Volume 9
Capítulo 29: Sétimo Andar de Aincrad
A fechadura que abria a porta secreta foi encontrada em menos de trinta segundos. Após verificar cuidadosamente se havia alguma presença além da parede, inseri o Espinho de Shmargor na abertura e ativei o mecanismo. Uma seção da parede de pedra afundou no chão — exatamente o mesmo sistema das salas ocultas do labirinto do sétimo andar.
O que significava que esta porta também começaria a se fechar cinco segundos depois que o espinho fosse removido. Então deixei Asuna e «Kizmel» passarem primeiro, puxei rapidamente a agulha e saí. Senti o som e a vibração da parede subindo nas minhas costas enquanto vasculhava os arredores com o olhar.
A textura úmida e escorregadia das paredes de pedra não deixava dúvidas — estávamos na zona do labirinto do quarto nível. O boss daqui, o monstro metade-cavalo, metade-peixe «Wythege the Hippocampus», já havia sido derrotado. E como essa área era inacessível por terra, poucos jogadores se davam ao trabalho de caçar aqui... ou pelo menos era o que eu presumia. Ainda assim, a cautela era necessária. Sempre havia a chance de um Elfo Caído ter emergido do portal de teletransporte — ou estar prestes a entrar.
Considerando a área segura por ora, sinalizei para as garotas e começamos a seguir pelo corredor.
Após apenas cinco ou seis passos, o caminho se alargou levemente. De acordo com o mapa, já havíamos passado por essa área antes, embora eu não tivesse memória clara disso. Provavelmente não exploramos o caminho que levava à sala oculta porque era visivelmente um beco sem saída, e devíamos estar com pressa para alcançar a sala do boss.
De qualquer forma, sabíamos o caminho para baixo, então prosseguimos com cautela, mas o mais rápido possível. Não conseguíamos evitar todos os encontros aleatórios, mas os inimigos do quarto andar já não representavam desafio algum. Lidamos com eles rapidamente e seguimos em frente.
Como planejado, limpamos cada andar do labirinto em cerca de três minutos e, pouco depois, chegamos ao décimo andar. Decidimos fazer uma breve pausa na sala segura localizada no centro do décimo andar. Consultamos o mapa para checar a rota mais curta até lá. Faltava apenas virar mais uma esquina e estaríamos lá — quando, de repente...
Fshhh!
Levantei a mão esquerda bruscamente, sinalizando para que os outros parassem. Dei dois passos cautelosos à frente e aspirei o ar.
O labirinto do quarto andar costumava ter poças d’água vazando das paredes e do teto, então o ar geralmente tinha um leve cheiro úmido. Se esse cheiro estivesse misturado a algo mais, poderia ser sinal de que mobs estavam prestes a surgir.
Mas o que senti agora era diferente — um aroma artificial, inconfundível. Um cheiro rico e saboroso, como carne assada com ervas... Não, não como — eu tinha quase certeza de que era carne assada. Virei-me e sussurrei para Asuna e «Kizmel».
— Vocês não estão sentindo um cheiro... bom? Como se alguém estivesse assando carne...?
— Hã...? Agora que você falou...
— Meio que parece mesmo cheiro de comida... talvez...?
As duas cheiraram o ar com expressões incertas, mas não demonstraram cansaço. Eu também ainda estava em condição de combate, então poderíamos pular a pausa e seguir direto para o próximo andar. Mas aquele cheiro me intrigava — seria apenas uma alucinação provocada pela fome, ou alguém realmente estava cozinhando carne ali?
— Se a gente só der uma espiadinha na sala segura, de longe... tudo bem?
Asuna inclinou levemente a cabeça.
— Bom... tudo bem. Se tiver alguém lá, não vai ser um mob, e duvido que Elfos Caídos estariam grelhando carne num lugar desses.
