Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 7

RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 10)

10

O SOM DA PORTA DA CELA SE FECHANDO FOI SURPREENDENTEMENTE suave.

Não era porque os soldados elfos negros que nos trouxeram até ali fossem particularmente gentis. Era porque toda a estrutura, apesar de sua aparência robusta, era feita de madeira. Quando o capitão e seus quatro soldados saíram para o corredor e marcharam para fora do alcance da nossa audição, olhei ao redor da cela. Era um espaço pequeno, com duas camas simples e uma mesa. Sobre a mesa, havia um jarro de água e alguns copos. Em vez de uma lanterna, um cogumelo-lanterna brilhava em um suporte na parede.

Fui até a mesa e peguei o jarro para examiná-lo. Seu corpo era feito de vidro, mas a alça era de madeira; os copos, por sua vez, eram totalmente de madeira. A mesa e as camas eram construídas com complexas juntas de encaixe, sem um único prego visível. Parecia que a prisão — e, provavelmente, todo o palácio — fora construído sem qualquer metal. As únicas exceções eram as armas e armaduras usadas pelos elfos negros.

Por puro hábito, levantei a mão para meu lado esquerdo, mas não havia espada ali para tocar. A «Sword of Evidente», o «Chivalric Rapier» da Asuna e nossos dois «Sigils of Lyusula» haviam sido confiscados quando nos trouxeram para cá e colocados em uma pequena sala de armazenamento.

Reprimi um suspiro, peguei um copo e servi um pouco de água, cheirando-a antes de beber, só para garantir. Nenhum ícone de veneno ou debuff de paralisia apareceu, então servi mais água em outro copo e o entreguei para Asuna, que permanecia imóvel no centro da cela.

— Vamos, beba. É só água.

— Okay — disse ela, pegando o copo com ambas as mãos e bebendo devagar. Não era uma água muito fria, mas teve o efeito de acalmá-la um pouco; um brilho leve retornou aos seus olhos vazios. Ela piscou duas vezes, depois mais uma, e olhou para mim.

— Será que a «Kizmel» também está presa aqui?

Essa era a questão do momento. Considerei brevemente antes de responder.

— Se estiver, não é perto de nós. Se ela estivesse por perto, já teria chamado por nós. Vamos ver... talvez apareça no mapa...

Abri minha janela e mudei para a aba do mapa. Felizmente, ele exibia um mapa do Palácio da Árvore Harin, então examinamos juntos. A maior parte ainda estava cinza, mas podíamos ao menos tentar deduzir a estrutura da prisão.

— Essa cela em que estamos agora fica no lado oeste do segundo nível do porão. As escadas e a estação de guarda estão no centro. Isso me diz que provavelmente há celas no lado leste também.

— E a «Kizmel» está lá?

— É possível — respondi.

Asuna mordeu o lábio. Eventualmente, com uma voz rouca de dor contida.

— Você lembra o que a «Kizmel» disse... quando perguntamos sobre ela ter que assumir a responsabilidade por perder as chaves sagradas no sexto andar?

— Sim... Ela disse: "Sou uma das Cavaleiras Pagoda da própria rainha. Apenas Sua Majestade e o comandante dos cavaleiros têm o direito de me remarcar formalmente..." Digo, me repreender.

— E, como ela disse, não acho que tenha sido punida no Castelo Galey. Se isso fosse acontecer, ela teria sido presa lá. Então... por que a prenderam aqui, no sétimo andar...?

— Hmmm...

A pergunta de Asuna era boa. Olhei para o teto de madeira e refleti em voz alta.

— Se interpretarmos isso de forma estritamente literal, significaria que alguém aqui no Palácio da Árvore Harin tem autoridade para prender «Kizmel»... ou o comandante dos Cavaleiros Pagoda, ou a própria rainha dos elfos negros. Mas não acho que isso seja possível. Esses dois não saem do castelo no nono andar. O que significa... que há outra pessoa aqui nesta base que a «Kizmel» não conhece... alguém com o mesmo poder que seu comandante?

— Quem seria, por exemplo?

— Por exemplo, uma brigada de cavaleiros diferente, como... uhh...

Quando me perdi, Asuna estava lá para preencher as lacunas da minha memória.

— Os Cavaleiros de Sândalo e os Cavaleiros Trifoliados.

— Certo, um dos comandantes deles.

— Mas se o comandante dos Cavaleiros Pagoda não sai do castelo, o mesmo não seria verdade para os outros?

— Verdade — tive que admitir. Hesitei, então acrescentei: — Vou te dar um pequeno spoiler... Quando você chega ao castelo no nono andar, acaba fazendo algumas missões longas para cada um dos três comandantes dos cavaleiros. Se algum deles não estivesse mais presente no castelo, você não poderia pegar ou completar suas missões.

— Entendo...

As sobrancelhas de Asuna se franziram, e ela olhou para baixo, pensando profundamente. Então, sua cabeça se ergueu de repente.

— Ah... é isso! Precisamos verificar o registro de missões!

— Oh.

Olhei nos olhos castanho-avelã dela e rapidamente deslizei o dedo pela janela do jogador aberta, mudando da aba do mapa para a aba de missões, e então abrindo a árvore de missões da campanha "Guerra dos Elfos". Lá estava uma lista das missões concluídas nos andares anteriores — a "Chave de Jade", a "Chave de Lápis-lazúli", a "Chave de Âmbar", a "Chave de Ágata" — e, no final, um novo título: a "Chave de Rubi".

Toquei nas palavras para expandir ainda mais a árvore, revelando o título da primeira missão dessa nova sequência. Seu nome era "Prisioneiros do Palácio da Árvore".

