Volume 9

Capítulo 31: Sétimo Andar de Aincrad

No momento seguinte, meus olhos se abriram de repente.

Subjetivamente, parecia que só tinham se passado alguns segundos. Acho que era pedir demais cair em sono profundo tão facilmente — pensei, lançando um olhar para o canto inferior direito da minha visão —, então arregalei os olhos em alarme. No quarto escuro como breu, brilhando em branco intenso na penumbra, o relógio digital marcava 17h52.

Eu tinha quase certeza de que havia me deitado por volta desse mesmo horário pela manhã, o que significava que eu tinha dormido profundamente por quase doze horas seguidas. Apressei-me em verificar a data para ter certeza de que não havia passado um dia inteiro mais doze horas — mas, felizmente, ainda era 9 de janeiro.

É verdade que, desde que cheguei a Aincrad, conseguia dormir mais profundamente do que jamais consegui no mundo real. Ainda assim, fazia muito tempo que eu não dormia como uma pedra por tanto tempo.

Sim, eu estava cansado e com sono acumulado — mas doze horas? Isso era preocupante. Pensando bem... onde estava a Asuna? Ela deveria estar na cama ao lado da minha — por que não me acordou? Talvez tivesse ido comer com a «Kizmel»... só as duas?

Ainda refletindo sobre isso, comecei a me sentar — e então finalmente percebi.

Bem ao meu lado — a menos de vinte centímetros de distância — alguém estava dormindo. A cabeça da pessoa estava completamente coberta pelo cobertor, então não dava para ver o rosto. Mas, dadas as circunstâncias, só podia ser uma pessoa. 

Levantei cuidadosamente o cobertor, confirmei o perfil usando minha habilidade de visão noturna e o abaixei de novo, com delicadeza. Sem dúvida — era minha parceira temporária.

Havia um espaço de cerca de dez centímetros entre as camas, e cada uma tinha pelo menos 1,20 metro de largura. Então... como ela veio parar aqui...? Ou será que fui eu quem se mexeu dormindo?

Olhei nervosamente ao redor, conferindo de novo se eu não estava na cama da Asuna. Confirmando que ainda estava na minha, soltei um suspiro aliviado. Pensando bem, algo parecido tinha acontecido na pousada, em «Volupta». Mesmo tendo reservado um quarto premium com dormitórios separados, Asuna não conseguia dormir e veio me acordar no meio da noite. Depois disse algo como:

— Acho que agora talvez eu consiga dormir...

E então se encolheu na beira da minha cama... e apagou imediatamente.

Ainda antes disso — na véspera de Natal, no Castelo de Yofel — Asuna também não conseguiu dormir. Saiu do quarto e acabou cochilando comigo no sofá da sala, dividindo um único cobertor — tecnicamente, era um manto fino.

Talvez para ela seja o contrário. Enquanto eu descobri que consigo dormir melhor neste mundo, Asuna... provavelmente não consegue. E quem a culparia? Está presa num jogo de vida ou morte, onde chegar a zero de HP significa morte de verdade, e perdeu tudo que valorizava no mundo real. Não é de se surpreender que medo, ansiedade e desespero a impeçam de dormir.

Se, de alguma forma, eu me tornei uma fonte de conforto para ela — se minha presença a ajuda a dormir — fico genuinamente feliz. Dito isso, também não posso simplesmente sugerir que passemos a dormir juntos todas as noites. Se eu dissesse algo assim, ela provavelmente retrucaria com: — Você é idiota?

O máximo que posso fazer, quando isso acontece, é deixá-la descansar o máximo possível.

Chegando a essa conclusão, deslizei devagar para o lado esquerdo da cama, com cuidado para não incomodar a Asuna, e desci suavemente. Descalço, fui na ponta dos pés até a porta, girei a maçaneta com cuidado e a abri apenas o suficiente para passar.

Assim que entrei na sala de estar e soltei um suspiro de alívi—

— Boa noite — disse uma voz. Levantei o olhar.

No centro da sala fracamente iluminada, à luz de um único abajur, «Kizmel» estava sentada no sofá de madeira curvada. Usava uma camisola cinza elegante, o que indicava que também não fazia muito tempo que havia acordado.

— Ah... boa noite, «Kizmel» — respondi, embora tecnicamente já fosse fim de tarde.

«Kizmel» franziu ligeiramente a testa.

— Você chegou cinco minutos antes do nosso encontro das seis. O sol já se pôs, no entanto.

— É... eu só não queria acordar a Asuna... — respondi, com uma pontinha de pânico. Ainda assim, nem «Kizmel» parecia ter percebido que Asuna estava na mesma cama que eu. Ela apenas assentiu e fez um gesto para o assento ao seu lado.

— Não precisa ficar de pé. Sente-se.

— Ce-certo.

Contornei a mesinha de madeira baixa e me sentei a uma pequena distância à direita de «Kizmel». A cavaleira arqueou uma sobrancelha, como se fosse dizer algo — mas, para ser honesto, sentar ao lado de uma mulher linda em uma camisola fina... eu provavelmente ainda precisaria de mais uns três anos para lidar com isso numa boa.

— Parece que você dormiu bem — comentou ela, servindo água fria em um copo de uma jarra sobre a mesa.

— Pois é... fiquei chocado quando vi a hora. Você conseguiu dormir bem?

— Claro. Dormir e comer bem, independente da situação, é uma qualidade essencial para qualquer cavaleiro... ou pelo menos é isso que eu gostaria de dizer.

Ela tomou um gole de água e continuou, ainda segurando o copo.

— Mas, na prática, não é tão simples. Dormir ao relento em território infestado de monstros, ou na véspera de uma grande operação... ou quando as lembranças da minha irmã voltam... Também tenho noites em que o sono simplesmente não vem.

— Entendo — murmurei, assentindo. Por um instante, me perguntei — o que significa "dormir" para um NPC? Seria só imitar o comportamento humano? Um processo de otimização de dados? Ou algo completamente diferente?

Mas... pensar nisso era inútil.

«Kizmel» era uma NPC totalmente controlada por IA — e, ao mesmo tempo, uma cavaleira elfa negra que vivia neste mundo. Ela tinha pensamentos e emoções reais. Se eu não tivesse essa noção firmemente enraizada em mim, não conseguiria completar a campanha da Guerra dos Elfos — nem sobreviver a este jogo mortal.

...Bem, para ser justo, NPCs como «Kizmel» têm algumas habilidades que nós jogadores não temos — como saber a hora exata sem um relógio, por exemplo.

Guardei esse pensamento no fundo da mente e peguei meu copo, bebendo tudo de uma vez. A água gelada com um leve aroma cítrico dissipou a sonolência que ainda restava do meu longo sono.

Era estranho começar nossa reunião de estratégia à noite, mas antes do SAO, minha mente funcionava melhor depois do jantar — depois da escola, das tarefas e do dever de casa.

E além disso, naquele momento, na floresta à margem oeste do Lago Yofel, o ex-comandante «Lavik» provavelmente estava acampando sozinho. Eu queria muito reuni-lo com o Visconde «Yofilis» — de preferência, ainda hoje.

Mas antes, precisávamos encontrar uma forma de atravessar o lago sem sermos notados. O Visconde provavelmente usaria aqueles sapatos mágicos — mas e nós?

— Ah.