Ela tinha razão — embora eu também não conseguisse imaginar outros NPCs, muito menos jogadores, fazendo isso. Mas pensar demais não ajudaria em nada. Visualizando o mapa mentalmente, dei instruções em voz baixa.
— Depois da próxima curva à direita, tem um corredor reto com uns vinte metros. A entrada da sala segura fica à esquerda, mais ou menos na metade. Vamos nos aproximar até a esquina e espiar.
As duas assentiram, e continuei em movimento. Quando chegamos à curva, espreitei com cuidado.
Como esperado, um corredor escuro se estendia à frente, e uma pequena entrada podia ser vista à esquerda, no meio do caminho. Nem precisei apertar os olhos para ver o brilho alaranjado e fraco escapando por ela. Mais que isso — a fonte de luz parecia bem próxima ao chão.
Não havia fogueiras permanentes em salas seguras, então alguém devia estar fazendo uma fogueira lá dentro. Após confirmar que nenhum mob havia surgido, comecei a descer o corredor com o máximo de cautela.
Não havia andado nem três metros quando tive certeza — aquele cheiro era definitivamente carne assada. E eu já tinha sentido algo parecido antes, em algum lugar.
Lutando contra a vontade de acelerar o passo, me arrastei pelos sete metros restantes e encostei as costas na parede ao lado da entrada. Lancei um olhar para a direita e confirmei que Asuna e «Kizmel» estavam posicionadas, então comecei a espiar para dentro—
— Não precisam se esconder aí fora. Por que não entram de uma vez?
Uma voz masculina ecoou de dentro da sala, me fazendo estremecer.
Apesar da aspereza, sua voz grave carregava uma presença estranhamente autoritária. Mais importante — como ele nos percebeu? Havíamos suprimido ao máximo nossos passos e o farfalhar das roupas, e mesmo que tivesse algum cheiro, deveria estar completamente mascarado pelo aroma forte da carne grelhada.
Independentemente do como, o homem lá dentro claramente nos detectou. Poderíamos recuar agora, voltar e correr para as escadas — mas se ele fosse um Elfo Caído, talvez estivesse carregando o fragmento da chave roubada. E salas seguras em dungeons bloqueiam apenas monstros — não crimes. Se tivesse que haver uma luta, haveria menos variáveis dentro da sala do que no corredor.
— O-O que fazemos?
Olhei para trás. Asuna parecia preocupada, e atrás dela, «Kizmel» exibia uma expressão impossível de decifrar. Respondi apenas.
— Vamos.
Apertei com força o punho da «Doleful Nocturne» e entrei na sala segura.
A primeira coisa que chamou minha atenção foi a chama tremeluzente.
Era uma fogueirinha infantil, quase como algo saído de uma brincadeira de faz-de-conta — apenas três pequenos gravetos, cada um com cerca de dois centímetros de espessura e vinte centímetros de comprimento, dispostos em cruz. Acima dela, apoiado com delicadeza inacreditável, havia um tripé minúsculo, e sobre ele, uma frigideira também. Dentro da panela, pequenos pedaços de carne chiavam alegremente.
Depois de registrar tudo isso em um instante, finalmente direcionei meu olhar para a figura sentada do outro lado do fogo.
Como a frigideira bloqueava a luz da chama, o rosto da pessoa estava coberto por sombras, mas consegui distinguir, ainda que com dificuldade, uma barba bem aparada e um pescoço forte e musculoso. Como eu suspeitava, era um homem — e pelas orelhas pontiagudas que se destacavam na silhueta de seu rosto, não havia dúvida: era um elfo.
Um Elfo Caído? Meu corpo inteiro se enrijeceu com o pensamento. Mas, ao mesmo tempo, atrás de mim, «Kizmel» soltou uma exclamação carregada de surpresa.
— «Lavik»-san!?
— Hã!?
— O quê!?
Asuna e eu exclamamos ao mesmo tempo. Um instante depois, finalmente surgiu um cursor amarelo acima da cabeça do homem — mas, àquela altura, minha visão noturna já havia se ajustado à luz do fogo, e seu rosto podia ser visto claramente por entre as sombras.
