Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 1

Capítulo 5.2: Chamado das Almas

PARTE 2

Nos tempos antigos, o Onmyouji Abe No Seimei tinha realizado o ritual Taizan Fukun para salvar a vida de um monge de Chikou Mii- dera, oferecendo-se a vida de seu discípulo, a fim de prolongar sua vida.

...

Sua única luz e calor no mundo frio e escuro, era o sorriso de seu irmão.

Seu irmão sempre mostrou seu sorriso na frente dela, independentemente da dor, cicatrizes, ou fadiga.

Os irmãos nunca tiveram brinquedos e nunca tiveram livros ilustrados, e porque eles estavam sempre com pedaços pequenos de papel, eles faziam origamis juntos.

“Olha, Suzuka, um novo amigo.”

Os dedos ágeis de seu irmão dobraram muitas coisa, e o sorriso caloroso de seu irmão dotou com vida. Não só o papel, mas até mesmo a vida de Suzuka parecia contar com o sorriso de seu irmão.

Essa era a única "magia" que Suzuka valorizava, com seu profundo desgosto pela magia.

Então...

Suzuka leu o encantamento que fora escrito em um pergaminho, emitindo uma energia mágica tremenda.

A energia mágica encheu o altar na praça de pedra, derramando diante do alto da Imperial Hill.

A aura em torno parecia ecoar o encantamento, mudando intensamente, formando um espaço onde o menor erro levaria a um mundo diferente.

Taizan Fukun era uma divindade Onmyo ~ o senhor da morte, considerado como um deus, que conseguia a vida e a morte humana.

Agora, Harutora poderia realmente sentir “aquela coisa”. Ele não podia ouvi-lo nem o ver, mas com a capacidade de detecção de espíritos que ele havia obtido, ele realmente sentiu a “existência” dessa coisa.

Havia uma força poderosa descendo ao altar.

Era uma existência superior a compreensão humana.

“N-Natsume! Isso é...!?”

“...Eu não sei! Mas, definitivamente não é um deus...”

Harutora perguntou cautelosamente, e Natsume balançou a cabeça impotente. O altar estava cheio de uma aura que descia dos céus, e os dois olhavam fixamente para o altar.

O pergaminho que Suzuka leu encantou-se como um algodão na brisa, flutuando levemente longe das mãos da menina.

O pergaminho batendo fazia um som suave, enrugando enquanto abria. Quando ela leu as últimas palavras, uma chama azul de repente disparou, incinerando instantaneamente o pergaminho como se o calor da aura que fluía para o altar tivesse feito o rolo inflamar por própria conta.

Então...

“...Ahh, Onii-chan...”

Suzuka não podia conter sua excitação, deixando escapar uma voz feliz.

O corpo deitado na praça de pedra moveu-se lentamente. Harutora prendeu a respiração, e os olhos de Natsume arregalaram. O irmão de Suzuka abriu as pálpebras que não se mexiam em muitos anos.

“Onii-chan!”

Ao ouvir o chamado de sua irmã, o jovem virou lentamente seu olhar.

“...Suzuka.”

O jovem sentou-se hesitante, e Suzuka correu até ele, abraçando-o com força.

“Onii-chan, Onii-chan, Onii-chan, Onii-chan…”

Suzuka berrou como uma garotinha. Em comparação, o corpo de Harutora não conseguia parar de tremer, e o rosto de Natsume estava lívido. Ele poderia até mesmo ouvi-la suprimindo a voz, enquanto os lábios murmuravam: “Como...”

O irmão, que uma vez estivera morto, tinha se reunido com sua irmã.

Deveria ter sido uma reunião comovente.

Mas Harutora sentiu que havia algum terror inexplicável se espalhando por seu corpo.

Ele não estava com medo, mas sentia-se enojado.

Esse sentimento foi, provavelmente, uma vez que era um tabu, um sentimento de algo profano que os seres humanos não deveriam tocar. Um alarme soou em todo seu corpo pela cena diante ele.

Mas, Harutora ainda olhava para a cena.

...Este é...

Esqueceu-se da Magia de Almas.

A magia do prodígio Tsuchimikado Yakou...

Mas...

“...?”

Por alguma razão, Harutora repentinamente teve uma sensação estranha. Imediatamente depois, ele viu o irmão inesperadamente agarrar o braço fino de sua irmã.