Asuna e eu juntamos nossas cabeças para ler a fonte minúscula do registro da missão.

VOCÊ FOI SUSPEITO DE TRABALHAR COM OS ELFOS CAÍDOS E PRESO NAS CELAS DO PALÁCIO DA ÁRVORE HARIN. PARA LIMPAR SUA FICHA, VOCÊ DEVE ENCONTRAR UMA MANEIRA DE SE REUNIR COM «KIZMEL». COMECE ESCAPANDO DA SUA CELA E RECUPERANDO SUAS ARMAS CONFISCADAS. 

Ficamos em silêncio por três segundos e, então, abrimos a boca ao mesmo tempo. Fiz um gesto de "Você primeiro", então Asuna disse em voz baixa.

— Isso significa que o roubo das quatro chaves pelos Elfos Caídos fazia parte da história? Ou é algo parecido com o que aconteceu com «Cylon»…?

— E alguém — ou algo — fez algo que ultrapassou os limites esperados da história, então a missão foi alterada para refletir isso — completei por ela.

Quando o guerreiro do machado, Morte, matou «Cylon», o lorde de «Stachion» no sexto andar, eu assumi que a missão "A Maldição de «Stachion»" se tornaria impossível de completar. Mas a história absorveu o fato de que outro jogador matou Cylon e nos guiou por um novo caminho. O mesmo provavelmente estava acontecendo aqui.

— Se for isso, devemos assumir que, se os guardas nos virem fugindo, eles não vão simplesmente nos colocar de volta aqui.

— É verdade… Pode até levar à nossa execução. O que devemos fazer? Ficar aqui e esperar?

— Não — disse Asuna imediatamente. Ela me encarou com firmeza nos olhos. — As chaves foram roubadas porque «Kizmel» tentou nos salvar. Se ela está sendo julgada por um crime por causa disso, precisamos limpar seu nome e restaurar sua honra o quanto antes.

— Concordo — fechei minha janela. — Isso significa que nosso primeiro passo é escapar. Essas barras são de madeira, pelo que posso ver, e eu provavelmente conseguiria quebrá-las com uma habilidade de espada da minha sub-arma, mas isso faria um barulho enorme…

— Hmm… Seria uma coisa se apenas tivéssemos que correr para fora e fugir, mas precisamos recuperar nossas armas e encontrar «Kizmel» também — resmungou Asuna. Ela caminhou até as barras que separavam a cela do corredor.

Fiquei ao lado dela, observando cuidadosamente. As barras de madeira, com veios e olhos da madeira visíveis, não eram arredondadas, mas retangulares. Pareciam as grades das prisões nos clássicos filmes de samurais japoneses. Cada lado media cerca de uma polegada e estavam dispostas a intervalos de aproximadamente seis polegadas, tanto na vertical quanto na horizontal. Nem mesmo um rato conseguiria passar por elas.

Esse pensamento me trouxe de volta à nossa outra missão. Precisávamos coletar vinte frutos maduros de narsos e entregá-los no quarto de «Nirrnir», em «Volupta», até o meio-dia — ou no máximo até uma hora da tarde.

O horário era 5h40 da manhã. Ainda havia bastante tempo, mas, neste ponto, a ideia de Asuna de sair três horas mais cedo se mostrou brilhante. Para aproveitar essa vantagem, precisávamos encontrar «Kizmel» o mais rápido possível e escapar do Palácio da Árvore Harin.

Apertei uma das brilhantes barras de madeira com força. Acredito que meu status de força esteja entre os mais altos do grupo da linha de frente, mas a barra nem sequer rangeu, muito menos quebrou ao meio.

Em seguida, tirei uma faca do meu inventário para ver se conseguiria cortar a madeira. Mas era como se a barra tivesse sido tratada com algum tipo de óleo. A lâmina simplesmente escorregou pela superfície sem conseguir penetrá-la. Eu já estava pensando que quebrar as barras sem fazer barulho poderia ser impossível, quando Asuna veio até mim após examinar a fechadura da porta.

— Acho que não conseguiremos sair com a habilidade de «Lock-picking».

— Isso era de se esperar… Mas não temos tempo para colocar essa habilidade em um dos nossos slots e evoluí-la do zero…

— Acho que o material da madeira pode ser a chave. Você não tem um serrote, tem?

— Não tenho… Se eu soubesse que acabaria assim, teria pegado um dos serrotes daquele velho construtor de navios do quarto andar.

— Ou comprado um, como uma pessoa normal — disse Asuna, me lançando um olhar de lado. Ela passou o dedo pela madeira angular. — Suponho que… poderíamos fazer um rato roê-la…

Ela estava se referindo a um rato de verdade, não à Argo, é claro. Mas a cela estava limpa, e eu não via nenhum buraco no rodapé onde uma família de roedores pudesse estar vivendo.

— Ou talvez… despejar água nela para amolecer…

Tínhamos bastante água, mas provavelmente levaria um mês inteiro para apodrecer a madeira o suficiente para quebrá-la.

Me repreendi por apenas rejeitar as ideias de Asuna sem conseguir pensar em nenhuma solução própria. Mas, por mais que tentasse, nenhuma ideia brilhante surgia. Comecei a pensar em medidas desesperadas, como incendiar a cela e usar uma habilidade de espada no meio do caos… quando uma ideia surgiu totalmente formada.

— Fogo — murmurei.

Asuna me olhou surpresa.

— Fogo…? Você vai botar fogo aqui dentro?

— Não, não para queimar as barras. Para carbonizá-las. Se cozinharmos elas a uma distância adequada, isso deve reduzir drasticamente sua resistência estrutural.

