Todas essas Protagonistas Perdedoras! Japonesa

Tradução: Okuma, NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 1

Capítulo 2: A derrota que foi prometida a você, Lemon Yakishio.

O barulho das cigarras está por todo canto.

Segundo horário, aula de educação física. O sol tá torrando.

Enxuguei o suor da testar após guardar as coisas da aula no depósito.

Isso me deixa incrédulo. Essa regra boba, de deixar o aluno que faz aniversário no mesmo dia da aula, para arrumar tudo, é muito conveniente para quem faz no dia 30.

— Eu me recuso a aceitar isso.  

Eu reclamei, enquanto limpava a poeira em mim.

É melhor eu ir me trocar. Todo mundo já se trocou, não posso ser o único com o uniforme de educação física.

Click. De repente, escuto a porta sendo trancada por alguém. Ficou tudo escuro aqui dentro. 

...Hã, a porta fechou? É alguém fazendo bullying? Tentando me intimidar? Me virei imediatamente.  

No depósito sombrio, Lemon Yakishio estava ali, envergonhada. Dá para ver claramente suas curvas sob as roupas de educação física que estavam encharcadas de suor.  

— ...Yakishio?  

Ei, eu já vi isso nos animes.

Engoli em seco, sem perceber.  

Yakishio baixou a cabeça e olhou para o chão. Ela arrumou o cabelo grudado em seu rosto e caminhou até mim.  

— Nukumizu, tem algo que eu quero te dizer.  

— Hã?  

Uma pessoa comum provavelmente estaria esperando pelo clichê que está para acontecer. No entanto, eu não sou tão ingênuo assim.  

É porque, observando o nível do romance, não houve desenvolvimento nenhum entre a Yakishio e eu para que algo assim aconteça.  

— Deixa eu te perguntar uma coisa... O que aconteceu com aquilo que te pedi antes? 

— Ah, o quê? 

Em outras palavras, isso não é um evento romântico. Estou sendo um idiota por entender tudo errado. Eu não ficaria tão nervoso se soubesse que era isso desde o começo.  

— O Ayano te pediu para pegar uns livros emprestados do Clube de Literatura, certo? Ele já pegou?  

Entendi. É sobre isso que ela estava falando... Não, ainda não. Eu nem falei com ele, afinal.

Yakishio colocou as mãos para trás e deu chutinhos no chão, timidamente. 

— S-Se não for um problema... posso eu mesma entregar para ele?  

— Ele quer uma série inteira, pelo que entendi. Você não consegue levar tudo de uma vez só, né? Seria mais fácil se ele fosse buscar...

Yakishio parecia querer dizer alguma coisa, enquanto seu corpo se movia inquietamente. Até eu consigo perceber o que ela quer.  

— Bom, claro, vá em frente, Yakishio. Pode dizer a ele para ir buscar quando quiser.

— Certo, deixa comigo! Eu aviso ele!  

O sorriso de Yakishio é tão encantador quanto o sol dentro daquele depósito sombrio. A poeira reflete a luz do sol, o que a faz brilhar intensamente. 

— Ok, eu vou falar com ele depois da aula!  

— Espera, acho que tem algo ainda melhor.  

— O quê?! 

Yakishio sorriu e inclinou a cabeça.  

Ela veio até aqui para falar comigo. Acho que posso fazer um pouco mais por ela.  

— Você devia dizer a ele quando você não tiver atividades no clube.  

A intenção é ela conseguir levar ele até o clube. Então, com a oportunidade, posso deixar os dois passarem um tempo a sós por 2 horas na sala do Clube de Literatura...  

— Minhas atividades no clube? Por quê?

Yakishio imediatamente arregalou os olhos. Ela está me olhando, sem entender nada. 

— Como posso dizer... Seria ótimo se você também fosse ao clube, né? Você já entendeu o que eu quero dizer, né?

— Ao clube... eu?  

Meu Deus, é sério? Você é tão lerda assim?  

— Olha só, se você chamar ele num dia que você não tem nada para fazer no clube, você pode ir junto com ele. Aí vocês dois podem ficar a sós na sala do clube.

Yakishio ficou chocada. Seus olhos se arregalam ainda mais, e então ela começou a bater palmas.

— Tendiii. Você é realmente inteligente, Nukumizu.  

A expressão de Yakishio imediatamente mudou para um sorriso alegre. Ela deu tapa no meu ombro. Doeu um pouco.

— Nukumizu, você é um cara legal. Eu te entendi errado esse tempo todo.

Parece que a turma inteira pensa algo errado sobre mim.

— Ah, mas, por favor, não me entenda mal! Bem, o Mitsuki e eu não somos assim... Ele é só meu amigo...  

— Sério? Você não acha que já deu pra perceber isso desde sempre?

Ela é linda, alta e enérgica. No entanto, ainda é como uma criança quando se trata de romance.

Yakishio curvou os lábios como se estivesse escondendo seu constrangimento.  

— Ei, tá quente aqui. Vamos sair. A gente vai derreter se ficarmos mais...

Yakishio puxou a camisa de educação física enquanto falava isso. Quem você acha que fechou a gente aqui dentro?

Yakishio estendeu a mão para a porta.  

— Ugh, o que?  

— O que foi? 

Nós dois tentamos abrir a porta, mas ela não abria.

Yakishio se virou para mim, confusa.  

— Não me diga... a porta está trancada por fora?  

— Hã?! Ei, tem alguém aí?! A gente tá preso...

— Nukumizu! Não grite tão alto!  

Yakishio envolveu os braços no meu pescoço por trás, ela estava me enforcando. Uwah, consigo sentir algo macio nas minhas costas... não, o suor pegajoso dela é desagradável. Essa garota sua demais.  

— Ei, e-eu não consigo respirar.  

Mesmo querendo escapar... a força dela é demais... Não consigo me soltar.

— R-Re...respirar...  

Eu continuei batendo nos braços dela.  

— Oh, desculpa. Você está bem?  

— Você tava tentando me matar? Por que me impediu de pedir ajuda? 

— É que nossa aula de educação física é junto com a do Mitsuki. 

— Ah, então você quer que eu chame o Mitsuki aqui?  

— N-Não! Eu não quero que o Mitsuki me veja no depósito com outro cara. 

Yakishio tocou os dedos, envergonhada.  

Huh, de repente ela ficou bem fofa, mas agora não é hora para isso. 

— Todo mundo vai voltar para a sala se não nos apressarmos.  

— As pessoas da próxima aula podem ajudar a gente. Só aguenta um pouco. 

— Isso não vai revelar que estamos sozinhos aqui?  

— Bem... Então, Nukumizu, se veste de garota.

— Não seria mais rápido se você se vestisse como um garoto?

Essa conversa é sem sentido. Acho que todos já voltaram para a sala enquanto conversamos. Só posso ouvir as cigarras lá fora.

Yakishio segurou na janela perto do teto e se levantou.  

— Hã, por que não tem ninguém aqui?  

— ...Yakishio. Será que a aula de educação física tá sendo na piscina? 

— Hã?  

O sinal tocou.  

— A propósito, por que não estávamos na piscina?!

— A professora não tinha dito? As aulas de natação do segundo ano só iriam até o segundo horário...

— E as aulas de natação do primeiro ano seriam no terceiro... Por isso não tem ninguém aqui!

As cigarras continuavam a cantar lá fora.

— Ei! Ainda estamos aqui dentro!  

— Tem alguem aí fora?! 

Depois de gritar por um tempo, nós dois nos sentamos.

Acho que a previsão do tempo disse que a máxima hoje era 35 graus... É o primeiro dia quente do verão.

Tava ficando ainda mais quente aqui dentro. Meu suor tá secando aos poucos. Será que é porque meu corpo já tá se acostumando com o calor? Acho que não... É porque já não resta mais suor.  

— Droga, quando que vai vir alguém aqui?  

— O clube de atletismo... vai vir... na hora do almoço...  

Uwah, tem uma poça de suor em volta da Yakishio. Essa garota tem um metabolismo extremamente rápido.  

— Tá tudo bem com você, Yakishio?  

— Tô bem... Eu sou bem mais uma imapala do que uma gazela-de-thomson. 

— Hã, uma impala?  

...Espera, o que ela tá falando? 

— Sim. Ela corre bem rápido já que é com quatro patas... É bem melhor do que só tentar jogar água nas hienas...

— Ei.

Eu não acho que ela esteja bem.  

Eu preciso fazer algo. A janela perto do teto é fechada com barras. Sair por lá é impossível.

Vou tentar achar algo que faça bastante barulho.

Hmm, parece que não tem apitos ou alto falantes aqui.  

Encontrei uma bolsa esportiva coberta de poeira enquanto procurava nas prateleiras. Depois de abrir a bolsa, vi algumas roupas femininas, uma toalha e algumas garrafas usadas.  

Embora eu tenha ficado alegre, desisti de beber a água quando vi o mofo na tampa da garrafa. Desisti e coloquei as coisas de volta na bolsa. No entanto, encontrei um spray refrescante no fundo.  

— Olha, Yakishio! Spray refrescante!  

Os olhos dela brilharam assim que ela viu o spray.

— Boa, Nukunuku! Usa em mim!  

Esse Nukunuku aí sou eu?  

Yakishio virou de costas e tirou a camisa, que estava encharcada de suor. Quase que dava para ver o que o sutiã dela estava guardando ali.

— Ah, espera!  

— Vai, rápido!

Nunca imaginei que uma garota iria implorar por mim assim.

Eu borrifei nas costas dela, com as mãos trêmulas. Ela imediatamente soltou um gemido. Não sei dizer se foi de dor ou de alívio.  

— Agora na frente.  

Yakishio se virou. Ei, espera, isso tá certo? Consigo ver a barriga dela. A marquinha de bronzeado dela é bem provocante.

A barriga dela tremia levemente enquanto eu borrifava o spray. E ela também dava uns gemidinhos. De qualquer forma, não é culpa minha o clima ter ficado assim.  

— Tá se sentindo melhor agora?  

— Acho que tô... sim.  

Ela se sentou no chão, meio atordoada, e colocou as mãos no sutiã. 

— E-Espera, espera, espera! Não tira!  

— Ei, que coisa, Nukunuku, por que essa vergonha? Nós duas somos garotas. Vou tirar porquê tá cheio de suor... Ei, pega uma toalha pra mim?

Ela acha que a gente tá no vestiário feminino?! Ela perdeu totalmente a noção da realidade.  

Eu peguei a toalha de dentro da bolsa. Então, desviei o olhar enquanto entregava a toalha para ela, que já havia tirado o sutiã.  

— V-Vista a roupa de novo depois de se secar!

— ... Ah, minha bolsa... Foi aqui que eu perdi, então... 

Yakishio limpou o corpo enquanto olhava dentro da bolsa esportiva. 

— Ei! Yakishio, suas roupas! Roupas!  

— Ah, olha, ainda tem um pouco!  

Ainda tem...? Não me diga que ela tá falando da garrafa com mofo?  

Olhei cautelosamente na direção dela e vi que ela estava prestes a colocar a garrafa cheia de mofo na boca.  

— Idiota! Não bebe isso!

— Ei! O que cê tá fazendo, Nukunuku!?  

Ela colocou o corpo dela em cima do meu depois que tirei a garrafa dela. 

— Uwah, eu não vi! Eu não vi nada!  

— Essa já é minha!  

