Volume 9

Capítulo 34: Sétimo Andar de Aincrad

— Ei, Kirito-kun — disse Asuna, sentada à minha frente, em voz baixa.

— O visconde «Yofilis»… ele é uma IA, não é? 

Pensei por um momento e então assenti.

— Não sou exatamente um especialista em IA, mas… sim, acho que sim. No SAO, existem NPCs que estão no nível de serviços de IA conversacional do mundo real, e depois existem aqueles que eu chamo de "NPCs IA Avançada", como «Kizmel», «Nirrnir» e o visconde «Yofilis». Eles são mais como AGIs.

— AGI… é Inteligência Artificial Geral, certo? O tipo de IA que consegue pensar e tomar decisões como um humano. Isso ainda não foi desenvolvido, não é?

— Pelo menos, não até 6 de novembro de 2022. Mas não me surpreenderia se algumas empresas ou laboratórios de pesquisa tivessem algo próximo disso em estágio de protótipo. E lembre-se: SAO foi desenvolvido por Akihiko Kayaba. Se alguém fosse completar secretamente uma AGI e colocá-la em um lançamento comercial, seria ele.

Ao ouvir o nome de Kayaba, Asuna franziu o rosto profundamente.

— Mesmo que ele tenha sido a primeira pessoa a criar uma AGI no mundo… nunca poderia perdoá-lo por fazer esses NPCs sofrerem assim. Nunca.

Parecia que ela sentia ainda mais raiva do que Kayaba havia feito com «Yofilis» e os outros do que pelo fato de estar presa em um jogo mortal — e eu já não podia mais dizer que isso era irracional.

— Ainda assim… tenho certeza de que podemos fazer algo por eles — respondi.

Parecia uma coisa superficial de se dizer, mas Asuna assentiu duas vezes, devagar, e então respondeu com uma voz mais serena.

— Sim. Primeiro, precisamos recuperar a chave secreta.

— Certo.

Dei uma resposta curta e bebi o resto do meu chá.

Estávamos sentados a uma mesa no canto mais afastado do grande salão de refeições, no segundo andar da ala oeste do Castelo Yofel. A hora da refeição já tinha acabado — a cozinha estava completamente às escuras e a maioria das lâmpadas do salão havia sido apagada, deixando o espaço na penumbra. Ainda assim, água quente continuava a jorrar sem parar do enorme aquecedor de ferro fundido, no canto do balcão do bufê. Enquanto você tivesse chá solto, um bule e xícaras, poderia preparar chá a qualquer hora. Claro, não era eu quem tinha essas coisas — era a Asuna.

Eu também tinha alguns alimentos preservados e petiscos no meu inventário, mas como tínhamos nos empanturrado de carne e caranguejo apenas quatro horas antes, não tinha o menor apetite. Ou talvez fosse porque eu ainda não tinha digerido totalmente o que o visconde «Yofilis» nos contara sobre seu passado.

No sexto andar, «Kizmel» havia explicado: entre os elfos, espíritos da água — como Villi — são tão sagrados quanto os espíritos das árvores. Ferir um deles traz uma maldição não apenas sobre o indivíduo, mas sobre toda a sua linhagem.

O pai do visconde «Yofilis» matou um jovem espírito da água chamado «Almark» e, como castigo, foi amaldiçoado a não poder beber nenhum tipo de líquido. Sua mãe, por outro lado, atirou-se no lago — sacrificando a própria vida para proteger o filho de herdar a maldição. No fim, tanto o crime do pai quanto o suicídio da mãe foram decisões tomadas pensando no futuro do filho. E esse pensamento era… insuportavelmente pesado.

Pior ainda, depois de nos contar tudo isso, o visconde adoeceu. Ele insistia que estava bem, mas tivemos que convencê-lo várias vezes a descansar durante a noite. Foi uma pena que ainda não tivéssemos chegado ao assunto principal — sua ligação com o antigo comandante dos cavaleiros, «Lavik» —, mas aprender sobre os costumes élficos e seu sistema de envelhecimento foi extremamente útil.

