Volume 7
RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 5)
5
NÓS LIMPAMOS A MESA, RECOLHENDO OS PRATOS, E DEPOIS LAVAMOS a poeira e o suor do dia no banheiro da suíte. Não todos de uma vez, é claro; eu fui primeiro, seguido por Asuna e Argo. Embora eu tenha terminado meu banho em apenas três minutos, as garotas levaram mais de trinta, tempo suficiente para que eu ganhasse um ponto na minha habilidade de «Meditation» enquanto esperava.
Eu havia adquirido a habilidade de «Meditation» com «Bouhroum», o velho do hambúrguer de carne no Castelo Galey, no sexto andar, mas ainda era um grande mistério para mim. O efeito da «Meditation» em si era simples — se você mantivesse uma postura semelhante à meditação Zen por um certo período de tempo, ganhava um buff de regeneração de HP e uma leve resistência a todos os efeitos negativos de status. Era algo muito útil, mas, ao começar com proficiência zero, eram necessários sessenta segundos de meditação para ativar o efeito. Isso não era viável em combate.
Por outro lado, eu não teria conseguido neutralizar os dardos paralisantes dos Elfos Caídos que atacaram o Castelo Galey sem o efeito da «Meditation». Essa seria uma habilidade crucial quando eu enfrentasse eles novamente — ou certos PKers que usassem armas semelhantes. Isso tudo era bom e útil, mas o problema era o mod «Awakening» da habilidade de «Meditation».
Os mods de habilidade eram efeitos extras que você desbloqueava ao atingir determinados marcos em cada habilidade e, normalmente, eram bem fáceis de entender. Para habilidades de armas, por exemplo, havia Redução do Tempo de Recarga das Técnicas de Espada e Aumento da Taxa de Acerto Crítico. Para a habilidade de Search, existiam efeitos como Rastreamento Simultâneo Aprimorado e Aumento da Distância de Busca. Na maioria dos casos, nem era necessário ler a descrição.
Mas o nome «Awakening» não dizia nada. Até mesmo a descrição era vaga:
FOCALIZA A CONCENTRAÇÃO AO EXTREMO E LIBERA UMA FORÇA OCULTA.
A ideia de ocupar um espaço valioso de habilidade apenas por esse mod misterioso me deixava hesitante, mas «Awakening» só estava disponível quando a proficiência da habilidade de «Awakening» atingia 500. Se eu removesse Meditação do meu slot agora, provavelmente nunca mais veria esse mod.
Mesmo assim, eu tinha algumas suspeitas sobre o que «Awakening» fazia.
No final da batalha contra «The Irrational Cube», o boss do sexto andar, um PKer chamado Buxum entrou em ação. Ele se esgueirou por trás do boss quase morto, retirou o cubo dourado que possuía os poderes de Quebra e Ligação e os usou para congelar todos os jogadores na câmara, exceto ele próprio.
Quando vi Buxum prestes a matar a mãe de «Myia», «Theano», gritei para mim mesmo "move-se!" com toda a força de vontade que tinha, sentindo como se meus neurônios queimassem. Foi nesse momento que notei, ao lado do ícone de paralisia, um novo ícone de buff semelhante ao da «Meditation»: a silhueta de uma pessoa em posição de meditação, cercada por um anel de luz dourada.
No instante em que esse ícone apareceu, meu efeito de congelamento desapareceu, e eu avancei contra Buxum. Com um único golpe, sem sequer usar uma técnica de espada, cortei sua espada longa e seu braço. Infelizmente, ele conseguiu escapar, mas se eu não tivesse quebrado o efeito da maldição, não apenas «Myia» e «Theano» teriam morrido, mas provavelmente Asuna e eu também.
Seria esse o efeito do mod «Awakening»? Eu havia "focalizado ao extremo" e "liberado uma força oculta" para quebrar a maldição do cubo dourado?
Mas Aincrad era apenas um mundo virtual gerado pelo NerveGear. Não existiam milagres ou feitiços reais ali, então como algo imensurável como "concentração" poderia ser medido? Será que o NerveGear de Akihiko Kayaba não apenas recebia os comandos cerebrais para movimentar o avatar, mas também conseguia ler os pensamentos de uma pessoa?
E, falando em mistérios, a identidade de Buxum também era um. Ele usava um elmo sallet que cobria tudo do nariz para cima, então eu não conseguia ver seu rosto. Mas se ele estava infiltrado na DKB, o restante de sua guilda devia conhecer sua identidade. A DKB e a ALS realizaram uma reunião de emergência na câmara do boss para discutir sobre ele após a luta, mas até agora eu não tinha ouvido falar sobre o resultado. Eu estava pensando em perguntar a Shivata sobre isso quando as garotas saíram do outro cômodo.
Asuna vestia um vestido curto de mangas bufantes com leggings que iam até abaixo dos joelhos, enquanto Argo estava com um visual bem incomum para seus padrões: uma regata simples e shorts. Eu não consegui evitar encará-las, o que fez Argo abrir um sorriso malicioso como eu nunca tinha visto antes.
— O que foi, Kii-boy? Hipnotizado pelas belas pernas da Aneki?
— E-Eu não estou hipnotizado com nada! — retruquei, soando como um aluno da quarta série. Então acrescentei: — Só estava pensando… deve ser confortável de usar.
— Então por que você não troca por algo mais de verão? — Asuna sugeriu imediatamente.
Olhei para minha roupa.
Eu já havia tirado o casaco e a couraça, então estava apenas com uma camisa preta de mangas longas e calças pretas. Nada veranesco, de fato. Porém, o material da Skintight Shirt era fino, e as Trousers of Shadowthread eram um drop raro — e incrivelmente ventiladas, considerando a boa defesa que ofereciam. Mas o mais importante de tudo era…
— Se eu tirar isso, vou ficar só de cueca.
As sobrancelhas de Asuna se ergueram.
— Ninguém pediu para você tirar nada! Eu disse para você trocar!
— Uhhh, mas eu não tenho nenhuma outra roupa para vestir...
Asuna e Argo trocaram um olhar cúmplice e suspiraram pesadamente. Eu praticamente conseguia ouvir seus pensamentos.
— Garotos...
Felizmente, elas não insistiram na questão das roupas depois disso. Em vez disso, descemos para o primeiro andar e saímos.
Já passava das oito da noite. Normalmente, esse era o horário em que a sessão noturna do jogo começava, mas não tínhamos planos de sair da cidade naquela noite. Presumi que não precisaria da minha espada, mas, por via das dúvidas, mantive minha espada curta reserva equipada ao lado esquerdo, em vez de deixá-la pegando poeira virtual no inventário.
A rua litorânea nos recebeu com um aroma tropical. De lá, seguimos tranquilamente por uma das três ruas de escadarias, a escadaria oeste. Ela era apenas metade da largura da grande escadaria, mas ao longo do caminho havia lojas de itens de aparência duvidosa e bares, dando ao local uma verdadeira vibe de beco de RPG.
Lembrei-me de que várias missões começavam ali, mas ignoramos todas enquanto subíamos os degraus gastos. Eventualmente, surgiu à nossa vista um prédio muito grande e intensamente iluminado.