Observando-nos calmamente, como Kizmel havia dito, estava ninguém menos que «Lavik Fen Cortassios» — o prisioneiro elfo negro que conhecemos no Palácio da Árvore Harin e ex-comandante dos Cavaleiros de Sândalo.
A convite de «Lavik», Asuna, «Kizmel» e eu nos sentamos ao redor da minúscula fogueira. Embora meus olhos continuassem desviando para a frigideira, me forcei a manter o foco no ex-comandante.
Exceto pela barba e o bigode antes selvagens, agora cuidadosamente aparados, e por uma aparência ligeiramente mais limpa, ele estava igualzinho à última vez que o vimos, no sétimo andar. Mas, pensando bem, aquilo havia sido apenas três dias atrás, na manhã do dia 6 de janeiro. Era natural que a aparência de um elfo — uma raça de vida longa — não mudasse quase nada em tão pouco tempo.
O que não fazia sentido era por que «Lavik», que supostamente havia partido em uma jornada, agora estava ali, nas profundezas do labirinto do quarto andar. E mais importante — por que ele estava grelhando carne?
Não — não era apenas carne. Era carne moída misturada com cebola picada e especiarias, moldada cuidadosamente em um hambúrguer oval. Eu já tinha visto exatamente esse prato antes em Aincrad: um fricatelle, especialidade do chamado Grande Sábio «Bouhroum», que vivia isolado no castelo de Galey, no sexto andar — ou seja, um hambúrguer.
Havia centenas de outras perguntas que eu deveria fazer, mas minha curiosidade — e não a fome, juro — falou mais alto, e eu me virei para «Lavik».
— Hum... isso é... fricatelle?
— Oh?
«Lavik», que observava a frigideira atentamente, ergueu os olhos para mim com uma expressão levemente surpresa.
— Você conhece, Kirito? Mesmo na capital do nono andar, tanto o nome quanto a receita do fricatelle já foram esquecidos há muito tempo. Onde você aprendeu isso?
— Ah, com um velho sa... quer dizer, com um sábio chamado «Bouhroum», que vive no Castelo de Galey, no sexto andar...
«Lavik» ergueu uma sobrancelha, então deixou escapar um sorriso astuto no canto dos lábios.
— Entendo. Então você também sobreviveu à provação daquele velho malu... digo, daquele sábio.
— Espera... você também, «Lavik»?
Ele assentiu.
— De fato.
Aquela única palavra foi o suficiente. Eu entendi. Ele também havia enfrentado a provação de «Bouhroum»: ficar sentado em silêncio por três horas com um fricatelle recém-preparado fumegando à sua frente — um teste infernal de disciplina interior.
— A propósito, Kirito, você passou na provação?
Quando ele fez essa pergunta, hesitei por um instante antes de assentir. Resistindo à tentação de olhar para Asuna, que estava à minha esquerda. Consegui passar no teste pensando nela durante três horas inteiras — mas definitivamente não tinha coragem de admitir isso na frente dela.
«Lavik» apertou os lábios numa expressão solene e declarou em tom reverente.
— Então, espadachim Kirito, você é digno de comer este fricatelle.
Ele se virou para «Kizmel» e Asuna.
— Cavaleira «Kizmel», espadachim Asuna. Receio que não posso compartilhar isto com vocês. Não é por desfeita — faz parte do acordo que fiz com o sábio.
(N/SLAG: Sobra nada.)
— Uh... bem, entendemos — respondeu «Kizmel», com uma expressão estranhamente neutra. Em seguida, pigarreou e acrescentou: — No entanto, não temos muito tempo para permanecer aqui.
Nos dois minutos seguintes, «Kizmel» atualizou «Lavik» — explicou que estávamos perseguindo o Elfo Caído que roubara a chave secreta, que eu havia me tornado um dos Noturnos (Cidadão da Noite) e que precisávamos chegar ao Castelo Yofel antes do nascer do sol.