Agora que NPCs IA de alto nível estavam oficialmente implementados no serviço ativo, provavelmente havia muitos vivendo na capital dos elfos da floresta, no oitavo andar, e na capital dos elfos negros, no nono. Por isso, comportar-se adequadamente diante deles era muito mais importante do que durante o beta. Se você visse um elfo de aparência jovem e dissesse algo como "Uau, você é tão impressionante para alguém tão novo!", e esse elfo estivesse preso no que eles chamam de "Estase do Tempo", eu nem quero imaginar as consequências.

Lembrei-me do que «Kizmel» dissera: entre os elfos, é extremamente inadequado perguntar diretamente a idade de alguém. Não era só conversa fiada — era algo que eu gravei na memória mais uma vez.

— Asuna, quer mais um pouco?

Ao me levantar e perguntar, Asuna ergueu a cabeça, como se estivesse imersa em pensamentos.

— Ah… quero, sim.

— Beleza.

Peguei o bule vazio e fui até o balcão.

O aquecedor de água, colocado diretamente no chão, era um cilindro com cerca de um metro e meio de altura — parecido com um bebedouro de água quente do mundo real. A metade inferior também funcionava como fogão. Por uma portinhola com frestas, eu podia ver um minério semelhante a carvão, incandescente, aquecendo a água na parte superior.

Posicionei o bule sob a torneira no meio e a abri. Com um som suave de "ploc, ploc", a água quente começou a cair. Quando estava cerca de setenta por cento cheio, fechei a torneira e voltei para a mesa.

Neste mundo, a maioria das folhas de chá é feita para se dissolver depois de infundir, então o processo é rápido e fácil. Coloquei algumas folhas de um pote de cerâmica no bule, fechei a tampa e esperei um pouco.

Enquanto ouvia o som suave das folhas dançando na água—

— Desculpem a demora, vocês dois.

Essas palavras vieram acompanhadas do som de passos metálicos. Era «Kizmel», ainda completamente armada, caminhando a passos firmes pelo salão. Atravessou a sala rapidamente e se sentou diante de mim e de Asuna.

— «Kizmel», o visconde está bem? —Perguntou Asuna.

A cavaleira fez um pequeno aceno e respondeu.

— Parece que ele está apenas um pouco cansado. Afinal, correu sobre superfícies instáveis de água com as próprias pernas, tanto na ida quanto na volta…

— Entendo.

Asuna suspirou aliviada, e ao lado dela, voltei a pensar no assunto.

Não era como se Asuna ou eu fôssemos completamente imunes à fadiga física — ou melhor, virtual. Existe um parâmetro oculto neste mundo chamado "Fadiga". Se você carregar mais peso do que o seu atributo de força permite ou correr mais rápido do que sua agilidade suporta, receberá um efeito negativo de "Fadiga" que limita seus movimentos por um tempo.

Por isso, não era estranho que o visconde estivesse cansado depois de correr até a beira do lago e voltar. Mas… o momento não batia. Se a fadiga dele funcionasse como a nossa, ele deveria ter demonstrado sinais disso quando chegamos à praia. Em vez disso, só começou a vacilar depois de quase vinte minutos de conversa no jardim interno.

Será que era exaustão mental e não um debuff de status? Mas… será que uma IA pode sentir fadiga mental?

— Ei, o chá já não está pronto? — a voz de Asuna me tirou dos pensamentos.

— Ah… sim, está.

Coloquei uma xícara nova diante de «Kizmel» e servi o chá recém-preparado. Depois de encher as xícaras da Asuna e a minha, o bule já estava vazio de novo.

— Obrigada.

«Kizmel» levou a xícara aos lábios, tomou um gole e arregalou levemente os olhos.

— Está delicioso… Esse aroma… é da Lady «Nirrnir»?

— Sim, pedi a «Kio» um pouco do chá favorito da Nirr-sama.

Enquanto Asuna dava de ombros e ria, não pude deixar de me perguntar quando ela tinha arranjado tempo para fazer tudo aquilo. Levei minha própria xícara de chá aos lábios.