Minaretes cortavam o céu noturno acima de sua cúpula azul-marinho. Bandeiras triangulares vermelhas e pretas tremulavam ao vento. Aquele era o Volupta Grand Casino, um lugar de alegria e desespero.
De repente, percebi que, apesar da queda na temperatura, minhas mãos estavam suadas. Quase entrei na brincadeira do clichê e murmurei "Eu... estou realmente com medo...?", mas imaginei que as garotas ou não entenderiam a referência ou me achariam um idiota.
Da escadaria oeste, seguimos até a praça em frente ao cassino, onde o cenário era dramaticamente diferente. Era um pouco menor que a praça central da cidade, aquela com a fonte, mas os ladrilhos sob nossos pés formavam mosaicos detalhados e complexos, e os estabelecimentos ao redor eram bem refinados. No entanto, a parte mais impressionante era, sem dúvida, a imponência do cassino no lado oeste da praça. Suas paredes brancas eram iluminadas por tochas, e as colunas esculpidas em estátuas faziam o lugar parecer a morada de um rei.
Na verdade, aquele era o castelo de «Volupta». Quem quer que fosse o dono do Grand Casino — eu não sabia seu nome nem sua aparência — era, de fato, o governante daquela cidade.
Guardas armados estavam postados de cada lado da entrada aberta, de onde vinham os sons suaves de música de cordas e conversas animadas, vindos do deslumbrante interior. Todos os NPCs que entravam estavam vestidos com suas melhores roupas. Quando Asuna os notou, inclinou-se e sussurrou.
— Ei, esse cassino tem um código de vestimenta, não tem?
— Código de vestimenta...?
No começo, achei que ela estava falando sobre um código para algum item de DLC (conteúdo para download), já que usou o termo em inglês. Quando percebi que ela estava se referindo a um padrão de vestimenta, balancei a mão e a cabeça em negação.
— Não, nada disso. Acho que te impediriam de entrar se estivesse só de roupa de baixo, mas ninguém liga se você estiver com seu equipamento inicial, um manto esfarrapado ou uma armadura completa. Você acha que aqueles brutamontes da DKB e da ALS têm roupas formais?
— Faz sentido — disse Asuna, aceitando a explicação imediatamente.
Foi como um feitiço de invocação. Mal mencionei eles, e já ouvi um sotaque irritante e familiar vindo do outro lado da praça.
— Beleza, bora ganhar o jackpot e levar aquela espadona!
Outros responderam ao anúncio com grunhidos como "Isso aí!" e "Pode apostar!"
Rapidamente recuamos e nos escondemos sob o beiral de um dos estabelecimentos para observar o lado leste da praça. Descendo a rua principal vinha um grupo de cerca de dez jogadores vestidos de verde-escuro e preto metálico. Nem precisávamos ver o cabelo espetado do homem que os liderava para reconhecer a ALS. Pelo visto, eles haviam terminado o banquete da guilda e agora os membros veteranos estavam indo ao cassino para curtir a noite.
O grupo de Kibaou atravessou a praça sem dar sinal de que tinha notado nossa presença e entrou pela entrada do cassino. Provavelmente, planejavam apostar pesado na Arena de batalha, que começaria novamente às nove.
— Que espadona? — me perguntei. Não me lembrava de nada assim durante o beta. Argo apenas deu de ombros e sussurrou.
— Vai e vê por si mesmo.
— Beleza... Então, vamos — disse eu, afastando-me da parede — mas Asuna me empurrou de volta. Antes que eu pudesse protestar, ouvi passos se aproximando.
Outro grupo, com cerca do mesmo tamanho, mas vestido de azul-escuro e prata, seguiu exatamente o mesmo caminho da ALS. Na liderança estava Lind, o membro do clube de caligrafia; à sua direita, Shivata, o corredor de atletismo; e à esquerda, Hafner, o jogador de futebol. Era a DKB, a outra grande guilda. Essas descrições não eram exatamente verdadeiras, apenas epítetos que eu usava, mas também não estava em posição de criticar ninguém. Outros jogadores me chamavam de Blackie, então estava na hora de ajudar os apelidos deles a pegarem também.
Enquanto isso, o grupo de Lind atravessou a praça e também desapareceu no cassino. Não havia dúvidas de que estavam indo para a sessão noturna da Arena de batalha, assim como a gangue de Kibaou.
— Quantas fichas eles ganharam na arena durante o dia…? — murmurei para mim mesmo, sem esperar que Argo realmente me respondesse.
— Dei uma olhada nisso. Pelo que ouvi, os dois passaram de mil.
— Mil…
Tive que apertar a boca para não gritar. Em vez disso, engoli em seco e sussurrei.
— Nesse caso, eles deviam parar enquanto estão no lucro… O prêmio máximo do cassino não era mil fichas, de qualquer forma?
— Além disso, eles poderiam ganhar um passe para a praia — disse Asuna, com uma pitada de inveja.
Argo olhou para nós dois e sorriu de canto.
— Desculpem, mas essa informação já está desatualizada. Se quiserem o status VIP e o passe para a praia que vem junto, vão precisar ganhar trinta mil fichas.
— Trin…ta… — Asuna ofegou.
Então Argo se virou para mim e jogou mais uma bomba.
— E o prêmio de maior valor também foi atualizado. Agora, são necessárias cem mil fichas.
— Cem… mi… — soltei um suspiro. No beta, apostei tentando ganhar mil fichas e acabei me arruinando. Conseguir cem vezes mais do que isso — com cada ficha valendo cem col — significava que seriam necessários ganhos equivalentes a dez milhões de col.
— Dez milhões? Isso é dez mega-col… Será que vão mesmo trazer itens de nível mega no sétimo andar? E o Lind e o Kiba realmente acham que vão transformar mil fichas em cem mil? — murmurei, sentindo-me tonto. Argo apenas levantou as mãos.
— Acho que sim. Bem, eles transformaram cem em mil no coliseu diurno.
— Mas ainda assim, isso foi só um lucro de dez vezes… Agora precisarão multiplicar isso por cem.
— Cem vezes é apenas dez vezes multiplicado por dez — ela respondeu, sem qualquer necessidade.
Asuna cruzou os braços na frente do rosto e depois os abriu de forma decisiva.
— Nem pensar! Trinta mil fichas só para ter a chance de passar meio dia na praia? Três milhões de col! Isso é insano! Digo, seriam seis milhões para nós dois — e nove milhões se incluirmos a Argo! Com esse dinheiro, poderíamos simplesmente comprar uma casa inteira de frente para o mar!
— Tecnicamente, é um lago.
— Tanto faz — Fica quieto! Meu ponto é: sem cassino! Esquece! Vamos para a próxima cidade já! — Asuna resmungou e começou a se afastar, mas segurei rapidamente a manga fofa de sua roupa.
— E-Er, e-espera aí. Não precisamos apostar, mas ainda precisamos cumprir o pedido da Argo.
— Ah.
Ela parou no mesmo instante. Argo sorriu para ela.
— Não quer saber como conseguir um Broto da Árvore de Neve, A-chan?
— Urrrr……….
Ela resmungou por mais tempo do que o normal e então se virou para Argo.
— O que exatamente você quer que façamos?
Argo apenas disse: "Explico lá dentro" e seguiu em direção ao cassino, forçando-nos a seguir seus cachos saltitantes.
