Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 5

Story 1: Um Casal na Paisagem Nevada

Um clima gélido permeava o interior da sala de vinte tatames.

Flocos de neve voavam do lado de fora, os galhos das árvores no pátio estavam completamente cobertos por uma camada de neve branca. O ar frio entrava silenciosamente na sala como se uma geada emergisse a qualquer momento.

Esta era a residência principal da família Tsuchimikado.

A Sala Campânula.

Um altar fora colocado na sala, com sakaki e gohei sobre ele. No centro foram consagrados cinco gohei de papel colorido em azul, vermelho, amarelo, branco e preto, simbolizando os cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água. Sobre a mesa, fora colocada cerâmica com sal, arroz e cânhamo em um prato alto e garrafas cheias de água e saquê. Além disso, havia pargo e vários tipos de frutas e legumes.

Além disso, o brasão da família, a ‘Marca Campânula de Seimei’, fora pintado no altar em grossas marcas de tinta preta. Várias velas foram colocadas no altar, as chamas cintilavam e iluminavam a cena do altar.

Havia três pessoas dentro da Sala Campânula, a próxima herdeira da família Tsuchimikado – Tsuchimikado Natsume – e pelo filho da família secundária, que também era o Shikigami de Natsume – Tsuchimikado Harutora. A outra pessoa era o atual líder da família Tsuchimikado – o pai de Natsume.

O pai de Natsume usava um quimono, segurando um arco de pêssego feito para exorcismo. Ele entoou um mantra para o altar, muitas vezes mexendo na corda do arco de pessegueiro.

*Zwang*

A corda do arco ressoou na sala, vibrando o ar frio e depois desaparecendo, dissipando-se para fora, acompanhando o mantra.

Os dedos dele tocaram um ritmo distinto na corda do arco, como um instrumento musical antigo. Natsume dançou como acompanhamento.

Ela usava roupas de sacerdotisa, com uma flecha feita de junco na mão.

 

 

*Zwang*

A corda do arco soou – Natsume dançava graciosamente, o barulho de suas roupas farfalhando e o leve ruído dela pisando no chão soava, seguido por rangidos.

Seus cabelos negros dançavam como se seguissem a corda do arco, as mangas longas tremulavam como se balançando com a corda do arco. Flocos de neve também dançavam ao redor.

Harutora se ajoelhou em um canto da sala, olhando a dança da sacerdotisa – a Kagura.

O ar frio fazia seu nariz ficar vermelho e seus lábios emitiam uma névoa branca. Ele endireitou as costas, olhando seriamente para Natsume.

As velas projetavam várias sombras ao lado dele. Com cada movimento feito por Natsume, a figura da sacerdotisa balançava silenciosamente à luz do fogo, desaparecendo e reemergindo como uma miragem à luz de velas.

Yin e yang. Yang e yin.¹

Harutora observava a dança de perto e Natsume dançava silenciosamente.

O mantra fora cantado interminavelmente, e o arco de madeira de pêssego tocava as cordas. Aura enchia a sala, derramando para fora da sala e subindo direto aos céus.

A cerimônia solene continuava como se nunca terminasse.

 

 

Os sinos solenes da véspera de Ano Novo vinham da distância.

 

 

O dia seguinte fora um dia de inverno ensolarado e confortável, adequado para ser o primeiro dia do ano.

Os pardais gorjearam com estridência enquanto Harutora e Natsume caminhavam pela estrada rural. Natsume andava na frente e Harutora seguia atrás, os dois separados por uma distância de alguns passos.

Ao redor deles havia um arrozal transformado em um campo de neve. Montanhas cobertas de neve branca estendiam-se à distância e, se parecessem tão distantes quanto pudessem através da planície aberta, por acaso uma casa que viram se parecia muito com uma ilha à deriva num mar branco. Esta cena, como uma ardósia branca, era perfeita para o novo ano.

“... O ar aqui é realmente puro.” Harutora respirou fundo, emitindo uma névoa branca.

Com a respiração profunda, o ar límpido da montanha parecia purificar seu corpo, como uma bebida refrescante de uma primavera transparente.

As palavras de Harutora pareciam não alcançar os ouvidos de Natsume. Ele a viu avançar com passos rápidos sem sequer se virar.

Ela avançava silenciosa e indiferentemente. A estrada rural se estendia para a frente, havia sinais levemente visíveis de pneus na neve. Harutora e Natsume pisaram neles enquanto caminhavam pela estrada coberta pelo espetáculo branco.

Harutora caminhava sem pressa, mas os passos de Natsume pareciam um pouco impacientes.

“É uma sorte que o tempo esteja claro, é ótimo.”

“...”

“Foi muito lamentável ontem quando o taxista teve de sair para colocar pneus de neve no meio do caminho.”

“... Sim.”

Natsume falou enquanto pisava na neve, finalmente respondendo às palavras de Harutora.

Harutora usava um suéter pesado, com uma jaqueta por cima. Um cachecol estava enrolado em volta do pescoço e as mãos dele estavam inseridas nos bolsos da jaqueta enquanto ele usava o cotovelo para carregar sua bolsa.