O aroma vibrante, parecido com uva-moscato, era idêntico ao do chá que «Kio» havia preparado para nós no Grande Cassino. Ainda assim, parecia um pouco inferior — talvez porque eu não tivesse a habilidade de «Cooking».

Mesmo assim, o chá era suficientemente bom. Assim que Asuna, «Kizmel» e eu terminamos nossas xícaras, consultei o relógio do sistema.

10h10 da noite.

Exatamente nesse horário, no dia anterior, estávamos deitados em espreguiçadeiras na praia privativa do Grande Casino, bebendo ponche de frutas gelado, usando trajes de banho. O contraste de clima era tão estranho que era difícil acreditar que aquilo tinha sido apenas um dia atrás — mas a interface do sistema não mente.

De qualquer forma, ainda tínhamos quase oito horas até o amanhecer. Para nós, obrigados a seguir um ciclo invertido de dia e noite, o verdadeiro desafio da operação de hoje estava prestes a começar.

— Certo… vamos?

Ao meu chamado, Asuna e «Kizmel» se levantaram imediatamente, como se estivessem esperando o sinal. Seria nossa segunda saída da noite, mas, com «Kizmel» nos acompanhando, os guardas no portão principal do castelo não demonstraram suspeita — ao contrário, nos saudaram por conta própria.

«Kizmel» devolveu um rápido cumprimento cerimonial e disse, com voz firme.

— Estamos saindo para uma missão. Se não voltarmos até de manhã, avisem o visconde.

— Sim, senhora! — responderam os guardas em uníssono.

Enquanto a cavaleira avançava com passo confiante rumo ao grande píer, Asuna e eu a seguimos com expressões controladas.

O objetivo principal daquela noite era reconhecimento. Debatemos por um momento se deveríamos usar a «Liberator», que era grande, mas discreta em cor, ou a «Tilnel», que era pequena, porém completamente branco. No fim, priorizamos a manobrabilidade e a familiaridade, escolhendo nosso pequeno barco de estimação. Se fosse necessário, poderíamos cobri-lo com o Manto de Luz de Argyro. 

Soltamos a corda de amarração e subimos a bordo, um de cada vez. Assim que vi Asuna e «Kizmel» sentadas sobre as tábuas laterais, mergulhei o remo na água com cuidado. O barco deslizou uns dez metros em velocidade baixa e, então, com um impulso mais forte, «Tilnel» começou a cortar suavemente a superfície calma do lago.

O luar tremeluzia sobre a superfície negra da água, despertando lembranças da antiga tragédia ocorrida ali — mas não era hora para sentimentalismo. Precisávamos manter o foco na missão.

Se falhássemos em recuperar a chave secreta, «Kizmel» poderia muito bem ser destituída do cargo de Guarda Real e presa novamente. E, se isso acontecesse, havia uma possibilidade real de que ela caísse na "Estase do Tempo".

Para um elfo, prisão prolongada não era apenas perda de liberdade — também significava suspensão do envelhecimento, uma sentença dupla em todos os sentidos. Não havia como eu permitir que isso acontecesse. Determinado, girei o remo para a esquerda. «Tilnel» fez uma curva suave, virando a proa para noroeste.

Se continuássemos em linha reta, atravessaríamos o limite da instância e chegaríamos à foz de um rio que desaguava no Lago Yofel — aparentemente, chamava-se Rio Ull. A partir dali, seguiríamos pelo curso principal até um lago central na cratera, depois seguiríamos para nordeste, rumo à vasta floresta onde Asuna e eu havíamos enfrentado o urso cuspidor de fogo, Magnatherium.

Nosso destino ficava logo antes da floresta, no fim de um afluente tão estreito e obscuro que só quem já o conhecia poderia encontrá-lo. Ali, submersa sob a água, estava uma dungeon secreta — a base oculta dos Elfos Caídos.

Se os Caídos que roubaram a Chave Escarlate do esquadrão de recuperação dos elfos negros, no sétimo andar, tivessem usado um dispositivo de teleporte para fugir para o quarto andar, aquela base era o único local lógico para onde poderiam ter ido.