A entrada do Volupta Grand Casino ficava diagonalmente através dos mosaicos de azulejos. A enorme fachada de mármore parecia a de um hotel cinco estrelas do mundo real. Até mesmo a armadura brilhante dos guardas parecia ter sido aprimorada em vários níveis desde o beta.
Mas Argo não se intimidou nem um pouco. Suas sandálias de couro faziam um som ritmado ao atravessar a porta. Assim que a cruzamos atrás dela, fomos recebidos por um ar fresco e revigorante, seguido por uma agradável música de cordas e o aroma doce de flores.
O interior do hall de entrada era cegantemente iluminado, principalmente por causa do enorme lustre. Me perguntei quantas velas e quanto óleo eles usavam todas as noites, mas não havia motivo para me preocupar com isso em um mundo virtual. No centro do salão octogonal, erguia-se uma estátua de uma deusa com cabeça de pássaro, igual à da praça da fonte. Atrás dela, três grandes portas levavam ao salão de jogos. Uma escadaria na parede direita subia, enquanto outra na esquerda descia. O caminho para baixo estava livre, mas uma corda vermelha e um NPC de preto bloqueavam a subida. Parecia que a música vinha do andar de cima.
— O que tem lá em cima? — Asuna perguntou. Argo respondeu.
— Se for igual ao beta, o segundo andar é a sala dos apostadores VIP, e o terceiro andar é um hotel de luxo. Nem eu sei o que tem no quarto. E você, Kii-boy?
— Não faço ideia — respondi, balançando a cabeça. Asuna deu de ombros.
— Bom, não importa, já que não vamos apostar. Então… Onde pegamos essa missão que você quer nossa ajuda?
— Sem pressa, A-chan. Mesmo que não aposte, ainda pode aproveitar o ambiente — Argo disse com um sorriso, seguindo em frente. Ela contornou a estátua da deusa e se dirigiu às três portas ao fundo.
Assim que passamos pela entrada, a música refinada ficou praticamente inaudível, abafada pelo burburinho animado do salão de jogos.
A sala de jogos era quase tão grande quanto um ginásio de ensino médio. Havia inúmeras mesas lotadas de visitantes desfrutando de jogos de sorte e habilidade. Elas estavam dispostas em um formato de três lados, aberto em nossa direção, com roleta à direita, dados à esquerda e cartas ocupando a maior parte do espaço à frente. Pelo menos essa disposição era a mesma que eu me lembrava da versão beta.
No centro da sala ficava o balcão de câmbio, onde se podia pagar col para receber fichas de cassino, e o balcão de prêmios, onde essas fichas podiam ser trocadas por itens. Havia ainda dois bares onde era possível pedir bebidas e lanches, formando um total de quatro balcões dispostos em um quadrado. Inclinei-me para falar com minha parceira temporária, que estava parada em silêncio, atônita.
— Ei, vamos ver o que dá para ganhar. Você não quer saber o que pode conseguir com cem mil fichas?
Asuna piscou várias vezes e me olhou com renovada cautela.
— Quero… mas é bom que você não anuncie que vai começar a apostar para tentar ganhar isso.
— Nem pensar, não vou fazer isso. Vamos logo — respondi, empurrando-a suavemente em direção aos balcões. Argo nos seguiu, sorrindo de canto.
Enquanto caminhávamos, dei uma olhada nas laterais da sala e percebi que a maioria dos apostadores — na verdade, todos — eram NPCs. Não havia um único cursor verde visível, o que indicaria um jogador. Se essa fosse a cidade principal do andar, os jogadores estariam chegando em massa pela praça de teletransporte, sonhando em fazer fortuna. Mas viajar de «Lectio» para «Volupta» envolvia certo perigo. Somente as guildas envolvidas no avanço do jogo teriam conseguido chegar aqui no primeiro dia.
Esse pensamento me fez perceber que nem a DKB nem a ALS estavam ali. Devem ter descido direto as escadas do hall de entrada, então. O relógio marcava 8h30. Ainda havia bastante tempo antes da arena noturna.
Não, não, não! Me repreendi, afastando a tentação. Dei a volta pelo balcão de câmbio, passando pelo bar ao lado para chegar ao balcão de prêmios nos fundos.
Atrás de uma mulher vestida com um colete preto, havia um pilar de mármore com quase três metros de largura, no qual estava fixada uma esplêndida vitrine. Havia pelo menos cinco vezes mais itens do que na versão beta.
Na prateleira inferior, encontravam-se itens consumíveis, como poções, que podiam ser adquiridos por apenas algumas fichas. A prateleira acima continha ferramentas úteis; a seguinte exibia acessórios coloridos e pequenos equipamentos; e na prateleira superior, brilhando intensamente sob a luz do lustre, havia uma espada longa.
A lâmina larga era tão prateada quanto um espelho, com ouro incrustado na linha do bisel. A guarda também era dourada, enquanto o cabo era de couro vermelho, e um enorme joia adornava o pomo.
— Uau, isso definitivamente chama atenção — murmurou Asuna, e eu tinha que concordar.
A verdadeira questão eram suas especificações. Se aquela espada custava cem mil fichas, ou seja, dez milhões de col, eu não conseguia nem imaginar o nível de poder de ataque que ela oferecia.
Dei dois passos em direção ao balcão de câmbio e fiquei na ponta dos pés para ver melhor a espada. Mas era necessário tocá-la com o dedo para abrir a janela de propriedades, e não havia como fazer isso quando a espada estava exposta a mais do que o dobro da minha altura.
Eu já havia subido e descido nos calcanhares várias vezes quando Argo finalmente comentou.
— Ei, Kii-boy, você pode simplesmente pegar um panfleto de prêmios no balcão.
— Você podia ter dito isso antes — resmunguei, limpando a garganta em constrangimento e avançando dois passos até o balcão.
A mulher NPC me recebeu com um sorriso extremamente agradável e profissional.
— Um panfleto, por favor!
Ela me entregou um pergaminho enrolado sem demonstrar qualquer olhar de reprovação para minhas roupas casuais.
— Aqui está, senhor.
— Obrigado — respondi, apressando-me para o lado e abrindo-o. Asuna espiou por cima do meu braço direito.
Era um panfleto bastante espesso, repleto de ilustrações coloridas detalhadas. Não havia tecnologia de impressão neste mundo, o que significava que, se quiséssemos aprofundar essa questão, cada ilustração teria que ter sido pintada à mão. Mas, é claro, tudo isso era apenas a magia dos jogos em ação.
Abaixo de cada ilustração, os nomes dos itens estavam escritos no alfabeto inglês, mas, felizmente para mim, as descrições estavam em japonês. Passei pelas poções, ferramentas e acessórios até chegar ao final do panfleto, onde estava a espada dourada, prateada e incrustada de joias.
A ilustração trazia o nome «SWORD OF VOLUPTA». Ao lado, estava escrito 100.000 VC. Eu me lembrava de que VC era a sigla oficial das fichas do Grande Cassino, Vol Coins. Eu já tinha acreditado na Argo da primeira vez, é claro, mas ver aquele número impresso no papel me fez sentir tonto.
Sacudi a cabeça para clarear os pensamentos e me concentrei no texto. Ele dizia.