— Mas... não pode ser apenas em um ponto. Se quisermos fazer um buraco grande o suficiente para passarmos, teremos que queimar pelo menos dez pontos diferentes nas barras...

— Nada disso. Apenas um.

Empurrei Asuna para movê-la para o lado e então me posicionei diante da porta. Ela também era feita da mesma série de barras, exceto pela fechadura, que estava enclausurada dentro de uma caixa de aparência robusta. E os mecanismos dentro provavelmente eram — não, com certeza eram — de madeira também. Se aquecêssemos por tempo suficiente do lado de fora, o interior se carbonizaria.

O rosto de Asuna se iluminou de surpresa, e eu abri meu inventário para retirar uma tocha. Estava prestes a acendê-la quando percebi algo muito importante.

— Ah...

— O-O que foi?

— Droga! Se acendermos aqui, todos os cogumelos-lanterna na prisão vão apagar em uma reação em cadeia. Se os cogumelos na estação dos guardas também se apagarem, eles vão saber que estamos usando fogo...

Fiquei tão frustrado que quase joguei a tocha no chão, mas Asuna segurou meu braço.

— Ainda é cedo para desistir. Tudo o que precisamos fazer é apagar o fogo antes que a reação em cadeia chegue até a estação dos guardas, certo?

— Bem... tecnicamente...

— Eu vou vigiar os cogumelos no corredor daqui. Quando eu der o sinal, apague o fogo imediatamente.

......

Era como andar na corda bamba. Mas não parecia que encontraríamos um plano melhor ou que teríamos tempo para tentar.

— Certo... Uhhh...

Aproximei meu rosto das barras e olhei pelo corredor. Havia castiçais de cogumelos-lanternas presos às paredes entre as celas, formando uma linha de luz verde que se estendia até o centro do segundo andar do porão, onde ficava a estação dos guardas.

— Digamos que o mais próximo de nós seja o número um. Me avise quando... dois, três, quatro, cinco... seis deles se apagarem.

— Entendido. Vou tocar seu ombro — disse minha parceira. Com o plano definido, me agachei diante da fechadura.

Ocupando um quadrado no padrão das barras — ou seja, um espaço de cerca de quinze centímetros de cada lado — havia uma caixa contendo uma fechadura tão intricada que até mesmo a habilidosa Asuna desistiria de tentar abri-la. Mas para ser tão delicada, sua durabilidade deveria ser baixa.

Chequei mais uma vez para garantir que ninguém estava patrulhando o corredor, então toquei na tocha e pressionei o botão ACENDER.

Um segundo depois que as chamas alaranjadas apareceram, o cogumelo-lanterna que iluminava a cela se apagou. Em seguida, os cogumelos alinhados no corredor começariam a apagar também. Mantendo o pânico sob controle, aproximei as chamas da fechadura.

A madeira marrom-escura não demonstrou nenhuma mudança no início, mas logo sua superfície ficou um pouco mais escura, e um filete de fumaça se ergueu.

Senti um tapa no ombro e rapidamente pressionei o botão APAGAR na janela pop-up, que eu havia deixado aberta para esse propósito.

A tocha se apagou instantaneamente, mergulhando a cela na escuridão. Segurei a respiração e esperei até que o cogumelo-lanterna na parede atrás de nós começasse a brilhar novamente. A cada poucos segundos, uma das luzes no corredor escuro voltava a se acender.

— O tempo pareceu certo? — sussurrei.

Após um momento, Asuna respondeu.

— Sim, não ouvi ninguém vindo da estação. Mas acabei de perceber... se houvesse outros prisioneiros nas celas ao redor, eles teriam feito algum barulho...

— Verdade... Bem, acho que isso significa que funcionou. Vamos tentar de novo. Fique de olho!

— Deixa comigo.

Asuna retomou sua posição, e eu acendi a tocha novamente. Cada rodada me dava cerca de dez segundos de tempo. Considerando a possibilidade de que soldados pudessem estar patrulhando os corredores além de estarem na estação, não podíamos demorar muito.

Eu precisava calcular a distância exata para não incendiar a fechadura, mas ainda assim carbonizá-la o mais rápido possível.

Na segunda rodada de aquecimento, o centro da placa de madeira ficou negra. Na terceira, ficou avermelhado e quente, e na quarta, rachaduras começaram a se espalhar. No mundo real, levaria muito mais tempo e exigiria chamas significativamente mais fortes para obter o mesmo efeito, mas a madeira seca em Aincrad era especialmente suscetível ao fogo.

Na quinta tentativa, quase a incendiei e rapidamente bati com a mão para apagar as chamas. Sentia o calor, e minha barra de HP caiu ligeiramente, mas isso não importava. Asuna continuou focada na vigia e foi atenciosa o suficiente para não dizer nada.

Na sexta tentativa, o centro da placa de madeira virou cinzas e desmoronou, revelando as engrenagens e o ferrolho no interior. Como eu suspeitava, tudo era feito de madeira. A engenharia era extremamente refinada — uma verdadeira obra de arte. Com um pedido silencioso de desculpas ao mestre elfo negro que a criou, aproximei as chamas pela sétima vez.

Um número de engrenagens carbonizou diante dos meus olhos e desmoronou, seguido por alguns sons fracos da fechadura presa à moldura da porta, que se soltou do mecanismo. Apaguei a tocha imediatamente e me levantei.

— Está aberta!

— GJ! — disse Asuna, em um raro uso de gíria gamer, e fizemos um rápido toque de punhos. Empurrei a porta gentilmente, que resistiu brevemente, mas depois cedeu quando lascas de madeira carbonizada se soltaram. Depois de nos certificarmos de que não havia ninguém no corredor em nenhuma direção, saímos furtivamente da cela.

