Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 7

RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 9)

9

6 DE JANEIRO, 3:10 AM

Eu e minha parceira, já com nosso equipamento de batalha habitual, subíamos lado a lado as escadas centrais de «Volupta».  

As lojas de ambos os lados da rua estavam fechadas, e não se via uma única pessoa caminhando nas proximidades. Provavelmente, o movimento ainda estava forte na escada oeste, com os bares suspeitos, e até poderia haver algumas missões de última hora por lá, mas não era o momento para desvios.  

Apesar de termos saído quase três horas antes do previsto, ainda estávamos apertando o cronograma que havíamos planejado. Primeiro, íamos até a Floresta «Looserock» no centro do andar, nos encontraríamos com «Kizmel» na base dos elfos negros e depois colheríamos vinte frutos narsos enquanto avançávamos na linha de missão "Chave de Jade". Precisávamos voltar a «Volupta» antes do meio-dia. Nesse ponto, ou teríamos que pausar a missão da chave e pedir para «Kizmel» esperar na base dela, ou ela viria para «Volupta» conosco.  

Mesmo com Argo cuidando da coleta de pedras wurtz, tinha muito para fazer. Só de pensar nisso, o último resquício de sono veio à tona, e eu soltei um enorme bocejo. Asuna, que caminhava rapidamente ao meu lado, se inclinou para olhar para mim de baixo.  

— Você dormiu o triplo de tempo que eu e ainda está com sono?

— Não foi o triplo. Talvez dois e meio — eu disse, porque não poderia simplesmente dizer: Não consegui dormir nada porque você adormeceu na minha cama. — E como você está tão acordada, se dormiu só uma hora?

— Hmmm, não sei. Essa uma hora me deixou bem.

— Bem, que bom para você, milady — eu disse. Asuna respondeu.

— Obrigada, mordomo.

Ela provavelmente estava tão animada não pela falta de sono, mas pela antecipação de encontrar «Kizmel» em breve.  

Eu também estava ansioso por isso, claro. Mas já estávamos no sétimo andar de Aincrad. A missão da "Guerra dos Elfos" começou no terceiro andar e terminaria no nono. Nos restavam talvez duas ou três semanas, no máximo, para fazer aventuras com ela.  

Mas mesmo depois da linha de missão, deveríamos conseguir ver «Kizmel» sempre que quiséssemos, desde que descessemos até o nono andar. Então eu não precisava mencionar fatos deprimentes para desanimar Asuna. Já era difícil encontrar algo para esperar neste jogo mortal; o melhor era aproveitar o que tivéssemos enquanto pudéssemos.  

Por alguma razão, ouvi uma versão fantasmagórica da risada travessa de Argo, aquele "nee-hee-hee", e eu me estremeci. Ela ainda estava profundamente dormindo em seu quarto, então deixamos um bilhete, mas eu tinha certeza de que ela iria nos provocar quando nos encontrássemos por volta do meio-dia. Precisava me preparar para isso e ter algumas respostas afiadas prontas.  

Eu estava simulando essa conversa na minha mente imatura de oitava série quando Asuna disse.

— Eu me pergunto o que Lind e Kibaou vão fazer.

— O que?

— Eles não ganharam a aposta na última partida e perderam tudo o que tinham, certo?

— Não foi tudo o que tinham — eu disse com uma risada. — De acordo com Liten, a primeira aposta da ALS foi onze mil col. Isso é muito dinheiro, mas quando os membros da DKB tentaram comprar a bandeira da guilda de nós, ofereceram trezentos mil. A ALS provavelmente tem algo em torno disso, então se saíram dessa perdendo onze mil, bem, isso é só o preço de uma valiosa lição, não acha?

— O preço de uma lição… — Asuna repetiu, franzindo a testa. — Então isso significa que o NPC que vendeu o guia de trapaças para Lind e Kibaou era, na verdade, um golpista? 

— Não acho que eu o chamaria assim... O guia de trapaças custava só cem col, e as sugestões estavam corretas em nove das dez partidas de ontem. Então provavelmente foi feito para ganhar a confiança deles nas primeiras nove partidas e depois fazer eles apostarem o máximo possível na décima e perderem. Isso não o tornaria um golpista — mas sim um agente da casa de apostas, talvez.

— Hmmm… — Asuna não parecia totalmente convencida pela minha interpretação. Ela virou a cabeça para o outro lado. — Mas a arena de monstros não é como a roleta ou os jogos de cartas. Os apostadores estão apostando o dinheiro uns contra os outros, certo? «Nirrnir» disse que o único dinheiro que o cassino ganha com isso é a taxa de dez por cento sobre a compra de cada ingresso. Então, se o grupo de Kibaou perdeu dezenas de milhares de col, seriam os outros visitantes do cassino que ganharam esse dinheiro. O cassino só pega um pedaço disso. 

— Isso mesmo — eu disse, impressionado com a rapidez com que ela entendeu o conceito. — Então, se minha imaginação estiver correta, um ou mais desses apostadores são, na verdade, do cassino. Eles apostaram contra a escolha de Kibaou, para que, se vencerem, ganhem muito. 

— Isso é muito sujo! — Asuna exclamou, sem rodeios. — Mas... isso significa que eles podem manipular o resultado das partidas, certo? Então, não seria impossível, a menos que os treinadores dos dois monstros... quer dizer, «Bardun Korloy» e «Nirrnir», trabalhassem juntos, certo...?

— Nem sempre — eu disse, já tendo pensado nisso segundos antes. Fiz o meu melhor para explicar. — Se apenas um dos dois estiver agindo de forma errada, pode ser difícil garantir uma vitória, mas é possível garantir uma derrota. Você poderia escolher o monstro mais fraco dentro da classificação especificada e enfraquecê-lo ainda mais com veneno antes da luta. Então você escreve na folha de trapaça que seu monstro vai ganhar — e engana o Kibaou fazendo ele apostar pesado em você.

— Mesmo assim, isso não faz sentido. A folha de trapaça tinha um favorito para cada uma das nove lutas anteriores e todas estavam corretas. Eu imagino que nem todos os perdedores eram os monstros dos Korloys. Eles precisavam ganhar algumas... Ah!