«Kizmel» virou-se para mim quando falei. Estava prestes a perguntar "O que foi?", mas fui mais rápido e perguntei primeiro.

— Ei, «Kizmel»... ontem, no banho — por que você contou aquela história sobre o kelpie?

— Hm? Porque você disse que queria saber como atravessar o lago, não foi?

— Sim, mas o que isso tem a ver com um kel—

Antes que eu pudesse terminar, uma voz seca e arranhada soou à nossa esquerda, em diagonal.

— Eu já descobri.

Virando na direção da voz, vi que a porta do quarto — que eu tinha acabado de fechar — agora estava entreaberta, e Asuna cambaleava levemente ao sair.

Usava uma camisola azul, de uma peça só, que se ajustava ao seu corpo esguio, e seus cabelos, normalmente presos pela metade, estavam soltos, caindo pelos ombros. Com aquela iluminação fraca, se estivéssemos numa masmorra, eu facilmente a confundiria com um fantasma ou uma aparição.

A Asuna odeia monstros do tipo astral, pensei, enquanto uma ideia me passava pela mente: e se eu gritasse "Faaantaaasmaaa!!"?

Considerei a ideia por 0,001 segundo — e sabiamente desisti. Não estávamos em uma zona segura ali no Castelo de Yofel. Se a Asuna descobrisse que eu estava brincando, provavelmente acabaria com 90% do meu HP.

Naturalmente, «Kizmel» não demonstrou qualquer intenção de fazer uma brincadeira. Em vez disso, fez um gesto para que Asuna se sentasse no centro do sofá. Eu me afastei cerca de vinte centímetros para a direita, e Asuna, ainda um pouco trêmula nas pernas, contornou a mesa e se sentou com um leve "plof". Por um breve instante, ela virou o rosto na minha direção com uma expressão estranha. A princípio, achei que ela tivesse percebido que eu havia cogitado assustá-la mais cedo, mas logo percebi que não era isso.

Quando acordou no quarto, Asuna deve ter notado que estava deitada em uma cama diferente da qual havia adormecido. Ela sabia muito bem que eu tinha acordado antes, e certamente eu também percebi. Mas não havia necessidade de tocar no assunto, por isso aquele olhar desconfortável e indecifrável.

Felizmente, eu não era imaturo a ponto de provocá-la por isso. Em apenas 0,0001 segundos de contato visual, chegamos a um acordo silencioso: Nunca falaremos sobre isso. Então, nos recostamos no sofá ao mesmo tempo.

Esperei até que Asuna terminasse o copo d’água que «Kizmel» havia servido antes de finalmente quebrar o silêncio.

— Então... o que você quis dizer com "já descobriu"? — perguntei.

— Bem... — começou Asuna, com a voz ainda um pouco rouca. Ela olhou de «Kizmel», à sua esquerda, para mim, à direita, antes de continuar. — Acho que o que a «Kizmel» queria sugerir... é que nós três podemos atravessar o lago montando um kelpie.

— O quê!? — Exclamei, incrédulo, apenas para ouvir a voz calma de «Kizmel» logo em seguida.

— Oh? Impressionante. Exatamente isso.

— Quêêêê!? —- Gritei de novo, virando-me para elas, protestando: — Não, espera aí! Kelpies são mobs! Tudo bem, talvez dê pra montar um no meio de uma batalha, mas não tem como saber pra onde ele vai, ele pode simplesmente mergulhar no lago sem avisar...

— Isso não vai acontecer — interrompeu Asuna com frieza. Agora completamente desperta, graças à água e à conversa, ela me lançou aquele olhar típico de exasperação e, por alguma razão, ainda acrescentou com um certo orgulho.

— Nós vamos domar o kelpie. Não é, «Kizmel»?

— Exato — confirmou «Kizmel» com um aceno.

— WTF!?

Mais um grito escapou da minha boca — mas não era pra menos. Domadores de monstros são uma figura clássica dos RPGs, sempre presentes como uma classe popular — e frequentemente apelona. Muitos jogos giram inteiramente em torno disso. Mas em SAO, as habilidades de domar monstros não estavam disponíveis — pelo menos, não por padrão. Se existisse, seria uma habilidade extra, como «Martial Arts» ou «Meditation», com condições de desbloqueio especiais e desconhecidas. Pelo menos, era o que Argo, a negociadora de informações, me havia dito.

Enquanto tentava organizar meus pensamentos para explicar isso às duas, uma lembrança me veio à mente — recentemente, no sétimo andar, encontramos NPCs com habilidades de domador. «Bardun», chefe da família Korloy, que controlava o Cassino em «Volupta», e «Nirrnir», da família Nachtoy

«Bardun», que praticamente foi nosso inimigo no sétimo andar, não moveria um dedo para nos ajudar. Restava apenas uma possibilidade...

— Espera... não me diga que vocês estão pensando em pedir pra Lady Nirr vir até o quarto andar...?

— Erradooo! — Asuna ergueu a mão direita e cutucou meu ombro esquerdo com o dedo indicador.

— A «Kizmel» jamais sugeriria trazer Lady Nirr até aqui só pra tentar domar um monstro que talvez nem apareça!

— É-É, você tem razão. Então, como...?

— Você realmente é um caso perdido quando se trata de coisas sobre si mesmo, Kirito — suspirou Asuna, fazendo questão de me fazer ouvir, e começou a girar o dedo ainda pressionado no meu ombro.

— Se encontrarmos um kelpie — você é quem vai domá-lo!

— Queeeeeeee!?

Meu quarto grito foi tão alto que chegou a fazer a superfície da jarra d’água na mesa tremer.

Tamanha era a confusão que de repente percebi o quanto estava faminto. Deixando de lado a questão do kelpie por enquanto, sugeri que fôssemos até o refeitório. Nem Asuna nem «Kizmel» haviam comido uma refeição decente em quase um dia, então, naturalmente, não houve objeções. Após uma rápida troca de roupas, descemos até o grande salão de refeições, no segundo andar da ala oeste da mansão.

Ao empurrarmos as portas duplas, um aroma delicioso de assados e o som suave de conversas nos alcançaram — mas algo parecia... estranho. Parei, tentando entender o que havia de diferente, e Asuna sussurrou ao meu lado.

— Não tem música.

Ela tinha razão. Na última vez que estivemos ali, um pequeno conjunto de cordas com quatro ou cinco músicos tocava melodias suaves num palco nos fundos do salão. Primeiro pensei que talvez fosse cedo demais, mas, ao observar com mais atenção, percebi que o palco simplesmente havia desaparecido.

No lugar dele, algo completamente novo: um longo balcão de buffet fora instalado ao longo da parede próxima à cozinha. Grandes travessas com todo tipo de comida estavam organizadas em fila. Havia pratos e talheres disponíveis — claramente, agora era um serviço de buffet. Da última vez, às criadas haviam servido pratos à la carte, em ordem e com todo o protocolo.

Ou seja, em apenas duas semanas, cortaram os custos operacionais do salão? Mesmo que fosse isso, eu não tinha do que reclamar. Na verdade, eu até preferia assim. Afinal de contas — é tudo à vontade. Enquanto pensava nisso, murmurando internamente, uma criada que passava por nós nos reconheceu e sorriu.

— Oh! A nobre cavaleira e os espadachins das terras humanas. Bem-vindos de volta!

— Você... você se lembra da gente? — perguntou Asuna, surpresa.