Por outro lado, Natsume usava o uniforme da Academia Onmyo. Ela usava o casaco designado pela Academia Onmyo, com o uniforme masculino debaixo daquela camada externa. Seu cabelo comprido estava amarrado por uma fita. Ela estava posando como uma estudante do sexo masculino, muito diferente de sua roupa de sacerdotisa da noite anterior.

Os dois estavam na estrada de volta ao dormitório em Tóquio.

Natsume estava obedecendo à ‘tradição’ da família principal, fingindo ser um homem na frente de estranhos. Ela passava a assumir o posto de sacerdotisa na ocasião em que não havia estranhos, mas continuava a posar como um homem quando retornava a Tóquio.

“...”

“...”

Os passos de Natsume ainda estavam rápidos após ela responder. Suas costas pareciam frias enquanto ela andava na frente, sem intenção de atender a Harutora, mas ela não estava brava, nem estava de mau humor. Ela estava apenas se movendo para a frente indiferentemente, sem qualquer emoção particular. Ela estava assim desde o dia anterior.

Harutora exalou novamente, casualmente a chamando: “... Ei, Natsume.”

“O que?”

“Nós poderíamos esperar até o próximo ônibus chegar.”

“Continue, há um ônibus em outra linha que podemos tomar. Deve haver um ônibus em breve.”

“Oh, sim... Eu sei disso, mas...” Harutora gaguejou, e Natsume finalmente parou quando ouviu isso, virando-se para olhar para Harutora atrás dela.

“Desculpe, Harutora-kun, por fazer você vir comigo...” Ela falou desculpando-se, com o arrependimento estampado em todo o seu rosto como se ela só tivesse percebido isso agora.

“Você não precisa ser tão formal.” Harutora balançou a cabeça apressadamente. “Por mim, tanto faz, já que não haveria ninguém por perto se eu voltasse para casa de qualquer maneira.” Depois de dizer isso, ele investiu um pouco nos assuntos de Natsume. “Mas... sua casa é sempre... assim?”

“... Sim.”

Natsume assentiu com a cabeça amargamente, sua expressão sem qualquer intenção de ser autodepreciativa, mas bastante calma. Harutora não pôde responder por um tempo, apenas falando apósum tempo: “... Entendo.”

Então, os dois começaram a andar novamente. Harutora estava lado a lado com Natsume.

Harutora apoiava a bolsa no braço e Natsume também tinha uma mochila por cima do ombro. Eles voltaram no dia anterior de Tóquio durante a véspera do Ano Novo, com o objetivo da cerimônia da noite passada. Toda véspera de Ano Novo, Natsume realizava um ritual de ‘grande purificação’ com o pai na residência principal da família e purificava a infelicidade do ano.

Neste ano – Não, agora já contava como ano passado – ela continuara a convenção do passado, voltando à sua antiga casa para realizar o ritual. Seu Shikigami Harutora aproveitou a oportunidade para ir com ela.

Eles tinham ficado apenas uma noite, preparando-se assim que chegaram, e depois imediata e constantemente realizando o ritual. Eles imediatamente dormiram após terminar o ritual, e prontamente deixaram a residência principal da família no dia seguinte após terminarem o café da manhã. Excluindo o tempo de transporte, os dois não tinham nem ficado metade de um dia.

“É quase como uma viagem de negócios.” Harutora murmurou sem expressão.

Na verdade, os dois poderiam ter estado ainda mais ocupados nos últimos dias do que alguém em uma viagem de negócios. A filha finalmente voltara para o Ano Novo, mas o pai e a filha quase não tinham conversado. Eles se cumprimentaram formalmente com algumas palavras, mas seu único tópico de discussão era como realizar o ritual. A julgar pelas atitudes dos dois, esse tipo de situação era comum, mas Harutora, que se juntara a ela, se sentia desconfortável.

Natsume também parecia notar a inépcia de Harutora. Ela havia se desculpado por esse assunto agora.

“Eu não via o tio há algum tempo... Ele ainda é o mesmo de antes, ele não mudou nada.” Harutora falou com cuidado e cautela.

“... Ele não gosta de interagir com os outros.” Natsume murmurou uma resposta ao ouvir os sentimentos sinceros de seu amigo de infância. Como nota, a expressão em seu rosto não tinha raiva ou vergonha. Ela estava apenas casualmente falando seus próprios pensamentos. Ela mesma só tinha emoções finas para o pai com quem ela tinha relações de sangue. Essa atitude não era exatamente a mesma que ser indiferente. Ela havia visto as coisas, então ela agia propositalmente de modo distante. Além disso, ela não apenas agia dessa maneira em relação ao pai – talvez também em relação a si mesma.

Não era o lugar para Harutora se importar com os assuntos familiares dos outros. Ele não sabia o que dizer, pois só vira a superfície das coisas.

“A família de Harutora-kun...”

“O que?”

