedo.”

“Eu também pensei nisso, mas verifiquei com Alpha e Omega. Ele não saiu do prédio da Academia!”

“Então ele poderia ter ido ao banheiro ou... Certo, a enfermaria não tem uma enfermeira? O que a enfermeira disse?”

“Parece que ela não percebeu ele se esgueirando. Mas, a cama dele ainda estava muito quente, então parece que ele escapou há pouco tempo!”

“... Uh, então o que devemos fazer...?”

Natsume parecia estar correndo procurando pelo paradeiro de Harutora enquanto falava ao telefone. A voz ansiosa de Natsume vinha através do telefone, e ele também podia ouvir sua respiração e passos em pânico.

“... Deixe-me perguntar, você tem alguma razão para estar em pânico? Não é grande coisa Harutora fugir da enfermaria, certo?”

“Este é um grande problema! Seria bom se ele voltasse para seu quarto e dormisse, mas o que devemos fazer se ele se meter em encrencas mais como a manhã!” Natsume gritou do outro lado do telefone, parecendo ver a situação com muita gravidade. “A julgar pela forma como ele estava de manhã, ele poderia ter perdido o controle agora por causa de seu resfriado! Temos que encontrá-lo o mais rápido possível!”

“... A julgar pela sua condição de manhã, será pior se você encontrá-lo...” Touji insistiu para que ela se acalmasse, mas infelizmente, como ele esperava, Natsume não escutara.

“De qualquer forma, apresse-se e me ajude a encontrar Harutora! Entre em contato imediatamente quando o encontrar! Entendido? Tchau.” Natsume insistiu, desligando o telefone logo depois de falar. Touji olhou para o telefone com uma careta, preocupação aparecendo em seu rosto.

Ele olhou ao redor do refeitório novamente, confirmando que Harutora não estava por perto, e continuou silenciosamente comendo seu almoço.

 

 

Os alunos da turma de Harutora costumavam almoçar no refeitório. Poucos traziam bentos, mas Momoe Tenma era uma desses poucos.

Ele ocasionalmente almoçava com Harutora e os outros, mas o refeitório estava lotado, e ele preferia não tomar o lugar de outra pessoa, então ele comia principalmente na sala de aula desde que trazia um bento. Nesse dia não fora diferente. Ele abriu seu bento na sala de aula vazia e comia sozinho.

Mas, enquanto ele estava comendo, a porta da sala de aula se abriu, o que era muito raro.

Quem será? Tenma olhou para a porta da sala de aula.

“Ah, Harutora-kun.”

“... Tenma... Só você está na sala de aula... Is... Isso é bom...”

Harutora, que fora levado para a enfermaria durante as aulas da manhã, voltou para a sala de aula com Kon, que também fora levada com ele, nas costas. A Shikigami parecia estar dormindo, seu rosto descansando no ombro de Harutora. Ela parecia bastante confortável.

“Você está melhor do resfriado?”

“... Resfriado? Ei ei, Tenma, eu não estou – *Coof* –resfriado.”

“Não se esforce. ”

“... Haha, eu não estou – *Achoo* – me esforçando...”

Tenma estava preocupado, mas Harutora não gostava disso, apenas cambaleando na direção de Tenma e sentando-se fracamente no assento ao lado dele.

Ele sentou Kon no assento vizinho, suspirando profundamente e caindo sobre a mesa. Apenas aquele pequeno movimento já o deixara sem fôlego.

“... Hey, Harutora-kun. Seu resfriado está realmente muito severo. Você tem se esforçado todo esse tempo, certo?”

“...” Harutora murmurou baixinho, como se nem tivesse energia para responder.

“Você comeu?”

“... Eu não estou com apetite.”

“Por favor, volte para a enfermaria e descanse... Certo, você se deparou com Natsume-kun? Ele correu para a enfermaria logo após o término da aula.”

“... Então o meu pressentimento ruim se tornou realidade... Felizmente eu – *Coof* – rapidamente escapei antes do término da aula.”

“Escapou?”

“... Mas eu não posso baixar a minha guarda, ele ainda deve estar procurando por mim em todos os lugares... É por isso que escolhi me abrigar na sala de aula.”