A criada, equilibrando com maestria uma pilha de pratos vazios, deu de ombros de forma divertida.

— Claro! Vocês são os heróis que salvaram o castelo dos Elfos da Floresta! Ai, estou tomando o tempo de vocês. Devem comer logo — esse lugar enche de soldados em uns trinta minutos. O especial de hoje é caranguejo de rio frito e sopa de kōru. Aproveitem!

Disse tudo aquilo de uma só vez e praticamente dançou de volta para a cozinha. Asuna e eu trocamos um olhar, assentimos em silêncio e partimos direto para o buffet.

Empilhei o maior prato disponível com o caranguejo frito recomendado, frango grelhado, assado de veado e purê de batatas, e o coloquei sobre uma mesa perto da janela. Na segunda ida, peguei um de cada tipo de pão e um creme branco que parecia uma das especialidades do dia.

Asuna e eu nos sentamos ao mesmo tempo. Nenhum de nós disse uma palavra enquanto esperávamos por «Kizmel». O vapor que subia da montanha de comida em nossos pratos fazia meu estômago se revirar com uma intensidade difícil de acreditar que era só uma sensação virtual gerada pelo NerveGear. Já havia pensado nisso muitas vezes antes, mas nunca deixava de parecer real.

«Kizmel» voltou cerca de dois minutos depois — que pareceram vinte — carregando uma garrafa de vinho e três taças. Para ela, provavelmente nem parecia tanto tempo.

— Não precisavam ter esperado — disse, sentando-se e colocando uma taça diante de cada um de nós. Em seguida, com a garrafa já aberta, serviu um líquido vermelho profundo em cada copo.

— Se esperaram, então façamos um brinde. Hmm...

Ela pegou sua própria taça e inclinou levemente a cabeça, pensativa.

— É um pouco tarde para brindarmos ao Ano Novo, e celebrar a derrota do guardião do Sétimo Andar não parece certo, considerando o preço que Kirito teve que pagar... Hmm... — «Kizmel» mergulhou em um pensamento profundo.

Então, Asuna, com a voz calma, mas com um leve tremor, ofereceu uma sugestão gentil.

— Então... que tal, em vez de comemorar, fazermos um pedido? Como esperar que nossa missão neste andar termine em segurança.

— Entendo... É uma boa ideia. Nesse caso...

«Kizmel» ergueu a taça e falou com um tom solene.

— Brindemos na esperança de que o que foi tomado possa ser recuperado, e que Kirito permaneça intocado pela luz do dia.

— Saúde.

— S-Saúde...

Ok, aquela segunda parte era algo com o qual eu realmente precisava ter cuidado agora, mas... dita assim, me fazia parecer um morto-vivo. Bom, pensando bem... eu sou um morto-vivo agora, né?

Enquanto esse comentário interno sarcástico passava pela minha cabeça, ergui minha taça junto com as delas. Não havia dúvida de que «Kizmel» realmente se importava com meu bem-estar, então deixei os pensamentos distraídos de lado e desejei sinceramente o sucesso da nossa missão de recuperar a chave enquanto tomava um gole do vinho rubi-escuro.

Nos últimos dois meses, tive a chance de experimentar vários tipos de bebida alcoólica, mas o que mais gostava ainda era uma boa caneca de cerveja bem gelada. Infelizmente, Aincrad não tinha refrigeradores, nem máquinas de gelo — nem sequer magia baseada em gelo —, então beber algo verdadeiramente gelado era raro. Ainda assim, mesmo a cerveja moderadamente fria já era maravilhosa neste andar eternamente ensolarado.

Já o vinho — especialmente o tinto — sempre me pareceu sofisticado demais para o meu paladar simples. Vinhos fantasiosos como o "Vinho Caprichoso", cujo sabor mudava a cada dose, ou o "Vinho da Flor da Lágrima da Lua", que a «Tilnel» costumava gostar, eram leves e doces o suficiente para até eu apreciar. Mas esse vinho tinto, que provavelmente imitava um rótulo do mundo real, costumava ter um amargor e uma adstringência que me faziam franzir a testa involuntariamente. 

Mesmo assim, como «Kizmel» havia se dado ao trabalho de trazê-lo, eu não podia deixar transparecer nenhuma careta. Preparado, tomei um gole mais generoso.

— Hã?

O som escapou por conta própria.

Aquele amargor e adstringência estavam lá, sim — mas suaves, quase escondidos por camadas de doçura e acidez. Não havia aspereza ou agressividade. O sabor era incrivelmente encorpado e aveludado, com um aroma envolvente que permanecia no nariz.

— E então? É bom, não é? — disse «Kizmel», satisfeita.

— É uma safra de noventa — não, noventa e um anos — da Vinícola Real do nono andar. Vi a garrafa na sala de armazenamento da última vez que jantamos aqui, e ela despertou minha curiosidade.

Por "sala de armazenamento", ela devia estar se referindo à enorme adega ao lado da cozinha. Era acessível a partir do salão, então talvez os hóspedes pudessem escolher os vinhos que preferissem. Mas... será que os soldados já não teriam se servido de algo tão raro...?

«Kizmel» deve ter notado a suspeita no meu rosto, porque empurrou a garrafa cuidadosamente na minha direção.

— O rótulo está tão desbotado que mal dá pra ler, mas tente passar o dedo aqui.

Ela apontou para a parte inferior do rótulo, e eu a segui, passando suavemente a ponta do dedo médio direito. Senti marcas em relevo bem sutis.

— Esse é o selo oficial em alto-relevo da Vinícola Real. Se olhar um pouco à direita, dá pra ver o ano.

— Hm...

Peguei a garrafa e examinei o rótulo envelhecido. O nome da marca e a região, provavelmente escritos à mão, haviam praticamente desaparecido. Asuna se inclinou para olhar também, mas logo balançou a cabeça.

— Eu não consigo ler absolutamente nada.

Desisti de tentar decifrar o nome da vinícola e me concentrei no lado direito do selo em relevo, onde «Kizmel» havia indicado. No momento em que pensei que uma luz mais forte ajudaria, minha melhoria de visão noturna se ativou e iluminou sutilmente meu campo de visão. Quatro números árabes emergiram do rótulo sépia.

— Parece... 2, 4, 0... 7?

— Muito bem observado — exatamente o que eu esperaria de alguém da noite... cof.

«Kizmel» se interrompeu e lançou olhares rápidos para os lados. As mesas próximas estavam vazias, então ninguém escutava — mas, mesmo assim, era melhor não sair por aí anunciando meu status de morto-vivo.

Ela deu de ombros discretamente, e eu retribuí o gesto antes de colocar a garrafa de volta na mesa.

— Você conseguiu enxergar isso com um número tão apagado, hein? Então isso significa que o vinho foi produzido em... dois-quatro-zero—

Parei no meio da frase. Dois mil quatrocentos e sete!?

Mal consegui me impedir de gritar. Olhei para Asuna e vi que seus olhos também estavam arregalados, refletindo o mesmo choque. Kizmel havia dito que o vinho tinha 91 anos — o que significava que agora era o ano 2498 no calendário dos elfos negros.

Talvez confundindo nosso silêncio com admiração pela idade do vinho, «Kizmel» se inclinou com um sorriso travesso e sussurrou.

— Provavelmente foi um presente destinado a algum visconde, mas acabou sendo armazenado no lugar errado por décadas. Vinhos tão antigos costumam ser muito azedos ou amargos, então duvido que até mesmo os soldados quisessem tocá-lo.