«Lavik» ouviu tudo em silêncio. Quando ela terminou, seu semblante se tornou mais severo do que eu já tinha visto. Ele se virou para mim e repreendeu.
— Por que não disse isso antes? Este não é momento para falar de fricatelle!
— Eu-eu sei, mas... foi tudo tão repentino...
— Não há tempo a perder. Partiremos em um minuto. Preparem-se.
— Espera — e aquela parte em que você disse que eu era digno...
Tentei argumentar, mas «Lavik» puxou casualmente um garfo de prata de algum lugar, espetou o fricatelle perfeitamente dourado e o ergueu, com o suco brilhando.
— E-Espera...!
Ignorando completamente meu protesto, ele abriu a boca e deu uma mordida colossal. Metade do fricatelle desapareceu num instante. Três segundos depois, o resto sumiu por trás do bigode.
— Nãããããooo!
Mastigando com naturalidade, «Lavik» rapidamente limpou a frigideira e o tripé, apagou a fogueira com água e a extinguiu por completo. Estranhamente, embora os três gravetos claramente tivessem queimado por um bom tempo, apenas as pontas estavam chamuscadas — e não havia um único floco de cinza no chão.
Ele guardou cuidadosamente os gravetos, os colocou em sua mochila de couro e se levantou com vigor. Pegando o grande sabre encostado na parede — o que eu acreditava ser o Sabre dos Cavaleiros Sândalo —, prendeu-o na cintura e se virou para nós.
— Desculpem a demora. A partir de agora, irei com vocês.
«Kizmel» e Asuna se levantaram e inclinaram a cabeça em sinal de respeito.
— Nossa gratidão, «Lavik»-san — disse «Kizmel».
— Obrigada, «Lavik» — completou Asuna.
Enquanto os três começavam a caminhar em direção à saída, eu me levantei devagar, inalando o cheiro que ainda pairava no ar, sem querer deixá-lo ir embora.
«Lavik» já comandou os Cavaleiros Sândalo — uma das três grandes ordens de cavaleiros que protegiam o Reino de «Lyusula», ao lado das ordens Trifoliados e Pagoda. Como se esperava, sua esgrima era simplesmente formidável.
Ao contrário do estilo elegante e quase dançante de «Kizmel», «Lavik» priorizava a força bruta. Seus golpes potentes deixavam aberturas breves no fim de cada ataque, o que podia ser perigoso contra múltiplos inimigos. Mas mesmo quando os monstros se aproximavam, ele não hesitava. Se a espada não bastava, ele usava chutes ou investidas com o ombro para abrir espaço — seu estilo era flexível e implacável.
Pensando bem, percebi que durante nosso tempo no Palácio da Árvore Harin, ele só havia sacado a espada duas vezes — uma para cortar uma tranca, e outra para nocautear um guarda. Mesmo assim, dava para ver que ele não era um espadachim comum. Mas há coisas que só se revelam no calor do combate.
Durante nosso terceiro encontro naquele andar, quando «Lavik» destruiu um mob parecido com um caranguejo com um único golpe, uma memória adormecida despertou dentro de mim.
Eu já tinha visto um estilo de espada como aquele antes. Em algum lugar. Mas onde? E de quem? Pensei em «Kizmel», por também usar sabre — mas o estilo dela era totalmente diferente. O comandante dos Elfos Caídos que liderou o ataque ao Castelo de Galey também usava um sabre longo, mas não deixou muita impressão. Ampliando para todas as lâminas curvas, havia «Kysarah», a vice-comandante dos Elfos Caídos, que usava uma katana rara — mas a única vez que a vi usar foi para lançar a habilidade de área «Spinning Wheel». «Lavik» nunca usou essa técnica — e, de qualquer forma, ela nem pode ser executada com um sabre.