“Baixar sua guarda? Abrigar?” Tenma perguntou estranhamente, mas Harutora ainda não tinha energia e não respondeu à sua pergunta. “Harutora-kun, você deve se cuidar adequadamente e parar de se esforçar. Natsume-kun estava preocupado com você pela manhã inteira.” Tenma não sabia dos detalhes, mas ele ainda se preocupava com Harutora, falando para convencê-lo.

“... Tch... Co... Como esperado... Ugh...” Mas, a expressão de Harutora parecia preocupada por algum motivo.

“Huh, o que? O que há de errado, Harutora-kun?”

“... Natsume realmente está preocupado comigo...”

“Eu não disse? Além disso, qualquer um ficaria preocupado em ver você assim.”

“... Desculpe por fazer todo mundo se preocupar. Estou muito agradecido pela preocupação de todos, mas...” Harutora segurou a cabeça depois de dizer isso.

Olhando com cuidado, ele estava tremendo. Ele sentia frio? Seu resfriado realmente era muito severo, pensava Tenma.

Só então, a porta da sala de aula se abriu novamente.

“Gyah!” Harutora soltou um grito patético, voltando-se para a entrada.

Uma vez que ele vira a pessoa que entrara na sala de aula, ele relaxou a respiração.

“O... O que...? É somente a Kyouko – *Coof* – Não me assuste...”

“O que, Harutora, por que você está aqui?”

Sua colega Kurahashi Kyouko entrara na sala de aula. Kyouko era da famosa família Kurahashi, a neta da diretora da Academia Onmyou, Kurahashi Miyo. Ela sempre almoçava no escritório da diretoria com a avó.

Ela caminhou até Harutora e Tenma.

“Seu resfriado... não parece estar melhor. O que você está fazendo andando por aí sem dormir direito?”

“... Huh... Eu não posso fazer isso – *Sniff* – é uma longa história...”

“... Oh, tudo bem...”

Kyouko lançou um olhar frio para a teimosa de Harutora.

“De qualquer forma, o que aconteceu hoje de manhã? Natsume-kun estava tão preocupado com você, mas você fugiu dele. Isso não é um pouco rude?”

“Agora que você diz isso, por que você está evitando Natsume-kun?”

Kyouko falou irritada, e Tenma também fez uma pergunta semelhante por preocupação.

“... Eu acabei de dizer, é uma longa história... *Coof*.” Harutora falou impaciente.

“Estamos te perguntando!”

“... Não tem – *Coof* – nada a ver com você...”

“Você já interrompeu a aula, então o que você quer dizer com isso não ter nada a ver com a gente?”

“Sim, e estou realmente curioso sobre o que aconteceu. Será que seu resfriado está tão ruim que você está delirando?”

“... Vocês não sabem de nada, foi muito antes... algo – *Coof* – de quando eu era pequeno...” Harutora falou irritado.

Era difícil para Kyouko e Tenma aceitarem esse tipo de explicação, mas a outra parte era uma pessoa doente, afinal, e não seria bom forçar teimosamente a questão.

“Seja como for, coisas estranhas acontecem com você a cada dois dias de qualquer maneira.” Kyouko encolheu os ombros, falando insatisfeita. “Além disso, você me ajudou.”

“... Com o que eu ajudei? O que isso significa?” Harutora perguntou, mas Kyouko não respondeu, lentamente tirando um talismã por algum motivo.

“Bem... Order”.

Um talismã de madeira.

O talismã saltou de seus dedos, transformando-se em videiras no ar e instantaneamente amarrando Harutora. Tenma gritou de susto e Harutora caiu do assento. A própria Kyouko parecia satisfeita.

Ela vagarosamente pegou seu telefone.

“... Ei, Natsume-kun? Sim, sim, eu peguei aquele idiota do Harutora... Ei, não seja tão educado... Ah, eu estou na sala de aula sim... Certo, até mais.”

Ela alegremente terminou o telefonema. O rosto originalmente miserável de Harutora ficou ainda mais pálido.

“Na... Natsume? Você acabou de ligar para Natsume *Coof Coof*!!”

“Natsume-kun me pediu para ajudar a encontrar você.”

“Você não deveria estar rindo tão timidamente, você deveria estar se desculpando por ter feito isso!”

“Você é tão estúpido, Harutora. Eu fiz isso por você. Você tem que cuidar adequadamente do seu resfriado.”

“Havia uma razão para repentinamente lançar um feitiço quando minha guarda estava baixa? Merda, Ten... Tenma! Ajude-me...”