A ESPADA DO HERÓI FALHARI, FUNDADOR DE «VOLUPTA» E ABATEDOR DO DRAGÃO-D'ÁGUA ZARIEGHA. ELA CURA SEU PORTADOR, PURIFICA TODOS OS VENENOS E ATINGE O ALVO COM PRECISÃO EM CADA GOLPE.
— Hmmmm — murmurei, no mesmo instante em que Asuna fez.
— Rrrmm…
— É difícil dizer quais são suas propriedades — ela comentou. — Parece muito impressionante, mas, a menos que possamos ver um detalhamento real de suas especificações…
Apontei para o balcão.
— Asuna, se eu te deixar subir nos meus ombros, você tentaria tocar na espada?
— Você é idiota?
Ela não estava apenas sendo teimosa; no momento em que cruzássemos o espaço atrás do balcão, aqueles homens robustos vestidos de preto viriam atrás de nós. Voltei para o texto.
— Com base nisso, não sabemos o real poder de ataque ou o número de tentativas de upgrade que essa espada teve, mas se os efeitos adicionais forem exatamente como o texto sugere, dá para entender por que ela valeria dez milhões de col. Equipá-la regenera automaticamente HP, anula venenos que causam dano e paralisia e transforma cada ataque em um acerto crítico, certo?
Dizer isso em voz alta deixava bem claro o quão absurdamente quebrada a «Sword of Volupta» era; ela não deveria sequer existir aqui, no sétimo andar. Olhei novamente para a espada na prateleira superior da vitrine.
O design espalhafatoso e chamativo definitivamente não era do meu gosto, mas, dadas as nossas circunstâncias, a aparência era a menor das preocupações. Se isso aumentasse as chances de sobrevivência para mim e minha parceira, eu usaria uma espada cem vezes mais feia que aquela.
Ou pelo menos era o que eu dizia para mim mesmo. Por enquanto, essa espada estava fora de alcance, tanto literal quanto figurativamente. Se eu convertesse todos os meus bens em fichas, teria apenas novecentas. Para transformá-las em cem mil, eu precisaria apostar tudo na roleta e ganhar sete vezes seguidas. As chances disso acontecer eram...
— Asuna, quanto é zero vírgula cinco elevado à sétima potência?
— Hã? Hmm... algo como zero vírgula zero-zero-sete-oito-humde-dumdedum... Certo?
— Valeu. Então isso dá cerca de zero vírgula oito por cento — murmurei.
A espadachim me olhou desconfiada por dois segundos antes de arregalar as sobrancelhas.
— Ah! Você estava calculando as chances de ganhar sete apostas seguidas de tudo ou nada!
— É... Uau, você percebeu?
— Mas é claro! E você sabe que não tem como uma chance de zero vírgula oito por cento dar certo!
— Olha, não custa nada pensar no assunto.
— Mas daqui a pouco você vai dizer "Vou só apostar cem col!" — ela retrucou.
Risos abafados interromperam nossa discussão. Lancei um olhar para a Rata, cujos bigodes pintados se contorciam. Ela riu e se contorceu por uns bons cinco segundos antes de finalmente erguer o olhar.
— Eu juro... nunca me canso de ver vocês juntos. Prometam que ficarão assim pelo maior tempo possível.
— Bem... não temos planos de nos separar — admiti, impassível.
— Desde que alguém não nos leve à falência no cassino — Asuna acrescentou.
Saímos da sala de jogos enquanto eu ainda tinha força de vontade e voltamos para o saguão de entrada. Agora eram 20h40.
Joguei o panfleto no meu inventário para parar de me tentar e me inclinei para perguntar a Argo.
— Então... o que você quer que a gente faça?
— Ah, certo, certo, certo.
Ela estalou os dedos e navegou pelo menu em uma velocidade impressionante. Um pedido de grupo apareceu, e Asuna e eu aceitamos. Uma terceira barra de HP surgiu no canto superior esquerdo.
— Agora devemos conseguir compartilhar a missão. Por aqui — disse ela, indo na direção da escada que descia para o primeiro subsolo.
Esse era um caminho ruim para seguir, pensei, mas não podia discutir com a cliente.
As escadas, cobertas por um tapete escarlate, nos levaram ao longo das paredes octogonais por três quartos do caminho ao redor do salão do primeiro subsolo. No centro da sala havia outra estátua, mas, desta vez, não era de uma deusa com cabeça de pássaro, e sim de um guerreiro poderoso com cabeça de leão, que pisava sobre outro guerreiro com cabeça de lagarto.
Além da estátua, havia outro conjunto de três portas como as do andar superior, mas a escuridão do outro lado era intensa.
Aqui estou eu de novo, resmunguei, seguindo Argo pelas portas para a Arena de Batalha. Vozes animadas abafavam a música instrumental ao fundo. A sala ampla exalava um tipo diferente de entusiasmo comparado à sala de jogos acima.
O chão era rebaixado no centro, como uma tigela, e do outro lado havia um palco coberto por uma enorme jaula dourada. Mesas de buffet, repletas de petiscos, alinhavam-se nas laterais, e vimos um balcão de ingressos em um dos cantos.
Entre os lados do palco e as mesas de buffet, havia mais de cinquenta convidados presentes, mas não conseguia distinguir seus rostos na penumbra. Em vez disso, foquei em suas silhuetas o suficiente para ativar os cursores de jogador, um por um.
— Ah, ali está a ALS — murmurei, ao mesmo tempo em que Asuna sussurrou.
— Encontrei a DKB.
Indicamos a localização um ao outro com olhares. Os membros da ALS estavam no lado direito da arena, enquanto os da DKB ocupavam espaços próximos ao buffet, à esquerda. Ambos os grupos tinham grandes papéis espalhados sobre a mesa e estavam imersos em discussões empolgadas.
— O que será que eles estão olhando?
— Essas são as probabilidades — expliquei. — Elas listam os nomes e descrições dos monstros que vão lutar no palco, junto com o pagamento caso eles vençam. Você pode pegar isso de graça no balcão de ingressos.
— Eu não quero isso — Asuna afirmou, me lançando um olhar desconfortavelmente firme.
— Certo, claro que não. De qualquer forma... Ei, Argo, onde está o NPC da missão? Não vejo nenhuma marcação.
Agora estávamos no mesmo grupo, então qualquer NPC envolvido em uma missão em andamento deveria ter um ! acima da cabeça, mesmo que apenas a Argo tivesse aceitado a missão. Mas, por mais que procurássemos, não encontramos nenhum sinal disso.
— Claro que não vê; o NPC da missão está em outro lugar — Argo respondeu, virando-se para mim.
— Hã? — soltei, incrédulo. — Então por que estamos aqui?
— Estamos fazendo um serviço, obviamente.
......
Como regra geral, as missões em SAO se encaixam em quatro grandes categorias:
- Missões de coleta, que exigem reunir materiais na natureza.
- Missões de combate, que requerem derrotar um monstro específico.
- Missões de escolta, onde é preciso proteger um NPC até um destino.
- Missões de recado, que vêm em diversas formas.
As missões de recado muitas vezes eram chamadas de "fetch quests" por um bom motivo, já que muitas envolviam buscar um item e trazê-lo de volta – ou entregá-lo para outra pessoa. Mas se fosse esse o caso, deveria haver um NPC aqui para nos dar ou receber o item. Como não havia...