— Antes de tudo, precisamos recuperar nossas armas — murmurei. Asuna parecia preocupada.

— A sala onde levaram nossas espadas ficava ao lado do posto da guarda. Será que conseguimos entrar sem que nos percebam?

— Se a sala estiver trancada, será um grande problema. Mas, de qualquer forma, teremos que dar um jeito.

— Verdade.

Paramos de falar e seguimos furtivamente pelo corredor, verificando cada conjunto de celas em ambos os lados para garantir que estavam vazias antes de prosseguir. Depois de avançarmos cerca de dezoito metros, um salão retangular surgiu à frente. Aquele era o centro do segundo nível do porão. Havia uma escada subindo no lado sul e, no lado norte, o posto da guarda e o depósito ficavam lado a lado. Continuamos nos movendo, ainda mais cautelosos desta vez, até podermos espiar pela esquina do corredor em direção ao posto.

Assim como eu lembrava, havia duas portas lado a lado na parede. Perto da porta da esquerda, havia uma janela gradeada. A luz dos cogumelos, muito mais intensa do que nas celas, brilhava através dela, acompanhada de vozes.

Fiz contato visual com Asuna e, em seguida, cruzei o salão agachado, até me pressionar contra a parede logo abaixo da janela. O volume das vozes aumentou, permitindo que eu entendesse o que estavam dizendo.

— Não há um novo prisioneiro nessas celas há trinta anos.

— E ainda por cima, humanos.

— Foram tolos por ajudar os Caídos.

— Presumo que lhes prometeram uma vida mais longa, como sempre fazem.

— Humanos sempre caem nessa.

As narinas de Asuna inflaram de indignação. Eu sentia o mesmo, mas era essencial que nos mantivéssemos calmos e cuidadosos naquele momento.

Pelo tom das vozes, havia dois guardas no posto. Ocasionalmente, ouvíamos o barulho de talheres batendo, o que indicava que estavam tomando café da manhã. Eles não pareciam propensos a sair da sala tão cedo.

Afastamo-nos da janela e seguimos para a porta do depósito ao lado. Rezando para que não estivesse trancada, examinei a porta — sem fechadura alguma. Segurei a maçaneta rapidamente e a pressionei para baixo, empurrando-a muito devagar para não fazer barulho, e deslizei para dentro através da abertura. Assim que Asuna entrou, fechei a porta, e ambos soltamos um suspiro de alívio.

A parede divisória parecia fina, pois ainda podíamos ouvir os guardas conversando, embora de forma abafada. Não poderíamos ter uma conversa normal ali dentro.

Gesticulei e sussurrei.

— Vamos procurar as armas.

Então, levantei-me para examinar o depósito. O espaço era do tamanho das celas, com três paredes ocupadas por prateleiras e suportes para espadas e armaduras.

Havia uma infinidade de caixas de madeira, luvas de couro e outros itens empilhados nas prateleiras, além de espadas de todos os tamanhos presas aos suportes. Se não fosse pela situação, eu estaria pulando de alegria ao ver aquele verdadeiro tesouro. Mas a prioridade agora era recuperar nossas espadas — e, com sorte, os anéis também.

Comecei examinando um dos suportes de espadas, que se assemelhava a um suporte de guarda-chuvas do mundo real. Todas as espadas enfiadas ali estavam à beira de se desmancharem, como se estivessem ali havia décadas. Se eu as manuseasse de forma descuidada, poderia facilmente arrancar os punhos e guardas das lâminas.

Por cerca de um minuto, revirei as espadas com a ponta dos dedos. Irritantemente, só encontrei as bainhas com uma cor e formato familiares no fundo, como se tivessem sido colocadas ali de propósito, como uma pegadinha. Ainda assim, foi um alívio. Não muito longe, Asuna acenou, sinalizando que havia encontrado algo. Mas ela apontava para um suporte de espadas diferente, é claro.

Puxei a «Sword of Eventide» e o «Chivalric Rapier», depois olhei para onde Asuna indicava. Era uma espada longa, com detalhes ligeiramente diferentes do padrão das armas élficas negras, além de um sabre dentro de uma bainha de couro negro.

Isso confirmava tudo. A espada longa era a «Elven Stout Sword» que havíamos tomado do capitão dos elfos da floresta. E o sabre pertencia a «Kizmel», a mesma arma que «Kysarah», a Batedora dos Elfos Caídos, havia quebrado. Havíamos dado a «Kizmel» a espada dos elfos da floresta depois que seu sabre foi destruído.

Isso significava que «Kizmel» estava, sem dúvida, em algum lugar desta prisão.

Entreguei a Asuna sua espada e coloquei minha espada nas costas, então puxei a espada robusta e o sabre do suporte ao mesmo tempo. Mas, algo na minha pressa fez com que minhas mãos escorregassem. Uma espada antiquada, presa no mesmo buraco que as duas, balançou e começou a inclinar-se em direção ao buraco ao lado.  

Aaaaah!  

Gritei silenciosamente. Se a espada batesse em outra, que empurraria a próxima, e assim por diante, como uma pilha de dominós, faria um barulho tremendo. Queria pegar a espada para pará-la, mas minhas mãos estavam ocupadas. Teria que segurá-la com a boca ou usar poderes psíquicos para mantê-la no lugar...  

Uma mão se esticou para frente e a bloqueou no último segundo. Asuna estava inclinada o máximo que podia, sustentando a espada antiga com a ponta dos dedos. Comecei a relaxar aliviado, mas agora, foi Asuna quem perdeu o equilíbrio.  