“A situação da família de Harutora-kun – eu só percebi que minha própria família era um pouco diferente depois de ver como o tio e a tia se davam bem.” Natsume não conseguia esconder sua hesitação, e Harutora quase respondeu: ‘Não é assim também, é muito diferente’ para ela, mas ele rapidamente se suprimiu e engoliu suas palavras.

Natsume não tinha mãe, e ela só tinha o pai para chamar de família, e esse pai era frio como gelo para com a filha. Ela não sabia como uma família normal interagia, então ela não ficava brava nem nervosa. Era uma resposta natural e calma.

Naturalmente, o pai de Natsume não maltratava sua filha, nem escapava de sua responsabilidade e dever social que ele tinha como pai. Em particular, ele havia ensinado magia desde que Natsume era jovem, reconhecendo e apreciando sua habilidade.

Era só que ele não tinha muitas emoções em relação a Natsume, mas ele também não era completamente sem emoção. Era um meio termo.

Harutora ficou em silêncio, olhando discretamente para a amigo de infância que caminhava ao lado dele.

Embora estivesse melhorando lentamente, Natsume era basicamente uma pessoa extremamente tímida e insociável. Talvez isso tivesse ocorrido principalmente por causa de seu pai – poderia até ser dito que fora causado por seu ambiente crescente. Por um longo tempo, apenas seu amigo de infância Harutora era íntimo de Natsume.

“... Natsume, deixe-me perguntar.”

“O que?”

“Você odeia seu pai?”

“... Se eu o odeio...” Natsume falou um pouco hesitante, com um sorriso vazio no rosto. “Eu não tenho muita certeza.”

A atitude com a qual ela respondeu não parecia incomum. Talvez esses fossem seus verdadeiros sentimentos.

Harutora verificou a expressão no rosto de Natsume, dizendo ‘... Entendo’ novamente, e depois silenciosamente movendo seu olhar para a paisagem ao seu redor.

A superfície da neve derretia sob a iluminação da aurora, brilhando com a luz em um esplendor. Uma brisa soprava e, embora o ar estivesse frio, não era insuportável.

Um breve silêncio permeava. Natsume perguntou alegremente como se quisesse mudar a atmosfera: “Mas Harutora-kun, você está bem?”

“Por que eu não estaria?”

“Você finalmente voltou para cá, mas você já está regressando a Tóquio.”

“Ah, então era isso que você quis dizer. Por mim, tanto faz, minha mãe e meu pai não estão em casa de qualquer maneira, então eu não veria ninguém se fosse para casa.” Harutora deu de ombros com indiferença quando ele disse isso. “Os dois são realmente despreocupados. Seu único filho está dando duro lá fora, mas eles correm para o Havaí para se divertir no Ano Novo.”

“Isso prova que eles têm um bom relacionamento, não é bom?”

“Isso é verdade, mas até no ano passado, sempre comemos soba em casa durante o Ano Novo, mas quando eu saio de casa, eles vão para o Havaí... Já que eles estavam indo para o Havaí, pelo menos deveriam ter ido enquanto eu estava lá, e me levariam junto.”

“Você quer ir para o Havaí?”

“Claro que sim – Espere, o que? Você foi para o Havaí?”

“Não, eu nunca saí do país.”

“Normalmente, todo mundo não quer ir ao exterior para se divertir? Isso é algo que todos querem, mesmo que seja apenas uma vez.” Harutora falou zangado, sentindo ressentimento por seus pais.

Natsume apenas olhou para cima depois de ouvir isso, casualmente comentando: “... É realmente difícil imaginar como seria se divertir no exterior.”

“Eu sei que definitivamente seria muito divertido, mesmo sem imaginar. Eles foram para o Havaí, para o Havaí! Droga – Eles deveriam enviar lembranças para mim, certo?”

“Eu gosto de passar o Ano Novo no Japão, você não gosta disso?”

“Eu não odeio... Mas nós passamos o Ano Novo da mesma forma todos os anos, então não seria novo e excitante ter um tipo diferente de Ano Novo de vez em quando?”

“Eu...” Natsume queria responder, mas suas bochechas repentinamente ficaram vermelhas. Ela olhou, perturbada, para Harutora ao seu lado, olhando para ele e depois de um tempo, desviando o olhar. “Este Ano Novo foi diferente de antes... Foi fresco e... mui... muito divertido, você não acha?” Natsume falou, revelando um olhar aguçado, sua expressão parecendo que ela estava esperando algo.

“Mesmo?” Harutora ainda se inclinou para frente, falando insatisfeito.

“Então não foi...” Natsume abaixou momentaneamente a cabeça em desânimo quando ouviu aquela resposta, a esperança saindo de seu rosto.

“Mas, certo, eu estava apenas pensando sobre o Havaí, mas este ano foi na verdade a minha primeira vez passando o Ano Novo fora de casa.” Harutora falou como se tivesse notado, e Natsume imediatamente levantou a cabeça, excitada. “E eu fiquei em sua casa ontem à noite.” Natsume acenou vigorosamente com a cabeça ao ouvir as palavras de Harutora.

