Volume 1
Capítulo 1.2: O Filho da Família Secundária
PARTE 2
Miasma transbordava pelo local quando o transporte com o pessoal chegou.
A maioria das pessoas na área comercial tinha ido para abrigos, deixando para trás uma rua vazia.
Onmyouji vestindo roupas que os protegiam do miasma saíram do transporte que tinha parado.
A fonte do Desastre Espiritual era uma árvore antiga que crescia no meio do distrito comercial. A grande árvore exalava uma pressão espiritual anormal, torcendo o próprio tronco, como se fosse um animal.
Aura ~~ algo que preenche todas as criaturas.
Essa aura costumava oscilar e oscilar, mantendo um nível estável ao longo de todo o corpo.
Mas, ocasionalmente, a oscilação iria sair do controle, e a aura desequilibrada se tornaria miasma, aumentando ainda mais o desequilíbrio.
Um acidente em que a aura não conseguia se recuperar, e que ultrapassava em muito os limites aceitáveis para a purificação ~~ esses foram os Desastres Espirituais reconhecidos por aqueles versados em Onmyodo. E expulsar o espírito ~ “Exorcismo” ~ era o dever do Onmyouji membro da Agência Onmyou.
Como um grupo de corvos dançando no meio da noite de Tokyo, eles cercaram a antiga árvore, tirando pequenos punhais de seus bolsos, um a um.
Eles recitaram o encantamento, empurrando seus punhais para baixo, em direção ao asfalto. As adagas cheias de energia mágica perfuraram a estrada, que começou a brilhar. A luz branca emanava das lâminas, espalhou-se pelo solo, circulando a antiga árvore, formando um halo de luz, isolando a fonte do Desastre Espiritual do resto do mundo, criando uma barreira.
A antiga árvore não parava de se mover. Ela continuou expelindo miasma como se estivesse liberando esporos, e os ramos se esforçavam para resistir a força, como se quisesse quebrar a barreira.
O Desastre Espiritual já havia alcançado a Fase 2, e a situação não permitia que os Onmyoujis baixassem a guarda. Se isso continuasse, logo passaria para uma Fase 3, e o miasma tomaria forma, surgindo “demônios”.
Então...
“Desculpe, eu acabei fazendo vocês esperarem!”
Uma motocicleta se aproximou por trás de um dos Onmyouji que estavam mantendo a barreira.
Um homem de visão aguçada correu rapidamente da moto.
Ele não usava as roupas de proteção contra miasma dos outros Onmyoujis, mas usava uma camisa colorida e uma calça jeans com buracos nos joelhos, um visual completamente diferente de um Onmyouji.
Mas, ele era o comandante líder do grupo, um Onmyouji Nacional de Primeira Classe.
“Finalmente o pegamos. Vou me livrar deste demônio rapidamente, vocês se foquem em manter a barreira!”
O homem usava uma katana em sua cintura. Ele desmontou da motocicleta, correndo para a frente e puxando a katana.
Ele cortou o ar com a lâmina, desenhando um padrão complexo. Ele manipulou aura, convertendo-a em força mágica, e a lâmina brilhou com uma luz ofuscante, como se estivesse envolta em chamas.
O comandante gritou. “Pelos cinco elementos, espírito perspicaz do metal, reduza este caótico espírito da madeira! Metal conquista madeira! Disperse, miasma demoníaco!”
A espada foi levantada em direção à antiga árvore~~
...
“Uau, incrível!”
Tsuchimikado Harutora comia macarrão com hashis descartáveis, olhando fixamente para a tela da televisão.
Ele estava sentado em uma pequena loja de udon com uma atmosfera que lembrava a Era Showa. As janelas da loja foram abertas, e o velho ventilador elétrico fazia circular ar fresco, afastando um pouco o calor do verão.
A tela da televisão transmitia no momento o Onmyouji eliminando o Desastre Espiritual. Como quase toda totalidade dos Desastres Espirituais aconteciam em Tokyo, era uma cena quase estranha para Harutora que vivia nesta pacata cidade do campo.
Harutora apontou seus hashis para televisão da loja.
“Olha, Touji. Aquela árvore tem pelo menos uns dois metros de diâmetro, mas foi cortada instantaneamente, como em um mangá.”
Ele estava cheio de entusiasmo enquanto falava ao Ato Touji que estava sentado à sua frente.
Touji tinha acabado de comer há muito tempo, e caiu preguiçosamente em seu assento. Ele ouviu as palavras de Harutora, virando sua cabeça para dar uma olhada para a televisão atrás dele. O par de olhos ferozes lançou um olhar entediado por baixo da bandana em sua testa.
“... Afinal, a elite Onmyouji não é muito diferente de personagens de mangá, em primeiro lugar.”
“Elite?”
“Os que se qualificam através do ‘Teste de Primeira Classe Onmyo’, também conhecido como Onmyouji Nacional de Primeira Classe... Não havia um relatório especial na revista que eu deixei você ler antes?”
“Huh? Então esse cara da katana é um dos ‘Doze Generais Divinos’? Incrível!”