Ugh, ela tá pressionado algo macio em cima de mim! Algo macio!  

— Ei, tem alguém aí dentro?  

De repente, escuto uma voz familiar do lado de fora. É a professora da minha turma, Konami Amanatsu.  

— Professora, tem gente aqui dentro! Abre a porta!  

A porta foi aberta por fora.  

Graças a Deus, estamos salvos. Amanatsu ficou de boca aberta ao ver o que estava acontecendo.  

— O que vocês dois estão fazendo?  

Bom, talvez não tão salvos assim.  

Yakishio, que estava totalmente pelada em cima, me empurrou. Talvez seja um pouco tarde para isso.

— ... Eu vou esperar até vocês terminarem.  

— Não, não fecha! Por favor, ajuda a gente, professora!  

— Mesmo que, na minha época, a gente fizesse essas coisas também, nós pelo menos esperávamos acabar as aulas.

— Professora, eu não quero saber disso, não! Só me ajuda, por favor! 

Yakishio finalmente desmaiou de exaustão e caiu no chão.

Vou dizer isso duas vezes porque é importante: eu não vi nada. 

 

◇ 

 

Tomamos vários tipos de coisas e misturas para ajudar na desidratação.

Claro, tudo isso estava na enfermaria da escola.

— Uau… tem um gosto muito bom. 

— Ah, muito obrigada…  

Elas nos deram essas coisas para tomar, com um desânimo tão grande... Parece até que somos idiotas...

Amanatsu cruzou os braços e nos olhou, ainda sem acreditar.  

— Vocês dois fiquem por aqui e descansem. Ei, garoto, eu vou falar com o professor da sua turma. De qual turma você é?

— Eu sou o Nukumizu, da sua turma, professora.  

Já perdi as esperanças de que ela vá se lembrar de mim.  

— Você é da minha turma? Tanto faz, vou deixar o resto com a Konuki.

Amanatsu saiu da enfermaria depois de dizer isso.  

A enfermeira da escola, Konuki, que estava sentada à nossa frente, acenou para Amanatsu.  

Normalmente, uma jovem enfermeira sexy só existe em histórias fictícias. No entanto, a Konuki cruzou as pernas, como se estivesse mostrando intencionalmente o corpão dela. Ao mesmo tempo, ela sorriu de forma perversa.  

— Como vocês dois estão se sentindo agora?  

— Bem melhor.  

Meu coração estava totalmente acelerado. Ela estava muito provocante.  

— Professora, mais um pouco, por favor.  

Yakishio ainda parecia cambalear um pouco enquanto entregava a garrafa vazia. 

— Aqui, sem pressa.  

— Beleza!  

Yakishio riu como uma criança e começou a beber mais a mistura para ajudar na desidratação.

Depois disso, a expressão da Konuki ficou séria.  

— Insolação é coisa séria. Pode causar danos pro resto da vida, e até mesmo levar à morte.

— A culpa é minha. Desculpa. 

— Tudo bem. Os jovens são assim mesmo... Do nada bate um tesão e dá vontade de fazer sexo em lugares proibidos. Eu entendo.

— ...Hã? Do que cê tá falando?  

— Não precisa mentir pra mim. Eu já tô ligada de tudo.

Konuki colocou o dedo nos meus lábios e sorriu.  

— Não importa o que vocês dois tenham feito lá... Agora é um segredo nosso.

Ela entendeu tudo errado. Tentar me explicar agora seria ainda pior, então vou mudar de assunto.

— Você e a Amanatsu são amigas, enfermeira Konuki?  

— Sim, nós estudamos na mesma turma, nesta mesma escola.  

— Ah, então vocês são nossas veteranas. Como a Amanatsu era naquela época?  

— Dúvido que você consiga adivinhar. Bom, ela era bem desastrada e desajeitada naquela época.

Não é tão difícil de imaginar isso, não.

— Eu tinha que ficar trazendo ela para a enfermaria sempre, pois ela vivia tropeçando e se machucando por aí.

Ela riu enquanto relembrava os tempos de escola.  

Konuki estava usando meia-calça. Ela cruzou as pernas para o outro lado agora, e ficou olhando para o teto.

— Professora, tem alguma coisa no teto?  

— Essas manchas. Ainda são as mesmas daquela época.

— E você ainda lembra disso?  

Acho que foi algo tipo assim: ela precisava descansar na enfermaria quase todos os dias por causa da péssima saúde dela. Então, depois de se formar, ela voltou para cá como enfermeira para ajudar os outros. Que história linda.

— É por causa da posição que eu ficava quando ia fazer sex... Bem, eu sentava olhando para o teto. É apenas isso.

... Esquece o que eu disse.

— Certo, vocês deveriam descansar um pouco agora.

Ela puxou as cortinas que separavam as camas.  

Konuki deixou a Yakishio, que parecia exausta, dormir na cama. Depois disso, ela pegou a garrafa vazia da minha mão.  

— Você também deve descansar. Seu corpo está pior do que você pensa.  

— Obrigado. Vou dormir um pouco.  

Depois que me deitei na cama, pude ver as manchas no teto. Não consigo deixar de imaginar a enfermeira Konuki no uniforme escolar, fazendo...

Eu cobri minha cabeça com o cobertor para afastar esses pensamentos da minha mente.  

...Enfermeira Konuki, eu não preciso que você me diga essas coisas. 

 

◇ 

 

Ainda consigo ouvir o toque do sinal ecoando na minha cabeça.

Levantei, desorientado.

Por quanto tempo eu dormi? Pelo barulho no corredor, deve estar no horário de almoço agora.

Dá pra ver a Yakishio dormindo na cama do lado pelas brechas da cortina. Mesmo que eu esteja preocupado em ela pegar um resfriado dormindo sem a coberta, não posso simplesmente ir lá levantar o cobertor dela.

— Ah, horário de almoço é tão chato…

Depois que eu disse isso em voz alta, percebi. Sim, é realmente muito chato. 

Não tô com fome hoje, então vou dormir até o fim do horário.

— Nukumizu, cê tem visita.

Yanami acenou para mim atrás da enfermeira Konuki.

— Eh? Yanami, o que você tá fazendo aqui?

— Ouvi dizer que você e a Lemon estavam na enfermaria… O que houve?

— Oh, obrigado, estou bem. A Yakishio também parece ter se recuperado, mas ainda está dormindo.

Eu levantei da cama. Por algum motivo, a enfermeira Konuki olhou para mim com olhos esperançosos.

— A Yanami trouxe um almoço para o Nukumizu, hein… Cê tá bem, viu.

— Ei, acho que cê tá entendendo tudo errado.

A enfermeira Konuki me olhou como se tivesse entendido algo.

— Tô sim, viu… Parece que eu estou atrapalhando. Ei, Yanami, vou ter que sair mas já volto. Podem usar a sala como quiserem enquanto eu não estiver.

— Obrigada. Nukumizu, vamos comer.

Yanami disse isso alegre, e me entregou uma marmita.

— A porta da sala tranca por dentro, viu? Se divirtam.

Ela nem tenta mais disfarçar… Sério, como que ela e a Amanatsu viraram professoras?

— Hmm? O que é aquilo?

Tinha um celular com a câmera apontada para a gente, com alguns livros na frente para ninguém perceber.

… O que ela tá querendo gravar? Me levantei e parei a gravação.

— O que foi, Nukumizu?

— Não é nada. Vamos comer.

Nós nos sentamos frente a frente. 

Yanami pegou uma marmita bem grande. É, parece que ela desistiu de tentar enfiar duas porções em uma marmita pequena.

Há algo amarelo dentro.

— Omelete com arroz?

— Sim, dessa vez tô bem confiante. O arroz parece estar uma delícia.

Yanami cortou a omelete cuidadosamente com a colher.

Bem, como vamos comer? Não vai me dizer que a gente tem que revezar? Não tem como, né?

Enquanto eu pensava, Yanami me entregou um prato branco.

— Peguei emprestado do Clube de Cozinha. Aqui, pega.

Ela colocou uma parte da omelete no prato. Ela fez isso de uma forma bem desajeitada.

— Obrigada pela comida… Certo, vamos comer!

— Obrigado pela comida.

Já faz muito tempo desde a última vez que comi omelete com arroz. 

Um gosto nostálgico e familiar correu pela minha boca depois que comi um pedaço. Esse é o verdadeiro gosto de uma omelete com arroz.

— Tá ótimo, né? E aí, quanto vale?

— Hmm, 400 ienes.

— 400 ienes... É, até que foi bom.

Yanami segurou a colher e concordou com a cabeça.

É o preço normal, né? O mercadinho aqui perto também vende nesse preço.

— Cê não quer me magoar, né?

A Yanami é bem irritante.

— Por que?

— A pessoa que fez a comida fica chateada se você der um preço baixo. E também, você não quer ser chamado de “pobretão” nem nada assim, né? E se colocar um preço alto, você quem sai perdendo. Por isso, coloca um preço meio-termo, que agrada os dois lados.

Ela acertou. Yanami olhou para mim com uma cara de deboche, e continuou:

— Então, 400 ienes? É isso mesmo?

Sim, eu não queria te magoar, imbecil.

— Nukumizu. Vou perguntar novamente: Tem certeza dos 400 ienes?

Belê. Vou responder a sua pergunta.

— Já que insiste… 300 ie-

— Não, não! Não foi isso que eu quis dizer!

Ué, não era isso?

— Ah, cê me assustou. Nukumizu, estou falando sobre isso aqui…

Sobre o quê, Yanami?

— Vai valer mais que 400 ienes por causa disso aqui!

Bam. Yanami pegou uma garrafa térmica.

— Entendo. Você também trouxe sopa para aumentar o preço…

No entanto, não garanto que a sopa vá funcionar. Hoje em dia, na maioria dos restaurantes, você recebe uma porção de sopa grátis quando compra um almoço. Até mesmo no café da manhã, tem alguns lugares onde você recebe uma torrada com geléia ao comprar uma xícara de café.

Yanami abriu a tampa da garrafa térmica e despejou o líquido em cima da omelete com arroz.

— E desde quando eu disse que isso é sopa?

— Isso é... molho branco?

Ah, é por isso que ela não tinha colocado molho de tomate na omelete. Embora eu goste mais de molho de tomate, essa garota parece estar se esforçando bastante. Claro, vou ter que aumentar o preço para fingir que entendo disso.

— 450 ie-

Não… Conhecendo a Yanami, eu sei que ela ainda está tramando algo… Ainda não é a hora de falar sobre o preço.

— Eh? Você disse algo?

Não vou cair nessa sua armadilha. Silenciosamente, coloquei a colher com omelete e molho na boca.

— Hmm?! O que é isso?! Que delícia!

— Hmph, hmph … Eu usei meu precioso presente de fim de ano, o "Molho Branco Secreto do Hotel Imperador”. E aí, quanto vale agora?

Isso é do Hotel imperador?!

…Tck, ela me pegou… Embora eu não entendesse muito bem, eu não posso simplesmente dar um preço qualquer, já que era do Hotel Imperador. Se eu não der um preço bom, vou ouvir coisas como “Tu é um pobretão que nem conhece o Hotel Imperador”…

— 500 i-ienes.  

— 500 ienes, hein.

Yanami sorriu.

Ela me deixou sem saída. No entanto, vou reduzir os danos ao mínimo.

— Vocês dois me deixaram curiosa com isso aí…

A Yakishio estava olhando pela cortina.