— É... uma busca? Ou uma investigação?
— Isso mesmo — confirmou Argo enquanto andávamos. Soltei um gemido de desânimo.
Missões de busca e investigação eram as piores entre os recados. A missão "Maldição de «Stachion»" no sexto andar nos levou para todos os cantos do mapa e começou com um pedido para encontrar o cubo dourado. Embora nem tudo que aconteceu estivesse roteirizado, a missão durou até a batalha contra o boss do andar. Rezando para que esta não fosse uma missão tão épica assim, perguntei.
— Precisamos encontrar algo que alguém perdeu por aqui?
— Não.
— Estamos procurando por uma pessoa?
— Não.
Argo desceu as escadas que levavam à parte mais baixa da arena, rejeitando cada suposição minha. Quando chegamos ao fundo, ela nos guiou até um grupo de NPCs reunidos ao redor da jaula de batalha coberta, o palco principal.
Os NPCs da alta sociedade relaxavam nos sofás das áreas superiores, que precisavam ser pagas, ou assistiam do buffet. Já os reunidos perto da jaula eram homens mais rudes e de classe baixa.
— O que querem? — resmungaram. — Não empurrem.
Mas Argo os ignorou e caminhou diretamente até a jaula dourada, olhando para mim e Asuna.
— Faltam dez minutos para a primeira luta. Tenho tempo para explicar no que preciso da ajuda de vocês.
Ela fez um gesto para que eu me aproximasse. Inclinei o ouvido esquerdo para mais perto do rosto dela, e Asuna fez o mesmo com o direito, nos deixando cara a cara a uma distância bem próxima. Seria muito estranho mudar de posição agora. Felizmente, Asuna parecia não se importar, então mantive uma expressão neutra e ouvi a explicação de Argo.
— Daqui a alguns minutos, dois monstros vão lutar dentro dessa jaula.
— Sim.
— Segundo meu mestre da missão, um deles está trapaceando de alguma forma.
— Hã? — soltei mais alto do que deveria. Ambas as garotas colocaram um dedo sobre meus lábios.
Abaixei meu "botão de volume interno" mentalmente e continuei.
— Trapaceando...? Mas são monstros lutando, não humanos. Eles sequer têm inteligência suficiente para trapacear?
— Um kobold ou um shrewman poderiam, não acha? — Asuna apontou. Dei de ombros.
— A menos que algo tenha mudado desde o beta, não há monstros semi-humanos na arena. Provavelmente porque isso deixaria as lutas um pouco desconfortáveis...
— Eles não estavam na arena diurna — Argo concordou, puxando um pedaço de pergaminho dobrado do bolso de seu short. Era a lista de probabilidades do balcão de ingressos. Quando ela pegou isso?
— Aqui, tem a primeira luta listada.
Asuna e eu pegamos o papel e nos aproximamos para ler. Argo apontou para um trecho onde estavam escritos os nomes Bouncy Slater e Rusty Lykaon em japonês. As probabilidades eram 1.64 para o primeiro e 2.39 para o segundo.
— Hã? As probabilidades não deveriam mudar dependendo de quem as pessoas estão apostando e quanto estão apostando? — Asuna questionou, desconfiada.
Isso era verdade, mas havia um truque especial nessa tabela de probabilidades.
— Apenas observe os números — murmurei, enquanto os algarismos pretos no pergaminho começaram a se mover como se fossem criaturas vivas. Os dois números mudaram para 1.62 e 2.40.
— Oh! Eles mudaram.
— Entendeu? Se a «Kizmel» visse isso, ela provavelmente chamaria de algum estranho encanto humano.
No instante em que mencionei o nome da cavaleira elfa negra, as pálpebras de Asuna baixaram com preocupação. Mas isso não durou muito.
— Entendo... então as probabilidades numéricas são atualizadas automaticamente na folha — ela disse. — Ou seja... há mais pessoas apostando na vitória de Bouncy Slater na primeira luta?
— Não necessariamente. As probabilidades são determinadas apenas pela quantidade de dinheiro apostado, então pode ser que alguns grandes apostadores tenham inclinado as chances a favor desse competidor.
— Entendo... De qualquer forma, suponho que o lykaon seja um monstro canino, mas o que seria um Bouncy Slater?
Argo respondeu primeiro:
— Slater é outro nome para tatuzinho-de-jardim. Neste caso, um que quica.
— Tatuzinho-de-jardim — Asuna repetiu, fazendo uma careta de desgosto.
— Qual dos dois seu mestre suspeita, Argo? — perguntei. — O tatuzinho ou o lykaon?
— O lykaon.
— Ou seja, seu mestre quer que você descubra qual é o truque?
— Correto — disse a comerciante de informações.
Nesse momento, um som alto de gongo ecoou atrás de nós, seguido por um anúncio energético.
— Senhoraaas e senhoreees! Bem-vindos à joia da coroa do Grande Cassino de Volupta, a Areena de Batalhaaa!
Virei-me e vi um camarote no nível acima do chão, onde um NPC de camisa branca e gravata borboleta vermelha estava sob um holofote. Claro, era um holofote primitivo, usando espelhos e lanternas grandes, nada elétrico. Mas, fosse por um sistema lógico ou apenas pela "magia" do mundo virtual, era incrivelmente brilhante.
Quando os aplausos da plateia diminuíram, o NPC continuou falando, sua voz alta o suficiente para ser ouvida em toda a arena, apesar da ausência de um microfone.
— A primeira luta do nosso horário noturno começará em breve! As vendas de ingressos terminam em apenas cinco minutos, então façam suas apostas agora, enquanto têm a chance!
Vários convidados — NPCs, é claro — correram até a bilheteria. Os membros da ALS e da DKB não saíram das mesas do buffet, pois já haviam comprado seus bilhetes.
—- Será que eles realmente apostaram todas as mil fichas que ganharam durante o dia...? — murmurei, cético.
Argo deu de ombros.
— Provavelmente, né? Se eles tão falando sério em transformar mil em cem mil, têm que apostar tudo o que têm nas cinco lutas que vêm por aí.
— Umm...
Olhei novamente para a tabela de probabilidades. As chances para a primeira luta haviam mudado novamente, agora marcando 1,61 e 2,41. As partidas seguintes tinham pagamentos que giravam em torno de dois ou três no máximo, mas, se você apostasse tudo o que tinha e vencesse todas as cinco rodadas, realmente poderia alcançar cem mil fichas a partir de mil.
Esse era o perigo, no entanto. Durante o beta, eu havia vencido as quatro primeiras apostas em uma situação parecida e estava a apenas uma luta de conquistar o maior prêmio do cassino, quando...
Suspirei, afastando essa lembrança, e então sorri para Argo.
— Agora que sabemos que há trapaça envolvida, deveríamos ter apostado tudo no lykaon.
— Melhor não! Se você compra um bilhete de batalha de monstros enquanto a missão está ativa, falha nela — ela disse, balançando a cabeça rapidamente. A negociadora de informações nos encarou com um olhar extremamente sério. — E não acho que esse seja o tipo de missão onde dá pra tentar de novo. Ainda assim, não tenho certeza se consigo perceber o truque sozinha. Kii-boy, A-chan, vou precisar da ajuda de vocês.