“Desculpe.”

“Você nem hesitou!?”

“Sim, independentemente do método, eu também acho que Harutora-kun precisa descansar. Além disso, não posso desfazer esse feitiço.”

“Você é tão frio! Droga! Nesse caso, Kon! Apresse-se e corte essas videiras com sua wakizashi...”

“... Zzzz...”

“Essa Shikigami estúpida!”

Harutora lamentou. Tenma sentia um pouco de pena, mas Kyouko nem olhou para ele. Kon dormia profundamente. Era difícil culpá-lo por querer chorar nesse tipo de situação.

“Droga... Hmph! Nesse caso, eu vou rastejar...”

“Harutora! Então é aqui que você estava!”

“Muito rápido! Onde você estava agora?”

Assim que Harutora planejou fugir para salvar sua vida, a porta da sala de aula se abriu e Natsume entrou. Ela notou Harutora – uma expressão aliviada atravessou seu rosto – e imediatamente ergueu as sobrancelhas.

“Eu não posso acreditar em você. O que você está fazendo, Harutora! Pare de brincar!”

“Uh... Eu... Eu não estou... Eu estou bem... Eu estou... *Coof Coof Coof*.”

Harutora recusava-se completamente a relaxar, seu rosto nitidamente pálido por causa do resfriado. Estava até inexplicavelmente cheio de medo.

Natsume olhou para Harutora, sem piscar. Pouco tempo depois, ela suspirou pesadamente, indo em direção a Harutora e aos outros.

“Desde esta manhã, eu não entendi exatamente o que você estava pensando... Enfim, agora a coisa mais importante é curar seu resfriado. Por favor, volte para a enfermaria e descanse corretamente, ou eu vou apenas mandar você de volta para o dormitório... Deixe-me esclarecer, essa é a ordem do seu mestre.” Ela falou impotente.

“... Na... Natsume...”

“O que há de errado? O que você quer dizer? Você está um pouco estranho hoje, mesmo para alguém doente.” Natsume falou com um leve sorriso, sua expressão revelando uma ternura.

O corpo do corpo de Harutora relaxou momentaneamente. Kyouko olhou para Harutora, sua expressão como se estivesse dizendo ‘não te disse?’. Tenma também assentiu afirmativamente. Kon ainda dormia profundamente.

Natsume disse gentilmente: “Não se preocupe, a enfermeira disse que era apenas um resfriado normal... Eu também poderia ajudá-lo a curá-lo com um feitiço amanhã de manhã... Ei, Harutora!”

Natsume tentou rapidamente impedi-lo. Harutora passou por ela, fugindo de sua vida enquanto ainda estava amarrado. Ele rolava de lado, sua cabeça e membros constantemente batendo em mesas, descendo os degraus escalonados da sala de aula com uma determinação sem igual. Kyouko e Tenma ficaram completamente estupefatos, mas Kon sequer acordou de seu sono.

“Ha... Harutora! Você está louco?”

Natsume o perseguia apressadamente, mas – surpreendentemente – a velocidade de Harutora vencia, como se ele estivesse escapando por sua vida.

“*Coof* Ugh!”

Ele tossia no caminho, rastejando no chão da entrada da sala como um inseto.

“... Você deveria desistir...” Infelizmente, Touji simplesmente entrou na sala de aula, impiedosamente pisando nas costas de Harutora. Harutora desabou no chão como se toda a sua energia tivesse desaparecido.

 

 

“... Eloim, Essaim Elo'tm, Essaim... Eko, Eko, Azarak, Eko, Eko, Azarak...”

A garota constantemente orava, mas era mais como magia negra do que uma oração.

O quarto de hóspedes irradiava uma névoa de cor estranha, criando uma cena incomum. A fraca fonte de luz lançava sombras sinistras por toda a sala, e vários aromas, como as velas e o incenso queimando no altar, transbordavam. Muitas vezes, um cheiro estranho e pungente podia ser sentido.

O garoto ainda estava deitado nos lençóis. As roupas que ele usava foram empurradas para cima e um padrão estranho fora desenhado em seu corpo. Ele só podia respirar ofegantes com um ‘Hah... hah...’ como se quisesse tossir, mas não podia.

“... Ph'nglui mglw'nafh... Cthulhu R'lyeh... Iyah! Iyah! Nyarlathotep, th'ga!”