— Ah, Lemon. Boa tarde. Tá melhor?

— Tô bem. Me recuperei total depois de uma boa soneca.

— Ainda bem, viu, Yakishio. Eu quase fiquei maluco naquela hora-

Acabei me lembrando do estado deplorável que ela estava lá no depósito.

Yakishio olhou para mim, confusa, enquanto se sentava na cadeira.

— Ei, Nukunuku. Eu não consigo me lembrar de nada que aconteceu lá… Pode me contar?

— Eh? Então…! A professora Amanatsu veio nos ajudar! Só isso!

— Tendi… Foi a professora Amanatsu quem trocou minhas roupas, também?

Ela segurou a camisa e olhou, tentando entender. 

Meu cérebro me fez relembrar a pele linda e sedosa da Yakishio.

— Sim! A professora Amanatsu te trocou! Então, eu não vi nada. Num vi nada!

— É claro que você não iria ver.

— Nukumizu, você é um pouquinho nojento.

Aquelas duas olharam para mim com olhares de nojo.

Dá para não dizer mais coisas assim? Eu acho que vou morrer se acontecer de novo.

— Ah, esquece isso. O que é que cês tão comendo?

— Vem cá. Prova pra ver como tá bom.

Yanami entregou a colher para Yakishio, e ela colocou na boca.

— Nossaaaa, que delícia! Que molho é esse? É tão gostoso!

— Viu? Esse molho é do Hotel Imperador. Bem, o Nukumizu parece não entender a classe deste lugar, e deu um preço bem mediano.

Yanami riu e olhou para mim enquanto dava outra colherada para Yakishio. Por que essa maluca tá dando a comida do meu prato para ela?

— Aqui, come mais um pouco.

— Licença... A Lemon tá aqui?

Alguém abriu a porta. Quem apareceu foi o Mitsuki Ayano.

Yakishio fechou a boca lentamente.

— Mitsuki?!

Yakishio sentou totalmente reta na mesma hora. A pele bronzeada dela não consegue esconder seu rosto totalmente vermelho.

— Ouvi dizer que você desmaiou por insolação… Mas parece que já tá melhor, né, haha.

— Não, não, não, tô sentindo que vou desmaiar de novo, viu! Mitsuki, você veio aqui para ficar cuidando de mim?

— Vim te dar isso aqui. Você ainda vai precisar comer algo assim, né?

Ele deu um saco com geleia e suco de maçã.

— É para mim?

— Sim, mas você parece melhor agora, então acho que não vai precisar mais…

— Preciso, sim! Eu tava sem apetite depois que acordei, então isso vai ser ótimo!

— Bom…

Ayano levou a mão ao rosto de Yakishio.

— M-Mitsuki…!?

— Seu rosto diz outra coisa, sabia?

Ayano sorriu e tirou um grão de arroz do rosto de Yakishio.

— O-Obrigada...

— Bem, eu vou embora.

— Mitsuki, você não quer comer aqui também? O omelete que a Yanami fez está ótimo…

Yakishio disse isso quando Ayano estava prestes a sair.

— Hm, omelete..

— Ah, Mitsuki, você tá aqui.

Uma pessoa apareceu na porta. Era a Chihaya Asakumo, ela é colega de classe do Ayano no cursinho.

— O que houve, Chihaya?

— Tô pensando em ir à biblioteca hoje, já que não tem cursinho… Você quer ir comigo?

— Desculpe, tenho que ir para casa mais cedo hoje. Vejo você amanhã.

— Certo. Te mando uma mensagem mais tarde.

Chihaya Asakumo saiu. Ayano sorriu amargamente. 

— Nossa, eu não falei que nos vemos amanhã?

Parecia até que ele estava reclamando, mas acho que era mais por vergonha.

… Pera aí, esses dois tão bem diferentes de como eu lembro deles no fundamental…

— Bom, vou voltar para a sala. Se cuida, Lemon.

— Claro, obrigada!

Yakishio observou Ayano sair. Dava para ver no rosto dela que ela estava apaixonada.

Yanami chegou perto de mim e me cutucou com o cotovelo. Ela sussurrou baixinho.

— … Olha aí, o amor da Lemon tá voando pela sala...

— Parece que a Yakishio gosta do Ayano.

— Entendo. Isso não é um pouco inesperado?

— Eu estava na mesma escola que o Ayano, mas acho que ele e a Yakishio se conhecem desde criança.

— Em outras palavras, eles são amigos de infância, certo?

Amigos de infância… É assim que a Yanami os vê.

Yanami virou de frente para mim.

— Nukumizu, existem dois tipos de garotas: As amigas de infância e as talaricas.

Tendi… É bem ousado falar algo assim, hein. 

Yanami me encarou seriamente. 

— E então, quem é aquela garota?

— Asakumo... Bom, ela estuda com ele no cursinho já faz um tempo.

Yakishio finalmente saiu dos seus sonhos e se inclinou para frente. Ela quase se jogou em cima da gente. Os pratos, que estavam no caminho, voaram para longe.

— Ei, ei, ei! Me responde uma coisa. O que vocês pensam sobre o Mitsuki e a Asakumo?!

— Eu acho que eles são bons amigos…

— Né?! Eles são só amigos, né?!

— … Bom, julgando pelo jeito deles… Acho que eles dois estão saindo, não?

— Ha?

— Ha?

O olhar sombrio daquelas duas me fez recuar.

— Ei, o que foi que cê disse?

— Nukumizu, cê acha mesmo que uma amizade de anos atrás vai perder para uma de só 1 ano?

— Isso, isso! Sabe muito, Yanami.

Eu sei de uma amizade de 10 anos que perdeu pra uma de 2 meses, e isso nem faz muito tempo, não.

— Obrigada, já me sinto bem melhor!

Que bom que você já tá melhor… Fico feli-

— Yakishio, esse aí é meu almoço.

— Ah, é mesmo? Tá tão bom… Vem comer com a gente, Nukunuku.

— Você tá usando minha colher, Yakishio.

— Hmm? Tudo bem, pega aqui.

Yakishio tirou a colher da boca e tentou me entregar.

Uwah, eu rapidamente me afastei. Toda aquela coisa pingando na colher, me deixava um pouco- Não, desculpa por isso. Era só a saliva dela na colher.

Mesmo triste, coloquei a colher de volta na boca dela.

— Que foi?

— Não tô com fome. Pode comer.

Agora que lembrei, eu odeio comer revezando com alguém. Eu esqueci disso, já que raramente eu como junto de alguém.

— Não, você não pode ficar sem comer. Vou deixar um pouquinho pra você.

Obrigado por deixar um pouquinho do meu almoço para mim.

— Ah, sim, Nukumizu. A Komari falou para você ir ao clube hoje depois da aula.

Yanami disse isso enquanto comia. O que foi? O conselho estudantil reclamou com a Komari de novo?

Não consigo evitar de olhar para aquelas duas comendo bem na minha frente.

Mesmo a Yanami e a Yakishio sendo bem bonitas, a personalidade delas não é nada agradável.

Além disso, a Yakishio também tem a mesma energia de Protagonista Perdedora da Yanami.

— Obrigada pela comida.

No momento em que estou pensando nessas coisas muito indelicadas, uma colher quente é enfiada bem na minha boca. O gosto de omelete e molho branco está se espalhando na minha língua.

— ?!

— Eu te falei que ia deixar um pouquinho.

Yakishio disse isso gentilmente e se levantou.

— Tudo bem, eu já vou indo. Digam à professora que eu agradeço por tudo.

Como você consegue colocar uma colher na boca de alguém assim? Ainda mais quando já estava na sua antes... Tá se achando a bonitona- Bom, ela é bem bonita, sim, mas mesmo assim ela não deveria fazer isso.

A Yakishio saiu. E a Yanami… Ué, ela tá olhando para mim enquanto dá um sorriso maldoso.

— Ui, ui. Por que seu rosto tá tão vermelho?

— N-Não tá, não!

— Bom, é um beijo indireto, né. Mas você não pode pensar nessas coisas indecentes na escola.

— Eu já disse que não é isso.

Peguei o prato e terminei de comer o omelete rapidamente.

— Ah, sim, acabei de me lembrar. Vou sair com minhas amigas hoje, então não vou poder ir ao clube.

— Certo.

A propósito, ela tá falando sério sobre entrar no Clube de Literatura? Ela nem sabe o que o clube faz.

— Tem certeza que pode ir sozinho para o clube? Não vai se desmanchar em lágrimas sentindo minha falta?

O que foi isso? Tá brincando comigo, é? Eu imediatamente levantei minha cabeça, e a Yanami parecia genuinamente preocupada comigo.

Ei, ela realmente tá preocupada comigo?

— Eu posso ir sozinho.

— Sério? Que bom. Então, se esforce.

Yanami fez um rosto aliviado. E então, ela terminou de comer o omelete.

… Que tipo de visão a Yanami tem de mim?

 

◇ 

 

Depois da escola, a Tsukinoki está olhando para mim e para a Komari com um olhar sério na sala do clube.

Komari estava nervosa, e ficava mexendo os dedos. Ela escondeu as mãos debaixo da mesa depois de perceber que eu estava olhando.

— Há apenas um motivo pelo qual chamei todos vocês aqui. É sobre o futuro do Clube de Literatura.

Ela levantou o dedo indicador e esticou o braço.

— Tem algo problemático e algo ainda mais problemático. Qual dos dois vocês querem ouvir primeiro?

— Existe algo que não seja problemático?

— Bem, tem algo que é só chato e irritante, se posso dizer assim.

— Desculpa. Por favor, fala só o problemático primeiro.

Ela rapidamente concordou com a cabeça e abaixou a mão.

— Os dias de apenas leitura estão chegando ao fim. Teremos que ir para o mundo da escrita, também.

— Hein? Mesmo que o Clube de Literatura nunca tenha escrito nada antes?

— Não, não. Nós escrevíamos antes. O Clube de Literatura escrevia jornais do clube. Teve até um membro que foi elogiado pelos Ministros da Educação, Cultura,  Esportes, Ciência e Tecnologia. Me pergunto se ainda temos alguém assim por aqui.  É, acho que não.

Já saberíamos há mais tempo caso houvesse alguém assim, certo?

— E por que paramos de escrever o jornal?

— Vocês não entendem nada.

Tck, tck, tck. Tsukinoki balançou o dedo e sorriu com confiança.

— Porque todos nós falamos, mas não agimos.

Komari deu uma risadinha e concordou com a cabeça. Huh, será que isso é uma piada interna do Clube de Literatura?

— O Conselho Estudantil gostar de pegar no nosso pé durante as reuniões de presidentes. Eles questionaram o porque não temos nada para mostrar, mesmo tendo isso listado como atividade ativa do clube.

— Hã?

— A gente conseguiu esconder isso tão bem até aqui... Me pergunto como eles ficaram sabendo.

Eh, não me diga que…? O rosto de uma pessoa assustadora do Conselho Estudantil apareceu na minha mente.

... Não, eu preciso mudar de assunto.

— Então, isso significa que temos que começar a fazer jornais novamente?

— Não, não temos orçamento para papel nem para a impressão. Além disso, não tem como publicar eles novamente.

Tsukinoki ergueu o celular, com um sorriso presunçoso.

— Vamos erguer nossas velas e zarpar rumo ao oceano digital. Em outras palavras, vamos enviar rascunhos para o “Vamos Nos Tornar um Autor”!