Havia se passado apenas um dia, então era improvável que a chave já tivesse sido levada para outro lugar. Na verdade, esperávamos que as outras quatro chaves roubadas por «Kysarah» estivessem armazenadas no mesmo local. 

A base ficava no fundo de uma enorme dungeon aquática, o que tornava a busca difícil. Mas, como já tínhamos mapeado cerca de 80% dela e os mobs que apareciam eram muito mais fracos que nós, tínhamos uma clara vantagem.

O mesmo provavelmente valia para os soldados elfos caídos estacionados lá. Mas, é claro, não pretendíamos eliminar todos. Se fôssemos descobertos logo de cara, as chaves poderiam ser retiradas antes que identificássemos sua localização. E havia também a chance de que o general «N’ltzahh» — que o visconde «Yofilis» havia nos alertado várias vezes para não enfrentar — ainda estivesse por lá. 

Então, embora fosse inevitável derrotar alguns mobs pelo caminho, uma vez que chegássemos ao esconderijo, o silêncio absoluto seria essencial. Para ser honesto, furtividade não era exatamente meu ponto forte, mas teríamos de tirar o máximo proveito da minha visão noturna e fazer o melhor possível.

Asuna e «Kizmel» provavelmente também estavam se preparando mentalmente. Permaneciam caladas, mas com postura ereta, transmitindo tensão e determinação. Até «Tilnel» parecia deslizar com mais suavidade que o normal, ganhando velocidade como se compartilhasse de nossa resolução.

Rompemos a névoa espessa à frente e saímos da zona de instância. Como esperávamos, a foz do rio surgiu bem à nossa frente. Se seguíssemos o Rio Ull dali, levaria cerca de uma hora até o destino.

— Ignorem os mobs a menos que seja absolutamente necessário — vamos avançar no sprint! — gritei para as duas. Ambas responderam com um sinal confiante de positivo.

Eu estava prestes a empurrar o remo ao máximo e lançar «Tilnel» a toda velocidade quando — ding — um som suave de sino soou e um ícone de carta apareceu no centro da minha visão. Uma Mensagem de Amigo havia chegado.

— Ah — espera um segundo.

Endireitei o remo para reduzir a velocidade e toquei no ícone.

O remetente não era outro senão nossa negociadora de informações, Argo, a Rata.

DESCULPA INCOMODAR QUANDO VOCÊ ESTÁ OCUPADO, MAS PODEMOS NOS ENCONTRAR NO DISTRITO PRINCIPAL DO 8º ANDAR? É URGENTE.

Li a curta mensagem duas vezes, até perceber algo.

O fato de ela ter chegado logo depois de deixarmos o Castelo Yofel não era coincidência. Ao contrário das Mensagens Instantâneas, as Mensagens de Amigo podiam ser enviadas entre andares diferentes — mas não para dentro de dungeons ou zonas de instância. Argo provavelmente vinha tentando me contatar, ou à Asuna, havia um tempo, mas, como estávamos dentro do Castelo Yofel, a mensagem não conseguiu chegar.

O que significava que provavelmente se tratava de uma emergência séria. Digitei rapidamente uma resposta no teclado holográfico:

DEPENDE DO QUÃO RUIM FOR. ESTAMOS NO MEIO DE UMA OPERAÇÃO NO 4º ANDAR.

Levei cinco segundos para enviar. Argo respondeu em quatro.

BEM RUIM. A MAIORIA DAS EQUIPES DA DKB E DA ALS ESTÁ ENCURRALADA — ARRUMARAM PROBLEMA COM OS ELFOS DA FLORESTA E NÃO CONSEGUEM SE MOVER.

— O quêêê?! — soltei em voz alta.

Asuna e «Kizmel» se viraram para mim com expressões intrigadas. Levantei um dedo, pedindo silêncio por um momento, e digitei de novo.

AS VIDAS DELES ESTÃO EM PERIGO?