Oh, meu Deus! Orei, colocando o braço que segurava o sabre de «Kizmel» debaixo de seu corpo. Não tive tempo de achar o lugar certo, então acabou acertando o impacto com o peito dela. Através do meu braço, senti a rigidez de sua couraça — e a resistência do que estava por trás dela.

Muito, muito tempo depois, Asuna diria: "Se já não estivéssemos trabalhando juntos há um mês, eu teria jogado as espadas para longe e gritado até perder a voz."  

Felizmente, o avatar de Asuna simplesmente ficou rígido como uma tábua. Ela não gritou nem se enfureceu. Com meu braço direito, empurrei a estátua de Asuna para ficar em pé, pouco a pouco. Então, dei um passo para trás, e nos olhamos.  

— Essa espada é realmente pesada — ela murmurou baixinho. Em sua mão esquerda estava a espada antiga que quase caiu.  

— Espera — respondi, na mesma intensidade, colocando a espada robusta e o sabre no meu inventário. Com a mão livre, aceitei a espada de Asuna; ela era, de fato, bem mais pesada do que a minha «Sword of Eventide».  

Havia um grande guarda-dedo preso ao punho, e a bainha de couro branco estava ligeiramente curvada. Não era uma espada longa, mas sim um sabre como o de «Kizmel». Estava toda suja, e havia até uma teia de aranha do lado de dentro do guarda, então não parecia um item de luxo. Mesmo assim, coloquei-a em meu inventário também, caso «Kizmel» achasse mais fácil de usar.  

Isso foi bem estressante, mas cumprimos nosso objetivo inicial e recuperamos nossas espadas. A próxima etapa eram os anéis, mas com a quantidade de caixas e sacolas na sala, precisaríamos de muito mais do que apenas cinco ou dez minutos. Claro, o objetivo do sigilo era permitir a entrada livre em qualquer base de elfos negros, então o fato de termos sido presos provavelmente anulava esse privilégio.  

Expliquei isso em voz baixa para Asuna. Ela olhou ao redor, nas várias prateleiras empilhadas, com todas as caixas de metal e madeira — e sacos de couro e pano.  

— Nesse caso — ela sussurrou — não poderíamos simplesmente colocar as caixas e os sacos em nossos inventários e ver o que tem dentro mais tarde? Pelo menos alguns deles, senão todos.

……

Sua ideia ousada me deixou sem palavras. A busca por itens com limite de tempo era um evento comum em RPGs, mas tirar os próprios contêineres da sala tinha que estar fora dos limites da intenção do roteirista do cenário. 

Por outro lado, todas aquelas caixas não estavam fixadas na prateleira. Se havia alguma preocupação, era que pegá-las fosse identificado como roubo e nos transformasse em jogadores de laranja, mas, se fosse o caso, eu deveria ter recebido um aviso no momento em que coloquei aquele sabre antigo no meu armazenamento de itens. Estávamos fora da área do código anti-criminal da cidade, então a única punição que poderíamos sofrer por roubo seria pela lei dos elfos negros, não pelo sistema do jogo em si.  

Estendi a mão para a prateleira e cuidadosamente levantei a caixa de madeira que estava colocada no topo da pilha de recipientes variados. Não havia alarmes anti-roubo. A caixa não era especialmente pesada. Coloquei-a na janela do inventário, e ela sumiu com um pequeno flash de partículas de luz azul.  

……

……

Trocamos um olhar silencioso e começamos a enfiar as caixas e sacos em nosso inventário. Como nossos níveis eram significativamente mais altos do que o número recomendado para essa área, e o fato de não estarmos carregando várias armas pesadas, tínhamos bastante espaço. Quando ambos já havíamos atingido 90% da nossa capacidade de carga, o número de recipientes havia diminuído para menos de um terço. Os «Sigils of Lyusula» poderiam estar em algum dos recipientes que não pegamos, é claro, mas não queríamos carregar ao máximo, caso nosso limite de peso fosse ultrapassado em um momento inoportuno e nos deixasse imobilizados.  

Quando nosso furto das caixas foi concluído, fechei minha janela e me concentrei nos meus ouvidos. Os guardas na estação ao lado ainda estavam conversando. Mesmo em uma prisão subterrânea, o amor dos elfos negros por chá e conversa era evidente.  

Abrimos a porta novamente e seguimos pelo corredor aberto. Na parede oposta a nós estava a escada pela qual fomos levados há menos de uma hora. À direita, o corredor que levava às celas do lado oeste. E, como eu esperava (ou desejava), havia um corredor à esquerda que levava ao leste. Se «Kizmel» fosse prisioneira ali, ela estaria naquele caminho.  

Olhei para Asuna e então me esgueirei pelo corredor oriental.  

Usando a luz do cogumelo-lanterna, olhamos para cada conjunto de celas ao longo do corredor. A quantidade real de luz dos cogumelos era pequena, mas elas permaneciam acesas, mesmo nas celas sem ocupantes, então um simples olhar nos mostrava o conteúdo de cada uma enquanto passávamos.  

Mas, por causa disso, rapidamente fomos ficando sem celas para verificar. Já estávamos na metade do corredor e ainda não havíamos visto «Kizmel».  

Havia oito celas de cada lado do corredor de 20 metros, totalizando 16. Oito celas restantes para verificar... sete, seis, cinco. Cada uma delas estava vazia — e não parecia que haviam sido usadas há anos, senão décadas.  

Nossos pés estavam cada vez mais pesados conforme chegávamos ao final. Mas precisávamos continuar verificando. Quatro mais, três, dois...  

…!!

No instante em que olhamos para a última cela, ambos prendemos a respiração.  

Levou apenas dois segundos para que nossas esperanças murchassem. Uma das duas camas estava ocupada por uma figura deitada de lado, mas a silhueta, claramente, não pertencia a «Kizmel». O corpo era grande para um elfo e claramente masculino.  