Quando ela deu um suspiro, eu assenti lentamente.

— Sim, eles provavelmente usaram algum tipo de trapaça para vencer também. Uma dessas tentativas foi o truque da tinta com o Lykaon. Aposto que as outras lutas em que os monstros da família Korloy venceram também tiveram alguma trapaça em ação — nós é que não percebemos. Dessa forma, eles não só ganham a parte das lutas que vencem, mas também ganham dinheiro quando perdem.

— Então em todas as lutas é, ah, como é que você chama isso...? Quando apenas um lado está trapaceando…

— Quando um lado está perdendo de propósito, isso é chamado de fez o pix. Mas os Korloys também estão trapaceando para vencer.

— Entendi... Bem, de qualquer forma, é sujo. A «Nirrnir» está fazendo o possível para cumprir seu papel, mas os Korloys estão trapaceando só para aumentar seus lucros — minha parceira disse, indignada.

Eu estava prestes a dizer que isso fazia parte do contexto da missão, mas engoli minhas palavras. Um mês atrás, eu teria considerado «Bardun Korloy» nada mais do que uma peça em uma história escrita por um roteirista do mundo real. Mas a «Kizmel», «Myia», «Theano» e até a «Kysarah», a ajudante Elfa Caída que roubou as chaves sagradas, pareciam agir por conta própria. Era possível que «Bardun» tivesse sido colocado em uma situação e tivesse feito todas as escolhas subsequentes por conta própria.

A «Nirrnir» disse que «Bardun» estava juntando o máximo de dinheiro possível para comprar uma pequena quantidade de vida, sem outras preocupações. Se isso não fosse apenas uma simples caracterização, o que fazia ele temer tanto a morte? E o que ela quis dizer com "comprar vida" com dinheiro...?

— Kirito, ali está a saída.

Olhei para frente e vi um portão menor à nossa frente. Em algum momento, terminamos de subir as escadas centrais e chegamos à praça no extremo norte de «Volupta».

O portão estava bem aberto, apesar da hora, e embora houvesse guardas de cada lado, suas cabeças estavam balançando sonolentas. Não podia culpá-los por estarem entediados; fosse qual fosse a seriedade com que levassem o trabalho, os mobs do lado de fora da cidade eram fisicamente impedidos de entrar pelo sistema do jogo. Em certo sentido, esse devia ser o trabalho mais vazio imaginável.

Por simpatia, eu realmente disse "Boa noite" enquanto passávamos por eles. Um dos guardas parecia estar dormindo de pé, mas o outro levantou a cabeça e disse.

— É perigoso à noite. Fiquem atentos.

Asuna sorriu e agradeceu a ele. Passamos pelo portão elegante, mas robusto, e saímos para a natureza selvagem. As palavras SAINDO DA CIDADE apareceram, e depois desapareceram. Respirei profundamente o ar da noite que soprava pelas planícies à frente e me estiquei o máximo que pude.

Asuna me deu um olhar engraçado e perguntou.

— Você sempre costumava cumprimentar os guardas da cidade?

— Não, só... de vez em quando...

— Mm-hmm. Ele quase pulou; viu isso? Aposto que ele pensou que ia levar uma bronca do chefe por dormir no trabalho — ela disse, rindo.

Pensei comigo mesmo que provavelmente deveria cumprimentar os guardas mais frequentemente no futuro. Seguimos pela estrada saindo da cidade sob a luz da lua.

O sétimo andar de Aincrad era dividido entre as planícies ao sul e as montanhas ao norte. As estradas que iam da cidade principal até a torre do labirinto curvavam-se ao redor dessas áreas, então raramente algum jogador — ou NPC — se atrevia a pisar no centro.

Por causa disso, a estrada que seguia diretamente para o norte de «Volupta» rapidamente mostrou rachaduras nas pedras de pavimentação e logo se transformou em simples terra exposta. Quando chovia sobre essa superfície, a lama poderia tornar a caminhada mais escorregadia, mas não precisávamos nos preocupar com isso por enquanto.

Seguindo com cuidado, fomos enfrentando as mariposas e besouros-manchados que substituíam as abelhas e besouros-lança durante a noite. Eu tinha certeza de que todos os besouros rinocerontes eram noturnos no mundo real, mas esses insetos tinham quase meio metro de comprimento, então esperar uma realidade perfeita talvez fosse pedir demais.

Depois de trinta minutos de caminhada, o ambiente começou a mudar. A grama curta que cobria as suaves colinas começou a ficar mais espessa, e mais árvores começaram a aparecer. Eventualmente, vimos árvores de folhas largas especialmente grandes emoldurando o caminho à frente.

Uma brisa úmida passou por nós e as árvores começaram a farfalhar alto. Era como um aviso: "Perigo à frente!" Não era preciso estar em um jogo de vida ou morte para reconhecer que essa área exigia cautela.

Abri a boca para avisar Asuna, mas ela se adiantou.  

— Aspens.

— O quê?

Comecei a olhar ao redor, pensando: Isso é algum mob do sétimo andar? Onde eles estão? Mas não havia nenhum sinal de presença inimiga, nenhum cursor vermelho. Continuei procurando até que Asuna resmungou. 

— Não é um mob. É o nome dessas árvores.

— Hã…? — Olhei para o par de árvores que vigiavam o caminho. — Elas se chamam aspens? São árvores de verdade? 

— Árvores reais. A densidade de suas folhas é alta, então elas fazem muito barulho quando o vento sopra. Por isso também são chamadas de aspens trêmulas. E, em japonês, o nome tradicional é mountain sounders.

(N/SLAG: A frase "And the traditional Japanese name is mountain sounders." parece ser uma tentativa de traduzir um suposto nome tradicional japonês para as árvores Aspens. No entanto, em japonês, não há um nome exato que signifique "mountain sounders" para essas árvores.)

— Hmm, acho que já ouvi esse nome antes. Isso me lembra que você também adivinhou o nome das árvores no Castelo Yofel, no quarto andar.