CONSEGUIRAM DESPISTAR OS PERSEGUIDORES E SE ESCONDER EM UMA CAVERNA, ENTÃO NÃO IMEDIATAMENTE. MAS, DEPENDENDO DO QUE LINKIBA DECIDIR A SEGUIR, AS COISAS PODEM PIORAR RÁPIDO.

O QUE DIABOS ELES FIZERAM?

DERRUBARAM UMA GRANDE ÁRVORE SAGRADA DENTRO DA ÁREA DA CAPITAL DOS ELFOS DA FLORESTA.

Tá de brincadeira comigo…? Quase gritei, mas engoli as palavras e enviei outra mensagem.

ME DÊ CINCO MINUTOS — VAMOS DECIDIR O QUE FAZER.

Fechei a janela. Asuna já estava de pé e falava numa velocidade quase de avanço rápido.

— Quem te mandou mensagem?! O que aconteceu?!

— É a Argo. Algo deu errado… muito errado.

Com isso, relatei toda a troca de mensagens para as duas.

Quando terminei, «Kizmel» soltou um suspiro profundo e disse o que eu não tinha dito.

— Isso… é insensato. Se forem capturados, o comandante deles quase certamente será executado. E mesmo o restante — assumindo que sobreviva — não escapará da prisão.

— Pois é? Quer dizer… eles deviam saber que cortar uma árvore viva é o maior tabu entre os elfos…

Mas, mesmo enquanto dizia isso, comecei a me perguntar se talvez eles não soubessem.

ALS e DKB tinham começado a missão de campanha da guerra élfica no 3º andar — a ALS do lado dos elfos negros, a DKB do lado dos elfos da floresta. Mas tudo aquilo havia sido instigado pelo misterioso sujeito de capuz e cota de malha alinhado com PK, Morte, que havia manipulado as duas guildas com informações falsas.

Graças à intervenção minha, de Asuna e de «Kizmel», uma guerra em grande escala foi evitada por pouco. Ambas as guildas depois abandonaram a campanha por completo, o que significava que provavelmente nunca tinham visitado o Castelo Yofel ou o Castelo Galey. Se o único contato que tiveram com os elfos foi na aceitação e entrega de missões, então era bem possível que nunca tivessem aprendido sobre o tabu.

Não — mesmo assim, se eles tivessem feito ao menos um pouco de coleta de informações no distrito principal do oitavo andar, a natureza arisca dos Elfos da Floresta teria ficado clara. Especialmente o fato de que cortar árvores ou poluir a água em seu território é considerado uma ofensa mortal. Dezenas de NPCs dão avisos sobre isso. Pelo menos, foi assim no teste beta.

De qualquer forma, tentar imaginar exatamente o que aconteceu agora é perda de tempo. Só me resta cerca de metade dos cinco minutos que a Argo me deu.

— Urghhh… — quebrei a cabeça até sentir vontade de arrancar os cabelos e, por fim, disse. — Eu me sinto mal pelo Lind e pelos outros, mas realmente não há nada que possamos fazer. A «Kizmel» obviamente não pode entrar no território dos Elfos da Floresta, e a Asuna e eu lutamos contra eles no Lago Yofel, então há uma grande probabilidade de termos ativado "flags" de hostilidade — ou seja, estamos marcados como inimigos. A única possibilidade real é alguém do grupo de progressão mudar de lado e começar a ajudar os Elfos da Floresta, conquistando lentamente sua confiança e, eventualmente, persuadindo alguém importante a deixar o assunto para lá…

— Mas isso pode levar dias — murmurou Asuna, rouca.

Ela tinha razão. Começar a missão da campanha da Guerra dos Elfos na Floresta Enevoada, no terceiro andar, concluir uma missão de Chave Secreta por andar e conquistar confiança suficiente para ser favorecido por alguém como o visconde «Yofilis» levaria… o quê? Uma semana? Dez dias?