— Pode contar comigo! — disse Asuna animadamente.
— Ah... s-sim, claro — acrescentei, desajeitado.
Poucos instantes depois, o gongo soou novamente, e as luzes do salão se apagaram.
Dessa vez, o holofote artificial iluminou a jaula dourada. Todos na sala voltaram a atenção silenciosamente para o palco.
A jaula retangular era bem grande, com aproximadamente quatro metros de largura e nove de comprimento. Três lados eram feitos de barras de ferro, enquanto o lado oposto era a parede de pedra do recinto. O teto também era coberto por grades de metal, e havia uma divisória interna separando o espaço em duas partes.
No beta, os monstros simplesmente surgiam do nada em cada lado da jaula, algo que sempre me pareceu uma programação preguiçosa. Mas, pelo visto, essa era mais uma das áreas que receberam melhorias na versão oficial.
Com um estrondo profundo, a parede de pedra recuou em dois pontos, que então começaram a se erguer.
O NPC de gravata borboleta anunciou.
— E agora! Começando com a primeira luta do horário noturno da Arena de Batalha! Nosso primeiro competidor... um inseto assassino revestido em armadura de aço! O Bouncy Slaterrrr!
Assim como Argo havia descrito, um tatuzinho-de-jardim surgiu lentamente pela porta esquerda — só que tinha quase um metro de comprimento. Seu casco resistente era de um tom azul-escuro brilhante.
Eu tinha lutado contra esses inimigos algumas vezes no beta. Se você tentasse cortar suas carapaças apenas com força bruta, só conseguiria desgastar sua própria arma.
— E em oposição... o ceifador vermelho, cuja mandíbula pode esmagar ferro! O Ferrugem Lykaooon!
Um rosnado profundo ecoou da entrada à direita. Das sombras, emergiu um monstro do tipo canino, com uma pelagem vermelho-escura e manchas pretas. Os lykaons eram mais atarracados que os lobos, com focinhos mais curtos, mas eram mais resistentes e possuíam mandíbulas incrivelmente poderosas. Mesmo sem considerar o comprimento da cauda, ele era notavelmente maior que o tatuzinho.
Cursores coloridos apareceram acima dos dois monstros. Ambos eram amarelos, indicando que eram NPCs, talvez para ocultar o sistema que mostrava a dificuldade relativa dos inimigos com base na tonalidade da cor.
Eu foquei no lykaon. De acordo com o mestre que passou a missão para Argo, havia algum tipo de trapaça envolvida.
Tanto o tatuzinho quanto o lykaon eram monstros que apareciam na segunda metade do sétimo andar. Entre os dois, o tatuzinho era o mais problemático no beta. Os lykaons também eram difíceis, mas o perigo principal vinha do fato de que apareciam em bandos de dois ou três. Desde que você conseguisse isolar um deles e enfrentá-lo sozinho, eram uma boa fonte de experiência. O anúncio do NPC alegando que ele poderia "esmagar ferro" com sua mandíbula era um tanto exagerado.
Na verdade, as chances de vitória eram mais altas para o lykaon, o que significava que os apostadores no salão haviam colocado mais dinheiro no tatuzinho. Ou seja, se alguém apostasse uma grande quantia no lykaon e tivesse alguma maneira de trapacear para garantir sua vitória, poderia lucrar bastante. A grande questão era: como ajudar o lykaon a vencer a luta enquanto todos estavam assistindo?
— Visualmente falando, não parece ter nada de especial… Eu esperava ver dentes ou garras de metal anexados…
— Você não acha que as pessoas notariam isso? Isso aqui não é Batalha de robô — disse Asuna com ironia. — Eu pensei que talvez tivessem dado algum tipo de estimulante para ele, mas como nunca vi esse monstro antes, não saberia dizer a diferença. E você, Kirito?
— Hmm… Ele não parece estar especialmente agitado ou algo assim. E um remédio desses não deixaria um ícone na barra de HP? Seja um buff ou um debuff.
— Ah, bem pensado — murmurou Asuna.
O apresentador de gravata borboleta anunciou.
— O inseto de aço assassino esmagará sua presa?! Ou o ceifador vermelho quebrará essa carapaça com suas mandíbulas?! Que comece a primeira luta!
Bwaaash! O gongo soou novamente, e a cerca que separava as duas metades da jaula desceu. Os olhos alongados do tatuzinho brilharam, assim como as íris vermelhas do lykaon.
— Me ajudem aqui, vocês dois — Argo sussurrou, enquanto os monstros rugiam e a multidão vibrava.
Shaaaa! sibilou o tatuzinho.
Grrooo! rugiu o lykaon. Eles avançaram ao mesmo tempo, o tatuzinho abrindo suas mandíbulas e se arrastando rapidamente com suas sete pares de patas, enquanto o lykaon saltava para a direita no terceiro passo, tentando contornar o inimigo.
O tatuzinho conseguia mudar de direção, mas muito mais lentamente. O lykaon se posicionou atrás dele e atacou de imediato, mordendo uma das patas do inseto.
GRRR! Ele cravou os dentes e sacudiu a cabeça violentamente, arrancando a perna pela base, espalhando partículas vermelhas de dano.
Shhhoo! sibilou o tatuzinho, um som que não dava para identificar se era raiva ou dor. Sua barra de HP caiu cerca de 7%. O salão explodiu em gritos e aplausos.
Tarde demais, me perguntei em qual monstro os grupos de Lind e Kibaou tinham apostado. A resposta poderia ser clara pelas reações deles, mas eu não conseguia desviar o olhar da barra de HP.
O lykaon venceu o primeiro ataque, mas isso não parecia ser efeito de trapaça. Ele era claramente superior em mobilidade, então se o tatuzinho avançasse direto, era óbvio que ele tentaria contorná-lo.
A fera atacou novamente e arrancou uma segunda perna, aumentando o dano para 15%. O apresentador do NPC exclamou.
— O ceifador vermelho ataca em sequência! Parece que esse inseto é só um inseto mesmo!
O lykaon reagiu como se tivesse entendido as palavras, recuando um pouco e rosnando.
Grrrl…
A perna arrancada em sua mandíbula se desfez em partículas azuis e desapareceu no ar. Ainda restavam doze pernas. Se ele arrancasse todas, o tatuzinho não conseguiria mais se mover — isso se ainda estivesse vivo. Se a luta continuasse nesse ritmo, esse seria o resultado, mas eu sabia, pelas dificuldades que tive no beta, que esse tatuzinho podia fazer mais do que apenas girar devagar.
Shuuu… O tatuzinho sibilou e, de repente, se enrolou sobre si mesmo.
Sua cabeça, antenas e pernas desapareceram dentro da carapaça brilhante e negra. O lykaon observou atentamente a nova forma de seu inimigo: uma bola preta de aproximadamente quarenta centímetros de diâmetro.
Quatro ou cinco segundos de silêncio se passaram, até que alguém na plateia perdeu a paciência e gritou.
— Ataca logo, cachorro!
Bem na hora, houve movimento — mas foi o tatuzinho. No entanto, em vez de retornar à sua forma normal, ele achatou seu corpo arredondado e, com um estrondo explosivo, disparou para o alto!