Ela realmente se soltou desde que nos conhecemos... pensei, embora não tivesse coragem de dizer isso em voz alta. «Kizmel» repousou sua taça e pegou a faca e o garfo.

— Vamos comer antes que esfrie.

— Ah — certo.

Pensei em deixar para mais tarde as reflexões sobre a vastidão da linha do tempo dos elfos negros, pois minha fome, esquecida há horas, voltou com força total. Peguei meus talheres e me juntei às outras em um suave e sincronizado.

— Itadakimasu.

Asuna começou com sua salada, de forma ordenada. Eu, por outro lado, nem cheguei perto dos vegetais. Peguei um bolinho inteiro de caranguejo de rio frito e mordi com vontade. Esperava uma casca dura, mas ela se desfez com um estalo crocante, revelando uma carne suculenta e cheia de sabor. Os temperos fortes eliminaram qualquer gosto de peixe. Mastiguei animado e engoli, indo direto para uma fatia grossa de carne de veado mal passada. Apesar da pouca gordura, estava macia e suculenta, perfeitamente combinada com um molho espesso. O frango grelhado, temperado apenas com sal, destacava o prazer de saborear a pele crocante e dourada.

No Sétimo Andar, experimentamos todo tipo de pratos exóticos — arroz gapao, khao man gai, dolma, moussaka, ensopados... todos deliciosos. Mas nada se comparava à satisfação pura de uma refeição direta e robusta como aquela. Ao que tudo indicava, tornar-me um cidadão da noite não havia diminuído meu paladar, meu apetite ou minha capacidade de mastigar.

Depois de me fartar de carne e caranguejo, voltei minha atenção para a sopa. A criada havia dito que era "sopa de kōru", mas eu não fazia ideia do que era kōru. Tomei uma colherada. Um leve dulçor e um aroma peculiar se espalharam pelo meu paladar. Não era batata, nem cebola, nem milho — mesmo após vários goles, eu ainda não conseguia identificar.

Lembrava-me daquela fruta misteriosa que Asuna havia jogado na minha boca durante o banho — provavelmente mais um ingrediente fantasioso sem equivalente no mundo real...

— Ah, entendi... — murmurou Asuna, com uma expressão de compreensão, após provar a mesma sopa. Inclinei-me um pouco para a direita e perguntei.

— O que exatamente é kōru?

— Acho que é couve-flor.

— Ah, oh... é, faz sentido...

Agora que ela tinha mencionado, realmente lembrava o gosto da couve-flor. Eu sempre a considerei aquele legume sem graça e esfarelento que ficava esquecido no canto do prato de carne e, para ser sincero, nunca fui fã da textura — mas, transformada em potage (sopa), seu aroma e riqueza de sabor eram surpreendentemente agradáveis.

— Mas por que couve-flor se chama kōru?

Quando inclinei a cabeça, confuso, Asuna sussurrou.

— Couve-flor vem de cole-flower. Cole é a palavra holandesa para "couve"... ou pelo menos acho que é. Então basicamente significa "a flor da família da couve".

(N/SLAG: Couve-flor vem de cauliflower, que por sua vez vem do latim caulis flōs, significando literalmente "flor da couve". Caulis é a palavra latina para "talo" ou "couve", e flōs significa "flor". Cauliflower → Kōrufurawā (コールフラワー) → Kōru (コール))

— Ohhh, tipo coleslaw — a parte do cole. ...Espera, isso não significa que isso aqui é sopa de repolho, e não de couve-flor?

— Eles não têm gosto nem um pouco parecido.

Eu não tinha tanta certeza de que a diferença era tão óbvia assim... mas quando se tratava de comida, eu confiava muito mais no paladar da Asuna do que no meu. Na verdade, isso se aplicava a quase tudo — conhecimento geral, habilidades sociais, o que fosse — mas Asuna nunca me fazia sentir inferior por causa disso. Esse era o jeito dela.

No fim das contas, não importava se a sopa era de couve-flor ou não — estava deliciosa de qualquer forma. Terminei o restante com um pouco de pão recém-assado, lavei tudo com o vinho que ainda restava na taça, e me recostei por um momento, saboreando tudo antes de voltar para uma segunda rodada no buffet.

No fim, fui me servir mais duas vezes, Asuna uma, e embora «Kizmel» não tenha repetido a comida, acabou bebendo quase setenta por cento daquele vinho de 91 anos sozinha. O salão começou a encher, então agradecemos às criadas e saímos discretamente.

Os corredores estavam lotados de soldados famintos, mas assim que chegamos ao quarto andar, parecia uma cidade fantasma — não havia um único elfo à vista.

Enquanto caminhávamos pelos corredores silenciosos, comecei a considerar seriamente a ideia de usar o Castelo Yofel como base. Com comida boa daquele jeito todos os dias, com certeza deveria haver algum jeito de ir e voltar das linhas de frente com mais facilidade. Achei que Asuna estava em silêncio por estar pensando na mesma coisa — mas, na verdade, seus pensamentos estavam em outro lugar.

— Ei, «Kizmel»... — Asuna chamou a cavaleira com cautela. — Quando visitamos o castelo no mês passado, as criadas trouxeram a comida até nós, certo? Por que agora é self-service? Não que eu esteja reclamando! Tudo estava delicioso, claro. Só fiquei curiosa...

Boa pergunta. Eu também estava me perguntando isso. Mesmo que fosse apenas uma mudança de sistema, SAO sempre tendia a justificar esse tipo de coisa com alguma lógica interna ao mundo.

Mas a resposta de «Kizmel» foi inesperada.

— Ah... Aquele dia era o Festival de Yule. Devem ter servido uma refeição especial para todos no castelo. Tivemos sorte de estarmos lá justamente nessa ocasião.

— Uau, sério?

A voz de Asuna se iluminou de entusiasmo. Ela claramente reconhecia o nome. Eu, por outro lado, nunca tinha ouvido falar disso. Naturalmente, perguntei:

— O que é Yule?

— É o Natal — respondeu Asuna em um sussurro, e logo continuou, sem que eu precisasse pedir.

— No mundo real, nos países escandinavos, eles chamam o Natal de Yule. Começou como uma celebração do solstício de inverno e depois se misturou com as tradições cristãs. Acho que Yolu é só uma pronúncia arcaica.

— Ahh... agora tudo faz sentido. Então a neve que caiu aquele dia, e o quarteto de cordas no salão de jantar... provavelmente também eram partes especiais do evento de Natal, né...

Como se estivesse esperando nossa conversa terminar, «Kizmel» retomou.

— Lembram-se de que os filhos do visconde também estavam no salão naquele dia? É impensável que filhos de nobres jantem junto de soldados ou servos — mas a noite de Yule é a única exceção. Nem todos aprovam essa tradição, no entanto...

— Você está falando dos sacerdotes que estavam lá naquele dia? — perguntou Asuna, baixando o tom. «Kizmel» respondeu com um leve sussurro, quase divertido.

— Exatamente. Mas tenham cuidado ao falar sobre eles no território de «Lyusula» — como dizem, as paredes têm ouvidos.

— Entendido — disse Asuna, dando um leve dar de ombros, antes de acrescentar algo de repente.

— Então... será que o «Setoran» também estava no salão naquele dia?

— Não...