A Argo disse que tudo dependia das decisões do Lind e do Kibaou, mas eu não conseguia imaginar os membros da ALS e da DKB, escondidos naquela caverna, resistindo dez dias inteiros. O pior de tudo era que cavernas quase sempre são classificadas como áreas de dungeon — o que significa que nenhuma Mensagem Instantânea ou Mensagem de Amigo pode entrar ou sair. Não havia como sequer dizer: "Ajuda está a caminho, aguentem firme."

O que levava à pergunta — como a Argo descobriu o que estava acontecendo? Mas isso não era o que eu deveria estar pensando agora. Primeiro, precisava decidir como responder à mensagem dela. Mesmo que não pudéssemos ajudar diretamente, pelo menos deveríamos ouvir a história completa. Mas, para ir ao oitavo andar agora, eu teria que usar o portal de teleporte no distrito principal do quarto andar, «Rovia», ou subir a torre do labirinto e usar o dispositivo de teleporte para chegar à zona do labirinto do sétimo andar, depois pegar a escadaria de retorno da sala do chefe. 

Ambas as rotas levariam tempo e, não importava qual escolhesse, teríamos de desistir de investigar o esconderijo dos Caídos esta noite. Era um grande risco — havia todas as chances de que eles movessem a Chave Secreta para outro lugar nesse intervalo de um dia.

Um minuto restante.

Levantei a mão direita, pronto para responder e perguntar à Argo se ela podia esperar apenas um dia. Mas então—

— Kirito, Asuna. Vocês dois vão ouvir o que a Argo tem a dizer — a voz calma de «Kizmel» quebrou o silêncio.

— Espera… e você, «Kizmel»? — Perguntei.

— Vou continuar com nosso plano original e investigar o esconderijo dos Caídos. Pelo menos descobrirei se a Chave Secreta está lá e, se estiver, onde eles a estão guardando.

Antes mesmo que ela terminasse de falar, Asuna gritou.

— Nem pensar! Nós nem sabemos quantos inimigos estão lá — é perigoso demais você ir sozinha!

— Nosso plano não era evitar combate desde o início? Não quero dizer que vocês me atrapalhariam, mas, para uma missão de furtividade, às vezes ir sozinha é realmente mais fácil.

— E às vezes não é! — retrucou Asuna, a voz carregada de frustração.

Olhei para a expressão tensa dela e tomei uma decisão.

— Asuna, você vai com a «Kizmel». Eu me encontro com a Argo sozinho.

Asuna girou o corpo para me encarar, preocupação brilhando no fundo dos olhos — não porque achasse que eu perderia uma luta contra mobs, mas porque não tinha certeza se eu voltaria antes do amanhecer.

— Vai dar tudo certo — falei, cortando qualquer objeção antes que ela pudesse começar. — É menos de uma hora de viagem em cada direção. Vou voltar assim que ouvir o que a Argo tem a dizer. Com certeza estarei de volta ao castelo antes do amanhecer.

Mesmo assim, a expressão preocupada de Asuna não desapareceu.

— Mas… — ela começou, provavelmente engolindo uma lista inteira de ansiedades. Em vez disso, fez uma pergunta prática: — Mas, se formos nos separar, como você vai viajar? Vai voltar ao castelo para pegar a «Liberator»? 

— Nada disso, este ponto ainda faz parte do lago — respondi, sorrindo.

Juntei o polegar e o indicador aos lábios e soltei um assobio agudo.

Ao abaixar a mão, pensei por um instante se deveria chamar o nome dele — mas, antes que decidisse, a superfície do lago, a bombordo, começou a ondular, e o kelpie que reinava no Lago Yofel emergiu, a longa cabeça rompendo a água.

Sua juba molhada — ou melhor, barbatana dorsal — pendia murcha, e seu longo rosto equino parecia claramente irritado. Mas disse a mim mesmo que era imaginação e me virei para Asuna e «Kizmel».

— Vou montá-lo até a zona do labirinto. Vocês duas vão com na «Tilnel».

— Ele pode sair do lago? — Perguntou Asuna, com um tom de dúvida.

O kelpie — Mo — respondeu com um bufar, algo entre um ronco e um resmungo.

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