A garota tinha uma toalha enrolada na cabeça e segurava um bastão em suas mãos que parecia ser um osso de animal. Ela estava em uma estranha dança, fazendo sons estranhos que não soavam como fala humana.

O garoto estava deitado na cama, sua expressão como a de um cordeiro de sacrifício esperando pela matança, sentindo gosto amargo de seu cruel destino.

Claro, isso era apenas brincadeira de crianças, mas o problema era que ela era uma criança com habilidades extraordinárias. Cor, cheiro e som envolviam o quarto de hóspedes, e também havia outras coisas. O garoto não tinha a capacidade de reconhecer claramente o que essas coisas eram, mas embora ele não tivesse a habilidade... O que exatamente seria aquela estranha ‘presença’ ao lado de seu travesseiro, atrás das costas da garota? A porta que não poderia ser aberta... abriu-se. O que era esse frio que viera imediatamente depois...?

A garota continuava o ritual.

“Hah... hah...” A velocidade dos suspiros do garoto aumentava cada vez mais.

Ele ainda teria que esperar várias horas antes que o céu se iluminasse. Esta noite já bastara para deixar uma boa dose de trauma no coração do garoto.

Mas...

 

 

“... Não... Não... Por favor... Na... Natsume... *Achoo*!” Harutora espirrou, acordando.

Por um tempo ele não tinha ideia do que estava acontecendo e apenas respirava caoticamente. Ele engasgou, lentamente se acalmando.

Ele estava em seu dormitório. O quarto estava escuro e parecia que a noite já havia caído. O silêncio reinava em torno dele. Talvez fosse a calada da noite.

Ele relaxou o fôlego, sentindo como se seu corpo pesado não quisesse se mover, como se uma pedra grande estivesse pressionando-o... Assim que ele pensou isso, algo roçou seu nariz e o assustou.

“Kon?”

A coisa que roçou seu nariz era a cauda de Kon.

“... Ugh.” Ele levantou a cabeça, olhando para o próprio corpo e notou que Kon não estava desmaterializada.

Ela estava deitada dentro dos lençóis que o cobriam – a cauda apontando para o rosto dele. Seu rosto adormecido parecia muito feliz.

“... O... O que está acontecendo... Tanto faz, não importa...” Ele laboriosamente falou aquelas poucas palavras e, em seguida, colocou a cabeça de volta no travesseiro.

Ele ainda se lembrava da hora do almoço. Natsume o pegara na sala de aula, e suas memórias ficaram confusas depois disso, mas pelo fato de ele estar dormindo no dormitório, ele provavelmente fora levado de volta por alguém. Seu corpo ainda não se sentia bem, mas por enquanto ele estava seguro.

Mas...

“... Eu tive esse sonho de novo...”

Ele não se lembrava muito bem do conteúdo do sonho, mas parecia ser uma continuação do desta manhã.

Um sonho de sua infância. Na noite em que ele fora à casa de Natsume para brincar, Harutora pegou um resfriado e Natsume trabalhou duro para curar sua doença, mas... Ele não estava disposto a continuar recordando o que acontecera em seguida. Ele nem precisava se lembrar disso deliberadamente, o terror daquela noite já havia sido esculpido profundamente em seu coração.

Na época, a coisa que ele vira definitivamente fora uma alucinação induzida pela febre alta, uma ilusão causada por sua própria infantilidade. Ele tinha certeza disso, mas não ajudava muito seu trauma.

“... Sério, eu não posso aleatoriamente pegar resfriados como este...” Harutora murmurou indiferente.

Só então...

“... Nn...”

Uma voz fraca e um movimento leve surgiram ao lado de seu travesseiro, e Harutora rapidamente olhou para cima.

Era Natsume.

Ela estava sentada cochilando no tatame, uma pequena bacia com água nas mãos dela. Harutora ficou surpreso, olhando para o lado e notando que havia uma toalha molhada em seus lençóis, caída ao lado do travesseiro.

“... Na... Natsume...?”

Harutora falou em voz baixa, mas Natsume não mostrou nenhum sinal de acordar, falando dormindo. “... Harutora... Apresse-se... e melhore...”

Ele calmamente olhou para Natsume, depois pegou a toalha molhada e colocou-a na testa. A frieza da toalha molhada me senti muito bem.

“... Eu não posso acreditar em você.”

Ele fechou os olhos, um sorriso irônico surgindo em seus lábios.