«Kizmel» assumiu uma expressão séria e balançou a cabeça.

— Cheguei ao Castelo Yofel dois dias antes de vocês, mas não me lembro de ter visto «Setoran»-dono durante minha estadia. O castelo é grande, então é possível que não tenhamos nos cruzado, mas...

— Entendi... — murmurou Asuna, pensativa. Olhei para ela e perguntei.

— Tá preocupada com o «Setoran»? Tipo... não desse jeito! Não, quer dizer, não romanticamente ou algo assim...

Encolhi os ombros, percebendo que tinha falado demais. Mas Asuna apenas lançou um olhar gelado e ignorou o comentário.

— Só estava pensando... Se o «Setoran» realmente não estava no castelo em um dia tão especial como Yule, então... que tipo de motivo ele teria para estar ausente?

— Hmm... Boa pergunta — assentiu «Kizmel». — Dizem que até monstros formam procissões e vagam pelas terras na noite de Yule. Por isso até os guardas do palácio são dispensados de seus postos para passar a noite em casa com a família. Para alguém da idade dele não voltar para casa... é realmente estranho.

— Espera — monstros? Que tipo de monstros? Você já viu algum?

Claro que fui eu quem perguntou. Se essa tal "procissão de monstros" realmente existisse, poderia ser um evento raro — ou até uma quest anual. Mas «Kizmel» me lançou um olhar de pura frustração.

— Claro que não. Até me formar na escola, sempre passei o Yule em casa. Mesmo depois de virar cavaleira, nunca saí na noite de Yule. Mas existem muitas lendas — enxames de espíritos, conventículos de bruxas, caçadores do submundo montados em cavalos negros... todo tipo de história. E como já lhes disse antes...

Ela se interrompeu, então a encarei, esperando.

— Disse o quê?

«Kizmel» estreitou os olhos e alertou.

— Não tentem procurar por isso, ouviram?

Então explicou.

— Dizem que, à medida que a noite de Yule se aprofunda, um santo sombrio corrompido pelas trevas aparece em uma certa floresta de Aincrad. No saco que carrega nas costas, alguns dizem que há crianças que se perderam sozinhas na noite de Yule. Outros dizem que ali dentro estão fragmentos do fruto roubado da Árvore Sagrada. Seja como for... mesmo corrompido, ele ainda é uma entidade divina. Nem mesmo o poder dos Cidadãos da Noite seria suficiente para derrotá-lo.

— E-Eu não vou procurar por ele... Uau, uma entidade divina, hein...

De repente, percebi algo: «Kizmel» raramente falava sobre deuses.

As duas tribos élficas veneravam profundamente a Árvore Sagrada, e eu havia assumido que ela servia como substituta dos deuses. Mas agora eu me perguntava — será que existiam deuses superiores ou talvez completamente distintos? Julgando pelo uso do termo "linhagem divina" (kenzoku), não parecia ser um monoteísmo rígido... Meus pensamentos começaram a divagar, mas a voz da Asuna me trouxe de volta.

— Então por que o «Setoran» não estava no castelo? — ela perguntou. — E... certo, agora que penso nisso, nunca vimos a mãe de «Setoran» ou das outras crianças — a esposa do visconde «Yofilis», certo?

— Oh...

Ela tinha razão. Olhei para o teto do corredor, pensativo.

Se há crianças, com certeza deve haver uma mãe também. É claro que, sendo uma nobre, ela poderia passar todo o tempo no andar mais alto do castelo, longe dos olhos dos plebeus. Mas mesmo assim, o fato de sua presença ser tão completamente imperceptível... isso me pareceu estranho.

— Também já me perguntei isso — sussurrou «Kizmel», sua voz baixando ainda mais. — Para ser honesta, ainda há muito que não sei sobre o próprio visconde. Durante minha estadia no mês passado, só então descobri que ele tinha três filhos pequenos e um herdeiro homem. Quanto à esposa dele — nunca a vi, nem sequer ouvi seu nome. Mas... não cabe a mim investigar.

— Entendo... — Asuna assentiu e caiu em silêncio, pensativa.

Em um RPG clássico, se você estivesse curioso com algo assim, bastaria conversar com todos os NPCs do castelo até que um deles soltasse alguma pista. Mas em SAO, se você não agisse com a etiqueta adequada e consciência das normas sociais, até uma única linha de diálogo podia desencadear um evento irreversível. Até a própria «Kizmel» tinha nos saudado pela primeira vez com um grito de "Saiam do meu caminho! Fora daqui!"

A ausência de «Setoran» na noite de Yule... os deuses adorados pelos elfos... a viscondessa invisível — havia muita coisa que não se encaixava direito. Mas antes de investigar esses mistérios, precisávamos resolver a situação de «Lavik», o ex-capitão dos cavaleiros, que ainda estava acampado sozinho à beira do lago, em pleno inverno. Nem sequer tínhamos descoberto como cruzar o lago sem alertar os sentinelas. Antes disso, eu teria que conversar com o visconde «Yofilis» e convencê-lo a aceitar um pedido ousado: atravessar o lago conosco sem fazer perguntas, e sem nos designar escolta.

Enquanto ponderava sobre tudo isso, chegamos à grande escadaria do salão principal. Se continuássemos em frente, retornaríamos aos quartos de hóspedes na ala leste. Mas não havia nada esperando por nós lá.

— Então... vamos ver o visconde agora? — parei e sugeri.

Tanto Asuna quanto «Kizmel» assentiram, com uma leve tensão no rosto.

Subimos ao quinto andar pela escadaria ampla forrada de tapete vermelho e emergimos em um salão majestoso, diferente de tudo que havia nos andares inferiores. Na parede à frente, pendia um enorme quadro a óleo retratando o lago e o castelo. De cada lado havia grandes arcadas de madeira. Pelo corredor da direita ficava o escritório do visconde — já havíamos estado lá antes. O corredor da esquerda... nunca havíamos explorado.

Era possível que os aposentos da família do visconde ficassem naquele lado, e talvez a Lady da casa vivesse ali. Mas mesmo que fosse esse o caso, invadir sem permissão estava fora de questão.

«Kizmel» seguiu decididamente pela arcada da direita, e nós a seguimos em silêncio. Logo vimos um par de portas duplas pretas à frente no corredor escuro, ladeadas por dois guardas totalmente armados. Mesmo dentro do castelo, usavam as viseiras abaixadas, com o rosto oculto.

Pareciam intimidadores, mas haviam lutado bravamente durante a batalha pelo Castelo Yofel contra os elfos da floresta, e também atuaram como tanques na luta contra o boss de andar. «Kizmel» parou diante deles, fez uma saudação formal e perguntou.

— O visconde está?

Os dois guardas bateram a armadura em uníssono ao retribuírem a saudação. Então, o da esquerda respondeu com a voz abafada.

— Sim. Fomos instruídos a deixá-la e seus acompanhantes entrarem, caso viessem.

— Entendo. Obrigada.

Aparentemente, o visconde já antecipava nossa visita. Senti-me um pouco culpado por tê-lo deixado esperando metade do dia, mas tínhamos nossos motivos.

«Kizmel» bateu com firmeza na porta da direita, esperou dois segundos, então girou a maçaneta e a empurrou. Ela entrou com passos firmes; Asuna a seguiu. Fui o último, fechando a porta atrás de mim.