Palmas, palmas e mais palmas. Komari aplaudiu por algum motivo.

Tsukinoki levantou a mão para  sinalizar para Komari ficar quieta. Estou confuso com tudo isso de repente.

— Vamos escrever algo. Nem que seja só 1 capítulo ou uma história one-shot. Só isso já deve ser o bastante por agora.

De fato, dá pra evitar os custos de impressão se publicarmos online. É bem mais simples. Será uma ótima atividade para o clube.

— Bem, e sobre a outra coisa problemática...

Claro, tem mais coisas. Não dá pra evitar, então.

— O Clube de Literatura terá um acampamento de treinamento nesse final de semana.

— O quê?

— Eu reservei dois quartos vazios em um albergue, em Tahara, para o final de semana.

— Eh, espera, o final de semana já não é logo depois de amanhã?

— O mundo atual se baseia na velocidade, ouviu? Eu também sou apressada igual a vocês, jovens, ouviram? Vocês conseguem me acompanhar?!

Komari aplaudiu novamente. E então, ela puxou o celular depois de pensar por um momento.

— Honestamente, eu quero ficar em casa nesse final de semana.

Sim, honestamente, eu também não tô com vontade.

— Hoho... Parece que vocês dois são bem ingênuos. Ainda vão querer ficar em casa depois de saberem que a viagem será uma...

Tsukinoki sorriu, confiante. Por algum motivo, seus óculos brilharam de repente.

— ...Sessão enlatada?

O quê? Tenho certeza que ela não tá falando sobre atum em conserva.

Deve ser aquela coisa onde os autores se trancam em um hotel ou algo assim, quando o prazo de entrega já tá perto. Então, será que é isso?

— O-Oh…

Komari estava perplexa. Ela tava fazendo um rosto animado e ao mesmo tempo de surpresa total. Nossa, que tipo de reação é essa?

— Vocês dois ficaram empolgados agora, certo? Certo?

— S-S-Sim, uma sessão enlatada é incrível!

Komari concordou rapidamente com a cabeça. Será que é verdade? Eu não entendo disso.

— Vocês vão poder escrever no papel ou no celular. O Presidente também vai levar um notebook, para podermos publicar no final, então vocês também podem usar ele se preferirem.

— Mas ainda não decidimos o que escrever.

— Vocês podem pensar em algo enquanto estivermos lá. O importante é ter pelo menos o esboço da ideia.

Embora eu tenha algo em mente para escrever, sinceramente, isso tudo é um pouco repentino.

— Você já sabe o que vai escrever, Tsukinoki?

— Claro. É a “Vamos Nos Tornar um Autor”, afinal. Eu vou escrever uma novel isekai.

Hã, isso é meio inesperado. Eu não sabia que ela gostava de coisas assim.

— Primeiro, o Mishima comete suicídio honroso e reencarna em outro mundo. Então, o Dazai vai atrás dele no outro mundo, cometendo suicídio no Aqueduto Tamagawa. Esse é só o comecinho da história.

Não dá pra escrever algo mais de gente normal?

— Ué, mas não tá invertido? Na verdade, o Dazai quem morreu primeiro.

— Eu tô ligada, mas dá pra ignorar esses pequenos detalhes ao escrever uma história. O que importa aqui é o amor entre eles.

— Komari, isso é verdade?

Não consigo evitar perguntar para a Komari.

— De fato, Nukumizu, você não entende nada. Literatura é sobre escrever os sentimentos de uma pessoa.

A Komari nem se deu ao trabalho de olhar para mim enquanto digitava isso no celular.

— De qualquer forma, na minha história, você pode se recuperar de qualquer ferimento em um spa secreto, mesmo depois de ser atingido por um trem da Linha Yamanote. Só que o que acontece lá é +18.  Então, infelizmente, não posso mostrar para vocês.

E isso vai fazer parte da atividade do clube?

— +18... isso não é bom...

É, tem toda razã-

Espera, de quem é essa voz?

— Uwah!

A pessoa que estava escondida na sombra da estante era a secretária do Conselho Estudantil, a Shikiya.

Eu estava tremendo de medo, admito, mas a Tsukinoki olhou para ela calmamente.

— Shikiya, desde quando você tá aqui?

— Não tenho certeza... Eu estava esperando... por pessoas... e então... acabei dormindo.

Shikiya inclinou a cabeça de forma preguiçosa e me encarou.

— Vocês estão... levando as atividades de clube... a sério... Isso é digno de elogios.

Assim como naquele dia, ela está escrevendo algo em seu caderno sem nem olhar para ele. Depois disso, desabou na cadeira ao lado.

— Tsukinoki… se você quer ir para um acampamento de treinamento com o clube, por favor... envie uma solicitação para o Conselho Estudantil.

— Entendido. O Presidente vai entregar antes do final da aula.

— O Conselho Estudantil... está sempre... de olho em todos.

Eu não me importo que alguém me observe, mas sempre? Aliás, a Komari tá escondida atrás da estante enquanto se tremia toda.

— Shikiya, o Conselho Estudantil odeia a gente?

— Não. Estamos de olho... em todos os clube... Orçamento... Redução de gastos... Dissolver o clube... erradicá-los...

Ela tá falando umas coisas assustadoras.

Depois de um tempo, a Shikiya saiu da sala silenciosamente.

O que aconteceu aqui? Ainda não entendo como devo falar com ela.

— Tsukinoki, você e a Shikiya se conhecem há muito tempo?

— Sim, eu e ela tivemos umas coisinhas um tempo atrás. Eu acho que ela devia ser um pouquinho mais de boa, sabe? E ela quase nunca sai de casa e tal.

— E tá tudo bem ela ser assim? E as notas dela, como ficam?

— Apesar do que parece, ela tem notas muito boas. Acho que ela ficou entre as 10 melhores notas nas últimas provas.

Sério? As notas dela são boas, mesmo ela sendo uma gyaru. Sinceramente, eu até que gosto disso tudo nela... Se ela pudesse esconder esse lado assustador, seria a mulher ideal, eu acho.

— Você também tem notas boas, né, Tsukinoki?

Komari chutou minha cadeira logo depois de eu dizer isso.

— N-Nukumizu! F-Falar sobre as notas da Tsukinoki é p-proibido neste clube!

— Eh, Tsukinoki, você não se sai bem nas provas?

Mas ela usa óculos, deveria ser inteligente. É óbvio que eu tive que falar isso apenas mentalmente.

— Por favor, apenas pense como se fossem notas com um pouco de esperança no fundo. Falando nisso, em qual posição você ficou nas provas que fizemos recentemente?

— 37º lugar.

As duas ficaram de boca aberta, chocadas. Eu tenho cara de ser alguém que tira notas ruim, é?

— Como posso dizer isso? Não sinto aquilo vindo de você.

— S-Sim, Sr. Mediano. Você deveria refletir sobre si mesmo.

O quê? O que é esse julgamento precipitado?

— Eu acho que é algo como um garoto de óculos, da elite, e frio, lutando com o nº 1 da turma ou com um antagonista. Algo como ser forçado a aceitar as aulas secretas de uma presidente de classe masoquista para não ser reprovado. Eu não sinto isso vindo de você, Nukumizu.

Eu não preciso desse tipo de coisa, de jeito nenhum.

— S-Se for assim... É melhor fazer i-igual a vice-presidente Tsukinoki e... ficar em 222º.

— Tá, então dá pra dizer que sente aquilo vindo de mim, então. Tu num tem vergonha disso, não?

Tem 6 turmas. Cada turma tem 38 alunos... Ou seja, tem 228 alunos no total.

— Tem certeza que tá tudo bem, Tsukinoki? O vestibular é esse ano.

— Eu vou ficar bem. Já me decidi. Vou escolher minha faculdade com sabedoria.

— São as faculdades que te escolhem, e não o contrário.

Fui enganado pelos óculos e pelo rosto bonito dela. Essa garota é inacreditável.

— T-Tsukinoki, e quanto ao final de semana?

Depois que Komari disse isso, a Tsukinoki pareceu se lembrar de algo e começou a procurar alguma coisa no celular.

— Vejamos... Vamos pegar a Linha Atsumi e... siga para o sul. Depois, a gente desce em algum lugar. Aposto que vai ter algum ônibus passando quando descermos. Sim, com certeza deve ter.

Será que a gente vai ficar bem, mesmo?

— Bom, acho que podemos nos encontrar lá pelas 7 ou 8 da manhã no sábado. Vamos nos encontrar na estação em frente a Universidade de Aichi.

Tsukinoki sorriu.

...Tenho quase certeza de que não ficaremos bem.

 

 

Fiz um desvio para a Estação Toyohashi antes de ir para casa. Eu preciso investigar alguns lançamentos novos na biblioteca Seibunkan. 

Tenho que estar em dia com a tendência para poder iniciar minha novel no “Vamos Nos Tornar um Autor”

Eu dei uma olhada nas web novels que ganharam impressão e alguns livros de fora.

No entanto, a maioria das web novels são em formato grande. Como não são livros normais, decidi olhar o gênero que mais sai nelas.

— Sim, isekai ainda é bem popular…

Isekai é bastante popular nas comédias ou nas peças de teatro. Até que gosto dos autores que misturam várias ideias tentando criar algo decente.

— Então vai ser isso, mesmo.

— Nukumizu, s-sai da frente.

Uma menina baixinha me empurrou de repente.

— Eh, o que cê tá fazendo aqui, Komari?

— I-Investigando. É porque e-eu não entendo de light novels. E-Então estou aqui para a-aprender mais.

Komari olhou para todos os tipos de capas diferentes, com um olhar de interesse.

— P-Por que são t-tão grandes?

— Ah, sim. Essas aí são as web novels que foram impressas. O gênero mais comum é o isekai, que é quando o protagonista morre e vai para outro mundo.

— O-Oh, é tipo r-reencarnação?

— Sim, aí misturam um protagonista super poderoso em outro mundo fazendo coisas do nosso dia a dia. Mesmo não parecendo para a gente, esse tipo de história é muito procurada pelas pessoas cansadas desse mundo cruel e da sociedade atual.

 — S-Sério?

— Sim. Então, nessas histórias, não existe nada que faça os leitores se lembrarem do mundo lá fora.

 — Por isso não gostam de história de vida cotidiana?

— Embora esse tipo de história também seja legal, as sobre poderes super roubados são praticamente um pré-requisito. O público principal são os adultos, então eles anseiam por coisas que são impossíveis de conseguir. Até num isekai eles são assim.

 — A-A vida dos adultos é realmente difícil…

Komari não consegue deixar de suspirar.

— As histórias românticas na vida cotidiana também são legais. Mas se eu tivesse que dizer, é que o romance é apresentado de forma diferente nesses dois gêneros. Ultimamente, surgiram vários novos gêneros e ideias, tipo sobre várias protagonistas que são umas perdedoras no jogo do amor…

 —  Q-Que estranho… E t-tem algum motivo para… os títulos s-serem tão iguais? Qual o gênero principal?

Isekai, protagonista super poderoso e, por fim, um título super longo. Eu já expliquei isso antes, não?

— O título é a parte principal do livro. É com o título que você irá atrair o público. Tipo “Você irá amar nossos pães assadinhos com presunto”. Mas, hoje em dia, até que algumas novels já estão fazendo o título mais resumido…

 — Entendi. E-Então, Nukumizu… já pensou no t-título da sua novel?