Mantenho meu olhar nele até que um cursor amarelo apareceu. O nome era PRISIONEIRO ELFO NEGRO. Isso não nos disse quem ele era, mas, se não fosse «Kizmel», não tínhamos razão para conversar com ele. Só estaríamos nos prejudicando se ele fizesse alarde e chamasse os guardas.  

Fiz sinal para Asuna se afastar, e fui retrocedendo nas pontas dos pés. A parte de trás do prisioneiro estava voltada para nós, então ele não nos perceberia, a menos que fizéssemos barulho.  

Ou assim pensei. Não tinha me movido mais do que um metro quando o prisioneiro disse baixinho.

— Vocês não são elfos. Quem são vocês?  

Congelamos de choque, e a figura se levantou e virou para nos encarar.  

Ele usava uma roupa simples, composta por uma camisa de algodão e calças que, em algum momento, foram pretas, mas agora estavam desbotadas para o cinza. Seu cabelo e barba haviam crescido a ponto de eu não conseguir discernir seus traços. Atrás da franja negra caída, eu podia ver seus olhos intensos e brilhantes.  

— Nós não somos ninguém. Vamos embora — consegui gaguejar, retomando minha retirada.  

— Se não me responderem, vou chamar os guardas — disse sua voz rouca, me paralisando no local.  

— Humm... Eu sou o espadachim humano Kirito, e esta é a Asuna.  

— O que estão fazendo aqui?  

— Estamos procurando alguém...  

— Quem?  

Suas perguntas eram curtas e diretas, não me deixando tempo para pensar em mentir para ele. Só tive que me preparar e dizer a verdade.

— Uma cavaleira chamada «Kizmel». Ela foi trazida aqui nos últimos dias, acreditamos…

— «Kizmel»... de qual família? — ele perguntou, para nossa surpresa. Olhei para Asuna, mas a espadachim apenas balançou a cabeça. Voltei-me para ele e disse.

— Ah, eu não sei.

— Hmm... Então eu também não sei — disse o prisioneiro, esticando a mão para a mesinha ao lado e despejando água do jarro para sua xícara de madeira; eram as mesmas coisas que tínhamos em nossa cela. Ele terminou a água de um gole só e colocou a xícara de volta, então perguntou.  

— E vocês foram os que foram trazidos aqui há pouco tempo?

— Si-sim.

— Então essa cavaleira «Kizmel» não está sendo mantida neste andar. Eu estou preso aqui há trinta anos, e vocês são os primeiros prisioneiros desde a minha chegada.

— Trinta anos… — Eu repeti, atônito.  

Um mês atrás, eu teria assumido que isso era apenas o contexto para a história dele. Afinal, em 1993, trinta anos antes de 2023, não existia SAO. Não havia nem mesmo um único VRMMO com displays montados na cabeça à moda antiga.  

Mas depois de conhecer «Kizmel» e aprender sobre a longa história de guerra entre os elfos da floresta e os elfos negros, meu jeito de pensar começou a mudar. Se não fosse pelos jogadores humanos mergulhando neste servidor, eles poderiam rodar o tempo neste mundo tão rápido quanto as especificações do servidor permitissem, então era possível que antes do lançamento de SAO, eles já tivessem compilado uma história dos séculos desde a Grande Separação de Aincrad, ou até mais, indo para o passado.  

— Hum... por que você está nesta cela? — perguntou Asuna por cima do meu ombro, sua voz rouca.  

Os olhos do homem se fixaram em Asuna.

— Por nenhum motivo que você precise saber, garota humana.

Ele estava deitado de lado novamente, enviando a mensagem de que nossa conversa tinha terminado. Mas eu insisti. Eu não queria sair sem aprender algo útil.  

— Hum, existem outras celas aqui no Palácio da Árvore Harin?

O homem não disse nada por vários segundos, até que finalmente ouvi um resmungo. Algo me parecia estranho... mas não consegui prender o pensamento, porque ele começou a falar na penumbra iluminada pelos cogumelos.  

— Também há uma prisão nos aposentos dos sacerdotes, no sétimo andar. Se o crime que essa «Kizmel» cometeu tem a ver com eles, ela pode ter sido levada para lá.

— Mas... a espada de «Kizmel» estava no depósito lá embaixo… — Eu falei impulsivamente. O homem se ergueu novamente.  

— Você entrou no depósito?

— Si-sim.

— Hmm... E como conseguiu sair de sua cela sem que os guardas notassem?

— Ah... Eu usei uma tocha para queimar a fechadura da porta…

......

Os ombros largos do homem tremeram. Alguns momentos depois, ouvi-o emitindo sons curtos e baixos e percebi, finalmente, que ele estava rindo.  

Por favor, não comece a gritar de tanto rir, eu rezei. Felizmente, as risadinhas ficaram cada vez mais baixas até que ele parou. Ele balançou a cabeça e disse secamente.

— Entendo... sua Arte Humana de Escrever Mística. Os guardas certamente não podem inspecionar isso.

— Ah, si-sim… — eu respondi, minha mente acelerada.  

Nós poderíamos usar o mesmo método para quebrar a fechadura da cela desse homem também. Seguindo a lógica da missão, se libertássemos esse homem, ele presumivelmente nos ajudaria. Supondo que esse desenvolvimento de história tivesse sido escrito por alguém empregado pela Argus, essa seria a resposta certa.  