“Ce... Certo, nós estávamos sob o mesmo teto ontem à noite... Ah, mas é sempre assim no dormitório...”

“Fazia tempo desde que eu passei uma noite em sua casa, parece que a última vez foi há anos...”

“... A última vez foi nas férias de verão durante a sexta série, então já faz quatro anos e quatro meses.”

“Você respondeu tão rápido! Isso é incrível; sua memória é incrível!!”

“Huh!? Não é isso, só aconteceu de lembrar disso...”

Respondendo extremamente rápido, Natsume virou a cabeça, fingindo não saber de nada.

“Mesmo?” Harutora perguntou maravilhado. “... Mas, a última vez foi na sexta série, hein. Eu sempre corria para a sua casa quando era pequeno.”

“... Na verdade, o futon que você dormiu na noite passada é o seu.”

“O que? O meu? Por que sua casa tem uma coisa dessas?”

“Isso também é coincidência. Você sempre dormiu naquele futon quando você vinha para minha casa no passado... Minha casa normalmente não tem visitantes, então com o tempo ele se tornou seu futon... Ah, certo, o mesmo para os pratos.”

“Uwah, aqueles eram os meus? Parando para pensar sobre isso, eu tive algum tipo de sentimento familiar quando eu estava usando eles...” Harutora não pôde deixar de sorrir enquanto falava.

Os pais de Harutora sempre visitavam a residência principal da família uma ou duas vezes por mês, e quase sempre ficavam por uma noite. Assim, Harutora e Natsume costumavam brincar juntos. Quando eram crianças, Harutora sempre ansiava secretamente pelo dia em que visitariam a casa de Natsume.

Ele também aproveitava as férias para ir de bicicleta até a casa de Natsume. Suas casas não eram próximas, e pensando nisso agora, até ele não podia deixar de admirar sua perseverança na época. Ele havia pedalado desesperadamente, andando na longa estrada que eles estavam no momento, mas o Harutora da época acreditava que brincar na residência com Natsume era uma coisa muito feliz.

“... Sim, é realmente nostálgico.” Harutora sorriu levemente enquanto murmurava, olhando para a estrada coberta de neve.

“Apenas nostálgico?” Natsume reclamou um pouco insatisfeita. “Você não acha que é muito refrescante? E emocionante...?”

Ela não prestou qualquer atenção aos sentimentos íntimos de Harutora, sua pergunta era completamente incongruente com seus pensamentos. Ela lançou um olhar questionador para Harutora novamente, a expectativa de antes emergia em seu olhar novamente.

“Uma sensação refrescante, huh...” Harutora sorriu ironicamente com as palavras de sua amiga de infância. “Sim... É verdade, você está sempre posando e falando como um cara quando estamos em Tóquio. Agora que penso nisso, faz um longo tempo desde que eu conversei com a você ‘verdadeira’. É extremamente raro e muito refrescante.” Harutora mostrou um sorriso ingênuo para Natsume enquanto ele respondia dessa maneira. Natsume assumiu uma expressão que demonstrava dificuldade em julgar a resposta dada.

Ela parecia decidir que esse desempenho era pouco qualificado, então ela apenas reclamou um pouco. “É tão raro assim? Eu sou sempre assim quando estou só com você...” Seu coração bateu forte quando ela disse isso. “Ma... Mas isso é verdade. Se estivéssemos em Tóquio, seria muito raro para nós conversarmos por tanto tempo...” Ela continuou falando, mas oscilou na metade do caminho.

Por que não percebi mais cedo? Não, não é tarde demais agora. Ainda há oportunidades para mudar as coisas. Ela recitou baixinho várias palavras inexplicáveis e curiosas, depois fechou a mão como se quisesse insistir.

“Certo, eu também senti que a cerimônia de ontem foi muito refrescante. Afinal, minha família quase nunca realiza esse tipo de ‘cerimônia’.” Harutora falou devagar, depois virou a cabeça para olhar Natsume. “Além disso, eu não vi você vestida como uma sacerdotisa desde aquele incidente no verão passado.”

“Ahh, naquela época...” A expressão de Natsume parecia que ela estava revivendo o passado. Para ser honesto, Harutora sentia o mesmo e entendia por que Natsume mostrava esse tipo de expressão, embora o incidente tivesse acontecido quatro meses antes.

“Honestamente, nem faz nem meio ano desde que o incidente aconteceu. É difícil acreditar.”

“Sim.”

“Eu nunca sonhei que meu objetivo agora seria se tornar um Onmyouji ou que eu entraria na Academia Onmyou no ano passado.”

“Você não pode pensar nisso porque você é preguiçoso e irresponsável.”

“Ah, dizer isso já é demais. Além disso, você não pode simplesmente me culpar por isso. Eu nasci sem a habilidade de ver os espíritos, e meus pais não me perguntaram se eu queria me tornar um Onmyouji... Além disso, eu destruí a tradição da família... E não honrei a nossa promessa de antes... Uh... Desculpe.” Harutora coçou a bochecha com o dedo indicador, embaraçado, enquanto detalhava.