— Claro. Eu vou colocar “Eu Reencarnei em Outro Mundo com Poderes Mágicos, Agora Terei uma Vida Tranquila e Calma”.. Mas antes, vou definir uma pequena meta para-

 — E-Essa novel já existe.

— Hein?

Ah, é verdade, ela está bem ali na estante. E já tá no volume 5.

Alguém já pensou mesmo nisso? Meu protagonista já estava até com a sexta esposa.

— H-Haha…

Komari não consegue mais esconder a risada.

— D-Depois de toda essa conversa, a-alguém já escreveu antes.

Tck, não consigo responder a isso.

— Bem, e você, Komari? Já pensou em alguma coisa?

— B-Bom, eu não tô interessada e-em isekai. Vem comigo.

Ela me levou para a área de livros normais. Esses são os livros que ganharam uma adaptação para TV ou cinema. Ela foi entre os livros de romance normal e os de romance erótico.

— N-Na verdade, eu sempre escrevi coisas assim…

— É mesmo?

Então ela já está bem mais pronta que eu.

— B-Bem, você já pensou no título?

Fingi que não havia nada de errado e perguntei a ela. Lembrando, não posso falar mal, mesmo se ela estiver copiando alguém.

Komari puxou o telefone envergonhada.

— As Crônicas Calorosas de um Café Youkai.

Pela aparência do título, acho que é um conto ou então um BL. Infelizmente, não tenho talento nenhum para julgar isso. Dei uma olhada na estante, naturalmente, para descobrir que estava em alta nesse gênero.

— Ei, tem um aqui com com exatamente o mesmo nome.

A capa do livro me chamou atenção por algum motivo que não vale a pena ser comentado.

— N-Não, olhe de novo. Está escrito “relatos”. O meu é “crônicas”.

 — E isso já conta como algo diferente? 

— Claro.

Komari estufou o peito como se estivesse orgulhosa de si mesmo.

— Então, quer dizer que não precisamos nos preocupar com o títulos ser parecido com algum que já existe?

— E-Eu não estou copiando 100% igual a você, meu caro Nukumizu.

— E você não tá, querida Komari?

— E-Ei! Por que tá me chamando assim?

Komari olhou para mim. Ei, espera aí.

— Você quem me chamou de forma esquisita antes.

— Ah, uh, foi.

Komari concordou, com relutância. Ela ainda reclamou um pouco, enquanto segurava a parte de baixo do uniforme.

— Bem, vou comprar algumas novels, depois te vejo.

— E-Espere! A Y-Yanami vai?

— Eh? Não, eu tô sozinho.

— N-Não foi isso que eu quis dizer! A-A Yanami vai entrar no Clube de Literatura o-ou não?

 — Não sei dizer… Por que? Quer que ela entre?

Provavelmente. Komari deve estar querendo uma garota da idade dela por lá.

— B-Bom... É que ela é bem b-bonita…

— Deve ser. E daí?

— O-O Clube de Literatura não é para garotas bonitas

Parada. Agora, se desculpe com todas as garotas de todos os clubes de literatura do Japão. Vai, agora!

— Ué, isso não tá errado? Olha a vice-presidente Tsukinoki. Ela não é bonita?

Opa, calma aê. Só tem duas garotas no clube, então não posso elogiar apenas uma.

— E-Ela é diferente. E eu s-sou bem menos bonita que ela…

— Isso não é verdade.

Eu já esperava ter que falar esse tipo de coisa. Então, vamos lá.

Olhei discretamente para o rosto de Komari. Seus lábios ligeiramente trêmulos eram simples. Um de seus olhos estava coberto pelo cabelo. Os cílios dos olhos dela são grandes.

— Seu rosto também é bonito, Komari. Não seja tão dura consigo mesma.

— O-O quê!?

Komari jogou sua mochila no chão e imediatamente se distanciou de mim. Ela gritou com o rosto vermelho igual um tomate.

— Assédio...

— O quê!? Não! Eu falei isso na boa! Não foi nada estranho!

Eu só tentei elogiar, e agora ela tá me chamando de assediador…

Komari tremia enquanto me encarava. Suspirei. Tudo bem, tanto faz. Não posso fazer nada se você me odeia.

— Tá, eu não deveria julgar apenas o rosto de uma garota para elogiar. Desculpa.

— Ah, o-oh, que bom que v-você entendeu.

Sabe, se você me odeia tanto, por que me obrigou a ir pro clube?

— Vou dizer para a Yanami entrar no clube. Aí eu não preciso aparecer tanto por lá.

 — E-Eh? Ei… p-por favor, espere.

Tá ficando chato já… Vou só pegar alguma novel aleatória e ir pra casa.

Quando eu me virei, a Komari bateu na minha cabeça por trás.

— Ai! O que cê tá fazendo?!

— N-Não! Não foi isso q-que eu quis dizer!

Komari se aproximou de mim, furiosa.

Cara, eu não faço a mínima ideia do porquê ela tá com raiva de mim… Isso aí sim que seria assédio para mim…

— A Vice-Presidente vai ficar c-com raiva de mim! E-Então, apareça lá amanhã!

 — O que você quer de mim? Tudo bem, eu vou lá amanhã. Relaxa.

Dá pra se acalmar? 

Komari digitou algo no celular e me mostrou. 

— Não é só amanhã! É sempre!

— …Sempre?

 — Sim!

Ela fugiu depois de dizer isso.

O que aconteceu…? Não entendi. Ela me cuspiu todo tentando falar.

Eu me limpei.

 

 

Já está tarde.

Mesmo que o verão já esteja acabando, o pôr do sol ainda estava vermelho. As ruas estavam todas avermelhadas graças a isso.

O céu vai ficar azul beeem escuro daqui a pouco, então todas essas cores sumirão na escuridão.

Não sei o que está acontecendo comigo esses dias. Me sinto estranho.

De repente, vi uma pessoa familiar em um uniforme escolar, bem na minha frente. 

É a minha irmãzinha, a Kaju. O pôr do sol vermelho entre os prédios está brilhando ao lado dela. Ela está segurando uma sacola de compras que parece muito pesada. Por algum motivo, isso me acalmou. Fui atrás dela e peguei a sacola.

— Que canseira! Maninho, você está voltando agora da escola?

— Sim. Você também tá chegando tarde, Kaju.

— O papai e a mamãe vão atrasar hoje, então fiquei mais um pouco com meus amigos.

Olhei dentro da sacola. Tinha udon cru, cebolas, ovos de codorna e inhames. Acho que ela vai fazer o prato clássico da nossa casa: udon de curry Toyohashi.

De repente, notei que Kaju estava olhando para mim.

— O que foi?

— Maninho, não vai ter ninguém em casa no fim de semana, tem certeza que você vai ficar bem?

— Claro, por que acha isso?

— Porque você vai ficar solitário sem mim. Não vai acabar se afogando nas próprias lágrimas?

Tá, antes de tudo, por que todos pensam que eu sou um solitário triste?

— Eu vou ficar bem. E também, vou viajar com meu clube da escola no fim de semana.

— Eh!? Então quer dizer que você finalmente fez amigos, Maninho?!

— Bem, não, nós não somos-

Kaju me ignorou e correu, alegre. Então, ela entrou em uma loja.

— Senhor, pode me ver alguns bons feijões vermelhos?! Quero fazer arroz de feijão vermelho!

— Oh, Kajuzinha. Aconteceu algo especial?

O lojista limpou a mão no avental enquanto saía. Huh, acho que a Kaju conhece muita gente.

— O Maninho finalmente fez amigos! Quero fazer arroz de feijão vermelho para comemorar.

— Fico feliz em ouvir isso. E você deve ser o irmão da Kajuzinha, certo? O pessoal do distrito comercial estava preocupado com você.

É o que?! Desde quando isso?! Nunca mais eu passo por aqui...

— Eu ia até te convidar para participar de algumas reuniões com a gente, assim você poderia fazer amigos por aqui. Parece que não vamos mais precisar disso, então.

Para com isso, sério.

— Parabéns, Kajuzinha. Aqui tem uns biscoitos de arroz como cortesia.

 — Obrigada, senhor! E aí, Maninho, como é o seu novo amigo? Ele deve ser tão legal quanto você, né!

 Kajyu se aproximou de mim com olhos brilhantes.

— Eh, não, bem… como devo dizer?

— Não vai me dizer que é uma menina?! O que eu faço agora? Tenho que preparar a entrevista!

  — Ei… nós não somos bem “amigos”, sabe…

— Ah.

A loja ficou em silêncio. As luzes da loja até piscaram algumas vezes.

— … Senhor, vou querer um pouco de soja no lugar do feijão. Vou fazer ensopado de algas.

— Certo… Vou te dar um pouco de trigo como cortesia.

Foi de uma comemoração para um funeral?!

— B-Bem, eu vou me esforçar por lá.

— Ok… 

Começamos a caminhar para casa.

— A propósito, Maninho, vai viajar com o seu clube? Deve ser a primeira vez que faz algo assim, não é?

— Já fui arrastado pra algo assim pelo Clube de Escotimo no fundamental.

Aquele verão me traumatizou para sempre.

— Clubes e viagens. Está progredindo aos poucos, Maninho.

— Calma, isso conta? Eu sinto como se só estivesse seguindo a maré.

— Mas isso também não é bom? Você está indo por uma boa maré.

Kaju sorriu gentilmente enquanto acariciava minha cabeça.

— Você está se esforçando bastante. Bom garoto.

Então, Kaju pegou a sacola de compras da minha mão.

— O quê? Não vai do meu lado?

— Vou atrás. Já te mimei demais por hoje.

O sorriso de Kaju brilhava sob o pôr do sol.

Dei um sorriso para a Kaju. Depois disso, diminuí o ritmo para esperar ela.

Aliás, não sei se devo me sentir envergonhado ou triste por mim mesmo quando minha irmãzinha me mima.

... De qualquer forma, como o irmão mais velho dela, acho que vou me esforçar um pouco mais.

 

Dívida restante hoje: 2.367 ienes 

 

 

Relatório do Clube de Literatura:

Te Esperar ou ir Dormir Sozinho? Qual o Mais Doloroso?” uma obra de Koto Tsukinoki.

[O que vem a seguir é uma história BL, escrita pela Tsukinoki, então, caso não queira ler, pule para a próxima parte.]

 

Os sons de peças do tabuleiro de xadrez ecoam pelo corredor.

Um homem de uniforme militar abriu a porta. Um outro homem, vestindo roupas de tecido com estampas, estava sentado, mexendo no tabuleiro.

Ele passava a mão pelo bigode longo e grosso dele, calmamente, enquanto continuava sua partida de xadrez.

O homem de uniforme militar gritou:

— Por que você está aqui?!

Com o grito repentino de alguém inesperado, o homem de bigode olhou, assustado, mas logo se acalmou novamente. Após olhar o uniforme militar, seus olhos retornaram ao tabuleiro.

— É só você, Mishima.

Ele mexia as peças de xadrez de forma entendiada.

— Meus anseios finalmente se realizaram. Estou bem aqui. Isso é ótimo. Porém, não sei como vou vencer esta partida.

Ele moveu outra peça novamente, como se estivesse dizendo que o único motivo de estar ali era pelo xadrez.

— Vocês, elfos, têm uma habilidade incrível. Conseguem criar tudo, sejam peças de roupas super detalhadas, ou até mesmo peças de xadrez.