Um olhar surpreso e confuso surgiu no rosto de Suzuka. “O-Onii-chan?”

O jovem virou o rosto para a irmã. “Suzuka...”

“O-O que foi?”

“Não é o suficiente...”

O jovem abriu os olhos secos sem piscar e olhou fixamente para Suzuka. Em seguida, ele estendeu a mão desajeitadamente, mas supreendentemente rápido, agarrando o ombro de Suzuka.

“Onii-chan?”

Suzuka reflexivamente se moveu para trás, mas os dedos do jovem afundaram no ombro da menina, não permitindo que ela recuasse.

O jovem olhou fixamente para Suzuka em pânico, seus dedos movendo-se de seu ombro para o pescoço, as mãos com força estrangulando por sobre a gargantilha no pescoço.

“Não é o suficiente... Não é o suficiente, Suzuka...”

Veias levantaram nas mãos da jovem, seus dedos afundaram profundamente na pele do pescoço de Suzuka.

O rosto de Suzuka empalideceu instantaneamente.

“E-Espere, Onii-chan! Irei te dar... irei te dar minha vida, por isso, espere...!”

Suzuka lutou impotente. Ela colocou a mão no braço de seu irmão, mas ela não conseguia retirar-se livre.

Ela tinha antecipado o renascimento de seu irmão em seu coração, mas seu corpo recusou a recebê-lo. Seu rosto ficou escuro em um piscar de olhos, as costas constantemente espaçadas.

“Espera um pouco mais... Por favor...”

Ela suspirou dolorosamente, uma lágrima rolava pelo canto do olho. Não era uma lágrima de alegria, mas de choque, dor e tristeza mesclados em uma única lágrima.

Era uma lágrima derramada pela pirralha que Harutora odiava. Era uma lágrima derramada pela inimiga que matou Hokuto. “...Ugh!”

Harutora firmemente cerrou os dentes.

Ele pensou em seu coração que ela estava recebendo o que merecia. Se essa pessoa não tivesse vindo aqui, Hokuto não teria morrido, e eles poderiam continuar a visitar felizes festivais como de costume, passar férias de verão como de costume, e passar todos os dias como de costume.

Suzuka tinha destruído tudo isso.

A Suzuka que tinha destruído tudo isso estava chorando de desgosto.

Você merece! Harutora tinha planejado originalmente continuar assistindo.

“...Merda! Essa pirralha maldita!”

Ele rugiu, esforçando-se para torcer seu corpo contido. Ele balançou a cabeça, torceu os ombros, colocou seus joelhos contra o chão, e subiu em um frenesi.

Quando ele fez isso, os talismãs que tinham prendido seu corpo começaram a cair um por um. Parecia que desde que o praticante estava morrendo, sua energia mágica estava enfraquecendo em conformidade.

“Uraaaahhh!”

Um rugido bestial irrompeu da garganta de Harutora. Ele reuniu toda sua força em seu corpo.

Suas roupas e os talismãs rasgaram, e até mesmo sua pele rasgou também. Mesmo assim, Harutora ainda se manteve sobre os braços, rasgando os talismãs com força.

Só então... “Segure o fôlego!”

Natsume gritou. Harutora rapidamente prendeu a respiração.

“Incinere os símbolos heréticos. Order!”

Parecia que Natsume também estava tentando livrar-se de suas correntes. Ela estendeu a mão direita, que tinha recuperado sua liberdade, jogando um talismã do elemento fogo para Harutora. Uma chama furiosa disparou, e uma chama girou em torno dos talismãs engolindo o corpo de Harutora.

O calor escaldante acariciou sua pele, soprando seu cabelo. Seu corpo não foi queimado por causa disso, mas em vez, parecia que estava sendo soprado por uma brisa de verão, acalmando seu coração. A magia do mestre não prejudica o Shikigami, queimando exclusivamente os talismãs de Suzuka.

“...Tudo bem!”

Harutora saltou do inferno, correndo para frente.

A pressão da aura que permeava o altar tornou-se mais e mais forte, e acima dela estava o irmão inexpressivo estrangulando sua irmã, que chorava tentando aceitar isso.

A mão de Suzuka colocada sobre o braço do jovem escorregou impotente.