Harutora mudou seu olhar para televisão novamente. A transmissão ao vivo tinha mudado para um repórter a fazer uma declaração sobre a cena, e Harutora ainda olhava alegremente para televisão, lembrando que ainda estava comendo, interrompendo seu momento de observação para retornar a sua refeição.
De um modo geral, ser um Onmyouji era uma profissão peculiar.
Mas uma vez que se torna um Onmyouji Nacional de Primeira Classe, era uma posição completamente diferente.
O chamado "Doze Generais Divinos" era apenas um título concedido a eles pelos meios de comunicação, uma vez que havia apenas doze Onmyouji Nacionais de Primeira Classe que haviam passado no Exame de Primeira Classe Onmyo. Pode-se dizer que estes eram ainda mais extraordinários dentre a elite Onmyouji.
“Esses tipos de transmissões estão se tornando mais comuns com o tempo.” Harutora sugava o udon enquanto falava.
“Parece que os Desastres Espirituais estão em uma tendência crescente... Mas, isso é tudo negócio de Tokyo.” Touji olhou para fora da janela.
“Este lugar é muito tranquilo.”
Harutora pousou os hashis sobre a vasilha do udon, olhando para Touji.
“O que foi isso, você está pensando em sua família depois de ter se afastado por um longo tempo?”
“Não é isso, eu não odeio a paz.”
“Haha, não minta. Quando você estava em Tokyo, você era um delinquente violento.”
“Cale a boca e coma o macarrão.”
Touji estreitou seus olhos e franziu a testa, e Harutora riu enquanto pegava o frasco de molho picante.
...
Uma vez que eles saíram da loja, Harutora não poderia deixar de estreitar os olhos para a luz deslumbrante do sol e a vasta extensão de brancura na frente deles.
O sol de agosto estava alto no céu, o calor refletia pela estrada de asfalto, e cigarras cantava em rajadas, como o bater de ondas.
Do outro lado da rua havia um parque cheio de vegetação. Levantando o olhar, o céu azul estava diante dele, as grandes nuvens brancas que se estendiam por todo o céu.
Era verão.
Harutora e Touji saíram da loja de macarrão e ficaram na frente da loja por um tempo.
“... Está tão quente.”
“É verão, você sabe.”
Suas orelhas quase podiam ouvir o som de sua pele sendo frita enquanto estavam sob a luz do sol quente. Quando atravessaram a rua e se ampararam debaixo da sombra das árvores, eles retomaram a caminhada sem rumo.
Era atualmente férias de verão, e hoje eles vinham recebendo aulas de reforço de verão por toda manhã, e já estariam em suas casas, se não parassem para um almoço tardio.
Os dois usavam o uniforme de camisas de manga curta branca e calça cinza da classe, mas Touji tinha um lenço enrolado em sua testa, como uma bandana, mantendo para trás seus longos cabelos.
Talvez as atmosferas que os dois exalavam fossem diferentes, pois mesmo ambos vestindo os mesmos uniformes, Touji parecia ser muito mais bonito. Os dois eram como um tigre enfiando a língua para fora com o calor, e um lobo que calmamente olhava para a rapina. Touji tinha crescido e se tornado muito bonito, em primeiro lugar, e, claro, que essa poderia ser uma das razões que criavam a disparidade entre os dois.
“Minha boca ainda está ardendo.”
“Você colocou muito molho picante.”
“Eu não fiz de propósito, foi porque a tampa do frasco caiu.”
“Sua sorte anda tão ruim como sempre.”
Touji riu.
Na verdade, a sorte de Harutora era estranhamente ruim, e a tampa do frasco caiu quando ele estava derramando molho picante mesmo em uma quantia pequena. Por exemplo, ele tinha se envolvido em acidentes de carro umas doze vezes. Era muito difícil de julgar que ao ser atropelado doze vezes e ainda estar vivo significava uma boa ou má sorte.
“Esta é definitivamente uma maldição herdada por meus antepassados.”
“Bem, com a sua linhagem, a probabilidade é bastante elevada.”
Como de costume, as queixas de Harutora não paravam, e Touji que caminhava ao seu lado respondia sarcasticamente.
A luz do sol atravessou as folhas e brilhou na estrada de asfalto, como se a luminescência estivesse espalhada por todos os lados. Claramente delineadas, sombras negras contrastavam com a luz irregular, e olhando para aquela cena fazia parecer que o calor tinha baixado um pouco.
“Tudo bem... O que devemos fazer agora?”
Harutora ainda estava murmurando. Seu telefone prontamente soou como se estivesse esperando esta oportunidade.
“Oh.” Harutora puxou o telefone do bolso.
Ele abriu a tela dobrável, e depois de ver o nome exibido na tela, imediatamente fechou os olhos, sem dizer uma palavra. Então, ele colocou o telefone de volta no bolso, como se nada tivesse acontecido.
“...Hokuto?” Touji inclinou seu olhar na direção dele, para confirmar.
“... Sim, Hokuto.”
Harutora não poderia explicar melhor, nem Touji perseguiu a questão.
Os dois ouviram as cigarras enquanto continuavam a andar.