Mishima olhou para ele.

— Além disso, os elfos são muito bons em “cuidar” das pessoas.

Ele riu, de forma desajeitada, antes de mover mais uma peça.

Mishima sentou, na frente dele.

— Dazai, querido, você sabe onde estamos?

— Embora eu quisesse dizer que estamos em um outro mundo, bem longe de casa, aqui também é parecido com Tsugaru. Tem até o Mestre da Floresta para mandar na gente.

— Você já se encontrou com ele?

— Sim, ele me enviou uma garota loira para ser minha serva.

Acho que os humanos nunca mudam, onde quer que estejam.

As peças em sua mão estavam batendo umas nas outras enquanto ele sorria.

— Você está sempre dando desculpas bestas como essa. Você não pode viver aqui para sempre. Por favor, visite o Mestre da Floresta e implore para que ele o liberte daqui. 

— Você só fala sobre o Mestre… Não veio aqui para me ver, então?

Ele chegou perto de Mishima, com seu bigode longo e bagunçado. Eles ficaram em silêncio por um tempo.

— Eu ouvi sobre isso. Você cometeu suicídio para vir me ver, não foi?

Mishima não respondeu nada. Em vez disso, ele moveu o rei um passo à frente no tabuleiro.

— ... Minha mente não mudou, mesmo. Eu ainda não consigo me apaixonar por você, Dazai.

— Foi exatamente isso que você disse aquele dia. Mesmo assim, ainda veio aqui me ver? Isso não significa que você já está apaixonado por mim? 

Dazai empurrou o tabuleiro de xadrez para longe. Ele segurou as mãos de Mishima com força.

— Dazai, querido, eu-

— Viu? Você me ama, não é?

Eles dois caíram no chão. Dazai agora estava por cima do corpo forte de Mishima no tatame do chão. Ambos estavam olhando um para o outro. De repente, por estar em cima, Dazai sente algo ficando du-

 

O conteúdo a seguir requer a permissão do Presidente para ser apresentado.

 

 

O segundo dia é sexta-feira. Eu já sinto uma agitação na sala de aula desde o começo da manhã.

Os colegas estão cumprimentando seus amigos. Ao mesmo tempo, devem estar falando sobre os planos para o fim de semana, certo? Mesmo com os celulares por toda parte, as conversas cara a cara são a base de todas as relações interpessoais.

É assim que as pessoas saudáveis deveriam ser. No entanto, essa liberdade não funciona muito bem às vezes.

— ...Liberdade, né?

Cruzei os dedos sobre a mesa e murmurei para mim mesmo.

As pessoas sempre dizem que a liberdade vem junto com a solidão. Um cara como eu não precisa ajustar sua agenda de fim de semana.

...Pelo menos, era o que deveria ser.

Ontem, eu assumi o lugar da Tsukinoki, já que ela não é muito confiável, e chequei os trens e ônibus para a viagem de amanhã.

De quebra, também pesquisei os pontos turísticos mais visitados, só por acaso.

Com certeza não é porque estou ansioso pela viagem.

— Bom dia, Nukunuku!

— Ah, bom... dia.

Por que a Yakishio está me cumprimentando? Ela se sentou na minha frente.

— Yakishio? Eh, por quê?

— O que quer dizer com “por quê”? É de manhã, né? Vim aqui falar com você, ué.

Isso é verdade, mas nós somos próximos o suficiente para fazer algo assim?

Yakishio ignorou minha confusão. Ela inclinou a cabeça e disse: 

— Ei, eu lembrei do que aconteceu no depósito ontem... Depois da aula, eu e o-

— O quê?! V-Você lembrou daquilo?!

Ela se lembrou de tudo que ela fez lá, então? Como ela tá tão calma?

— Eu não vi nada! Eu não vi nada!

Bom, ver eu não vi, mas senti algo em cima de mim. Era macio... Não tanto, mas dava vontade de deitar em cima.

Não consegui evitar de olhar agora...

— Hmm? Do que cê tá falando? Tô dizendo sobre eu e o Ayano irmos no clube hoje, pô!

— Eh? Clube?

— Você não me disse que eu poderia ir com ele? Nukunuku, será que você ainda tá sofrendo pela insolação?

— Ah, tá. Sim, eu lembro de tudo, agora. Tudo bem, vocês podem ir.

— Então, até depois da aula.

Yakishio acenou e rapidamente voltou para o lugar dela.

Suspirei e coloquei a mão no peito, aliviado.

... Calma aí, o que é isso? Todo mundo na sala tá me olhando. E a maioria são garotos.

Por que todos os caras estão encarando um figurante como eu? E esses olhares definitivamente parecem ameaçadores. Eles são hostis... e cheios de inveja...

 

 

— ...e foi isso que aconteceu. Mas por quê?

Agora estou na escada de emergência. É hora do almoço. Yanami tirou uma cesta enquanto respondia calmamente à minha pergunta.

— É porque a Lemon é bem popular. Aposto que é porque você tava conversando com ela como se fossem próximos, né?

Entendi. Ela é muito popular.

— ...Quem é popular?

— Hã? Eu já te disse, é a Lemon. Você tá bem?

Sério? Ela é popular? Mesmo que ela seja realmente alegre e fofa, a personalidade dela não me permite acreditar nisso, sabe?

— A Lemon é alegre e fofa. Embora seja um pouco difícil de lidar às vezes, o fato de ela ter passado no vestibular é uma das Sete Maravilhas feitas pelo Colégio Tsuwabuki.

Yanami balançou a cabeça.

— Alegre e fofa, hein.

Entendi. Bom, não tenho mais o que dizer, então. Ela é alegre e fofal, afinal.

Olhei para o almoço de hoje. A cesta tem duas porções de almoço. Além de onigiris, está cheia de salsichas, karaage, brócolis e outras coisas. Tudo fácil de comer com palitinhos.

Ah, entendi. É mais prático comer assim separado. A propósito...

— ...Por que você já não fez isso desde o começo?

— Você tem razão. Eu deveria ter feito.

Yanami murmurou para si mesma.

— Sim.

Peguei um onigiri. Imagens da marmita feita de papel, montinhos de arroz desmoronando, outra pessoa comendo meu omelete... tudo isso passou pela minha mente num piscar de olhos, parecia que eu estava prestes a morrer. Ah, essa última parte não tem nada a ver com o almoço.

— Esquece isso. Nukumizu, essa viagem que você mencionou parece meio interessante.

— Vai saber. É pra ser uma "sessão enlatada", para autores. Não sei se vai ser tão interessante.

Comi o onigiri calmamente. O som nítido da mordida me fez olhar para baixo. O recheio do onigiri era de pepinos em conserva, são bem famosos de Mikawa.

— É só uma noite, né? As meninas são só a Tsukinoki e a Komari, certo?

— Sim, de menino só tem eu e o Shintaro.

Yanami começou a procurar algo no celular.

— Tem uma praia ali perto. Será que o meu maiô do ano passado ainda serve?

— Espera, você precisa trocar de maiô todo ano?

Antes disso, você vai também, é?

— Não é que eu precise trocar todo ano, mas você não gostaria de me ver com um maiô novo?

— Não é questão de querer ver ou não. Já não compramos as roupas de banho novas da escola esse ano?

— Eh? Eu não comprei. Do que cê tá falando, Nukumizu?

O rosto de Yanami se contraiu, e ela deu um passo para trás.

— Você tá sendo meio nojento, quer dizer, muito nojento.

Ela acabou de me chamar de nojento duas vezes. Não uma, mas duas.

— Não comprou? Todos os calouros compraram as mesmas roupas de banho em grupo, lembra?

— ...Ah, é disso que tu tá falando?

O rosto dela mudou na hora, e ela balançou a cabeça, arrependida.

— É um vergonhoso até demais usar maiô da escola em uma praia. É ainda pior que só usar roupa íntima.

— Sério? É tão ruim assim?

Então todo mundo usa esse tipo de roupa "vergonhosa" nas aulas de natação da escola?

— Claro que sim. Além disso, nunca mais fala esse tipo de coisa, tá, Nukumizu? É muito nojento e vão te olhar estranho.

Esse foi o terceiro “nojento”. Melhor mudar de assunto antes que ela me finalize por completo.

— Vai ser no fim de semana, tem certeza que sua agenda super lotada te permite ir?

— Bem... Eu esbarrei com a tia quando estava voltando para casa ontem.

Yanami de repente abaixou a cabeça. O tom de voz dela também ficou um pouco sombrio.

— "Tia"?

— A mãe do Souske. Nossas famílias são muito próximas, já que somos amigos de infância.

Ah, então ela já vai falar sobre isso de novo.

— Então, a tia me perguntou o motivo de eu não estar mais vindo com o Sosuke para a escola de manhã. Ela perguntou se aconteceu algo entre a gente. Haha, engraçado, né? Ele já tem uma namorada, então por que eu iria com ele para a escola?

— Ah, bem, você tem razão.

— Então, a tia perguntou se nós dois tínhamos brigado. A gente costumava brigar por qualquer coisa, afinal...

Yanami olhou para as nuvens no céu.

— ... Se fosse só uma briga, já teríamos feito as pazes há muito tempo.

Por favor, não diga essas coisas, eu não sei o que falar depois.

— E aí, minha família e a dela pensaram que eu e o Sosuke estamos brigados. Agora, eles estão planejando um churrasco neste fim de semana... e era pra ser uma surpresa, mas eu descobri...

Yanami de repente se inclinou para a frente.

— ... Então, por favor, me leva para a praia!

Essa fala parece ter saído direto de um drama de TV antigo.

— Você não pode só dizer que vai sair com alguma amiga? É fácil...

— Você tá subestimando o quanto o meu pai é fanático por churrasco! Ele vai continuar lá, assando carne, até eu chegar!

— Então vai dormir na casa de alguma amiga...

— Se eu for, elas vão tocar no assunto de romance alguma hora, e é aí que eu me morreria. Diferente de você, eu não quero perder minhas amigas.

Que garota canalha. E aliás, eu não perco amigos porque nem tenho nenhum para começo de conversa.

Enquanto eu tentava pensar em um jeito de convencer ela a não ir, Yanami me encarou sério.

— Ei, você tá pensando em alguma forma de me impedir de ir?

— Não, claro que não. Olha, por que você não explica toda essa situação pras suas amigas e pede ajuda a elas?

Depois de eu dizer isso, Yanami pareceu bem irritada.

— ...Bom, eu não quero que elas se envolvam em algo relacionado ao Sosuke.

— Espera, então você não contou pra ninguém sobre isso?

— Eu não fiz questão de contar. Minhas amigas iriam tentar conversar com o Sosuke caso eu falasse algo, então só fiz de conta que nada aconteceu.

Yanami apertou os olhos, como se estivesse incomodada com a luz.

— Apesar da minha boa aparência, eu me importo muito com os sentimentos dos outros, sabia?

— Se você se importasse com os meus também, nem que fosse só um pouco, já tava bom, viu.

Yanami murmurou baixinho com o que eu disse.

— Afinal... Nukumizu, você é a única pessoa com quem eu posso falar essas coisas.

— Ah... tá, tudo bem.

Acho que ela já disse algo assim antes.

Eu vou deixar passar dessa vez.

Peguei meu celular em sinal de derrota.

— Vou perguntar pra Tsukinoki, tá? Afinal, Yanami, você ainda não é membro do clube.