“Pirralha maldita!”

Harutora rugiu, correndo em direção à jovem.

O jovem nem sequer olhou para Harutora, apenas sufocando com força o pescoço da garota, como se tentasse espremer sua vida sem deixar nem uma gota.

Harutora ia bater no jovem para separar os dois.

Mas antes disso, o seu corpo sentiu um forte calor como de um encanto do elemento fogo.

O calor veio da parte de baixo de seu olho esquerdo, a partir do pentagrama que Natsume tinha desenhado.

A figura do jovem era refletida em seu olho esquerdo, juntamente com a aura que vinha do corpo do jovem. Havia uma aura que estava sendo absorvida para o céu. Havia uma conexão entre o céu e a cabeça do jovem, emitindo um pulso anormal de aura.

O jovem podia se mover por causa dessa aura. Ele tinha que cortar o fluxo.

Mas, como poderia fazê-lo?

...Esse tipo de coisa...

O corpo de Harutora se torceu, e ele tirou o tronco de bambu das costas, segurando a alça com as mãos.

“Como vou sabeeer!”

Ele ergueu as mãos, elevando o tronco de bambu e desceu sobre a cabeça do jovem, quebrando o fluxo que o ligava ao céu.

O tronco de bambu tinha ferramentas ancestrais da família Tsuchimikado dentro.

O ritual Taizan Fukun era uma cerimônia realizada pela família Tsuchimikado por gerações.

Nesse caso... Independentemente de dar certo, independentemente de coisas inesperadas, equivocadas, ou incidentes, só era preciso se cortar o fluxo de aura que a cerimônia seria obstruída.

Ele acreditava que tinha estranhamente uma má sorte.

Mas, desde que a família Tsuchimikado era uma família Onmyouji notável ~ Poderia muito bem ver isso como uma celebração do nascimento de um novo Shikigami Tsuchimikado, nesta noite.

“Vamos!”

Esta fora a primeira vez que Harutora tinha rezado do fundo de seu coração, e pela primeira vez ele tinha desejado algo tão profundamente em seu sangue.

Neste momento, uma luz cobria o altar.

A enorme força que ele tinha sentido antes se aproximava rapidamente dele.

Era uma antiga entidade suprema que os Onmyouji outrora chamaram de Taizan Fukun ~ ou talvez fosse força de um “fenômeno” que os humanos podiam observar.

Um gigante, com uma aura cegante, um deus deslumbrante, flutuou.

Almas murcharam.

A luz intermitente do céu cobria o mundo.

...

A bela lua pairava no céu.

Um homem sentou-se na borda de uma mansão, olhando para o céu.

Sua mão tinha um copo de saquê, e o cheiro doce de álcool se misturava na noite.

“Yakou-sama.”

Na mansão, nas sombras escuras que a luz da lua não conseguia desfazer, uma voz chamava suavemente.

“Você ainda não mudou de ideia?”

Aquela voz perguntou. O homem que havia sido chamado de Yakou mostrou um sorriso torto, colocando o copo de saquê de lado.

Ele respondeu. “Sim.” Sorrindo enquanto falava.

Em seguida ele continuou com um “Desculpe”. O sorriso desapareceu de seu rosto.

O som dos insetos chegava à mansão, aliviando um pouco o silêncio entre os dois.

A outra pessoa olhou para seu mestre a partir das sombras do luar.

Em seguida, ela também tomou uma postura sentada, abaixando a cabeça lentamente.

“Esperarei você mesmo após as pedras se tornarem pó, porque eu sou seu Shikigami.”

Os insetos não pararam, como se fosse a última orquestra brilhante de suas vidas.

O som da aproximação do fim do verão.

... 

Harutora.

Huh...? Parece que eu vi algo. Não, parece que eu vi alguém.

Era um passado extremamente distante esculpido no coração de Ele nunca tivera antes visto aquela cena, mas ele realmente se lembrava.

Seu coração saltou intensamente, e suas células cerebrais faziam a eletricidade atravessar seu corpo.

Aquela existência, Harutora sabia que ela ultrapassava o conceito de tempo. E “naquele momento”, Tsuchimikado Harutora, de dezesseis anos, turvou-se momentaneamente, voando instantaneamente, e depois...