Ele ainda lembrava que tinha sido assim também naquela época. Quando ele era criança, depois de ter ficado resfriado na casa de Natsume, Harutora também acordou repentinamente no meio da noite e notou Natsume sentada e dormindo ao lado do travesseiro – exatamente como agora.

Ela parecia cansada e fatigada, mas ainda permanecia firmemente com Harutora.

“Sinto muito, espero que você fique bem rapidamente...” Ela murmurou dormindo como se sentisse uma profunda culpa.

Ele decidiu se recuperar o mais rápido possível ao ouvir as palavras de Natsume. Ele tinha que se apressar e recuperar sua saúde. Isso não era só por ele, era também por Natsume.

“Eu não posso apenas pegar resfriados assim..”

Harutora falou desdenhosamente para si mesmo, esvaziando sua mente e preparando-se para voltar aos seus sonhos. Ele tinha que dormir bem para se curar do resfriado e deixar seu corpo descansar apropriadamente.

Recuperar-se o mais cedo possível e deixar Natsume relaxar. Essa era sua responsabilidade, tanto como um Shikigami quanto como um amigo.

 

 

Contudo...

 

 

“... Isso é estranho?”

Um cheiro quente e incomum invadiu seu nariz e Harutora abriu os olhos.

Ele abriu os olhos, mas não conseguia mexer o corpo. Isso não fora causado pela febre, mas sim por paralisia do sono. Seus olhos ansiosamente se lançaram ao redor.

Como ele estava deitado na cama, ele quase não conseguia ver nada ao seu redor, mas se ele olhasse para o quarto – parecia que ele podia vagamente ver objetos estranhos aparecendo continuamente no canto de sua visão.

Talvez esses objetos suspeitos fossem objetos mágicos. Harutora momentaneamente sentiu o sangue se esvaindo de todo o seu corpo.

“... Na... Na... Na... Natsume...?”

Seu chamado não recebeu resposta.

A presença daquela época estava voltando...

Ah, certo, isso é um sonho, ainda estou sonhando. Harutora se convenceu desesperadamente. Logo depois surgiu o som de uma batida... A porta...

“Hah... Hah...” A respiração de Harutora ficou cada vez mais rápida.

 

 

“Oi, você chegou cedo hoje, Harutora... Ei, você está bem...?”

Os estudantes do dormitório devoraram o café da manhã no refeitório do primeiro andar do dormitório masculino da Academia Onmyou.

Ato Touji entrou no refeitório do dormitório, reprimindo um bocejo. Ele notou que Tsuchimikado Harutora tinha de alguma forma começado o café da manhã antes dele duas vezes seguidas.

Harutora comia o café da manhã desesperadamente, como se perdesse a vida se não comesse depressa.

“... Parece que está melhor do resfriado.”

“Bobagem! Eu não peguei um resfriado!” Harutora enfiava a boca com comida enquanto declarava solenemente. “Que resfriado... Eu definitivamente não vou pegar um resfriado de novo! Eu vou me nutrir o suficiente! Eu vou ser saudável para sempre!”

Ele falou resolutamente, mas a tensão e o medo estavam presentes em seus olhos. Touji franziu as sobrancelhas, olhando para seu bom amigo.

Nesse momento, outro estudante do dormitório entrou no refeitório.

O estudante era Natsume. Touji levantou a mão ligeiramente, chamando: “Natsume.”

Natsume notou Touji e Harutora, então notou que Harutora estava comendo, o que a fez sorrir.

Mas, uma vez que Harutora a viu entrar no refeitório, ele imediatamente empurrou a cadeira para trás, fazendo um som alto, e se levantou, proferindo com um rosto pálido: “Tou... Touji, eu estou indo...!”

“Você está indo?”

“Tchau!”

Depois de dizer isso, Harutora fugiu do refeitório sem olhar para trás. Natsume, que observava à distância, ficou parada, perplexa. Touji, que estava perto, também ficou atordoado quando viu Harutora sair.

Touji se virou para olhar Natsume. Os dois se entreolharam, simultaneamente exibindo expressões preocupadas e incompreensivas.

“... O que esse cara está fazendo?”

O refeitório pela manhã parecia bastante refrescante, o cheiro de sopa de missô flutuava no ar. Estava cheio de uma presença calma e pacífica, um mundo completamente diferente do da noite anterior.



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