— Eu vou entrar! Vou entrar agora mesmo! Pode me passar o contato da Tsukinoki?

Eu mesma vou falar com ela.

— Você pode ver o ID dela no Line, mas, mesmo se eu quisesse te passar, eu não sei qual é o seu ID, Yanami.

Yanami me olhou, confusa.

— É só clicar no meu perfil no grupo da turma.

Ah, o grupo da turma... O grupo...

— Espera, tem um grupo da turma?

— ...Hã?

Yanami parece ter se lembrado de algo depois de ficar em silêncio por um momento. Ela olhou pro celular, visivelmente envergonhada.

— Ah, desculpa. Eu não sei o que eu deveria dizer.

Yanami desviou os olhos.

— Mas... É normal vindo de você, né, Nukumizu... ? É o seu jeitinho...

Será que ela não consegue me consolar direito? E qual é o meu "jeitinho"? Ser excluído?

— Tá de boa. Eu nem ligo muito, já que só comecei a usar o Line recentemente, mesmo.

— E-Entendi. Bem, vamos trocar IDs. Sabe como me adicionar?

— Deixa comigo. É só balançar os celulares, né?

Quando eu adicionei a Tsukinoki, tive que entregar meu celular para ela, pois eu não sabia o que fazer. Depois de ver na internet, descobri que é só balançar os celulares.

— Como assim? Isso aí nem existe, né?

— Hã?

Não? Não tem mais a opção de balançar os celulares? Onde foi parar?

— Aqui, me passa o seu QR code.

Como isso... funciona? Yanami me entregou o celular enquanto eu ainda estava confuso.

— Pronto, te adicionei. Aceita aí.

— Ah, entendi. Então é assim que se adiciona as pessoas.

— Sim, e agora você deve me adicionar no grupo do clube, Nukumizu.

Yanami balançou a cabeça, feliz, enquanto eu mexia no celular.

— A propósito, desde quando você e a Lemon ficaram tão próximos?

Yanami contava os karaages com um palito enquanto perguntava.

— Nós somos próximos?

— Ela te deu até um apelido, não foi?

"Nukunuku". Acho que ela falou isso enquanto estava meio inconsciente no depósito. O nome pegou, eu acho. Além disso, se eu for falar o quão próximo eu e a Yakishio ficamos naquela hora...

— Ah, é por causa do Mitsuki Ayano, da turma D. Aquele que foi na enfermaria.

— Ah, o cara por quem a Lemon tá apaixonada. Ele é bonito.

— Sim. Ele disse que ria no Clube de Literatura para pegar alguns livros emprestados, e então ela se meteu na situação.

Hmph. Yanami fez um 'hmph' antes de colocar o karaage e o brócolis na boca.

— Que tal eu te chamar de Nukunuku também?

Eh, isso foi meio repentino.

— Vai custar 50 ienes por dia.

Evitei de olhar os olhos brilhantes de Yanami.

— Não, tô de boa, então.

...Kaju, agora sei como recusar os vendedores chatos.

 

 

Fim da quinta aula. Esquivei das pessoas enquanto atravessava o corredor.

Tenho que falar sobre a viagem do clube após a última aula. Acho que o Ayano e a Yakishio também vão ao clube. Nossa, minha vida ficou tão movimentada do nada... Que saudades dos meus dias de paz.

Saí do prédio da escola. As torneiras ao lado do pátio estão sempre cheias de gente depois das aulas de educação física.

Eu diria isso em circunstâncias normais. Então abri a torneira calmamente.

A piscina está aberta hoje, então este lugar se transforma em um paraíso vazio. Não é tão longe nem tão perto do salas de aula. A parte mais importante é que é ao ar livre, o que me dá uma sensação de liberdade. Então é diferente das outras torneiras.

Beber água com o cheiro da terra em volta também tem suas particularidades

Tomei um gole da água morna, limpei os lábios e levantei a cabeça.

… Um rosto familiar apareceu bem na minha frente. A pessoa também está limpando a boca.

— N-Nukumizu, por que v-você tá aqui?

Chika Komari estava bebendo a água da torneira na frente da minha. Além disso, dava para ver uma expressão de raiva no rosto dela.

— Só tô com sede.

— V-Você veio até aqui porquê tá com sede?

Komari estava me encarando. O que há de errado com ela? Ela me irrita um pouco.

— E não é a mesma coisa pra você? Você veio até aqui porque não quer ficar na sala, certo?

— N-Não é da sua conta. Eu vim aqui p-para investigar a água dessa torneira.

Oh, uma investigação, hein? Agora fiquei animado. Com quem você acha que tá falando, hein?

— Komari, eu também sei muito sobre a água da nossa escola. Se você diz estar investigando, então é porquê você também sabe sobre as outras torneiras, né?

— B-Bem... M-Me diz, onde você bebeu água de manhã?

Komari olhou para mim de um jeito sério. Que se inicie a disputa da água de torneira.

— No lado leste do quarto andar, próximo às salas do terceiro ano. Quase sempre vou lá antes de começar a segunda aula.

— P-Por quê?

— Porque, nesse hórario, a água dessa torneira é a água que sobrou do outro dia. Então, ela tem menos cheiro de cloro, e está mais gelada. É bom, já que estamos no verão.

A água é morna de manhã, menos a do quarto andar.

Komari suspirou.

— E sim, eu sei que a água fica melhor caso esteja mais perto do tanque. Porém, quanto mais perto, mais gosto de cloro ela tem. A do quarto andar tem um equilíbrio perfeito entre cloro e água.

Depois de dizer tudo isso, arrumei a franja com a mão. Perfeição.

No entanto, Komari riu alto enquanto olhava para mim, que acreditava ter vencido.

— H-Ho, q-que leigo.

— Hein? Como assim?

— A-A água do quarto andar deve ser saboreada l-logo antes do almoço.

No almoço? Você não deve beber a água de andares altos tão tarde assim.

— Por quê? Nesse horário a água já tá cheia de cloro. E ela fica morna.

— É-É por isso que eu disse que você é leigo. Á-Água morna é a que menos pesa no s-seu estômago.

Komari fez um rosto de vitória. Mantive a calma, mesmo a batalha tendo se intensificado.

— O quê?! Mas tem tanto cloro na água que-

— E-E por quê você só não se acostuma c-com o cheiro de cloro?

— Me acostumar?

Você realmente fica cheirando cloro na hora do almoço? … Espera, não me diga que…

— O-O cheiro do banheiro disfarça o cheiro do cloro…

— ?!

Ah, eu não deveria ter pergutado…

— Almoce na sala do clube!

— N-Não pode almoçar no clube. A-Algumas pessoas usam os c-clubes para faltar aula.

Esse tipo de coisa acontecendo por causa de pessoas preguiçosas…

— Komari, você quer almoçar comigo?

— Eh?!

Por quê ela reagiu assim? Nem me deixou explicar.

— Eu não tô falando nada estranho. Ninguém almoça nas escadas de emergência do prédio antigo. Só não senta do meu lado, tá?

— E-Eu vou pensar...

Komari saiu rapidamente sem nem olhar para mim. Mesmo sendo desse jeito, eu até que já me acostumei com ela. Bom, pelo menos ela já parou de usar o telefone para falar comigo.

… Ah, merda. A próxima aula vai começar.

Segui Komari e corri para dentro do prédio da escola.

 

 

Depois da aula, fui ao Clube de Literatura.

Mitsuki Ayano visitou o clube junto da Yakishio. Ele estava procurando o volume final de uma série do Kobo Abe.

— Uau, tudo isso aqui é muito incrível… Qual deles será que eu pego primeiro?

A vice-presidente Tsukinoki olhou para ele cruzando os braços em satisfação. A Yanami entrou para o clube. A Yakishio e o Ayano estão visitando... Então é óbvio que ela vai estar de muito bom humor.

— Não precisa se preocupar. Pode pegar quantos quiser.

— Você já leu todos esses, vice-presidente Tsukinoki?

Ayano lia a lombada dos livros na estante enquanto passava a mão.

— Eu só li “A Mulher de Areia” e “The Box Man”. Não gostei muito do “S. Karma”, então não terminei de ler.

— Esse aí não era um dos mais importantes?

Ayano riu da piada da Tsukinoki, enquanto pegava um livro.

— Bem, vou pegar o volume 12 por agora.

Yakishio estava atrás de mim. Ela olhou para o livro do Ayano, sem entender bem.

— Ayano, você não deveria começar do volume 1?

Isso foi o que ela disse.

— Eh? Ah, entendi. Relaxa, não tem problema. As histórias não são conectadas. Dá pra começar a ler de qualquer volume.

— Tendi. É diferente de One Piece.

— Sim, é diferente. Esse volume aqui tem a história que eu queria ler.

Esse cara é muito bom lidando com a Yakishio. Mesmo com a Chihaya entre eles, esses dois combinavam perfeitamente.

Virei para olhar a Yanami. Ela estava usando uma coroa de papel escrito “Novo Membro”. Ela está cantarolando algumas músicas enquanto comia pocky. Parece que a recepção estava indo bem.

— A propósito, Ayano. Você tem interesse em entrar no Clube de Literatura?

A vice-presidente aproveitou a oportunidade e começou a persuadir o Ayano.

— Até tenho, mas não posso por causa do cursinho. Vou atrapalhar vocês caso eu não participe tanto das atividades do clube.

— Não se preocupe. Não tem problema. Você pode vir e pegar livros quando quiser. Deixa as atividades do clube com o Nukumizu. Você poderia ler todos os livros desta estante. Além disso-

Os óculos da Tsukinoki brilharam de forma assustadora.

— É obrigatório que um bibliotecário esteja no Clube de Literatura todos os anos. Então, você pode aproveitar quando chegar livros novos na biblioteca.

— É mesmo?

— Sim.

Embora eu não tenha certeza do que o Ayano está pensando, acho que ele ficou interessado.

Ayano pegou a folha de registro e começou a ler.

— E por que a sua namorada não aproveita e entra também?

Ela quer todo mundo? A Tsukinoki mirou na Yakishio, agora.

— Eh?! E-Eu? A “namorada” sou eu? Ah, caramba…

Yakishio pegou a folha de registro enquanto sorria alegremente.

— Mas eu já tô no Clube de Atletismo... Acho que não vai dar certo.

— Claro que dá. Aliás, todos os membros aqui também fazem parte de outros clubes.

Sério? De qual outro clube eu sou e não tô sabendo?

— E você pode usar o Clube de Literatura como desculpa quando não quiser ir para o Clube de Atletismo. Tendeu? É só dizer que o Presidente pediu para você fazer algo.

Se liga no diabo sussurrando no teu ouvido. O rosto da Tsukinoki era completamente maligno.

— Você tem que usar tudo que estiver ao seu favor para ter histórias sobre a escola, né? E o seu namorado vai ficar super feliz em poder ficar mais tempo com a namorada dele.

— Eh? Mitsuki, você vai ficar feliz?

Yakishio se inclinou pra frente com olhos brilhantes. Não, pera aí, ela não deveria, pelo menos, negar que é a namorada dele?

— Haha, você não deveria falar assim com a Lemon. Nós não estamos namorando.

Ayano colocou, cuidadosamente, o livro na mochila.

— Ah, é mesmo?

— Ela sempre foi muito popular. A gente não combina, haha.

Ayano pegou a mochila depois de dizer isso.