Natsume riu ao ver a aparência de Harutora.

“Desde que você já se tornou meu Shikigami, você não precisa se preocupar com isso.”

“Oh, tudo bem.”

“Embora você tenha me feito esperar um pouco...”

“Uh, isso é porque...”

“... E suas notas são ruins.”

“Não seja assim.”

“Está tudo bem, vou ensiná-lo corretamente e corrigi-lo, seja Onmyoudou ou sua personalidade preguiçosa e irresponsável. Esse é o meu dever como mestre.”

“... Tch, é sempre isso.”

Harutora franziu a testa amargamente e Natsume deu uma risadinha feliz.

Só então, um forte vento soprou e os flocos de neve circundantes dançaram levemente.

“Uwah, está tão frio.” Harutora estremeceu e Natsume também não pôde deixar de fechar os olhos com força.

Nada nesta área aberta poderia bloquear o vento enquanto soprava. O movimento do vento quebrou a quietude, e só então eles notaram que as nuvens obscureciam o céu azul e que o céu estava gradualmente ficando escuro.

“É realmente difícil passar o inverno apenas confiando nesta jaqueta. Eu deveria me apressar e comprar um bom casaco de inverno.”

“Eu também... eu teria usado outra coisa se soubesse.”

“Você está com frio? Se você não se importar, eu posso te emprestar esse cachecol.”

“Está tudo bem, se eu levantar o colarinho eu posso...”

“Certo.”

“Sim... Ah...” O corpo inteiro de Natsume subitamente ficou rígido, uma expressão incrivelmente arrependida passou pelo seu rosto. Ela rapidamente moveu seu olhar para Harutora – para o cachecol em seu pescoço...

“...”

Ela lutou com seus sentimentos.

“Huh? O que há de errado?” Harutora notou seu olhar, perguntando.

“Não, uh...” Natsume hesitou. Embora as palavras tivessem chegado à sua boca, era um pouco embaraçoso repeti-las, uma vez que ela já havia recusado uma vez. Ela segurava um pedaço da expectativa em seu coração, esperando que Harutora notasse seus sentimentos... Mas, no final, ele era o Bakatora. “... Nada.” Não muito tempo depois, ela suspirou.

Depois, ela ainda mostrou um olhar arrependido e olhava para o cachecol de vez em quando. Na estrada, pensou em algo que poderia facilmente reverter a situação, depois comparou visualmente o comprimento do cachecol à distância entre ela e os ombros de Harutora. No final, ela desistiu do pensamento, suspirando pesadamente: “... Não daria certo.”

Harutora olhou fixamente para as ações suspeitas de Natsume, mas então ele olhou para Natsume como se repentinamente pensasse em algo.

“... É por causa dos longos cabelos pretos?”

“O que você está dizendo?”

“As roupas de sacerdotisa, como as de ontem, caem perfeitamente em você.”

“Mesmo?” A expressão de Natsume quase não conseguiu esconder sua surpresa ao ouvir aquelas palavras, mas ela imediatamente o pressionou agressivamente com perguntas: “O... Obrigada. Por que... você acha que é caem perfeitamente?”

Ela mostrou uma indiferença fingida, mas na verdade ela perguntou com muita cautela como um caçador se aproximando gradualmente de um animal.

Harutora imediatamente respondeu: “Você fica muito bonita quando as usa.”

 

 

“Muito bonita?” Os olhos de Natsume se arregalaram inadvertidamente.

“E pura.”

“Pura?”

“Também tem algum tipo de mistério.”

“Mistério?”

“Parece nobre e elegante, como uma mulher japonesa tradicional e gentil.”

“Uma mulher tradicional e gentil!?”

O rosto de Natsume ficou mais e mais vermelho, e seus passos ficaram instáveis, como se o elogio de Harutora a tivesse deixado tonta.

Os resultados que excederam suas expectativas trouxeram mais choque do que alegria. Ela estava como uma caçadora que originalmente planejara apenas caçar um coelho para uma boa refeição, mas que repentinamente fora presenteada com um alce assado. Ela demorou a acreditar porque estava muito excitada.

Mas, assim que ela conseguiu aceitar a verdade dessas observações e assim que o choque estava prestes a se transformar em alegria, o garoto apelidado de ‘Bakatora’ sorriu maldosamente.

“Certo, se os estudantes da Academia te vissem vestida desse jeito, eles nunca imaginariam que era você. Você é arrogante e irracional, gritando ‘isso é um insulto’ cheia de marra, então é realmente impossível imaginar semelhanças entre você e uma sacerdotisa... Huh, espere, Natsume! Espere, eu só estava brincando, não leve a sério!”

O rosto de Natsume ficou vermelho e depois branco, e no final ela avançou com um rosto vermelho. Harutora correu apressadamente atrás. Ela pisou com força na neve, seu corpo inteiro tremendo de raiva, incapaz de resistir aos insultos de Harutora.