Mas provavelmente nossa jornada pela missão da "Guerra dos Elfos" estava bem longe do cenário original. Agora que Akihiko Kayaba havia transformado SAO no que era, e a Argus não estava mais gerenciando o jogo, era impossível imaginar uma pessoa de carne e osso modificando cuidadosamente as missões para cada jogador vivo. E se o sistema do jogo estava reescrevendo a missão em tempo real, eu tinha que supor que as expectativas típicas estavam fora de questão.  

Esse prisioneiro era um ser humano vivo — quer dizer, um elfo negro. Ele podia ser confiável ou não? Essa era a verdadeira questão.  

Uma sentença de trinta anos nessa prisão subterrânea significava que ele devia ter cometido um crime e tanto. Então o que seria? Ele acabara de dizer: "Nada que você precise saber, humana." Então talvez houvesse outra pista...  

— Hum, você tem irmãos? — Asuna perguntou do nada. Eu me virei para olhá-la, surpreso.  

O homem também parecia surpreso. Ele piscou em silêncio, depois respondeu.

— O que te fez perguntar isso?

— Porque eu conheço um elfo negro que se parece muito com você.

Em minha cabeça, eu estava pensando: O quê? Se Asuna o conhecesse, então eu também o conheceria, presumivelmente. Mas que elfo negro eu conhecia que se parecia com esse prisioneiro de cabelo desgrenhado e barba crescida...? E falando em elfos negros masculinos, os únicos que eu realmente "conhecia" até certo ponto eram o Visconde «Leyshren Zed Yofilis» no Castelo Yofel, o velho «Bouhroum» no Castelo Galey, e talvez o Conde «Melan Gus Galeyon». A única coisa que qualquer um deles tinha em comum com esse homem era a cor da pele…

Senti outro estalo de eletricidade percorrendo o centro do meu cérebro. Meus olhos se abriram rapidamente.

Não. Havia outro elfo negro que eu conhecia — se é que podia usar esse verbo. Asuna esperou até ter certeza de que eu tinha percebido também.

— Ele não nos disse o nome, mas trabalha como ferreiro em um acampamento no terceiro andar. Ele reforçou essa espada minha.

Ela se aproximou da cela, apertando o punho da «Chivalric Rapier». Ela a retirou da bainha de costas, então estendeu o pomo através das barras. Eu teria levado vários segundos para pensar nisso antes de agir. Mas não havia uma única gota de hesitação na expressão de Asuna.

O prisioneiro nos observava por trás de sua franja longa, então de repente se levantou da cama. Colocou os pés em sandálias que eram mal mais do que pedaços de material, e então caminhou até as barras. Agarrou o punho da rapieira que Asuna estava segurando e a puxou para dentro da cela.

Ele a segurou perto da testa, permitindo que a luz do cogumelo-lanterna na parede atrás dele iluminasse a lâmina brilhante, e então disse.

— Sim, posso ver que «Landeren» temperou essa espada. Ele só produzia porcaria antes… mas depois de trinta anos, imagino que o trapalhão tenha aprendido algumas coisas.

Supondo que «Landeren» fosse o nome daquele ferreiro extremamente antipático, eu temia até imaginar como ele reagiria se fosse chamado de trapalhão. Pelo menos, eu sabia que ele faria mais do que um resmungo… e foi aí que percebi o que tinha causado meu déjà vu mais cedo. O modo como ele exalava pelo nariz era exatamente o mesmo de como o ferreiro fazia.

O homem girou a rapieira, então enfiou o punho de volta pelas barras. Asuna a pegou, então deu um passo para trás.

— Se você fez um serviço para meu irmão, então devo agradecer. Vou ajudar você a procurar «Kizmel», a cavaleira.

Eu nem tive tempo de me maravilhar com essa mudança repentina de atitude quando Asuna apontou.

— Isso é muito gentil de sua parte, mas foi ele quem fez um serviço para nós…

— Um ferreiro elfo só tem a chance de trabalhar em uma espada tão boa algumas vezes na vida. Tenho certeza de que a experiência ajudou meu irmão caçula a crescer.

— Você também é ferreiro?

— Não — disse o prisioneiro, com a franja balançando até o nariz. — Eu não tinha talento. Meu irmão tinha o sangue de ferreiro nas veias, como meu pai e meu avô… mas eu não tinha nem isso…

Ele parou por aí, voltando para a cama. Comecei a me preocupar que ele tivesse mudado de ideia sobre nos ajudar, mas, em vez de se deitar novamente na cama, ele pegou o lençol desbotado e cuidadosamente rasgou uma tira do canto. Então, usou a corda improvisada para amarrar seu cabelo longo atrás da cabeça.

Revelado finalmente, o rosto do homem tinha toda a severidade de um típico elfo negro, apesar da barba mal feita. Em anos humanos, ele parecia estar na casa dos trinta e poucos anos. Ele realmente era bem parecido com o ferreiro do terceiro andar — mas havia um outro detalhe que me fez suspirar.

Cruzando seu rosto de uma bochecha à outra, cerca de uma polegada abaixo dos olhos, havia uma cicatriz de espada. Não era uma ferida recente, mas se destacava fortemente contra sua pele escura. Deve ter sido bem profunda quando foi feita.

Percebendo nossos olhares, o homem passou o polegar pela marca e resmungou. Caminhou até as barras e olhou na direção da estação dos guardas. Asuna e eu olhamos para o corredor. Não havia sinal dos guardas saindo da sala ainda, mas provavelmente iriam patrulhar assim que terminassem a refeição. Minha intuição dizia que tínhamos alguns minutos, no máximo.

— Vou queimar a fechadura. Se afastem, por favor — eu disse, mas o homem balançou a cabeça.

— Não se incomode. Em vez disso, vá até o depósito ao lado da estação e traga minha espada.