— Isso foi porque «Kizmel» mencionou primeiro que eram juníperos. Eu só conhecia o nome em japonês — comentou Asuna com um leve sorriso. Mas ele logo desapareceu, provavelmente porque o pensamento a fez se preocupar novamente com «Kizmel». Queria seguir em frente rapidamente, mas havia outros perigos além dos mobs.   

— Bem, estamos prestes a entrar na Floresta das Rochas Soltas, mas preciso te avisar…

— Sobre as rochas soltas? — ela perguntou. Eu apenas assenti.  

— Sim, elas.

— Desculpa, desculpa! — Asuna riu e deu um tapinha no meu braço. — O que exatamente significa que as rochas são soltas?

— Bem…

Formei uma esfera no ar com as mãos, tentando explicar com meu vocabulário limitado.  

— O chão da Floresta das Rochas Soltas é um pântano, então é difícil andar, e há lugares onde a água é muito funda. Existe um caminho feito por enormes pedras, mas às vezes elas se movem sob seus pés. A altura dessas pedras varia entre um e três metros, e como o solo está coberto de água, a queda causa pouco dano, mas voltar para cima delas é muito difícil. Além disso, quando você anda no pântano… Bom, de qualquer forma, dá para reconhecer as pedras soltas se observar com atenção, então vamos apenas ficar de olho, certo?

Terminei minha explicação e comecei a andar de novo, mas dessa vez foi Asuna quem segurou meu braço, me impedindo de seguir.  

— Pare aí mesmo.

— O quê?

— Você pulou uma parte. Quando você anda no pântano… o quê? O que vem depois disso?

— Humm, — murmurei, tentando pensar rápido. Mas já sabia que não adiantava tentar enganar minha parceira. — Na água do pântano, existem alguns buracos sem fundo, como mencionei, além de criaturas translúcidas, viscosas e com franjas que se parecem com melibe viridis… Você sabe o que é um melibe viridis?

(N/SLAG: É um tipo de lesma do mar mais frequentemente encontrada no no mar Mediterrâneo, no mar Vermelho e perto da costa de Moçambique. Como esse cara sabe disso, eu não sei. Muito Nerd.)

— Não sei….. — disse Asuna cuidadosamente, seu rosto expressando uma mistura de emoções. Apoiei a mão em seu ombro.

— Então pode procurar quando voltarmos ao mundo real. Contanto que você não caia das pedras, não precisa se preocupar com eles.

— Vou fazer isso….. — ela disse. Dei um sorriso rápido e seguimos viagem.

Após passarmos pelas duas aspens, havia uma pequena colina e, logo depois, uma linha escura de árvores. Dentro daquela floresta estava a fortaleza dos elfos negros. A base inimiga dos elfos da floresta ficava no perímetro externo, na parte noroeste do andar, além de montanhas traiçoeiras. Era uma jornada longa, mas, claro, não tínhamos motivos para ir até lá.

O relógio marcava quatro da manhã. Ainda havia muito tempo até o amanhecer. Seguindo meu raciocínio, Asuna disse.

— Está escuro na floresta. Devemos pegar uma tocha?

— Não, não vamos precisar… Acho.

— Por quê?

— Você vai ver quando entrarmos na floresta.

Asuna fez uma careta com a resposta vaga, mas sua expressão mudou assim que chegamos às árvores. A fronteira entre as Planícies Verdianas, que havíamos acabado de cruzar, e a Floresta das Rochas Soltas era tão inesperada e distinta que algo assim nunca aconteceria no mundo real. Do outro lado da colina, havia uma parede de árvores com mais de vinte metros de altura, e entre elas uma entrada escura tão evidente que parecia a boca de uma dungeon. O caminho serpenteava por essa abertura, e não havia nenhuma luz visível além dela.

— Tem certeza de que não vamos precisar de luz?

— Apenas espere — a tranquilizei, levando-nos para baixo da encosta e através da brecha entre as árvores. A luz do luar atrás de nós começou a se apagar, e logo fomos cercados por uma escuridão tão densa que era impossível enxergar mais de dois metros à frente. A temperatura caiu rapidamente, dissipando completamente a umidade da noite de verão.

Nesse ponto, qualquer jogador acenderia uma tocha ou lanterna. Eu fiz isso durante o beta. Mas, dessa vez, continuei andando pela densa linha de árvores, lutando contra o medo primordial da escuridão.

Eventualmente, o som de nossos passos mudou de um arranhado seco na terra para um impacto mais agudo em algo mais rígido. O chão sob nossos pés deixou de ser terra e se tornou pedra. Junto ao som das pegadas, ouviu-se o murmúrio de água corrente.

— Ah — Asuna arfou. Havia uma tênue luz verde à frente. À medida que nos aproximávamos, ficou claro que a iluminação vinha de cogumelos crescendo nos troncos das árvores. Existem cogumelos bioluminescentes no mundo real, mas esses eram maiores e mais brilhantes.

Asuna parou diante de um desses fungos luminosos — um chapéu arredondado que parecia uma lâmpada — e o tocou. Uma janela apareceu exibindo o nome: BONFIRE SHROOM.

— Bonfire shroom… Esse não é um cogumelo real, certo? — Asuna perguntou, virando-se para mim.

— Não que eu saiba.

— Quando diz 'bonfire', está se referindo às grandes fogueiras que acendem no Obon, para guiar os espíritos dos mortos de volta ao outro mundo? Como a de Kyoto?

— Acho que sim…

Ou seja, esses cogumelos brilhavam para ajudar a guiar os espíritos que retornaram temporariamente ao mundo dos vivos de volta ao reino dos mortos. Um nome não muito auspicioso, mas, se eles não estivessem ali, atravessar a Floresta das Rochas Soltas seria três vezes mais difícil.

Asuna se endireitou e soltou outro pequeno suspiro de admiração. Mais à frente, duas outras luzes verdes surgiram onde antes não havia nada. À medida que nos aproximávamos, mais luzes iam aparecendo, como se estivessem nos guiando. Se alguém não soubesse o que eram, poderia pensar que era uma armadilha. Mas os cogumelos não estavam agindo por vontade própria nem seguindo algum plano maior. Eles simplesmente reagiam ao brilho dos outros próximos e à aproximação de jogadores ou NPCs.