— Bem, vou pegar esse emprestado. A gente se vê de novo quando-

— Eu não tenho namorado! Ser popular não significa que eu fico com qualquer um!

Yakishio agarrou a camisa de Ayano e se aproximou dele.

Ayano piscou, surpreso, enquanto olhava para as bochechas bronzeadas da Yakishio.

— Entendi… Desculpa, eu disse algo estranho?

— Não é bem assim. Bem, eu… sinto muito por isso.

Tsukinoki notou a atmosfera incomum entre aqueles dois. Ela olhou, preocupada.

— Espera, vocês dois não estão namorando? Vocês combinam tanto…

— Eh, não, não, não, não estamos namorando!

— Já falei, não estamos. E eu já tenho namorada.

Ayano disse isso calmamente, enquanto o rosto de Yakishio, que estava com um sorriso envergonhado, travou.

— Ei, o que foi? Vocês estão bem?

Ayano estava totalmente confuso.

De repente, a porta da sala do clube é aberta.

— O-Olá…

Komari olhou para dentro do clube

Baaam. Ela bateu a porta e correu.

— Lemon, eu disse algo estranho?

— Ei, Mitsuki, você disse que… tem uma namorada?

Yakishio finalmente reiniciou e conseguiu extrair essa frase.

— É, a gente começou a sair há pouco tempo. Ainda não te apresentei ela…

O Mitsuki Ayano abaixou a cabeça, envergonhado.

— Desculpa, tô o tempo todo falando apenas de mim. Bem, vamos.

— Espera, Ayano. Sua namorada… é a Chihaya?

Eita, ela perguntou, mesmo.

— Você me pegou. Sim, é ela. Vou apresentar ela ao Nukumizu, também.

Ele ainda estava sorrindo quando se virou para a Yakishio.

— Bem, vamos, Lemon.

— Eh?

— Você não queria que eu fosse com você no shopping? Posso ir com você antes do cursinho.

O olhar dele estava completamente calmo. Eu não esperava que o Ayano fosse assim…

— U-Uh, lembrei que tenho algo para fazer... Ah, é mesmo, eu tava pensando em entrar para o Clube de Literatura, então vou ficar por aqui.

— Entendi. Bem, já vou, então.

Ayano nos cumprimentou e foi embora.

Bom, o que devemos fazer sobre esse climinha horrível?

A sala ficou em completo silêncio. Durou tanto que parecia uma eternidade.

Então, entreguei uma cadeira para a Yakishio, antes que ela caísse no chão.

Yakishio estendeu a mão para mim.

— Eh, o que foi?

— Me dá a folha de inscrição do clube..

Yakishio escreveu o nome dela na folha enquanto murmurava.

— Poxa… O Mitsuki… já tem uma namorada. Ahaha… O que eu… faço agora…?

Ela deve estar assim porquê todo seu esforço foi jogado fora. Mas vou ficar calado.

Yanami apenas colocou a coroa de “Novo Membro” na Yakishio.

— Enfim, obrigada por tudo.

— Tudo bem...

Yakishio abraçou Yanami e enterrou o rosto profundamente em sua barriga.

De repente, a Tsukinoki me puxou para fora da sala antes que eu pudesse ouvir a Yakishio chorar.

— Posso perguntar… se eu fiz algo errado?

O cérebro de Tsukinoki finalmente parece ter se recuperado. Ela se virou e olhou para dentro da sala, tremendo.

— Sim, fez. Não faz mais isso na próxima.

Peguei meu telefone e verifiquei as anotações que fiz.

— Ei, é sobre a viagem de amanhã. Já verifiquei os horários dos trens e dos ônibus. Vou enviar tudo no grupo mais tarde. A gente se encontra na frente da Universidade de Aichi, certo?

— Sim, mas espera aí, Nukumizu.

— Temos que enviar a lista do que vamos levar, também. E aliás, o Presidente não respondeu nada até agora. Você pode falar com ele depois?

— Espera, Nukumizu. Vamos fingir que não aconteceu nada agora no clube? A gente fala da viagem depois…

— Bom, a gente poderia ter passado por isso calmamente, mas você, Vice, decidiu pisar em cima de uma mina terrestre.

— Uwah… Você não tem piedade das pessoas…

Não tem outra forma. Se eu não falar assim, ela nunca vai entender.

— Eu vou cuidar delas. Vice, você deveria-

Ah, deu pra ver a Komari se escondendo na parede do corredor… Ela tá nos espiando?

— Escuta, Vice. Dá pra fazer algo sobre a Komari?

— Tudo bem, eu sei bem como cuidar dela.

A vice-presidente Tsukinoki começou a andar em direção a Komari, que fugiu rapidamente. Eita, a vice-presidente Tsukinoki também está correndo atrás dela…

Ah, quantos problemas… Queria minha paz e solitude de volta… Às vezes, é bom ficar longe de coisas ou pessoas irritantes.

Yanami me enviou uma mensagem no momento em que eu encostei na parede e olhei meu telefone.

Ela perguntou se eu queria sair para comer alguma coisa. Tanto faz, garota. Por que cê tá me convidando?

Eu até rejeitaria ela, mas fiquei surpreso com o local que ela queria ir.

O restaurante para o qual ela me convidou ficava bem longe da escola. Sim, aquele onde ela levou um fora.

 

 

— Bem-vindos! Por favor, escolham uma mesa!

Com uma voz alegre, o garçom nos cumprimentou como de costume. Nós três levamos 20 minutos vindo da escola até esse restaurante familiar que ficava em outra cidade.

Yanami sentou e deu um tapinha no assento ao seu lado.

— Lemon, senta aqui.

— Certo, obrigada.

Yakishio sentou, calmamente. Talvez ela conseguisse dar uns pegas no Ayano se ela sempre fosse quietinha assim.

— Não sabia que tinha um restaurante por aqui, Yanami.

— Né? E, também, pouquíssimos estudantes da Tsuwabuki vêm pra cá, então é ótimo!

Não consigo deixar de encarar a Yanami, que estava olhando alegremente para o cardápio de sobremesas.

… O Sosuke Hakamada te deu um fora nesse mesmo lugar, se lembra? Essa garota tem uma resistência psicológica tão forte assim?

Normalmente, ninguém levaria sua amiga, que acabou de levar uma fora, para o mesmo lugar onde você mesma levou um fora.

— O que foi, Nukumizu? Você nem tá olhando pro cardápio.

— É porque esse restaurante-

— Hmm? O que tem esse restaurante?

Yanami inclinou a cabeça, confusa.

— Não, não é nada. A propósito, nós vamos dividir a conta.

— Claro, Nukumizu.

Tá, se ela concordou, então tudo bem.

Yanami tocou o sino de pedido

— Que falta de senso da sua parte em falar de dinheiro para uma garota que acabou de levar uma fora. Lemon, fica sossegada, nós vamos pagar tudo para você hoje.

Eu me recuso a ouvir a Yanami dizer que eu não tenho senso. E também, ela colocou o “nós” ali como se eu não fosse perceber.

— Tudo bem, Yakishio, a gente paga.

— Não posso aceitar…

— Pense nisso como uma celebração por você ter entrado para o clube. Peça o que quiser.

— Lemon, nós vamos te mimar muito hoje.

Porém, na mesma hora, Yanami inclinou a cabeça, em descrença.

— Ué, eu também entrei para o clube hoje…

— A gente fala disso depois, Yanami. Ah, vamos pedir.

Algo de ruim vai acontecer se eu continuar dando corda pra essa maluca.

Mesmo que a Yanami estivesse segurando o cardápio de sobremesas, ela pediu um bife grande.

— Certo, e também vou querer uma tigela média de arroz.

— Yanami, você tem certeza de que quer comer tanto assim antes do jantar?

— Você não sabe? O que te faz engordar são os doces. Eles são meus inimigos.

E os bifes te fazem emagrecer, então?

Yakishio apontou para algo no menu.

— Bem, eu vou querer este Black Thunder Parfait aqui.

— O que é isso?! Vou pedir um desse depois!

A Yanami parece ter ido junto… Você não acabou de dizer que os doces são seus inimigos?

— Vamos querer 3 copos de bebidas e batatas fritas grandes, por favor. E pague tudo que você comer, Yanami.

Vou dizer isso pois é importante.

— Tá, tá. É por isso que cê não tem amigos, Nukumizu.

Levantei para encher meu copo.

Olhei para aquelas duas de longe.

Yanami está agindo como sempre. Fico aliviado, e um pouco decepcionado, também.

No final de tudo, aquelas duas só ficaram reclamando sobre vida. Yanami levou quase uma hora para terminar o bife que pediu.

E a Yakishio também sorria de vez em quando, então acho que tá tudo bem por agora.

— Yakishio, nós vamos pagar, então pode ir esperar lá fora.

Yakishio foi na frente, enquanto eu e a Yanami íamos para a fila de pagamento.

Yanami olhou para mim, surpresa.

— Ei, Nukumizu, você é bem legal.

— Isso não é o certo a se fazer? Ser legal com uma Protagonista Perdedora é-

— … “Perdedora”?

… Merda, falei algo que não devia. Fui muito descuidado.

— Bem, uh…”perdedora” é…

— O que significa isso? Não tô entendendo.

Yanami me olhou, desconfiada. Virei o rosto igual uma coruja.

— Uma “Protagonista Perdedora” é… É uma pessoa…

— Quem? Alguma amiga sua?

Por que eu teria alguma amiga? E com esse nome...

— Tipo isso.

— E por que você falou disso do nada?

Boa pergunta.

Olhei ao redor para tentar mudar de assunto, até que vi um panfleto escrito “Festival do Hambúrguer Americano”. Apontei para o folheto, tentando disfarçar.

Yanami olhou e bateu palmas.

— Tendi. Você quer comer hambúrguer da próxima vez, né? Combinado, então.

“Próxima vez”? Não vou ter que pagar para você de novo, né? Enfim, pelo menos consegui me livrar dessa vez.

A atendente me entregou a conta quando chegou a nossa vez de pagar.

— Nukumizu, você nem deu um preço para o meu almoço hoje, hein?

— Verdade. Hmm, 500 ienes? Estava bom.

— Obrigada pelos 500 ienes!

Yanami bateu palmas alegremente.

Hmm, ela me devia 2.367 ienes. Depois desse almoço de 500 ienes… ainda faltam 1.867.

Além disso, a conta do restaurante vai passar fácil do valor que ela me deve.

— Sério, acho que a gente não devia pagar para ela. E você ainda tá me devendo, Yanami.

— Cala a boca, cara. Já falei que é por isso que tu não tem amigos. E além disso, eu tenho um cartão de pontos.

— Bom, aqui está minha parte e metade da parte da Yakishio.

Coloquei o dinheiro no balcão.

— Belê. Aqui est-

Yanami parou, de repente, quando abriu a carteira.

— Ei, o que foi?

Por favor, não me diga que você não tem dinheiro suficiente... Isso é impossível, até mesmo para a Yanami, né? Se for isso mesmo, ela é uma idiota por completo.

As mãos de Yanami estão tremendo.

— Eu não tenho… o suficiente.

Yanami levantou a cabeça e olhou para mim, com os olhos cheios de lágrimas.

— Ei… Nukimizu…

Essa garota é... uma idiota por completo?

Peguei mais uma nota de 1.000 ienes, calado.

 

Dívida restante de hoje: 2.867 ienes



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