Sério? Você quer que procuremos entre todas aquelas espadas?! Pensei, guardando para mim.

— Que tipo de espada é?

— Um sabre. O punho e a guarda são de prata, enquanto o cabo e a bainha são de couro branco. Talvez você não reconheça por esses detalhes, pois provavelmente está coberta de poeira de trinta anos…

Asuna e eu nos entreolhamos.

Abri meu inventário, organizei as armas pela mais recente, então toquei no primeiro nome da lista, o Sabre dos Cavaleiros de Santalum, e o materializei.

O grande sabre apareceu com um som suave. Eu usei as duas mãos para levantá-lo.

Os efeitos de sujeira deveriam desaparecer depois de um curto período de tempo neste mundo, mas a sujeira presa no punho e a teia de aranha dentro da guarda do nó estavam exatamente como eu as reconheci antes. Elas provavelmente iriam se limpar um pouco se eu usasse um pano, mas parecia uma coisa estranha de se fazer, então passei o cabo pelas barras.

O homem hesitou por um instante, então pegou o sabre e o puxou para dentro da cela, bainha e tudo.  

Quando percebeu a teia de aranha, bufou e pegou novamente o lençol da cama e rapidamente, mas com cuidado, esfregou o sabre inteiro com ele. O brilho da lâmina foi restaurado, parecendo novo – ou pelo menos, não tão antigo. Colocou a bainha na cintura, do lado esquerdo, e então desembainhou a arma.  

A lâmina bem curvada refletia um brilho opaco à luz das cogumelos-lanterna. Isso não era por causa da sujeira na arma, no entanto. Era a qualidade de uma boa lâmina, uma que havia passado por muitos anos de combate e manutenção. Minha «Anneal Blade» +8, que quebrou na batalha contra o cavaleiro elfo da floresta, tinha o mesmo brilho.  

Pensei na minha antiga arma confiável, que ainda repousava nas profundezas do meu inventário, em seu estado quebrado. O homem me encarou e avisou.

— Afaste-se.  

— Ah, ce-certo.  

Asuna e eu recuamos das barras. O homem se aproximou da porta e ergueu o sabre nu acima de sua cabeça.  

Nem tive tempo de gritar "Espere, não!" A lâmina adquiriu um brilho prateado e fez um som, como se fosse vidro sendo tocado. Era o efeito de aquecimento de uma habilidade de espada.  

Se ele derrubasse a porta pela força bruta, faria um barulho incrível e os guardas viriam até nós imediatamente. Depois de todo o trabalho que tivemos para carbonizar o fecho em silêncio, isso ia arruinar tudo.  

Uma luz prateada piscou na escuridão. Duas ou três faíscas pequenas surgiram na fresta entre a porta e a barra seguinte.  

Foi isso. Nenhum estrondo ensurdecedor, nem sequer o som de um copo sendo colocado sobre a mesa. O sabre estava de volta em sua posição sobre a cabeça do homem, o que me fez questionar se ele realmente tinha usado a habilidade de espada. Mas não havia como negar a linha prateada perfeitamente vertical que ele havia criado.  

Ele voltou a colocar o sabre na bainha, deu um passo à frente e empurrou a porta com o polegar. A porta fez o menor dos rangidos e se abriu facilmente. A parte do ferrolho que ficou na porta foi cortada de forma tão limpa que parecia ter sido polida assim.  

— O-que foi essa técnica? — perguntei sem pensar.  

O homem deu de ombros e respondeu.

— Chama-se «Slashing Ray»... eu acho.  

Eu nunca tinha ouvido falar dessa habilidade. Muito provavelmente, era uma habilidade de elite da categoria de Espada Curvada. Fiquei tentado a pedir para ver os status dele, mas nem sabia como abrir a janela de status de um NPC. Talvez se você tocasse no redemoinho do cabelo dele, a janela de propriedades se abriria. Eu certamente não tinha coragem de tentar isso com esse velho... quer dizer, jovem.  

O homem saiu da cela para o corredor, esticou-se e estalou o pescoço de um lado para o outro. Se ele realmente tinha ficado preso naquela cela por trinta anos seguidos, devia estar sentindo uma liberdade desconcertante, mas, aparentemente, um simples alongamento e estalo já o satisfaziam. Seus olhos cinza aço fixaram-se em nós com um olhar penetrante.  

— Como disse que se chamavam?  

— Ah, eu sou Kirito...  

— E eu sou Asuna.  

O homem repetiu.

— Kirito e Asuna.

Sua pronúncia estava perfeita, e de todos os NPCs que encontramos, a checagem dele foi a mais curta. Confirmamos que estava certo e ele disse.

— Eu sou «Lavik».  

Isso foi a indicação de que ele estava entrando para o grupo. Uma nova barra de HP apareceu abaixo das nossas no canto superior esquerdo da minha tela.  

Também apareceu o nome que estava no cursor dele. Foi de PRISIONEIRO ELFO NEGRO para «LAVIK», FUGITIVO ELFO NEGRO. A palavra inglesa "FUGITIVO" não tinha entrado no meu dicionário mental, mas eu poderia perguntar para a Asuna mais tarde. Primeiro, perguntei para «Lavik» para onde deveríamos ir agora.  

— Então... como chegamos ao sétimo andar para encontrar «Kizmel»?  

— Ela pode estar no sétimo andar —«Lavik» corrigiu bruscamente. — Mas primeiro, precisamos obter informações dos guardas.  

— Hã?! A... você vai subornar eles?  

— Só se você tiver dinheiro suficiente para comprar uma mansão à beira do lago no nono andar.  

Nós balançamos a cabeça. O elfo negro barbudo bufou mais uma vez.  

— Então, vamos usar as espadas.



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