O escritório não havia mudado de tamanho ou disposição desde nossa última visita, mas o ambiente estava completamente diferente. Logo entendi o porquê: das três janelas gradeadas na parede oposta, apenas a cortina da janela central estava aberta, deixando passar um feixe pálido de luar. Na visita anterior, todas as cortinas estavam cerradas, tornando o cômodo ainda mais escuro.

Apenas uma lamparina iluminava o ambiente — como antes. Sua pequena chama tremulava na beirada da escrivaninha antiga e, atrás dela, estava o Lorde deste cômodo — não, deste castelo. Antes de ontem, talvez eu só visse sua silhueta, mas agora, com minha visão noturna, eu via claramente seu rosto.

Cabelos longos e ondulados, pretos. Um rosto bonito e sereno, com um traço marcante de firmeza. Uma longa cicatriz que descia da testa, passava sobre o olho esquerdo e seguia até a boca. Não havia dúvida: este era «Leyshren Zed Yofilis», Visconde do Castelo Yofel. 

«Kizmel» avançou até cerca de dois metros da mesa e pressionou o punho direito contra o peito esquerdo em uma reverência profunda. Asuna e eu a imitamos rapidamente.

Quando ergueram as cabeças, o visconde retribuiu o gesto com um leve movimento de seu espesso manto, e então começou a falar.

— Fico feliz em vê-los com saúde, Cavaleira «Kizmel», Espadachim Kirito e Espadachim Asuna. No entanto... Kirito, você parece um pouco mais pálido do que antes.

— Ah, bem, é... sobre isso... — cocei a nuca com a mão direita, procurando palavras. Mesmo na penumbra, ele percebera imediatamente e entendeu que eu agora fazia parte do povo da noite. Sua perspicácia me impressionou.

— Por circunstâncias inevitáveis, acabei ficando assim... mas, é claro, não represento perigo a ninguém no Castelo Yofel.

Consegui me explicar de alguma forma. O visconde esboçou um leve sorriso.

— Jamais suspeitei de tal coisa. Na verdade, minha preocupação é que você acabe se expondo ao sol por acidente enquanto estiver aqui.

— Agradeço pela preocupação, meu lorde. O quarto que o senhor nos designou tem venezianas nas janelas, então devo estar seguro.

— Que bom, fico aliviado em saber disso.

Ele assentiu, e então, de repente, mudou de expressão.

— Há uma coisa que preciso perguntar. Qual é o nome da Casa cujo senhor fez de você seu parente?

Ao ouvir essa pergunta, minha mente imediatamente calculou o risco: havia alguma chance de o visconde sacar o florete e me atacar ali mesmo? 

Afinal, «Kio» — a criada de «Nirrnir» — nos dissera: as famílias Nachtoy e Korloy capturavam monstros da Floresta de Rochas soltas, território dos elfos negros, para usá-los nas arenas de batalha do Grande Cassino. Por isso, os elfos negros agora atacavam seus caçadores à primeira vista.

Mas o centro daquela floresta, o Santuário da Árvore Harin, era o lar dos sacerdotes elfos negros — que estavam em conflito com seus próprios cavaleiros. Além disso, «Nirrnir» nunca sequer saíra de «Volupta», e o visconde «Yofilis» vivia em um andar completamente diferente. Era difícil imaginar algum rancor pessoal entre eles.

— Família Nachtoy.

Respirei fundo e respondi com sinceridade. O visconde inclinou levemente a cabeça, como se buscasse na memória, e então assentiu com um ar de quem se recordava.

— Ah... descendentes do Matador de Dragões, Falhari. Nesse caso, sua estadia neste castelo não apresenta problema algum.

Sua escolha de palavras sugeria que outros nomes de família talvez causassem um problema, mas eu não tinha coragem — nem tempo — para perguntar mais.

Embora já fizesse mais de trezentos anos desde que o avô de «Nirrnir», Falhari, morrera no Sétimo Andar, não pude evitar a pergunta — será que o Visconde «Yofilis» o conheceu pessoalmente? Ou talvez Falhari também tenha caçado dragões no Quarto Andar? Afastei essas questões girando na minha mente e inclinei a cabeça mais uma vez.

— Agradeço sinceramente por sua gentileza.

Imediatamente, «Kizmel» e Asuna soltaram suspiros quase imperceptíveis de alívio. Devem ter temido que eu dissesse alguma bobagem e arruinasse toda a reunião. Sinceramente, é ofensivo... mas, ao mesmo tempo, tenho plena consciência de que, se alguém fosse estragar tudo agora, esse alguém seria eu. O ideal seria deixar as explicações para as outras a partir daqui.

O visconde então nos ofereceu uma abertura gentil.

— Pois bem... Imagino que sua visita não seja apenas para uma saudação, certo?

Aproveitei a deixa, dei um pequeno passo para trás e respondi.

— Exato. A partir daqui, Asuna explicará.

— O quê...?

Achei ouvir um protesto abafado, mas Asuna avançou sem hesitar e tomou seu lugar ao lado de «Kizmel».

— Viemos até vós, Lorde «Yofilis», para humildemente pedir um favor.

Sua fala foi firme e serena, à qual o visconde respondeu com a mesma elegância.

— Vocês três são heróis que salvaram este castelo, minha família e muitos dos nossos soldados e servos do ataque surpresa dos elfos da floresta. Sinceramente, creio que até Sua Majestade, a Rainha, os homenagearia pessoalmente. Infelizmente, dadas minhas circunstâncias, isso não será possível. Sempre me senti desconfortável pelo fato de minha pequena ajuda durante a batalha contra a besta guardiã estar longe de ser suficiente como retribuição. Portanto, se estiver ao meu alcance, concederei qualquer coisa que pedirem.

— Vossa generosidade é imensamente apreciada.

Após uma reverência, Asuna enfim foi direto ao ponto.

— Então, com todo o respeito, faço este pedido: hoje à noite, às 21 horas, gostaríamos que vós, Lorde «Yofilis», nos acompanhasse — sozinho — até a margem oeste do Lago Yofel. Lá, alguém deseja encontrá-lo.

— Hmm.

Se ele ficou surpreso ou não, o visconde pouco deixou transparecer.

— Sozinho... quer dizer, sem nenhum guarda?

— Sim.

Talvez percebendo naquele momento o quão ousado era esse pedido — especialmente a um nobre de tal posição, segundo apenas ao «Conde Melan Gus Galeyon», Lorde do Castelo Galey — a voz de Asuna vacilou levemente.

«Kizmel» deu um passo à frente para apoiá-la.

— Temos plena consciência de que se trata de um pedido extremamente impróprio. Contudo, devo uma dívida profunda e pessoal àquele que nos confiou essa mensagem. Protegerei vossa vida com a minha, Lorde «Yofilis». Por favor, consideraria nos acompanhar?

Seguindo o exemplo de «Kizmel» ao se curvar, Asuna e eu também fizemos nossos juramentos com sinceridade.

— Eu-eu também farei tudo o que puder para protegê-lo!

— E eu também o protegerei!

Um momento depois, o visconde deixou escapar um leve riso.

— Levantem a cabeça, todos vocês. É verdade que deixei o campo de batalha há muito... mas não estou tão enferrujado a ponto de ser superado por monstros próximos ao lago.

— Claro! Não tive a intenção de desrespeitá-lo, meu lorde! Fui imprudente ao dizer tal coisa ao mesmo Visconde «Yofilis» que dançou habilmente até mesmo ao redor da besta guardiã da Torre do Pilar Celeste...