Por vários minutos, seguimos a suave luz esverdeada, até que, de repente, as árvores se abriram em ambos os lados. A orientação dos cogumelos-lanterna também cessou, deixando apenas uma escuridão absoluta à frente.

— Hã? Já saímos da floresta? Andamos por apenas alguns minutos — disse Asuna, confusa.

Ergui a mão direita para detê-la.

— Espere um pouco.

— Certo…

Ficamos parados, esperando. Então, à nossa direita, um bonfire shroom se acendeu.

Em resposta, um grupo deles brilhou mais à frente. Depois outro grupo. A reação em cadeia continuou sem fim, até que as luzes eram quase tão numerosas quanto as estrelas no céu. Um vasto espaço foi iluminado por um brilho verde pálido.

— Uau! — Asuna exclamou, dando um passo à frente. Precisei segurar rapidamente a manga de sua túnica.

Diante de nós, estendia-se um corredor natural formado por árvores imensas e sua densa folhagem. O túnel tinha cerca de trinta metros de altura e largura, e era impossível dizer até onde ia. Estávamos sobre pilares de pedra de topo plano, e o solo dez metros abaixo era coberto por água cristalina e plantas aquáticas. Acima, a copa espessa das árvores exibia incontáveis cipós pendurados, enquanto grandes borboletas batiam as asas preguiçosamente entre eles.

Os pilares rochosos seguiam uma trilha sinuosa pelo centro da passagem de árvores e água. O cenário, iluminado pelo tom esverdeado e etéreo dos cogumelos-lanterna, parecia algo saído de um sonho. Quando me certifiquei de que minha parceira estava parada, deslumbrada com a visão, soltei sua túnica e retirei uma tocha do meu inventário. Quando Asuna percebeu, pareceu quase ofendida.

— Espere… Está tão iluminado agora. Realmente precisamos disso?

— Apenas observe.

Toquei a tocha com a outra mão para ativá-la. No instante em que as chamas alaranjadas surgiram, a luz dos cogumelos mais próximos se apagou. Esse fenômeno se espalhou rapidamente, até que todo o túnel verde mergulhou na escuridão em menos de dez segundos. Agora, estávamos cercados por uma escuridão profunda, com apenas alguns metros iluminados ao redor dos pilares de pedra.

— Entendi… Então os cogumelos não brilham se houver outra fonte de luz por perto — Asuna murmurou. Toquei na tocha acesa e disse.

— Exatamente. Se você acender sua tocha logo na entrada da floresta, nunca descobrirá que os cogumelos brilham e terá que atravessar a floresta na completa escuridão. Não que fosse impossível…

Pressionei o botão EXTINGUIR na janela, e as chamas da tocha rapidamente diminuíram até se apagarem.

Em poucos segundos, o grupo mais próximo de cogumelos-lanterna voltou a brilhar. A luminescência se espalhou rapidamente e silenciosamente, até que todo o corredor estivesse novamente iluminado por um verde fantasmagórico. Com a demonstração concluída, guardei a tocha e apontei para a sequência de pilares de rocha sobre os quais estávamos.

— Essas são as pedras soltas que dão nome à dungeon. E você vai encontrar as soltas, hm... a cada sete rochas, mais ou menos.

— Quão soltas estamos falando aqui? — Asuna perguntou, cutucando a rocha sob seus pés com a ponta da bota. Tentei me lembrar da experiência geral do beta.

— Uhhh... não é um hurp! É mais algo entre um wubble e um rumba.

— Sem usar efeitos sonoros.

— Uhhh... Assim que perceber que está solta, dá para firmar os pés e ainda manter o equilíbrio.

— E como dá para saber se uma delas está solta?

— É difícil explicar com palavras, então vou te mostrar — respondi, avançando para a próxima rocha. Asuna me seguiu, um pouco hesitante.

Os pilares circulares estavam todos exatamente a três metros acima da água, mas havia uma grande variação no tamanho. Os menores tinham menos de sessenta centímetros de diâmetro, enquanto os maiores passavam de um metro e vinte. O problema era que o tamanho não correspondia necessariamente à estabilidade.

— Essa aqui está firme... Essa também… — fui dizendo enquanto cruzava de pilar em pilar. Cinco, seis — e estava prestes a pisar no sétimo.

— Aha. Aqui está uma.

Recolhi a perna que havia estendido para frente e me agachei.

— Aqui, olha isso — falei, apontando para a junção entre os pilares. As outras rochas se encaixavam perfeitamente, sem falhas visíveis, mas essa sétima estava ligeiramente separada da anterior. A diferença era de apenas alguns centímetros, o que significava que você só perceberia se estivesse prestando atenção no momento certo.

— As pedras soltas são as que têm uma pequena separação das outras. Existem outros sinais, mas são bem sutis, então o melhor é procurar pelos espaços.

— Entendi.

— Vou pisar nela primeiro. Observe como eu mantenho o equilíbrio.

— V-Você tem certeza de que vai ficar bem?

— Sim.

Eu acho, acrescentei mentalmente. Abri os braços para equilibrar e dei um passo à frente.

O diâmetro da pedra solta era pouco maior que sessenta centímetros. Pousei a bota bem no centro e transferi meu peso com cuidado. Assim que metade do meu corpo repousou sobre a rocha, senti que ela começava a inclinar para a direita. Era como estar em cima de uma estaca fincada superficialmente na terra fofa. Na verdade, essa pode ser uma boa analogia para o que essa pedra realmente era.

Ajustei cuidadosamente meu centro de gravidade e transferi todo o peso para o pé direito. A rocha continuou a tremer, mas não inclinou demais para nenhum lado. Com toda a atenção voltada para o equilíbrio, movi lentamente o pé esquerdo para a frente e o posicionei na linha central também. Então, passei o peso para o pé esquerdo, levantei o direito e pisei na próxima rocha.

— Pronto.

Puxei o pé esquerdo para a frente e soltei o ar devagar. Durante o beta, eu pulava por essas coisas sem esforço, mas, quatro meses depois, parecia que tinha perdido o jeito. Ainda havia muitas dessas pedras pela frente, então aceitei o fato de que teria que reaprender o básico.