O tatuzinho se lançou para cima como um foguete, primeiro colidindo com o teto da jaula, depois ricocheteando para baixo em meio a uma chuva de faíscas. Como um jogo de pinball tridimensional, ele bateu contra a parede da jaula, o chão, depois outra parede e, por fim, se chocou contra o flanco do lykaon.
Gyarp! O lykaon soltou um grito de dor ao ser arremessado contra a lateral da jaula. Ele se levantou imediatamente após cair no chão, mas aquele único golpe já havia retirado quase 30% de sua vida.
Esse ataque de ricochete em alta velocidade era a principal forma de ofensiva do tatuzinho — e era devastadora. Era também o motivo pelo qual recebia o nome de Bouncy Slater. Em um campo aberto e plano, era fácil evitar uma investida direta, mas, em uma floresta, ele podia ricochetear em árvores, tornando-se um atacante bidimensional em vez de unidimensional. Pior ainda, em um ambiente fechado como uma masmorra, com chão e teto, ele se tornava um atacante tridimensional. Antes de dominar a técnica para evitá-los, eu tinha apanhado feio de todos os lados.
— E esse é o golpe assassino do tatuzinho! O letal lykaon será capaz de contra-atacar?! — exclamou o narrador. Sua voz foi abafada por uma onda de gritos e aplausos.
O tatuzinho achatou seu corpo mais uma vez. O lykaon recuou, se preparando para desviar do ataque.
Bam! O tatuzinho disparou do chão novamente, dessa vez ricocheteando na parede de pedra atrás dele para atacar o oponente de lado. O lykaon saltou alto para evitar o primeiro ângulo, mas o tatuzinho apenas ricocheteou na jaula, depois no chão e voltou para cima, indo direto na direção do lykaon ainda no ar.
A criatura lupina foi lançada contra o teto e depois despencou no chão. Seu HP estava agora na zona amarela, abaixo dos 40%.
— Uh, você tem certeza de que essa coisa está trapaceando? — murmurei sem pensar. Nem Argo nem Asuna responderam. Assim como eu, elas ainda não tinham visto nada suspeito.
Havia algumas pessoas torcendo pelo lykaon ferido, mas não muitas. A maioria dos espectadores parecia ter apostado no tatuzinho.
Mais um ataque sólido de ricochete provavelmente acabaria com o lykaon. E, dado o tamanho reduzido da jaula e as várias superfícies contra as quais o tatuzinho podia ricochetear, parecia impossível evitar um ataque tão rápido e tridimensional.
Pela terceira vez, o tatuzinho se achatou contra o chão. A esfera negra disparou para cima em um ângulo.
Wha-wha-wham! Ele quicou do teto para o chão e depois voltou a subir, indo em direção ao lykaon ferido. Para mim, a luta já estava decidida.
GRAAAOOOOO!!
Mas então, o lykaon soltou um uivo feroz e saltou diretamente contra o tatuzinho. Um simples golpe corporal não poderia quebrar aquela carapaça resistente — afinal, ela era capaz de partir uma espada ao meio. A besta estava prestes a ser esmagada e morrer com certeza…
Até que, de repente, o lykaon começou a girar rapidamente em torno de seu próprio eixo. Ele escancarou as mandíbulas e girou em uma velocidade que desafiava as leis da física. O lykaon avançou como uma broca vermelha e colidiu com o tatuzinho canhão em pleno ar.
Um estrondo metálico ensurdecedor ecoou pelo ar, seguido por uma enorme chuva de faíscas no ponto de impacto. Ambos os monstros se debatiam e lutavam no ar, até que uma das barras de HP começou a cair rapidamente. Eles estavam tão próximos que era difícil identificar qual delas estava diminuindo.
Até eu prendi a respiração, mesmo sem ter apostado nada na luta.
Craaash! Uma quantidade massiva de fragmentos azuis explodiu no ar.
O peludo lykaon vermelho atravessou a nuvem de partículas e aterrissou do outro lado da jaula.
Segundos de silêncio foram interrompidos pelo toque frenético do gongo. Gritos de raiva, vaias e aplausos explodiram da plateia, fazendo a arena tremer com sua intensidade.
— Oooooh meu deeeus! Que virada incrííível! O vencedor é o ceifador vermelho, Rustyyy Lykaoooon! — gritou o narrador de gravata borboleta.
O barulho era tão alto que quase não ouvi Argo murmurar.
— Espera aí… Lykaons têm um ataque especial desses…?
— Eu nunca vi isso no beta — respondi — mas muitos monstros receberam novos padrões de ataque desde então. Talvez esse seja um deles.
— Nesse caso, é uma boa coisa termos visto isso aqui. Até você teria dificuldade em defender um ataque desses na primeira tentativa, Blackie.
Eu quase me irritei com o comentário, mas ela estava certa, é claro. Um monstro canino realizando um ataque giratório em alta velocidade simplesmente ia além dos limites da imaginação. Mesmo que eu conseguisse bloquear, a força do impacto partiria minha espada ao meio.
Os apostadores também não poderiam ter previsto isso. Os NPCs mais desagradáveis na área em pé xingaram alto e furiosamente, enquanto exclamações de decepção podiam ser ouvidas dos assentos atrás de nós.
O gongo soou novamente, e o portão na parede de pedra se abriu mais uma vez, mas apenas no lado direito desta vez. O lykaon vitorioso desapareceu na escuridão, mancando levemente, enquanto o anunciador de gravata borboleta declarava:
— Isso marca o fim da nossa primeira luta! Uma salva de palmas para o nosso vencedor, Rusty Lykaon!
A plateia aplaudiu o vencedor, mas como a maioria havia apostado no perdedor, o entusiasmo era contido. Isso não incomodou o anunciador, que continuou animado.
— Obrigado! Nossa segunda luta começará em dez minutos, às nove e vinte! Ainda há ingressos disponíveis, então, se quiser aumentar seus ganhos ou recuperar o que perdeu, dirija-se ao balcão, pessoal!
Os holofotes na bancada do anunciador se apagaram, e o ambiente ficou um pouco mais iluminado. Com a atmosfera mais relaxada, as pessoas começaram a se dispersar em direção à saída ou aos bares do bufê.
Isso me fez pensar em como o resultado afetava nossos companheiros jogadores. Olhei para a mesa onde a DKB estava sentado. Lind, Shivata e Hafner erguiam taças estreitas de vidro. Pelo visto, eles haviam apostado no lykaon e multiplicaram seus ganhos por 2,41.
Então, virei-me para o outro lado da sala, onde estava a ALS. Quase murmurei "Não pode ser" ao vê-los. O grupo de Kibaou estava erguendo canecas de cerveja e brindando com sorrisos enormes no rosto. Definitivamente, não pareciam estar bebendo para lamentar uma perda.
Virei-me para as duas garotas, que ainda examinavam a jaula de combate, e disse.
— Parece que Lin e Kiba ganharam.
— Eugh, não pode ser — murmurou Argo. Grandes mentes pensam igual. — Achei que um dos dois teria perdido tudo ali. Isso significa que ambos conseguiram duas mil e quatrocentas fichas… E agora? E se os dois conseguirem cem mil e acabarem com aquela espada brilhante? Supondo que haja duas para dividir.