Desconcertada, «Kizmel» tentou se explicar, mas o visconde levantou a mão direita, interrompendo-a.

— Não estou questionando sua habilidade. Confio em você. Por favor, cuide da minha proteção.

— Então... nos acompanhará?

— Antes de dar minha resposta, preciso fazer duas perguntas.

O sorriso habitual do visconde se desfez enquanto falava.

— A pessoa que me aguarda à beira do lago... vocês não podem revelar seu nome, podem?

— Não… — respondeu «Kizmel», visivelmente desconfortável.

Era um pedido absurdo, claro: escoltar um visconde, desacompanhado, para encontrar alguém cuja identidade permanece secreta. Se ele recusasse... deveríamos ir tão longe a ponto de revelar o nome de «Lavik» apenas para garantir o encontro?

Enquanto eu considerava essa possibilidade, o visconde fez a segunda pergunta.

— Então esta será minha última pergunta.

Sua voz era calma, mas carregava autoridade.

— Essa pessoa... é um Cavaleiro de «Lyusula»?

Embora tenha sido formulada como uma pergunta, o tom deixava claro que ele já sabia a resposta. «Kizmel» também deve ter sentido isso. Após uma breve pausa, respondeu.

— Sim.

Ao ouvir isso, o visconde piscou seu único olho uma vez, então — de forma inesperada — assentiu.

— Muito bem. Irei ao encontro dela.

Soltei o fôlego que estava prendendo. Mas o visconde logo acrescentou suas ressalvas.

— No entanto, mesmo que eu diga que não preciso de escolta, duvido que os guardas — especialmente «Zela» e «Gotra», ali fora — aceitem isso. Há uma forma de atravessar o lago sem ser visto, caso eu vá sozinho. Mas se vocês três forem me acompanhar... hmm...

Enquanto o Visconde «Yofilis» ponderava em voz alta, não pude evitar de me manifestar.

— Hum... o meio de atravessar o lago — está falando daqueles sapatos que usou durante a luta contra a besta guardiã? Aqueles que permitiam andar sobre a água?

— Sim. Se usá-los e sair pelos fundos do castelo, ninguém perceberá minha travessia.

— É... por acaso haveria, tipo, mais três pares desses sapatos...?

Asuna e «Kizmel» me fuzilaram com os olhos imediatamente, então me corrigi na hora.

— Não, claro que não. Desculpe.

— Infelizmente, não — disse o visconde, rindo suavemente enquanto balançava a cabeça. Em seguida, lançou um olhar para a janela atrás de si antes de se voltar para nós.

— Não há o que fazer. Vocês três devem embarcar no barco no Grande Píer, levá-lo pelos fundos do castelo e me buscar lá. Ainda há o risco de os guardas acharem estranho, mas não vejo outro jeito de atravessar.

— Ah... Entendo...

Asuna, «Kizmel» e eu assentimos em concordância.

Eu não tinha pensado nisso, mas realmente não haveria problema em embarcarmos num barco. Navegar até o lado norte do castelo poderia parecer incomum, mas poderíamos sempre dizer que queríamos admirar a vista noturna ou algo assim. Pelo menos era mais realista do que nosso plano anterior — tentar encontrar um kelpie, se é que existia um, e domá-lo de alguma forma.

Ou pelo menos era o que eu achava.

— Hum... Visconde «Yofilis» — perguntou Asuna, hesitante.

— Já viu algum cavalo... que caminha sobre a superfície do lago?

— Oh?

O Visconde «Yofilis» abriu ligeiramente o olho direito, surpreso, e então sorriu.

— Vejo que está bem-informada para conhecer as lendas do cavalo-d'água — o Kelpie — do Lago Yofel. Achei que ninguém neste castelo se lembrasse mais delas.

— Hm...

Asuna hesitou, mas «Kizmel» interveio para explicar.

— Certa vez, após me formar na Academia de Oficiais, visitei o Castelo Yofel em viagem com minha irmã mais nova. Durante uma caminhada ao amanhecer pelos arredores do castelo, tive uma breve visão de um cavalo azul caminhando sobre a superfície do lago... Acredito que possa ter sido um Kelpie.

— Ora, ora... Isso foi um golpe triplo de sorte.

«Kizmel» inclinou levemente a cabeça, confusa.

— Triplo... de sorte, disseste?

— Sem dúvida, era mesmo um Kelpie. Eu própria só vi um uma única vez, quando era jovem. Normalmente, eles vivem nas profundezas do lago, emergindo apenas brevemente entre a meia-noite e o amanhecer... e somente quando há uma névoa espessa e leitosa sobre o lago.

— Agora que mencionas, a névoa naquela manhã era tão densa que eu não conseguia ver nem minha própria mão estendida.

— Exato. Esse tipo de névoa aparece apenas quatro ou cinco vezes por ano no Lago Yofel.

Então, «Kizmel» e «Tilnel» haviam decidido caminhar justamente numa dessas raras manhãs de neblina espessa, anos atrás. Isso, de fato, era sorte — mas se fosse só isso, seria de se esperar que alguém acabasse encontrando um Kelpie a cada poucos anos. Devia haver outras condições. E se o visconde falava em três fatores de sorte, havia mais dois.

Sentindo um entusiasmo inesperado diante desse novo enigma, esqueci do nervosismo e me dirigi ao Visconde «Yofilis».

— Mas... só a névoa não basta para encontrar um Kelpie, certo? Deve haver outras condições também?

— Oh? Bons instintos, Kirito. Está absolutamente certo... Quer tentar adivinhar?

— Hm... deixe-me pensar...

Revi a história de «Kizmel» em minha mente. Tinha sido de manhã bem cedo. «Tilnel» a havia acordado, e ela deixara o castelo ainda de camisola, apenas jogando um manto por cima...

— Você não estava carregando nenhuma arma... certo?

— Boa resposta — mas apenas metade da resposta correta.

O visconde sorriu e tocou o fecho de prata de sua túnica.

— Para ser exato, não se deve vestir nenhum tipo de metal. Os Kelpies têm um olfato extremamente sensível, e detestam o cheiro de metal. Mesmo um anel de ouro ou platina — metais praticamente sem cheiro — os afugentaria.

— Não usávamos nada disso. Embora seja vergonhoso admitir, como alguém treinada nas artes da cavalaria, eu nem sequer carregava uma adaga. Até os botões das nossas roupas de dormir e dos mantos eram feitos de casca de noz esculpida.

«Yofilis» assentiu com seriedade diante da resposta de «Kizmel».

— Todos neste castelo — guardas e servos — são instruídos a portar armas ao deixar os terrenos, por menores que sejam. É uma forma de lembrá-los de que vivemos numa fortaleza às margens do lago, e que um ataque dos elfos da floresta nunca está fora de questão. Infelizmente, essa regra acabou virando mera tradição com o tempo, graças ao meu longo retiro no castelo interior...

Agora que ela mencionava, eu me lembrava de como a atmosfera parecia relaxada quando Asuna e eu chegamos ao Castelo Yofel duas semanas atrás. Até «Kizmel» havia comentado que a guarnição ali estava ficando negligente.