— Ah, entendi. Dá licença — Asuna avisou, duas rochas atrás. Me adiantei mais um pilar e virei para observá-la.

— Acha que consegue?

— O truque é manter o peso no centro da rocha, certo? — Asuna disse, sem demonstrar preocupação.

Ela colocou o pé esquerdo sobre a pedra solta. Isso me fez pensar se o pé direito era o meu dominante, enquanto o dela era o esquerdo. Assim que esse pensamento me ocorreu, Asuna rapidamente alternou os pés e atravessou a rocha sem qualquer oscilação perceptível. Ela parou no meio do meu pilar e sorriu.

— Qual a minha nota?

— Vou te dar noventa e nove pontos.

— Por que perdi um?

— Não sufoque o artista.

Ela riu e olhou para o próximo pilar.

— Ah... A próxima também está solta?

— Hmm...? Ah, é mesmo.

Aos nossos pés, havia um pequeno espaço entre nosso pilar e o próximo na sequência.

— O que aconteceu com a regra de uma pedra solta a cada sete?

— Eu-eu estava falando em médias! Às vezes, elas aparecem em grupos, e outras vezes você passa um tempão sem ver nenhuma.

— Já imaginava. De qualquer forma, eu vou primeiro.

— Fique à vontade — respondi, dando dois passos para o lado. Então, olhei para o teto do corredor.

A taxa de aparição de mobs na Floresta era muito baixa, mas não era zero. De tempos em tempos, uma libélula gigante, um graveto gigante ou um peixe voador gigante descia do dossel, e se isso acontecesse enquanto você tentava atravessar uma rocha solta, poderia causar um breve momento de pânico.

Mas, por enquanto, apenas algumas borboletas gigantes flutuavam ao redor — eram mobs neutros que não atacavam a menos que fossem provocados. Olhei para frente e vi Asuna atravessando uma rocha solta de forma instável.

Ela deu quatro passos para cruzar uma rocha maior do que a primeira e estava prestes a pular para a próxima quando percebi algo.

...! Tive que me conter para não gritar. Se a assustasse, só pioraria a situação. Só podia torcer para que ela percebesse sozinha.

A próxima rocha também era solta

Asuna aterrissou com um baque suave e então deu um grande passo para a direita, provavelmente para abrir espaço para que eu a seguisse. A rocha inclinou-se para o lado.

— Asuna! — Dessa vez, gritei, no exato momento em que ela exclamou: "Hã?!" Asuna tentou ao máximo manter o equilíbrio, mas a rocha inclinou-se pelo menos vinte graus, jogando-a no ar.

Meu coração disparou, e meus membros ficaram frios. Mas ela ainda ficaria bem — o chão abaixo era apenas um pântano coberto por cerca de meio metro de água, o que absorveria o dano da queda, e ela não poderia se afogar ali. A menos que, por azar, caísse em um dos buracos sem fundo.

Apesar do susto, Asuna não gritou. Ela manteve o controle do corpo no ar e estendeu os braços ao aterrissar. Houve um splash profundo, mas silencioso, quando atingiu a água, dobrando os joelhos para absorver o impacto. Sua barra de HP não perdeu um único pixel.

— Ufa…

Aliviado, chamei minha parceira.

— Asuna, você está bem?!

A espadachim permaneceu imóvel, sem se mexer de sua posição de aterrissagem. Lentamente, endireitou-se e olhou para mim.

— Estou bem… mas minha bunda molhou.

— Ah. Bem, vai secar assim que você sair da água. Não se mexa, vou jogar uma corda.

— Entendi — disse ela, fazendo uma careta, mas me mostrando um joinha. Retribuí o gesto e abri meu menu de jogador.

Durante o beta, caí dessas rochas pelo menos três vezes. Para voltar sozinho, era preciso retornar até a entrada do corredor e subir uma escada estreita esculpida na rocha. Mas, com um grupo, seus companheiros podiam ajudá-lo a subir. 

Materializei minha corda de fio de Nephila, resistente o suficiente para segurar o peso de três jogadores sem quebrar, e fiz um laço na ponta para jogá-la para Asuna.

Mas, nesse momento, ela soltou um leve "Eek!" e encolheu os braços contra o peito, ficando completamente imóvel.

— O-O que foi?!

— A-A-Algo tocou minha perna…

Corri até a borda da rocha e me inclinei para olhar seus pés. A luz dos cogumelos-lanterna era forte o suficiente para guiar a travessia pelas rochas, mas não conseguia iluminar a água abaixo.

Ainda assim, estreitei os olhos, observando a superfície ondulante da água, e então vi uma sombra deslizar ao lado da bota de Asuna. Um momento depois, um cursor colorido apareceu. Era de um tom muito claro de rosa, e o nome era: HEMATOMELIBE.

Soltei um pouco do ar que estava prendendo e gritei.

— Não se mexa, Asuna! O mob é nojento, mas sozinho, não representa quase nenhum perigo!

— Quase…? Ah, aah! — ela guinchou, quando o hematomelibe começou a subir por sua perna direita.

Era um invertebrado longo e estreito, com cerca de cinquenta centímetros de comprimento. Seu corpo era translúcido, revelando um trato digestivo negro no centro. Várias protuberâncias semelhantes a nadadeiras alinhavam suas costas, e inúmeros tentáculos longos se estendiam de sua cabeça.

— O quê…?! Não, não, não, eu não consigo lidar com isso! — ela gritou, inclinando-se para trás com toda a força — mas sem tentar arrancá-lo. Ou talvez não pudesse. De qualquer forma, só restava aguentar por enquanto.

Depois da primeira vez que encontrei esse mob no beta, pesquisei o nome hematomelibe. Não encontrei nenhuma correspondência direta, mas separando as palavras, consegui entender o significado. Melibe era o nome de um gênero de lesmas marinhas. Hemato era um prefixo que significava sangue. Juntando os dois, formava-se algo como "lesma de sangue".