“Ban, Um, Taraku, Kiriku, Aku! Pelos cinco elementos... Order!” Natsume gritou em voz alta.

Assim enquanto a consciência de Harutora diminuía, cinco talismãs flutuavam para cima de sua cabeça. Uma luz ligava os talismãs, desenhando um pentagrama brilhante no ar, formando uma parede rígida que bloqueava a luz que caia e trazendo a consciência de Harutora de volta.

“...Ah.”

Voltando a si, Harutora estava parado no centro do altar, segurando a alça do tronco de bambu na mão. Suzuka tinha perdido a consciência, mas o irmão dela estava deitado, imóvel, aos seus pés.

Só então, Natsume saltou ao lado dele.

Ela jogou Harutora para trás, de costas para o ar, sufocando a cabeça de seu amigo de infância contra seu peito.

“N-Natsume?”

“Não olhe! Sua alma será tirada!” Natsume desesperadamente chorou.

A parede formada pelo pentagrama cortou o altar do “outro mundo”, mas não conseguia parar as fortes ondulações. Harutora não tinha como imaginar o que estava acima dele ou que estava fazendo. Sua alma se sentia sufocada ~ era a presença suave de Natsume que o fazia se acalmar um pouco.

Aquele momento parecia uma eternidade.

Naquele momento eterno, os dois mantiveram os corpos unidos um contra o outro, apoiando-se.

Essa era a única coisa que a jovem Onmyouji e o novo Shikigami poderiam fazer diante a um deus.

...

Quando Harutora notou, a pressão da aura já havia desaparecido. Ele abriu os olhos, piscando do chão onde estava após Natsume o derrubar.

Natsume ainda segurava a cabeça de Harutora em seu peito, e Harutora olhou em volta pelas lacunas entre seus braços.

A parede pentagrama já havia desaparecido, e o sentimento do “outro mundo” não estava mais lá. tudo o que estava diante dele era uma antiga praça de pedra situada no topo de uma colina.

Harutora olhou para Natsume. Ela estava deitada no chão. Uma vez que ela percebeu o olhar de Harutora, ela rapidamente percebeu que ainda estava abraçando a cabeça de seu amigo de infância, e rapidamente o soltou.

A fragrância que cercava Harutora flutuou para longe, dissipando-se no ar.

“...Já acabou?”

“É... É?”

Harutora e Natsume perguntavam um ao outro, ambos claramente um pouco desamparados.

Ao lado deles, Suzuka se levantou lentamente, trazendo-lhes um choque.

Mas...

“...Yukikaze!?”

Yukikaze vinha ao longe, trazendo em sua boca a Espada de Proteção. Parecia que ele tinha acabado de encontrar a espada, a fim de salvar sua mestra. Harutora finalmente caiu em si naquele momento.

Yukikaze balançou a cabeça, deixando cair a Espada de Proteção, e Harutora rapidamente se levantou, pegando a espada e olhando ao redor.

Ele apontou a espada para Suzuka que estava em choque no chão, prestes a dizer-lhe para desistir, quando...

“...Por quê?”

Suzuka murmurou para si mesma, deixando escapar uma voz vazia.

Harutora relaxou sua mão e a espada caiu impotente.

Suzuka não era a inimiga. Harutora deixou a espada, em silêncio, olhando para a garota.

De repente, ele sentiu algo perto de sua cabeça, e viu Hokuto aparecer no ar assim que olhou para cima.

“O que acabou de acontecer aqui...?” Hokuto olhava para Harutora como se estivesse pensando nisso. Os lábios de Harutora se curvaram em um sorriso.

Ele virou-se, vendo que o Tsuchigumo não se movia mais, e não parecia que tinha sido danificado por Hokuto, também. Ele supôs que talvez estivesse sem energia mágica, uma vez que Suzuka estava exausta, ou talvez o tsuchigumo tinha sido completamente purificado pelo Taizan Fukun.

Suzuka soluçava baixinho, segurando o corpo inerte de seu irmão. Ela choramingou claramente com a cabeça do irmão em seu peito.

Harutora olhou para Natsume com um rosto amargo. Depois que ela e Harutora cruzaram olhares, ele silenciosamente se virou como se lembrasse de algo.

Sem nenhum lugar para desabafar suas emoções, Harutora olhou para o céu.

A lua estava alta no claro céu noturno.



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