Mas agora... até a postura dos guardas parecia mais alerta. Talvez fosse resultado natural da batalha em grande escala que havíamos travado. Mas, mais do que isso, provavelmente se devia ao fato de o visconde ter aparecido diante de suas tropas pela primeira vez em anos e demonstrado coragem feroz com seus próprios olhos.

Ainda assim, mesmo quando a disciplina havia diminuído, os elfos negros de Yofel não haviam esquecido a regra mais importante: portar armas. E isso, por sua vez, os impediu de jamais encontrarem um Kelpie.

Até agora, dois dos "três golpes de sorte" mencionados pelo visconde estavam claros. Mas qual era o terceiro? Seria por terem ido em dupla? Por ambas serem mulheres? Por não terem falado? Nenhuma dessas hipóteses parecia certa. Depois de cinco segundos forçando o cérebro, desisti.

— Visconde... qual era a terceira condição de que falaste antes?

— Terceira condição?

«Yofilis» franziu a testa, confuso, e então riu suavemente.

— Ah... queres dizer quando falei em um "golpe triplo de sorte"? A terceira parte não é uma condição para ver um Kelpie, de forma alguma.

— Hã? Então que tipo de sorte era?

— Simples. O fato de vocês não terem sido atacadas.

Suas palavras casuais fizeram «Kizmel» se endireitar, surpresa. O tom do visconde era calmo ao explicar.

— Os Kelpies se alimentam principalmente de peixes, mas também são conhecidos por sair à terra para caçar animais. E, claro, há relatos de que atacam humanos e elfos. Segundo a lenda, se um Kelpie julgar que alguém não representa ameaça, ele se aproxima e tenta atraí-lo para subir em seu dorso — apenas para então arrastá-lo para as profundezas.

— Então quer dizer que minha irmã e eu poderíamos ter sido atacadas?

«Kizmel» perguntou, a voz incrédula. O visconde sorriu novamente.

— Parece que tiveram sorte. No meu caso... bem, deixemos essa história para outro momento. Em todo caso...

Ela se virou para Asuna e perguntou com firmeza.

— Asuna, você perguntou sobre o Kelpie porque quer saber se é possível montá-lo para atravessar o lago — estou certa?

— Sim, isso mesmo...

Asuna pareceu se preparar, como se estivesse esperando uma repreensão. Mas o visconde ficou em silêncio por um momento, com expressão séria, e então voltou o olhar para mim.

— Entendo... Então desejam usar o poder de subjugação concedido aos habitantes da noite — para obrigar um Kelpie à sua vontade.

— Eu quero dizer... isso está muito além de mim. Nunca tentei domar nada antes...

Tentei conter qualquer expectativa irrealista. Mas a resposta do visconde me pegou de surpresa.

— Isso não é necessariamente verdade. Segundo uma amiga minha — uma Doma-Lobos —, o poder de subjugação dos habitantes da noite é fundamentalmente diferente de domesticar um animal. Não se trata apenas de comida ou afeição — é um ato mágico de dominação.

— Dominação mágica…

Repeti a expressão e comecei a refletir sobre o que ela significava. 

A aranha que «Nirrnir» havia subjugado permaneceu completamente imóvel por meio dia, por comando. Isso não era algo que se conseguia apenas alimentando uma criatura selvagem. E, para ser sincero, duvidava que qualquer aranha adulta pudesse sequer ser domesticada.

"Doma-Lobos" devia se referir à rara classe de elfo negro conhecida como Domadora de Lobos Élficos. Eu os vira na fase beta — um elfo e um lobo lutando como uma só unidade, a sincronia entre eles era hipnotizante. Se alguém assim dizia que o poder de subjugação não era domar, mas algo mais próximo de encanto ou controle mágico, eu acreditava.

— Então, se esse é o tipo de poder de que estamos falando, talvez nem seja necessário ter experiência ou treino. Desde que as condições sejam cumpridas, pode funcionar... mesmo na primeira tentativa.

— Exatamente.

O visconde respondeu com uma expressão de súbita compreensão.

— Além disso — continuou ele —, diz-se que a taxa de sucesso do poder de subjugação depende da diferença de habilidade entre o usuário e o alvo. Em termos simples: quanto mais forte for a criatura em comparação a você, mais difícil será controlá-la. Quanto mais fraca, mais fácil. O Kelpie pode ser um monstro muito raro, mas não é particularmente poderoso. Se você o enfrentasse em terra ou sobre um barco, ele não representaria ameaça para você agora, Kirito.

— Então isso quer dizer que, se conseguirmos encontrá-lo e atraí-lo para terra firme ou para um barco, há uma grande chance de a subjugação funcionar?

A pergunta de «Kizmel» foi recebida com mais um aceno de cabeça do visconde.

O que antes parecia um plano imprudente — domar um Kelpie — agora começava lentamente a parecer viável. Mas ainda restava um grande problema: o Kelpie só aparecia em noites com uma névoa excepcionalmente densa, e isso acontecia apenas quatro ou cinco vezes por ano. As chances de que esta noite fosse uma dessas ocasiões raras eram, sendo generoso, inferiores a dois por cento. Asuna já havia demonstrado uma sorte absurda antes, mas mesmo considerando isso, estaríamos provavelmente forçando a boa vontade dos deuses do jogo.

Fiquei na ponta dos pés e olhei além do visconde, pela janela aberta atrás da cortina, em direção ao Lago Yofel. A luz da lua cintilava sobre a superfície negra como breu do lago. Não havia o menor sinal de névoa — nem mesmo uma bruma tênue.

— Parece que não veremos um Kelpie esta noite — comentei, baixando os calcanhares.

O visconde acompanhou meu olhar por cima do ombro e assentiu levemente.

— Pelo menos, as coisas devem continuar assim por mais algumas horas. Existe uma chance de a névoa se formar antes do amanhecer. Estariam dispostos a esperar até lá?

Asuna e «Kizmel» se viraram em silêncio para me encarar. O pedido de «Lavik» havia sido claro: levar o Visconde «Yofilis» sozinho para o outro lado do lago nesta noite. Se interpretássemos "nesta noite" de forma mais flexível, talvez conseguíssemos estender o prazo até instantes antes do nascer do sol. Ainda assim, mesmo que «Lavik» esperasse, eu estaria correndo o risco de ser exposto à luz do dia.

— Não...

Para minha surpresa, quem respondeu foi «Kizmel».

— Se possível, gostaríamos de partir conforme o planejado, às nove em ponto. Quanto ao meio de transporte, ficaríamos gratos se prosseguisse com sua sugestão de trazer o barco até os fundos do castelo.

Bem… não há outra escolha, realmente, pensei, soltando um suspiro discreto. Foi quando Asuna deu um passo à frente repentinamente e sussurrou com urgência.

— Kirito, com base no que o visconde disse… se houver névoa, o Kelpie pode aparecer mesmo que não esteja perto da margem, certo?

— Eu-eu acho que sim…

— Então por que não navegamos com o barco até a área onde a névoa aparece?

— Como é que vamos encontrar um lugar assim—?

E congelei no meio da frase.

Se esperássemos no Castelo Yofel, provavelmente nunca pegaríamos a névoa que precisávamos — nem hoje, nem amanhã, nem depois.

Mas se Asuna e eu seguíssemos de gôndola diretamente para o lago... em algum momento, certamente seríamos envolvidos pela névoa.

Uma névoa tão espessa que não se podia ver nem um metro adiante.

Uma névoa conhecida como a Fronteira da Instância.

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