Volume 5
Capítulo 1: Filhotes no Ninho
“Estou fofa?”
“Eu estou fofa, certo?”
“Diga que estou fofa.”
“Venci.”
O céu estava claro e sem nuvens naquele confortável dia de maio. As ruas de Shibuya não mais exalavam o ar preguiçoso da primavera, acolhendo a estação e um novo visual refrescante.
As estações mudaram, a primavera floresceu como a vida explodindo de um botão de flor, e se preparava para entrar em uma nova fase. As pessoas que andavam nas ruas também mostravam bom humor.
Infelizmente, nem todos puderam avançar tão rapidamente quanto as estações.
“... Ahhh...”
Tsuchimikado Harutora andava na estrada de asfalto com expressão, aparência e presença sem vidas, indo em direção ao edifício da Academia Onmyou. Ele andava naquela estrada familiar com passos pesados, com todo seu corpo desmotivado.
Ao lado dele estava sua amiga de infância, Tsuchimikado Natsume, a mestre a quem ele servia como um Shikigami, de acordo com a ‘tradição familiar’.
Natsume não estava em melhor estado que Harutora. Ela tinha uma expressão, face e presença enfraquecidas, e caminhava fracamente ao lado de seu amigo de infância. Seu belo ‘eu’ havia se tornado numa flor murcha, e era muito difícil dizer que aquela figura que caminha para a Academia era um estudante de excelência.
“... Ugh... Eu realmente não quero ir para aula...”
“... Sim...”
“... Eu realmente não quero matar aula, eu só não quero ir para a Academia...”
“... Eu entendo... Eu realmente entendo seus sentimentos...”
“... Ah... Eu realmente não quero ir para Academia...”
“... Sim...”
Não era muito difícil de entender essa situação caso se tratasse apenas de Harutora, que essencialmente tinha uma atitude negativa em relação aos estudos. Mas era raro e até sem precedentes que a séria e diligente Natsume estivesse tão deprimida quanto Harutora.
Não foi pela chamada Febre de Maio que ambos ficaram tão apáticos. Na verdade, eles perderam seus espíritos de luta no mês anterior.
Tudo poderia ser atribuído a uma nova aluna que acabara de ingressar na Academia Onmyou ~ Dairenji Suzuka, uma Onmyouji de primeira classe, conhecida como ‘Prodígio’, e que tinha um relacionamento letal com ambos. Ela havia entrado na Academia Onmyou para estudar, com a identidade de uma aluna especial ~ e notara o ‘segredo’ de Natsume. Desde então, Suzuka usara isso como chantagem aos dois, transformando-os em escravos que tinham de obedecer às ordens dela, e sofriam descontroladamente.
Em público, ela mantinha a imagem de ídolo, como a mais jovem dos Doze Generais Divinos, mas, em segredo, ela intimidava os dois que não tinham como se opor a ela. Seu comportamento era insidioso e astuto. Como não podiam pedir ajuda para seus professores ou colegas de classe, os dois só podiam suportar a indignação que era Suzuka.
Quanto ao ‘segredo’ que Suzuka guardava, em suma, era a ‘verdadeira identidade’ de Natsume. Natsume usava os negros uniformes masculinos, escondendo seu próprio gênero de acordo com a tradição da famosa família Tsuchimikado. Ela havia entrado na Academia Onmyou para estudar, fingindo ser um homem, mas era, na realidade, uma garota. As pessoas que conheciam esse segredo incluíam Harutora, da família secundária dos Tsuchimikado, bem como o melhor amigo e colega de classe dos dois, Ato Touji. No entanto, antes de Suzuka entrar na Academia Onmyou ~ no verão do ano anterior ~ ela havia visto Natsume em primeira mão, quanto estava em casa, enquanto vestida como uma sacerdotisa, com sua aparência original e tentando impedir as ações de Suzuka.
“... Hey, Natsume...”
“... O que foi, Harutora...?”
“... Você estava vestida como uma sacerdotisa no ano passado...”
“... Eu me vesti como sacerdotisa no ano passado... e daí...?”
“... Não podemos fingir que você é um cara que gosta de se transvestir...?
“... Seria bom se pudéssemos suavizar as coisas assim... Mas ela não seria tão facilmente enganada, certo? Além disso, é tarde demais para procurar meios agora...”
“... Isso é verdade...”
“... Não adianta mais lutar...”
“... Está tudo acabado...”
“... Não há chance alguma de sucesso...”
Os dois falavam de modo indiferente e deprimidos. Natsume tinha propositalmente forçando o tom de voz de um garoto enquanto estava fingido ser um garoto, no passado, mesmo perto de Harutora. Mas recentemente ela mostrava sua ‘verdadeira natureza’ com frequência. Era uma prova de quão exaustiva era sua vida cotidiana e o quão dura ela era.
“Parando para pensar, isso é tudo culpa sua que foi espionar a loja, por isso estamos tão miseráveis agora!”
“Eu não já pedi desculpas várias vezes por isso?”
“No começo, você disse que deixaria as coisas comigo. Será que você não confia em mim?”
“Essas coisas já se passaram agora. Por quanto tempo você vai guardar rancor? Além disso, Harutora, naquela época você também não estava...!”
Os dois começaram a discutir e criticar um ao outro, e os pedestres das proximidades começaram a se afastar às pressas, um a um, surpresos. Os dois não tinham energia para prestar atenção às respostas que os cercavam, muito ocupados discutindo.
Desde que eles estavam sendo perseguidos por uma tirana por um longo tempo, a relação originalmente profunda entre os amigos de infância fora atingida. Esse tipo de discussão quase se tornara comum recentemente. A pressão excessiva e a exaustão levaram suas mentes ao esgotamento, e para aliviar a pressão, a mente procurara uma saída emergencial para desabafar, iniciando os mecanismos de autodefesa. Os dois discutiam ferozmente um com o outro por um tempo, e repentinamente ficavam em silêncio como se tivessem perdido o poder. Seus rostos novamente se mostravam sombrios.
Os sintomas já haviam entrado no estágio final.
“... Desculpe-me...”
“... Não... Eu que deveria me desculpar...”
Os dois baixaram os olhares, desculpando-se um ao outro com tons mornos.
Era culpa de Natsume que sua identidade tivesse sido exposta, ao cometer um grande erro e agir impulsivamente. Mas, como Suzuka se lembrava da aparência de Natsume, o problema de sua identidade ser exposta seria apenas questão de tempo. Quando ela aparecesse novamente diante de ambos, não haveria mais como correrem.
Harutora e Natsume suspiraram em uníssono, mais uma vez caminhando em direção ao edifício da Academia com passos pesados. Eles estavam entorpecidos por dentro, mesmo perdendo gradualmente a sensação de ‘vazio’.
“... Ela provavelmente nos chamará novamente hoje...”
“... Provavelmente após as aulas...”
“... Ela provavelmente nos fará falar novamente sobre o que aconteceu ano passado...”
“... Eu realmente não sei mais o que há para falar... Não... Há algo... Mas...”
“... Tudo o que resta são coisas que nós ‘não podemos falar’...”
“... Sim...”
Seus rostos melancólicos mais uma vez se retorceram em amargura.
“... Por que é que nunca conseguimos enganá-la com mentiras inofensivas... Será que essa pirralha tem telepatia ou algum outro tipo de habilidade extraordinária...?”
“... Nós que somos muito ruins em mentir...”
“... Podemos encontrar alguma maneira de resolver isso...”
“... O que podemos fazer...?”
Os dois amigos de infância repetiram sua conversa desanimada.
Um novo dia estava prestes a começar no ensolarado e confortável mês de maio.