— Uh, n-não vamos fazer nada. Se isso acelerar nosso progresso no jogo, é uma coisa boa…
Dei a resposta de bom aluno. Mas, é claro, não podia negar que estava, só um pouquinho — talvez meia colher de chá — com inveja da ideia. Eu podia ser um prisioneiro do SAO, mas também era, inegavelmente, um jogador online.
Diavel, o cavaleiro que lançou as bases para o atual grupo da linha de frente, tentou comprar minha «Anneal Blade» através de um esquema com Argo e fez uma investida imprudente contra o boss do primeiro andar para ganhar o bônus de Last Attack. Agora que outros jogadores haviam nos alcançado em nível e equipamento, eu entendia sua motivação. Ou talvez fosse presunçoso da minha parte dizer isso. Afinal, Diavel queria poder para salvar os prisioneiros de Aincrad, enquanto, no fim das contas, eu só me interessava pela minha própria força.
Fui arrancado deste raro momento de introspecção por Asuna, que se afastou da jaula para perguntar.
— Então, o ataque especial do lykaon não foi trapaça?
Para minha surpresa, ela não havia usado sua habilidade psíquica de captar meus pensamentos negativos.
— Não — respondi rapidamente. — Se aquilo fosse trapaça, então o ataque refletido do tatuzinho também seria.
— Verdade… Desculpe, Argo, mas acho que não tenho ideia de que tipo de trapaça aquele lykaon pode ter feito — disse Asuna.
Argo balançou a cabeça.
— Não, não precisa se desculpar. Eu também não faço ideia… Você notou alguma coisa, Kii-boy?
Com a atenção voltada para mim, tudo que pude fazer foi erguer as palmas das mãos.
— Sem ideia. Quando o lykaon foi atingido pelo ataque refletido do tatuzinho e se espatifou na jaula, achei que estivesse morto… O registro da missão foi atualizado?
— Vamos ver… — Argo inclinou-se, abriu sua janela e então olhou para cima, balançando a cabeça novamente.
— Nada. Ainda diz: IDENTIFIQUE AS AÇÕES IRREGULARES UTILIZADAS NO LYKAON NA PRIMEIRA LUTA DA PROGRAMAÇÃO NOTURNA DA ARENA DE BATALHA.
— E sem nenhuma pista, né? Mas ainda não falhamos na missão…
Lancei um olhar para o ponto onde o lykaon atingiu a jaula dourada. Presumi que não pudesse ser ouro puro. Apesar do impacto, as barras verticais não estavam entortadas nem amassadas. Devem ser tão indestrutíveis quanto o próprio prédio, pensei. Caso contrário, haveria o risco de um monstro maior e mais forte destruir a jaula e colocar o público em perigo.
Mesmo que isso acontecesse, estávamos dentro da zona de proteção contra crimes, então os jogadores não poderiam perder HP. Mas e os NPCs? E como eles estavam trazendo esses monstros para a cidade para lutarem, afinal…?
As perguntas não paravam de surgir na minha mente. Meus olhos continuavam fixos na jaula dourada.
— Hmm?
Notei algo. Franzi as sobrancelhas.
Algumas das barras douradas, brilhantes e polidas, estavam manchadas com algo avermelhado. Bem no ponto onde o lykaon havia colidido.
Bem, se você atinge uma superfície dura com tanta força, é normal que saia um pouco de sangue, pensei. Mas… no SAO não existia derramamento de sangue. Nunca tinha visto manchas de sangue deixadas para trás após as batalhas no jogo.
Havia, é claro, a marca de mão ensanguentada deixada no cubo dourado da missão "A Maldição de «Stachion»", onde «Cylon» espancou seu mestre «Pithagrus» até a morte, mas aquilo fazia parte da história da missão…
— Ah.
Murmurei novamente e olhei para mim mesmo. Eu tinha removido minha armadura, então estava vestindo apenas uma camisa preta, calças e minha espada curta. Não havia nada nos meus bolsos.
— Alguma de vocês tem um lenço ou algo que não se importe de descartar? De preferência um branco — perguntei a Asuna e Argo, que estavam lendo o registro de missão desta última no modo visível para o grupo. Argo apenas revirou os olhos, mas Asuna respondeu, exasperada.
— Você deveria ter um próprio, Kirito.
— Bom, normalmente eu carrego um na minha bolsa de cintura... mas ele não é branco.
— Isso serve? — disse ela, tirando um lenço perfeitamente branco do grande bolso frontal de seu vestido.
— Provavelmente não poderei devolvê-lo. Tudo bem para você?
— Sem problemas. Posso fazer mais com a habilidade de «Sewing».
Antes mesmo dela terminar a frase, eu já havia pegado o lenço e corrido cerca de dois metros para a esquerda. Depois de um rápido olhar ao redor para garantir que nem Kibaou, nem Lind, nem nenhum NPC estivesse observando, ergui o lenço e esfreguei firmemente a mancha vermelha nas barras da gaiola.
Depois de obter o suficiente, me afastei e encarei o pano. A cor vermelha parecia muito vívida para ser sangue seco... mas não podia ter certeza absoluta, afinal, este era um mundo virtual.
— Esse é o sangue do lykaon, Kii-boy?
— Se queria esfregar a gaiola, podia ter pedido um pano velho.
Ignorando os comentários céticos das duas, levei a mancha vermelha até o nariz e cheirei. Não havia o característico cheiro ferroso de sangue. Em vez disso, possuía um aroma muito sutilmente adocicado, talvez floral. Suspeitei que não fosse o cheiro real do sangue do lykaon, mas sim…
— Isso não é sangue — murmurei, atraindo os olhares de Argo e Asuna.
— Se não é sangue, então o que é?
— Provavelmente algum tipo de tinta...
— Tinta? Mas por quê—?
Argo parou de falar e olhou para a esquerda — não para mim, mas para uma mensagem no lado esquerdo de sua visão.
— O registro da missão acabou de ser atualizado.
— Hã? O que diz? — perguntou Asuna, inclinando-se para frente. Argo abriu sua janela de missão novamente e apontou. Me aproximei e olhei por cima do ombro de Asuna.
O registro atualizado dizia: VOCÊ DESCOBRIU A TÁTICA ILEGAL USADA NO LYKAON. RELATE AO MESTRE DA MISSÃO.
Argo sorriu, tendo entendido o truque, e estendeu o punho. Dei um soquinho de volta, mas Asuna ainda parecia confusa.
— Então a tinta era uma evidência de trapaça? Mas por que isso... Ah!
Ela também entendeu antes que eu precisasse explicar. Mas não queríamos falar sobre isso em voz alta e sermos ouvidos. Levei um dedo aos lábios para sinalizar silêncio e sussurrei para Argo.
— O mestre da missão está por perto?
— No hotel, no terceiro andar.
— Sério? Na área VIP? Você tem passe para entrar?
— O próprio mestre me deu um passe de um dia. Não se preocupe, eu consigo levar amigos comigo... eu acho.
Esse eu acho me deixou um pouco preocupado, mas já estávamos nessa. Era uma pena não poder assistir à segunda luta, mas não estávamos apostando de qualquer forma.
— Beleza, vamos.
— Certinho. Só se comporta, Kii-boy — disse ela, só para mim, antes de se virar para sair. Enquanto corríamos atrás dela, olhei para o lado e vi Asuna mordendo os lábios, tentando desesperadamente não rir.