“O que vamos fazer depois? Eu não tenho quase nenhum dinheiro comigo, devemos ainda ir ao arcade?” Harutora propôs isso, com seu espírito renovado.
“...Não, infelizmente, você está desperdiçando seu esforço.”
“O quê? O que você quer dizer?”
“Você já foi pego, como era de se esperar de sua má sorte.”
Touji apontou ligeiramente para as costas de Harutora.
“Você, Bakatora!!”
Uma voz que parecia exemplificar vitalidade soou com um tom leve, rápido.
Então, Harutora ouviu o som de passos carimbando o asfalto ~ e logo depois, algo quente e macio pulou em suas costas.
“Eu encontrei você! Por que não atendeu ao telefone!? Apresse- se e responda! Bakatora!”
“N-Não faça isso, assim eu não posso respirar Hokuto! ~ Eu vou morrer!”
Duas mãos estenderam por trás das costas de Harutora, agarrando seu pescoço. O cabelo curto, de cor clara, flutuava levemente com a brisa de verão.
O pescoço de Harutora estava sendo estrangulado vigorosamente, e ele tentou desesperadamente se soltar dos braços de Hokuto. Mas Hokuto não deu a oportunidade para aplicar o golpe final, e levantou os braços, tirando-os por sobre a cabeça de Harutora.
“Bakatora, Bakatora!”
“Ei, pare com isso. Não se apoie em mim, está muito quente!”
“O que você disse!? Harutora, você está com um cheiro diferente.”
“Não me cheire!”
“Ah, não é cheiro de sopa, você comeu udon novamente?”
“Eu não te disse para não cheirar as pessoas! Parece até um cachorro!”
Com a face vermelha, Harutora deu um grande passo para trás. Hokuto finalmente o soltou, soltando um sorriso brilhante, e dizendo com um tom jovial.
“O clima está tão quente, eu nunca esperava que você fosse capaz de comer udon, se cérebro realmente deve ter fritado.”
“Seja um pouco menos intrometida! Além disso, você não olha por trás do udon, udon é do antigo Japão~”
“Touji, o que você comeu?”
“Soba.”
“Você está se esquecendo de mim? Ou está deliberadamente me ignorando?”
Harutora rugiu com intensidade, mas Hokuto o tinha na palma da mão.
Ele e Hokuto tinham sido assim desde o colegial até hoje. Seus olhos eram arregalados, os lábios naturalmente curvados para cima, e sua maneira de falar era como a de um menino, mas ela era bem-formada, com um rosto bonito, que era um tanto inesperado. Usava uma camisa polo apertada e uma minissaia, com as mãos e pés ligeiramente bronzeados pelo sol.
Ela passou as pernas bem tonificadas para trás, indo e voltando entre o frustrado Harutora e Touji, que não se preocupou com ela.
“Vocês foram para as aulas de verão hoje também? Como esperado do Rei das Notas Baixas!”
“Você é barulhenta, o que veio fazer aqui, afinal?
“Hmmm? Nada, eu só estou aqui caminhando.”
“Uma caminhada num dia superquente como esse? Você é que teve seu cérebro frito.”
“Pelo menos, é muito mais significativo que aulas de verão. Você sabia, Harutora? Neste mundo, apenas as pessoas inteligentes prosperam.”
“Uh, o poder de persuasão desse cara é verdadeiramente irritante...”
“Eu não sou um cara, sou uma garota, Bakatora!”
“Cale a boca.”
Frustrado, Harutora encarou Hukuto dramatizar.
Aliás, “Bakatora” foi criação original de Hokuto, que havia descrito Harutora como “Um tigre de idade, passando um dia de primavera, dormindo preguiçosamente ao mostrar a barriga” para depreciá-lo. Como a analogia era muito apropriada, ela não tinha sido capaz de resistir elogiar sua própria criatividade quando pensou neste apelido, mas Harutora apenas sentia raiva da origem dele.
Touji suspirou em silêncio enquanto observava os dois brigando como de costume.
“Falando nisso, você tem uma intuição fantástica, como sempre. Você sabia que estávamos vendo a transmissão até agora?”
“Sim, e o Touji também, está afiado como sempre.”
“Então, eu deveria passar por isso novamente...”
Quão insuportável. Touji virou-se para o lado, deslocando o olhar. Harutora apenas olhou descontente, como se fosse um tigre, cuja cabeça tinha sido raspada.
Hokuto não se preocupou com a reação dos dois.
“Em suma! Independentemente do motivo pelo qual chamei vocês, Harutora tem que me pagar por ignorar meu telefonema primeiro. Apresse-se, vamos!”
Depois de Hokuto endireitar as costas enquanto falava, ela agarrou a mão de Harutora, puxando-o para uma corrida.
Seu braço era magro como o de uma menina, mas sua força era surpreendentemente grande. “Ei, o que você está fazendo!” Como Hokuto puxava Harutora, ele foi forçado a seguir adiante.
Touji levantou uma sobrancelha, olhando muito desamparado.
Então, ele colocou as duas mãos nos bolsos da calça, lentamente seguindo os passos da dupla.