Pesquisando mais, descobri que existe uma lesma marinha real chamada Melibe viridis, que mencionei para Asuna mais cedo. O hematomelibe de Aincrad claramente foi nomeado a partir do Melibe viridis, e o prefixo hemato era muito apropriado, de fato.  

— Eu não consigo! Eu não consigo! Eu não consigo fazer iiiiisso! — ela gritou enquanto a lesma-do-mar gigante parava a cerca de quinze centímetros acima do seu joelho. A multidão de tentáculos em sua cabeça se contorcia contra sua perna, procurando um ponto entre suas botas altas e a saia.

— Hya…!

— Asuna. aguente firme só mais um pouco! Vai só sugar um pouco de sangue! — tentei tranquilizá-la.

Isso teve o efeito oposto ao pretendido.

— M...Mnyaaaaaaa!!

Seu grito ecoou por todo o corredor da floresta. Asuna agarrou a parte de trás da hematomelibe com a mão nua, arrancou-a com toda a força e a esmagou contra a coluna de pedra ao seu lado.

O corpo translúcido explodiu com um som nojento de shplack! O tubo digestivo visível se rasgou ao meio, espalhando um líquido avermelhado e negro na água do pântano. Os restos repugnantes da criatura grudados na pedra se desfizeram em partículas azuis e desapareceram.

De todos os mobs do sétimo andar, a hematomelibe era de longe o mais fraco. Sua defesa era praticamente nula, seus pontos de vida eram insignificantes, e seu único método de ataque era uma sucção de sangue extremamente lenta. Se ignorássemos o fato de que eram nojentas, não havia nada a temer delas — quando estavam sozinhas.

— Ah, não...

Sem hesitar, saltei da coluna de pedra. Caí com um splash maior que o de Asuna e chamei.

— Asuna, você está bem?!

— Sim — ela respondeu, piscando duas vezes com surpresa e desconfiança. — Hã… por que você pulou aqui também? Quem vai nos tirar daqui?

— Temos que voltar tudo do começo. Vamos rápido!

Segurei sua mão e me virei, mas logo estalei a língua, irritado. Três novos cursores cor-de-rosa claro flutuavam sobre a água, deslizando em nossa direção. Eram, claro, mais três hematomelibes.

— Kirito, estão vindo pela direita também… e atrás de nós! — Asuna gritou. Soltei sua mão.

— Eles foram atraídos pelo sangue do que acabou de morrer. Esquece fugir. Vamos lutar!

— Mas se derrotarmos só esses três da frente…

— É impossível acertá-los enquanto ainda estão na água. Assim que começarmos a nos mexer, dezenas deles vão nos cercar, até ficarmos tão pesados que não conseguiremos mais ficar de pé. Nesse ponto, mesmo com a água rasa, podemos acabar nos afogando — expliquei o mais rápido possível. Asuna não discutiu mais; apenas respondeu.

— Entendido.

Sacamos nossas espadas e ficamos com as costas contra a fileira de pilares de pedra. Assim, pelo menos, limitaríamos os ataques das lesmas dos três lados.

— Eles enlouquecem ao sentir o sangue dos próprios companheiros, então vão pular para fora da água e tentar se agarrar em nós. Temos que derrotá-los na ordem certa. Só use uma técnica de espada se mais de um atacar ao mesmo tempo.

— Entendido! — Ela repetiu, bem no momento em que a superfície da água se rompeu à nossa direita.  

Duas lesmas sugadoras de sangue saltaram em nossa direção, suas barbatanas dorsais abertas como asas. Acabei com uma com um golpe diagonal, enquanto Asuna perfurou a outra com um ataque certeiro. As frágeis criaturas invertebradas se partiram ao meio apenas com ataques normais e caíram na água antes de se desfazerem em partículas.

Outras duas hematomelibes saltaram sobre nós. Mais uma vez, as derrotamos facilmente. Asuna murmurou.

— Se elas são atraídas pelo sangue umas das outras, então quanto mais matarmos, mais delas vão aparecer, certo?

— Basicamente… Opa!

Dois cursores saltaram à minha esquerda em sucessão. Identifiquei suas posições rapidamente e alinhei um golpe único, «Vertical», para despachá-los de uma vez. Outra lesma saltou contra Asuna, e ela a destruiu com uma estocada incrivelmente rápida. 

Normalmente, ataques contundentes eram os mais eficazes contra invertebrados como as hematomelibes, seguidos de ataques cortantes, estocadas e, por último, perfurações. Minha «Sword of Eventide» era uma arma cortante, então seu dano era decente, mas a «Chivalric Rapier» de Asuna era uma arma perfurante, o que tornava sua letalidade menos garantida com ataques normais.

Mas, como era originalmente uma arma forte e tinha sido aprimorada até +7 pelo ferreiro elfo negro, a espada que ela obteve no terceiro andar ainda exibia um poder impressionante aqui no sétimo. Como prova disso, ela transformou a lesma sugadora de sangue em um círculo com um buraco no meio. E pensar que sua rapieira ainda tinha mais oito tentativas de upgrade pela frente…  

Como seria se todos os oito fossem bem-sucedidos e a arma se tornasse um equipamento +15? Eu queria ver isso acontecer, mas a ideia também me deixava nervoso. Não porque eu imaginasse um dia cruzar espadas com Asuna, é claro. Mas uma arma com status tão absurdamente altos seria cobiçada pelos avançados na linha de frente… sem mencionar a gangue de PKs…

— Aaahh…! Lá vem um monte deles! — Asuna gritou, trazendo minha atenção de volta para a superfície da água. Mais de vinte cursores se aproximavam à distância.

— O processo é o mesmo! Se um deles se agarrar a você, não entre em pânico. Apenas os desprenda e os jogue contra a parede atrás de nós. Contanto que mantenhamos a calma, vamos sobreviver a isso com facilidade! — declarei com firmeza. Isso ajudou a tranquilizar Asuna.

— Entendido. Quero falar com você sobre algo depois disso.

Eu nem tive tempo de me perguntar o que era. A água espirrou à frente, e mais lesmas marinhas sugadoras de sangue saltaram em nossa direção. Nós as enfrentamos com golpes e estocadas.

