Volume 7
RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 8)
8
MEUS OLHOS SE ABRIRAM LENTAMENTE, COMO UM FIO DE DANDELION levado pelo vento antes de cair de volta à terra.
Minhas pálpebras pesadas se ergueram apenas o suficiente para que eu pudesse espiar o horário. Eram duas da manhã — apenas duas horas desde que fui dormir.
Eu nunca fui um dos dorminhocos mais profundos no mundo real, mas, por algum motivo, conseguia apagar completamente em Aincrad. Nem eu sabia ao certo por que dormia tão bem dentro de um jogo que poderia me matar. Talvez fosse porque o foco necessário para sobreviver ao dia me deixava exausto, ou porque o dispositivo bloqueava todas as sensações extras que normalmente me impediriam de dormir. Ou, por mais que eu não quisesse admitir, talvez fosse porque eu realmente me sentia confortável ali.
Por isso, era estranho ter acordado sem motivo algum. Meu alarme estava programado para tocar às seis da manhã, então eu precisava dormir mais quatro horas para me preparar para o dia seguinte. Fechei os olhos, tentando voltar a dormir — mas então senti um leve tremor e franzi a testa.
Foi a vibração que me despertou. Seria o vento? Um terremoto? Uma onda gigante? Ou será que o próprio Aincrad estava desmoronando?
— Kirito, acorde — sussurrou uma voz suave em meu ouvido.
Soltei um grito abafado e tentei me sentar de repente — ou, pelo menos, teria conseguido, se não tivesse batido em algo bem ao lado da cama. Uma luz arroxeada piscou diante dos meus olhos.
— Aurrg! — duas vozes exclamaram ao mesmo tempo.
Minha cabeça caiu de volta no travesseiro. Pisquei várias vezes, tentando focar a visão.
Ao lado direito da cama, segurando as têmporas com as mãos, estava minha parceira temporária. Embora não houvesse dor real naquele mundo, ao vivenciar algo que normalmente causaria dor, o cérebro tentava simular uma sensação fantasma. O NerveGear deveria reduzir até mesmo essa dor ilusória, mas não impedia a reação instintiva de imaginar a dor ao se chocar contra algo repentinamente.
Por isso, Asuna e eu ficamos alguns instantes gemendo com o efeito da colisão. Quando finalmente conseguimos nos olhar de novo, percebi que a causa do tremor não era um terremoto nem uma rajada de vento — mas sim ela.
— Hum, mas o quê…? — perguntei.
A espadachim fez uma careta antes de explicar.
— Eu te chamei várias vezes, mas você não acordava. Então precisei te sacudir, e aí você simplesmente saltou da cama.
— Desculpa por isso… Mas por que estava tentando me acordar?
— Eu estava pensando… e achei que seria melhor sairmos um pouco mais cedo.
— Hã…?
Olhei para o relógio novamente, achando que poderia ter lido errado. Mas ainda eram duas da manhã. A luz pálida que entrava pela fresta da persiana vinha da lua, não do sol nascente.
— Um pouco mais cedo é um belo eufemismo, não acha?
— Eu sei… mas comecei a pensar em algumas coisas e não consegui mais dormir — murmurou ela, sentando-se na beirada da cama. Suas roupas de dormir azul-claras brilhavam à luz da lua, como se estivessem molhadas.
— A missão "Chave de Jade" só vai continuar quando chegarmos à base dos elfos negros, eu sei. Mas «Kizmel» não é apenas um programa que podemos pausar com o apertar de um botão. Ela deve estar lá, esperando sozinha na base, sem poder avançar até que cheguemos para continuar a história…
— Isso é verdade — admiti, me sentando.
Provavelmente, Asuna chegou a essa conclusão porque havíamos interagido com NPCs nos andares seis e sete que eram tão expressivos e reativos que pareciam pessoas de verdade. «Myia», «Theano», «Bouhroum», e agora «Kio» e «Nirrnir». Todos faziam o possível para viver dentro daquele mundo artificial. E, claro, «Kizmel» também.
Eu não achava que «Kizmel» seria aprisionada por ter perdido as quatro Chaves Sagradas para os Elfos Caídos, mas certamente ela não seria poupada dessa falha. Se estivesse enfrentando dificuldades, precisávamos retomar a busca pelas seis chaves o mais rápido possível para livrá-la desse fardo.
Porém…
— Você não dormiu nada, né, Asuna? Não gosto da ideia de vagar por um ambiente desconhecido no meio da noite com você exausta… Não podemos, pelo menos, dormir mais uma horinha? — sugeri. Mas Asuna apenas balançou a cabeça.
— Não. Essa vai ser uma daquelas noites sem sono.
— Noites sem sono, hã…?
Eu entendia o que ela queria dizer. Já tinha passado por momentos em que queria dormir mais do que tudo — mas a ansiedade simplesmente não deixava. Antes de ficar preso em SAO, isso acontecia com frequência… e até mesmo algumas vezes depois.
Bom, desde que eu ficasse de olho nela, acho que tudo ficaria bem, pensei, prestes a sugerir que nos levantássemos e partíssemos. Mas Asuna disse: — Embora eu talvez consiga dormir um pouco.
Minha boca se fechou imediatamente e depois se abriu de novo.
— Então, em uma hora, digamos, devemos nos encontrar na sala de es—
Antes mesmo de eu terminar a frase, Asuna tombou para a direita. Ela se virou de lado, subiu os pés na cama, pegou um travesseiro e descansou a cabeça nele, ficando imóvel.
……
Reprimi a vontade de pedir para ela voltar para o próprio quarto. Se ela estava tendo dificuldades para dormir, mas agora sentia sono, seria cruel interrompê-la.
Além disso, não era a primeira vez que eu dormia tão perto de Asuna. Se você jogasse junto como parceiro, haveria momentos em que precisaria acampar e dividir um saco de dormir na floresta. Era algo com que precisava se acostumar.
Afastei-me um pouquinho da garota que respirava suavemente, ajustei meu alarme interno para as três da manhã e então me estiquei na cama.
Dez segundos depois, murmurei em silêncio.
— Esta é uma daquelas noites sem sono.