Pensei em perguntar diretamente — sobre sua escola de esgrima, ou quem era seu mestre — mas desisti. Ele estava se apressando por minha causa, afinal. Não parecia certo puxar conversa fiada. Fiquei ruminando em silêncio até descermos para o primeiro andar.
Do décimo ao primeiro andar em cerca de vinte minutos. Nesse ritmo, recuperamos o tempo perdido na sala segura — e até ganhamos algum.
Ainda eram apenas 3h50 da manhã. Naturalmente, os campos visíveis da entrada da torre do labirinto estavam cobertos de escuridão. Mas dentro de uma hora, o céu a leste começaria a clarear.
— Vocês três estão bem mesmo sem descanso? — perguntou «Lavik».
Quando «Lavik» nos fez aquela pergunta, Asuna, «Kizmel» e eu assentimos em uníssono. Apesar de ser o mais velho entre nós e de ter lutado por todos até o primeiro andar do labirinto, ele não demonstrava nenhum sinal de cansaço — então nós, que pudemos conservar mais energia, não tínhamos o direito de reclamar. É claro que exagerar também estava fora de questão, então lancei um olhar de soslaio para Asuna, mas ela estava firme como uma rocha.
— Então, vamos.
Com um som seco de ching, «Lavik» embainhou seu sabre e seguiu em direção à saída.
No instante em que saímos do saguão de entrada e pisamos ao ar livre, uma brisa noturna refrescante acariciou nossas faces. Asuna e «Kizmel» respiraram fundo, satisfeitas, então me espreguicei de forma dramática para não ficar atrás.
Embora não tivéssemos sentido muita diferença dentro do labirinto, a temperatura ali fora era completamente distinta da do sétimo andar. Mesmo à noite, o sétimo andar parecia estar acima dos 25 °C, enquanto ali, no quarto andar, não devia estar fazendo mais de 15 °C. Não estava exatamente frio, mas eu preferia evitar nadar no rio, se possível.
Rezando para que a ALS ou a DKB tivesse deixado um barco para trás, descemos as escadas esculpidas na base rochosa que sustentava a torre. O caminho levava a um desfiladeiro profundo e, se seguíssemos o rio até a nascente, chegaríamos a um curso d’água maior que atravessava todo o quarto andar.
Como as escadas não tinham iluminação, tudo ficou escuro após uns trinta degraus. Mal dava para enxergar o caminho, mesmo com minha visão, então imaginei que devia ser ainda mais difícil para Asuna e os elfos — quando, de repente, uma luz surgiu discretamente na mão de «Lavik», à frente do grupo.
Olhando com atenção, vi que havia um pequeno cogumelo dentro de uma lanterna simples, emitindo um brilho verde suave. Tinha que ser um Cogumelo-laterna, uma espécie que só crescia na Floresta de Rochas soltas, no sétimo andar. Normalmente, esses cogumelos frágeis murchavam em trinta segundos depois de colhidos — então como «Lavik» conseguiu mantê-lo vivo dentro da lanterna?
…Bem, essa não era a primeira vez que eu me fazia essa pergunta. Lembrei-me da passagem secreta que ia da praça central da cidade de «Volupta» até a mansão-cassino da Lady «Nirrnir», que também era iluminada por lanternas com cogumelos. Quando perguntei à empregada «Kio» como mantinham os cogumelos vivos, ela respondeu com orgulho.
— Só posso contar se você jurar lealdade a «Nirrnir»-sama e servir como vassalo da Casa Nachtoy.
Nunca me tornei vassalo de «Nirrnir», mas talvez ser um parente da Noite tivesse peso equivalente. Deveria ter perguntado como se fazia aquelas lanternas antes de deixarmos «Volupta», pensei com amargura enquanto descíamos a escadaria em zigue-zague. Eventualmente, o som vibrante da água chegou aos nossos ouvidos. Ao fazermos a última curva, um grande píer surgiu diante de nós.
Imediatamente, Asuna se virou com empolgação.