O brilho espelhado da rapiera deixava rastros em zigue-zague na escuridão. Suas estocadas eram tão rápidas que a luz refletida se fundia em um único feixe sólido.

A força de Asuna como jogadora não vinha apenas dos status do «Chivalric Rapier». A cada andar que atravessávamos, sua habilidade em combate evoluía drasticamente. Eu assumia o papel de professor com mais frequência apenas por conta da diferença no conhecimento relativo que tínhamos sobre os mobs de SAO — e sobre como seus sistemas funcionavam —, mas em alguns andares, digamos, no décimo, ela já teria compensado essa diferença.

A cada lampejo da sua rapiera, mais um hematomelibe se desintegrava no ar, restando apenas um tubo oco. Não havia como causar esse efeito em um invertebrado disforme, a menos que fosse perfurado exatamente no centro da cabeça. Era necessário um nível supremo de concentração, controle físico e afinidade com a experiência de imersão total para alcançar esse domínio.

Asuna não tinha sido feita para ser parceira de um pária como eu. Ela estava destinada a brilhar em um palco muito maior.

Embora esse sentimento não fosse exatamente novo, algo diferente crescia dentro de mim. Era uma espécie de hesitação… talvez uma obsessão. Eu queria ver sua habilidade crescer bem ao meu lado. Não queria deixar que mais ninguém a tivesse. No mundo real, eu mantinha distância de todos e até evitava minha própria família. Era irônico que apenas ficando preso em um mundo virtual eu tivesse experimentado esse sentimento pela primeira vez.

Um terço da minha mente estava ocupado por esses pensamentos, enquanto eu cortava hematomelibes para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita e para o centro. Quando enfrentei essa mesma situação no beta, senti minha determinação ser desgastada por ondas intermináveis de inimigos, mas, tendo passado pela experiência, eu sabia que, se resistíssemos ao avanço, eles eventualmente acabariam. Além disso, eu tinha uma parceira extremamente confiável para lutar ao meu lado.

Nos primeiros minutos, chamávamos as localizações um para o outro para nos ajudarmos, mas eventualmente não precisávamos mais fazer isso. Asuna e eu captávamos pequenos vislumbres dos movimentos um do outro pelo canto dos olhos e ouvíamos a leve respiração um do outro para antecipar o momento do próximo ataque e oferecer cobertura, enquanto lutávamos firmemente contra os invasores de três lados.

Com o tempo, nos tornamos imunes ao pânico, ao medo e até mesmo à noção de tempo. Eu balançava minha espada em transe — e, quando percebi, os cursores coloridos que pareciam cobrir a superfície da água haviam desaparecido, como uma miragem que se dissipara.

Ainda assim, fiquei parado com minha espada em posição, esvaziando minha mente por alguns momentos, até finalmente relaxar. Ao meu lado, os olhos de Asuna tinham um olhar distante e perdido. Ela piscou algumas vezes e focou em mim.  

— Já acabou…?

— Acho que sim….

Olhei ao redor várias vezes, só para ter certeza. A espadachim examinou o rapier em sua mão e então disse.

— Ainda bem que eram mobs macios. Não perdi muita durabilidade.

— É... verdade. Quantos será que derrotamos?

— Parei de contar no cinquenta.

Nossa conversa não tinha muito conteúdo, mas era uma boa forma de aliviar os nervos. Balancei a cabeça para afastar o estado de transe da minha mente.

— De qualquer forma, bom trabalho. Você mandou bem — eu disse, levantando o punho. Asuna encostou os dedos nos meus.

— Você também, Kirito. E... desculpa.

— Pelo quê?

— Por não seguir suas instruções. Se eu tivesse ficado parada, como você disse no início, não teria causado aquele enxame enorme — ela disse, surpreendentemente abatida.

— Não, isso não foi culpa sua — insisti rapidamente. — Se eu tivesse te avisado sobre a aparência da hematomelibe e o que ela faz...

Então me lembrei do que Asuna havia dito pouco antes da luta começar.

— Espera, era disso que você queria falar comigo depois? — perguntei. Imediatamente, a atitude nobre e graciosa da espadachim evaporou como vapor.

— Ah... sim! Isso mesmo! Aposto que você não disse nada porque achou que eu ia achar nojento — Pois pare com isso! Admito que não tenho resistência natural a mobs nojentos, mas não vou dizer para voltarmos atrás por causa disso!

— Posso te contar sobre os mobs fantasmas também?

— Nmlp…

Ela fez um som como se algo tivesse ficado preso na garganta, mas no fim, suspirou e assentiu, um pouco sem jeito.

— Sim, pode. Melhor do que dar de cara com eles sem nenhum aviso prévio. A propósito... eles aparecem aqui também?

— Sim, eles…

Fiz uma pausa de três segundos e então cruzei os braços em um grande X.

— Não!

Asuna me deu um soco no ombro — com a mão esquerda — forte o suficiente para expressar sua frustração, mas sem causar dano.

Com as lesmas-marinha sugadoras de sangue eliminadas, seguimos pelo pântano de volta à entrada do corredor da floresta. Subimos as escadas esculpidas na parede e começamos novamente o delicado equilíbrio sobre as rochas.

O número de pedras soltas havia aumentado desde o teste beta. Agora, não apenas vinham duas seguidas, mas às vezes até três. No entanto, desde que caminhássemos bem no centro de cada uma, não era tão difícil manter o equilíbrio, graças ao nosso peso leve. Quando os mobs insetos voadores vieram nos importunar, bastou parar sobre as pedras firmes e jogar pedras neles. Após cerca de vinte minutos, nosso destino estava à vista.

— Uaaaau!! — Asuna exclamou, ainda mais animada do que quando viu o corredor iluminado pela primeira vez.

E eu não podia culpá-la. Se fôssemos fazer uma lista das cem vistas mais incríveis de Aincrad, essa com certeza estaria entre elas.