“Ei, desculpe.” Mas Harutora não parecia nem um pouco arrependido, fazendo-lhe uma desculpa com um sorriso. “Desculpe, não fique brava, é só uma brincadeira de Ano Novo.”

“... Eu não quero mais ouvir sua voz esse ano...”

“Eu estou me desculpando com você, então não fique brava, certo? Além disso, eu realmente acho que você fica muito bonita vestida de sacerdotisa, e você também dançou maravilhosamente ontem. Eu estava atordoada assistindo isso.”

Harutora juntou as mãos, inclinando a cabeça em desculpas e falando sinceramente seus pensamentos.

Natsume cerrou os dentes, olhando para Harutora enquanto pensava em como lidar com essa pessoa cujo desempenho estava muito abaixo da pontuação de aprovação. Harutora, por outro lado, não notava sua baixa pontuação.

“Eu estou dizendo a verdade, você sabe. Se alguém visse você, eles definitivamente não esperariam você ser uma garota posando e fingindo ser homem.”

“... De qualquer forma, eu só preciso usar o uniforme masculino e ninguém vai suspeitar que eu seja uma garota.”

“Não diga isso, seria terrível se a sua identidade fosse exposta. O melhor não seria que ninguém suspeitasse de você?”

“Isso é verdade...”

“Certo? Mas todo mundo definitivamente ficaria incrivelmente surpreso se vissem. Especialmente Kyouko e Tenma, eu tenho certeza que eles ficariam chocados, sem palavras, e olhando fixamente.” Harutora falou brincando, sem remorsos.

Natsume encarou Harutora com os olhos apertados novamente, resmungando: “... Bakatora.” E suspirou profundamente. Então, ela ficou pensativa com as palavras de Harutora.

“... Eu me pergunto o que todo mundo está fazendo agora.”

“Provavelmente o mesmo que uma pessoa comum, comendo comida de Ano Novo ou assistindo TV.”

“E visitando santuários.”

“Certo, também há pessoas que saem para visitar santuários. Eu já vi isso nas notícias antes, os santuários de Tóquio são tão cheios.”

“Quanto mais famoso é o lugar, mais pessoas participam.”

“Por que alguém vai a algum lugar tão lotado no Ano Novo? Embora eu queira experimentr uma vez, se houver oportunidade, pois parece interessante.” Harutora ponderou seriamente essa trivialidade sem sentido.

Natsume suspirou impotente, um sorriso irônico surgindo em seus lábios.

“Amanhã deve estar lotado também, eu posso ir com você se você quiser visitar um santuário... Certo, alguém como Kurahashi-san também deve estar muito ocupada hoje.”

“Isso me lembra, Kurahashi é uma família distinta também. Talvez eles estejam realizando uma cerimônia solene como os Tsuchimikado.”

“É possível, mas mais importante, o pai dela é o chefe da Agência Onmyou, então definitivamente há muitas pessoas visitando sua família para o Ano Novo. Além disso, a família de Tenma-kun também é tradicional.”

“Huh? Tenma também?”

“Você não sabia? A família Momoe tem uma história bastante... Na verdade, não apenas Tenma-kun, mas a maioria dos alunos da Academia Onmyou são filhos de famosas famílias tradicionais.”

“A maioria deles? Mas eu acho que eu também, já que sou da família secundária dos Tsuchimikado.”

“Mesmo que não queiramos admitir, a comunidade mágica é verdadeiramente um mundo fechado e antigo.”

“Sim... Nesse sentido, Touji é um forasteiro neste mundo... Eu me pergunto se ele foi para casa e passou apropriadamente o Ano Novo com sua família...”

“Parando para pensar sobre isso, Touji não fala muito sobre sua família. Eu lembro que sua família está em Tóquio, certo?”

“Huh...? Ah, sim, certo...” Harutora de repente voltou a gaguejar, obviamente evitando o olhar de Natsume. Natsume sentiu que seria estranho encarar Harutora por um bom tempo e depois decidiu não forçá-lo, desistindo do interrogatório.

“Podemos perguntar a todos o que fizeram durante o Ano Novo depois do início das aulas. Talvez haja pessoas que foram ao Havaí ou ao exterior para o Ano Novo.” Harutora mudou o assunto.

“Talvez haja pessoas que usaram o intervalo para estudar muito.”

“Pessoas assim não são amigas.”

“Você não pode dizer isso...! Poxa, Harutora-kun, você deveria aproveitar as férias para estudar seriamente, suas notas são as piores da turma toda.”

“Eu... eu sei...” A expressão de Harutora se enrijeceu. Natsume sorriu sinceramente.

“Mas...”

“Sim?”

“... É um pouco incomum, estar preocupado com o que os outros fizeram durante as suas férias assim.”

“Huh, é isso? Isso é muito normal...” Harutora estava prestes a refutá-la, então percebeu quando estava falando e fechou a boca apressadamente. Então, ele deliberadamente falou grandiosamente: “Eu esqueci, você não tem muitos amigos. Você não falava com ninguém antes que Touji e eu nos transferíssemos para a Academia Onmyou, certo?”