— Viu? Eu disse que haveria um barco!
Ela exibia uma expressão triunfante. Murmurei baixinho.
— Eu nunca disse que não haveria…
…e desci os últimos degraus.
O píer era uma estrutura simples — apenas uma área em forma de U esculpida horizontalmente na face do desfiladeiro, com muros de pedra servindo de cais — mas, mesmo considerando só as escadas atrás dele, construir algo assim devia ter dado um trabalho enorme. Por outro lado, se fôssemos falar de feitos de engenharia, a Torre do Pilar do Céu — o labirinto com mais de 100 metros de altura — era ainda mais misteriosa. Quem exatamente havia construído aquilo?
Talvez, se avançássemos mais na Missão "Guerra dos Elfos", a lore por trás disso fosse revelado. Mas isso só aconteceria se conseguíssemos recuperar a Chave Secreta roubada. O rastro dos Elfos Caídos havia desaparecido numa sala secreta do labirinto, mas se o destino deles não fosse o oitavo andar, e sim o quarto, então eu tinha um palpite sobre onde poderiam estar. Ainda assim, invadir o local de forma imprudente estava fora de questão. Porque aquele lugar…
— Hoh, agora isso é um belo Navio.
A voz de «Lavik» cortou meus pensamentos.
Olhando, vi o ex-comandante dos cavaleiros parado na beira do cais, observando os dois barcos que flutuavam suavemente nas ondas.
A gôndola azul com acabamento branco à direita era a «Leviathan», construída pela guilda DKB. A verde-musgo com cinza-escuro à esquerda era a «Liberator», da ALS. Ambas eram embarcações enormes para os padrões de gôndola, com capacidade para dez pessoas — mais do que dignas de seus nomes grandiosos.
— Tem certeza de que podemos usar esses barcos sem permissão?
Até «Lavik» parecia um pouco hesitante. Assenti com confiança.
— Tá tudo certo. Os donos não vão usá-los por um bom tempo… Na verdade, provavelmente nunca mais vão usar.
— Que desperdício. Se não vão usar, podiam pelo menos vendê-los por um bom preço.
— Esses caras esquecem completamente o andar anterior assim que chegam ao próximo.
— Incrível. Igualzinho àqueles brutamontes cabeça-dura dos Cavaleiros Trifoliados.
Enquanto «Lavik» ria alto, «Kizmel» tentava conter o riso. Enquanto isso, Asuna me cutucava de lado.
— Ei, Kirito-kun.
— Hm?
— Acabei de lembrar… Não é verdade que barcos ancorados com cordas ou âncoras só podem ser movidos por seus donos?
— Oh…
Olhei para as duas gôndolas. Não havia postes de amarração no cais, então elas deviam estar ancoradas. Depois de confirmar isso, virei-me para Asuna e a tranquilizei.
— Sim, mas tem uma diferença. Se o barco estiver amarrado com corda, fica travado indefinidamente. Mas se for âncora, há um limite de tempo. Acho que era sete… não, talvez dez dias. O quarto andar foi concluído em 27 de dezembro, e hoje é 9 de janeiro. Então, de qualquer forma, o bloqueio já deve ter expirado.
— Sério?
— Tenho quase certeza de que estava no manual de instruções da «Tilnel»...
Subitamente incerto, aproximei-me das gôndolas para verificar. Tirando as cores, eram idênticas, então tanto faz qual escolher. Mas achei mais provável que Kibao da ALS tivesse esquecido do barco do que Lind da DKB, então escolhi a verde «Liberator» e pulei a bordo.
Peguei a corrente presa ao mecanismo de ancoragem na proa e dei um puxão. Houve uma breve resistência, mas então a corrente deslizou suavemente, e senti a âncora se erguer do leito do rio. Satisfeito, larguei-a.
— Tá liberado!