Nosso corredor ao sul se juntava a outros que vinham do norte, leste e oeste, convergindo para formar uma cúpula arredondada. No centro dela, havia uma imponente e gigantesca árvore, com pelo menos quarenta e cinco metros de diâmetro. As árvores-monstro baobás de «Zumfut», no terceiro andar, tinham cerca de trinta metros, então, se as cortássemos, a seção transversal desta árvore ainda seria quase três vezes maior.

Se alguém me dissesse que essa árvore tinha mil anos, eu acreditaria. Perto das raízes, um grande nó se abria, com uma porta de madeira posicionada logo atrás dele. Havia também muitos buracos espalhados pelo tronco, de onde emanava uma luz esverdeada. Assim como os baobás de «Zumfut», essa árvore era oca e continha aposentos em seu interior.

Asuna apenas ficou parada, admirada. Inclinei-me levemente e murmurei.

— Esse é o «Harin Tree Palace», a base dos elfos negros no sétimo andar.

Cruzamos os últimos cem metros da ponte de pedras e saltamos para um grande agrupamento de pilares rochosos dispostos em um padrão de colmeia. Finalmente, podíamos relaxar.

Nos outros lados da plataforma, havia pontes de pedra levando a outros corredores florestais. À nossa frente, erguia-se o enorme nó oco que servia como portão principal do «Harin Tree Palace», com quase nove metros de altura. O portão logo atrás da abertura era feito de vários tipos de madeira, encaixados em um padrão de espinha de peixe, como uma obra de arte gigantesca.

— E a «Kizmel»... está lá dentro… — Asuna murmurou. Empurrei levemente suas costas.

— Vamos, ela deve estar esperando por nós.

— Sim…

Enquanto Asuna avançava, conferi o horário. Eram 5h07 da manhã, quase duas horas desde que havíamos saído de «Volupta». Se tivéssemos voltado na entrada do pântano, teria sido uma viagem de ida e volta de três horas, exatamente como «Nirrnir» disse.

Nosso objetivo na missão, o fruto narsos, crescia em algum lugar das terras úmidas dali. Tivemos a opção de continuar a busca depois de descer e enfrentar os hematomelibes, mas imaginei que Asuna não quisesse mais desvios. Além disso, eu também queria ver «Kizmel».

Rapidamente cruzamos a plataforma rochosa e paramos diante das raízes do palácio da árvore. De tão perto, tudo o que se via ao olhar para cima era um tronco tão imenso que parecia uma parede gigante — e os galhos, muito, muito acima.

— Fico me perguntando qual é a árvore mais larga do mundo real e qual o seu tamanho… — murmurei distraidamente. Não esperava uma resposta, mas Asuna imediatamente disse.

— É a Árvore de Tule, no México, se bem me lembro. Acho que o diâmetro na base chega perto dos quinze metros.

— Eu não acredito que você sabe disso. Quinze metros de largura é impressionante, mas sinto que essa aqui é pelo menos três vezes maior.

— Concordo… Se perguntarmos à «Kizmel», ela provavelmente nos contará a história dela, não?

— Com certeza.

Trocamos um breve olhar antes de seguirmos em frente.

O caminho rochoso nos levou entre raízes que tinham mais do que o dobro da nossa altura, até chegarmos ao portão. Havia suportes de fogo ao longo do trajeto, mas a luz que emanava das gaiolas no topo não era laranja como a de chamas, e sim um verde pálido. Eles estavam cultivando cogumelos-lanterna como fonte de luz.

A trilha nos conduziu até a cavidade dentro da árvore. A porta com padrão de espinha de peixe estava bem à nossa frente. Os dois portões estavam perfeitamente fechados, e eu suspeitava que não se abririam, mesmo se os empurrássemos.  

Não havia guardas por perto e, diferente do Castelo Galey, no sexto andar, ninguém nos chamou para identificação enquanto esperávamos do lado de fora.

— Hm… Que estranho… Quando vim aqui no beta, lembro que os portões se abriam só de nos aproximarmos — murmurei, franzindo a testa.

Asuna perdeu a paciência, avançou e ergueu a mão esquerda, exibindo o grande anel com o Símbolo de «Lyusula» em seu dedo indicador.

— Somos guerreiros humanos auxiliando «Kizmel», da Brigada de Cavaleiros da Pagoda de «Lyusula»! Viemos a esta terra para vê-la! Por favor, abram os portões!

Essa era uma apresentação adequada para seguir a história da missão. Minha parceira estava se tornando uma verdadeira jogadora de VRMMO.

Um estrondo profundo ecoou, e os enormes portões começaram a se abrir lentamente para os lados. Para meu alívio, evitamos ser barrados na entrada. Enquanto as portas se abriam, observei-as com atenção. Não era só a superfície, toda a estrutura interna era feita de madeira, inclusive as engrenagens que ajudavam na movimentação. Os elfos não podiam derrubar árvores vivas, então devem ter coletado todo esse material de troncos mortos ou caídos. Não conseguia imaginar quanto tempo isso levou.

Os portões levaram dez segundos para se abrir completamente. Tentei enxergar o interior, mas havia apenas uma única chama alaranjada tremeluzindo fracamente à distância — e nada além de escuridão ao redor.

— Hã…? Eu me lembro de ter uma imensa sala logo na entrada.

— Veremos quando chegarmos lá. Vamos logo! — disse Asuna, puxando meu braço. Acelerei o passo para acompanhá-la.

Cruzamos os portões abertos e adentramos a escuridão. A pouca luz dos cogumelos-lanterna iluminava o chão logo além da entrada, mas nada mais era visível.

Por enquanto, só podíamos nos guiar pela pequena chama à frente… Mas provavelmente era apenas um fogo comum. E, se atiçássemos a chama, isso apagaria todos os cogumelos-lanterna devido ao efeito de reação em cadeia deles.

No entanto, mal cheguei a essa conclusão e várias pontas de lanças afiadas surgiram da escuridão, pressionando contra nossos peitos. Entendi. Então aquela única chama foi posicionada de propósito, para manter todos os cogumelos dentro do salão apagados…

Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz severa que bradou.

— Espadachins humanos, Kirito e Asuna! Vocês estão presos pelo crime de se aliarem à cavaleira «Kizmel» para roubar as chaves sagradas e entregá-las aos Elfos Caídos!



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