“... Sim.”

Harutora tentou encobrir isso com uma piada, mas Natsume assentiu honestamente – e um pouco embaraçada – quando ouviu. Ela olhou para Harutora, mostrando a ponta da língua. Ao ver esse tipo de reação de sua amiga de infância, Harutora ficou um pouco emocionado. A Natsume de antes definitivamente não admitiria algo assim tão abertamente.

“... Isso não é ruim, certo?” Harutora sorriu feliz, como se fosse algo acontecendo com ele mesmo.

“O que não é ruim?”

“Você aprendeu que havia muitas pessoas muito interessantes depois de conversar com elas. Certo?” Ele perguntou alegremente.

O olhar satisfeito de seu Shikigami fez o coração de Natsume resistir, e ela mostrou um olhar descontente. Mas ela admitiu a derrota muito rápido, relaxando seu corpo. “...Você está certo.” Ela mesma sorriu enquanto falava, e Harutora tocou regiamente no nariz.

“Isso tudo é por minha causa.”

“Sim, é tudo por causa da sua ajuda... É melhor você assumir a responsabilidade.”

“Huh? Que responsabilidade? O que isso significa?”

“Pense nisso lentamente, você mesmo.” Natsume respondeu com uma cara séria, e Harutora sentiu vagamente o perigo, mas ainda não entendendo o significado naquelas palavras. “Mas...” Então, Natsume repentinamente abaixou a cabeça com uma expressão complexa. “Eu enganei todo mundo além de Touji. Eu não pensava assim originalmente... As coisas recentemente tornaram-se cada vez mais dolorosas...”

Harutora murmurou um ‘Ah’ ao ouvir a súbita confissão de Natsume, depois não disse mais nada.

Natsume posava como um homem na Academia Onmyou para enganar os outros, e atualmente as únicas pessoas que conheciam sua ‘verdadeira identidade’ eram Harutora e Touji. Isso incluia os outros colegas de classe, e mesmo Kyouko e Tenma, com quem ela tinha um relacionamento decente. Olhando dessa maneira, ela de fato enganava Kyouko, Tenma e os outros alunos.

Natsume ficou em silêncio depois de dizer isso, e Harutora não sabia o que dizer.

*Whump* A neve em uma rua ao lado da estrada caiu. Harutora inconscientemente apertou os lábios. O humor de Natsume era complexo, mas ele nunca pensara nisso por causa dela. Agora, ele se sentia incomparavelmente vergonhoso e com remorso.

Os dois caminharam silenciosamente pela estrada coberta de neve por um longo tempo sem abrir a boca para dizer qualquer coisa.

Em algum momento, a neve originalmente parada começou a cair lentamente de novo.

Flocos de neve levemente desciam do céu calmo e sem vento, parando nos ombros de Harutora, caindo sobre a franja de Natsume, e calmamente demorando-se por momentos antes de silenciosamente desaparecer.

Os dois continuaram caminhando pela neve sem uma palavra.

Pouco tempo depois, Harutora baixou os olhos e gritou de leve. “Ei, Natsume.”

Natsume olhou para Harutora, sem dizer nada para responder.

“... Esse tipo de coisa soa um pouco estranho, mas eu acho que a ‘você’ que está escondendo sua identidade é realmente mais ‘sincera’ do que a ‘você’ verdadeira.” Harutora disse.

“...”

“Eu entendo seus sentimentos... Ou melhor, eu estou tentando entender seus sentimentos, mas...” Harutora levantou o rosto, virando a cabeça para encarar Natsume enquanto ele dava seus mais sincera sentimentos para continuar falando. “Eu disse isso antes, você se lembra? Você é você, não tem nada a ver se você está posando como um homem ou se você é uma garota. Você é a verdadeira você quando você não está posando como um cara, e você também é a verdadeira você quando você está posando como um cara. Pelo menos, é nisso que eu acredito.”

“...” Natsume não respondeu, mas também não escapou do olhar de Harutora. Então, ela sorriu espontaneamente, mudando de tom e dizendo alegremente: “Isso é verdade, eu não pretendia mentir em primeiro lugar. Embora eu esteja escondendo algo de todos... Mas todo mundo neste mundo tem segredos.”

Aquelas palavras soaram forçadas. Talvez ela estivesse se forçando a pensar dessa maneira. “Is... Isso mesmo.” Mas Harutora só conseguiu firmar um acordo e apoiá-la.

Harutora falou seriamente: “Você não tem escolha a não ser fazer isso. Quando chegar a hora certa, você pode esclarecer as coisas com todos. Talvez eles fiquem bravos, mas no final eles definitivamente sorrirão e escolherão perdoá-la... Ah, não, pode ser difícil pedir desculpas a Kyouko depois de revelar isso...”

“Huh por que?”