Gritei, e um por um, Asuna e os outros pularam do cais para o barco. Depois que todos se acomodaram, puxei novamente a corrente até que a âncora emergisse, e a deitei no fundo da gôndola como uma picareta.
Agora que o barco podia se mover livremente, ainda assim eu não era seu proprietário oficial. Tecnicamente, Kibao ainda detinha esse título. Imaginei o rosto espinhento dele e murmurei mentalmente.
— Só vou pegar emprestado por um tempinho.
Depois fui até a popa.
Segurando o longo remo, abaixei a lâmina na água. Felizmente, a memória muscular entrou em ação, e meus braços se moveram sozinhos, sem que eu precisasse pensar.
Fui recuando lentamente a gôndola para fora do cais e, com ajuda da correnteza, apontei a proa para montante. A «Liberator», com pelo menos o dobro do tamanho da «Tilnel», era um pouco lenta para responder, mas sua estabilidade compensava completamente — ela mal balançava, mesmo com movimentos mais bruscos.
— Muito bem, vamos nessa!
Asuna, ainda voltada para frente, respondeu num tom relaxado.
— Okay~.
«Kizmel» virou-se e disse.
— Contamos com você.
Enquanto «Lavik» apenas ergueu a mão direita em silêncio.
Segurei o remo com força e puxei com tudo. A «Liberator» começou a vencer a correnteza, cortando a água com força e elegância.
Levamos cerca de vinte minutos para seguir do afluente que cortava a cadeia de montanhas até o largo rio principal, serpenteando pelas terras baixas. A partir dali, pudemos aproveitar a correnteza, então bastaram mais dez minutos para chegarmos ao nosso destino: o lago.
Em termos de distância, não tinha dado nem cinco quilômetros, então nossa velocidade média foi um pouco abaixo de dez quilômetros por hora. Provavelmente teríamos feito um tempo melhor a pé — isso se não encontrássemos monstros, claro — mas o quarto andar nem sequer possuía estradas de verdade.
Naturalmente, mobs aquáticos como caranguejos, rãs e lagostins também apareciam no rio, mas os que saltaram sobre a gôndola foram prontamente repelidos por nossos confiáveis companheiros de viagem.
A proa da «Liberator» deslizou pelo vasto lago exatamente às 4h30 da manhã, no horário previsto. Suspirei de alívio — neste ritmo, chegaríamos ao Castelo Yofel com tempo de sobra antes do amanhecer.
Foi então que—
— Desculpem o incômodo, mas poderiam me deixar naquela margem ali?
«Lavik» falou de repente. Instintivamente, ergui o remo. A gôndola desacelerou e parou cerca de cinquenta metros dentro do lago — bem na borda da instância.
— Mas por quê? O senhor não estava indo também ao Castelo de Yofel, «Lavik»?
— Hm... bem, sim, esse era o plano. Mas... há certas circunstâncias que tornam uma visita direta meio... complicada — respondeu ele, com uma hesitação rara.
— Ah...
Asuna falou de repente, depois se virou para mim e então olhou para os elfos.
— É por causa... da fuga da prisão no sétimo andar?
— Ah...
Demorei um segundo para entender o que ela quis dizer.
Já fazia quase três dias desde que nós quatro escapamos da masmorra do Palácio da Árvore Harin. A essa altura, com certeza mensageiros já haviam entregado cartazes de procurados a todos os castelos e fortalezas nos andares.
Como nobre, o visconde «Yofilis» não poderia simplesmente ignorar esse tipo de relatório. Vendo «Kizmel» inclinar a cabeça, confusa, hesitei por um momento, então expliquei.
— Bem, «Kizmel», o «Lavik», a Asuna e eu... basicamente nos tornamos foragidos depois de fugirmos da masmorra sob o Palácio da Árvore Harin. Se essa informação já tiver chegado ao Castelo Yofel, as coisas podem ficar... complicadas.
— Ah, isso.
«Kizmel» assentiu e então acrescentou, em tom quase desculpando-se.
— Eu deveria ter explicado isso antes. Não posso dizer que é impossível, mas há noventa por cento de chance de não precisarmos nos preocupar.
— Hã? Por quê?
Asuna piscou, surpresa. Dessa vez, foi «Lavik» quem respondeu, com um leve sorriso.
— Os sacerdotes do Palácio da Árvore Harin são rápidos em exagerar os erros dos cavaleiros, mas escondem os próprios a qualquer custo — mesmo os menores. Duvido muito que eles queiram que a notícia de quatro fugitivos escapando da masmorra se espalhe por aí.
— Entendi...
Pelo visto, os sacerdotes elfos negros eram bem parecidos com os burocratas da corte em muitas histórias de fantasia. Eu vagamente me lembrava de tê-los visto no grande salão de refeições do Castelo Yofel durante a campanha do quarto andar, mas nunca interagimos diretamente. Não imaginei que fossem tão... interesseiros. Ou melhor, agora que penso bem, acho que já tinha visto indícios disso antes.
Foi no Castelo Galey, no sexto andar, quando conhecemos quatro membros da guilda «Qusack», voltada para missões. Eles também estavam fazendo a campanha "Guerra dos Elfos" do lado dos elfos negros e tinham ido aceitar a missão de recuperar a chave escondida no santuário do sexto andar.
Só que tinha um detalhe — nós já havíamos recuperado essa chave, a "Chave de Ágata", junto com a «Kizmel». Então me vi diante de um paradoxo: os itens de missão são gerados para cada grupo que aceita a quest, o que significava que, se o «Qusack» completasse a missão, eles também trariam uma "Chave de Ágata".
Como «Kizmel» e os outros NPCs lidariam com o fato de que um artefato supostamente único podia existir em múltiplas cópias?
Percebendo minha inquietação na época, «Kizmel» havia explicado: Mesmo depois que a chave verdadeira era recuperada, os sacerdotes criavam réplicas e as colocavam de volta no santuário. Depois, outros soldados elfos negros ou aventureiros contratados recuperavam essas chaves falsas repetidamente. Era parte de uma elaborada campanha de enganação contra os elfos da floresta. Em alguns casos, mensageiros elfos negros que carregavam as chaves falsas eram atacados e mortos pelas forças élficas rivais.
Na época, fiquei preso numa dúvida — se a Argus, desenvolvedora do jogo, teria se dado ao trabalho de criar esse nível de coerência… ou se era só o sistema do jogo atuando por trás. Não dei muita atenção às implicações perturbadoras do que «Kizmel» estava dizendo. Mas agora, olhando para trás, percebi: os sacerdotes estavam por trás de toda aquela campanha de engano cruel desde o início.
Se era esse o tipo de pessoa com quem estávamos lidando, então não seria nenhuma surpresa se eles estivessem tentando encobrir uma fuga. Mas, se isso for verdade... e se eles também quiserem resolver o problema em segredo antes que vaze?
— Mas, «Lavik»-san… — A voz de «Kizmel» me trouxe de volta ao presente. Levantei o olhar de onde estava fixado e encarei os dois elfos negros. — Se o senhor acredita que a fuga não foi relatada ao castelo, por que hesita em ir até lá?
«Lavik» passou cinco segundos esfregando a curta barba com os dedos, então balançou levemente a cabeça.
— Não posso explicar... ainda não.
— Entendo...
«Kizmel» ainda parecia desconfiada. «Lavik» lançou um olhar para Asuna e para mim, e de repente fez uma reverência profunda.
— Odeio continuar pedindo sem dar explicações, mas... posso pedir mais um favor?
— Qual seria? — Perguntei com cautela.
O ex-comandante dos cavaleiros ergueu a cabeça devagar e disse.
— Esta noite, quero que tragam Lorde «Yofilis», o governante do castelo, até o local onde vão deixar. Não digam a ele que estarei lá. E venham sem guardas ou acompanhantes — só ele, sozinho.
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