“Não... Não há razão! Uh – De qualquer forma, se eles ficarem bravos, eles inevitavelmente ficarão bravos comigo e, claro, com Touji também. Todos nós pediremos desculpas a todos quando chegar a hora de pedir perdão a eles.”

“Tudo bem... espero que todos estejam dispostos a nos perdoar.”

“Nós saberemos quando chegar a hora! Antes disso, nós...”

“Nós?”

“Somos cúmplices.”

Certo? Harutora sorriu novamente, parecendo um pouco autoconfiante, como se estivesse sorrindo para um cúmplice que compartilhava um segredo comum.

“... Sim...” Essa maneira de dizer as coisas pareceu acertar Natsume. Ela assentiu orgulhosamente com a cabeça, depois não conseguiu evitar um sorriso.

“Quando voltarmos para Tóquio, nos tornaremos cúmplices novamente, certo? Dizer que parece insinuar algo é perfeito para a situação agora.”

“A situação agora?”

“Pense nisso...” Natsume olhou para baixo. “Duas pessoas escorregando sorrateiramente, caminhando pela neve juntas. Não é como fugir de um crime?”

“Ahh... Eu acho que sim, tem um estilo bastante hardcore e insensível.”

“Não é grande coisa ter algumas mentiras, já que é um estilo hardcore.”

“Certo... Então nós somos um par de criminosos, como um assassino e sua amante... Ah, não, com a nossa situação, deveria ser a filha mais velha de uma família famosa e seu amante.”

Harutora fez uma piada de mau gosto, olhando para Natsume com um sorriso. No entanto, os olhos de Natsume se arregalaram e suas bochechas ficaram vermelhas, olhando sem piscar para Harutora. Harutora percebeu o que ele dissera ao ver a expressão de Natsume, e só então ele gritou com um rubor.

Os dois se entreolharam com os rostos vermelhos. Depois de um tempo, eles voltaram a seus sentidos, apressadamente se afastando. Eles ficaram em silêncio mais uma vez, caminhando pela estrada com as cabeças abaixadas e pisando ruidosamente na neve.

 

 

Apenas um pouco de distância os separava do ponto de ônibus. Não muito tempo depois, Natsume expirou como se quisesse aquecer as mãos congeladas, sem hesitação, chamando: “... Harutora.”

“Hmm?”

“Obrigada.”

 

 

Felizmente, a linha Shinkansen em que eles retornavam estava vazia.

Desde que a cerimônia foi realizada até muito tarde e eles se levantaram cedo no dia seguinte, os dois quase não tinham dormido. Os dois já haviam começado a roncar não muito depois de se sentarem. Eles se sentaram nos assentos da janela e do corredor de uma fileira de três, sem outros passageiros ao redor.

Eles silenciosa e contentemente roncaram, dormindo profundamente.

Só então, uma criança pequena de alguma forma apareceu no banco ao lado do corredor, ajoelhada no assento como se sentada em seiza. Esta criança – mais precisamente, ela não era humana, a evidência mais óbvia era o par de orelhas pontudas que saíam de sua cabeça de cabelos curtos e macios, assim como a cauda em forma de folha que brotava de trás de seu corpo ajoelhado...

Ela não era humana, mas sim um Shikigami. Ela era a Shikigami defensiva de Harutora – Kon.

Ela se ajoelhou no assento oscilante, o rosto imaturo inexplicavelmente franzido e os olhos fixos diretamente focados em Natsume, que estava sentada à janela. “Então vocês dois estão sozinhos?” Ela ponderou calmamente, seu tom como o de um detetive que estava prestes a desmascarar o álibi do assassino.

“... No final, eu não consegui sair, mesmo que quisesse.” Então, ela olhou para seu mestre – Harutora – com um olhar frio e irritado, seu tom soando desanimado.

Harutora e Natsume, que estavam um ao lado do outro, tinham as cabeças inclinadas como se estivessem descansando nos ombros um do outro. Kon estreitou os olhos para esta cena, suas orelhas pontudas continuamente se contraindo nervosamente. Não muito tempo depois, ela se intrometeu entre os dois, puxando a cabeça de seu mestre e de Natsume para o outro lado e sentou-se em sua cadeira, encarando Harutora em uma postura ereta, respeitosamente inclinando a cabeça em homenagem.

“... Harutora-sama, eu ofereço minhas mais sinceras desculpas pela saudação tardia. Desejo-lhe um feliz Ano Novo, por favor, cuide de mim este ano também...”

O assento balançou. Assim como quando ela apareceu, Kon de alguma forma desapareceu sem deixar vestígios.

O transporte se aproximou de Tóquio.

Somente depois de quase três dias do Ano Novo, Harutora se lembrou de que nunca desejara a sua Shikigami defensiva um feliz Ano Novo. Demorou um pouco até Kon perdoá-lo por isso.


Nota:

1 – Conceitos do taoísmo que expõem a dualidade de tudo o que existe no universo. Descrevem duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em tudo: Yin é o princípio feminino, da noite, da Lua, da passividade; Yang é o princípio masculino, do dia, do Sol, da atividade.



Comentários